sexta-feira, 15 de julho de 2011

O enigma sino-americano


Tenho um amigo que costuma dizer que no futuro não teremos nem G-5, nem G-7, nem G-8, nem G-20 – “o mundo caminha para o G-2”, diz, referindo-se à concentração de poder entre China e Estados Unidos, trazendo à tona uma alternativa de mundo bipolar de triste memória. Mas, olhando o cenário da economia mundial e observando os laços indissolúveis das economias da China e dos Estados Unidos, prefiro dizer que infelizmente já vivemos uma espécie de G-1, onde os dois países praticamente viraram uma “unidade” e ao resto do mundo só resta rezar para que isso não conduza o Planeta Terra à bancarrota. Os dois gigantes não podem mais agir independentes um do outro, porque o risco de catástrofe é muito grande. Praticam um jogo de alto risco em que um não pode fazer uma jogada que seja inteiramente enigmática e deixe o outro sem saída. Vejamos algumas das notícias recentes sobre as dificuldades na economia americana:
  • Se o Congresso americano forçar o Governo Obama (indo contra a própria Constituição) a dar um calote monumental, o seu maior credor (e o portanto maior prejudicado), com 1,15 trilhão de dólares em títulos do Tesouro americano, é exatamente a China. Outros grandes credores são: Japão (882,3 bilhões), Reino Unido (272,1 bilhões), exportadores de petróleo (211,9), Brasil (187 bilhões), bancos no Caribe (169 bilhões), Taiwan (155 bilhões), Rússia (151 bilhões), Hong Kong (135 bilhões) e Suíça (107 bilhões) – todos bem abaixo do total chinês. A situação indefinida já levou o Governo Chinês a aconselhar os Estados Unidos a tomarem juízo. Afinal, o calote é ruim para todo mundo (até para os Republicanos...)
  • Anteontem, o presidente do FED, Ben Berbanke, falou de um novo estímulo à economia (seria o terceiro afrouxamento quantitativo). As bolsas ocidentais reagiram positivamente, prevendo maior aquecimento, mas a China chiou forte. Isso significaria também enfraquecimento do dólar (olha as reservas chinesas aí de novo...) e, pior, aumento dos preços das commodities, petróleo à frente. A China, como importadora gigantesca, seria enormemente prejudicada, não apenas pelos custos de importação como pelas dificuldades de exportação, inflação, etc. A sua reação contrária foi ainda mais forte (leia o artigo “Possible US QE3 sparks concerns”, de Hu Yuanyuan e Chen Jia, no China Daily). Ontem, Berbanke meio que desdisse o que falara na véspera, deu a entender que não haveria novos estímulos à economia. Resultado: as bolsas ocidentais caíram e as de Xangai e Hong Kong subiram.
Esse sobe-desce enigmático da relação entre China e Estados Unidos não interessa a ninguém. Seja G-20, seja G-2, seja G-1, o entendimento tem que ser único. E tem que ser global - se é que isso é possível...