quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O SuperPAC de Obama


Os SuperPAC são Comitês de Ação Política sem limites. Eles podem arrecadar o que bem entendem para apoiar aliados ou destruir adversários políticos. Ganharam destaque muito especial graças à campanha milionária que os Republicanos colocaram no ar. Segundo levantamento do Washington Post, só no mês de janeiro, os  SuperPAC pró-Republicanos arrecadaram 22,1 milhões de dólares – contra apenas 60 mil dólares dos pró-Obama. Apesar de milionária, a campanha Republicana é literalmente primária. Primeiro por ser autofágica – uma verdadeira aula sobre o que realmente significa “fogo amigo”. Depois por ter caído na armadilha da crise econômico-financeira montada por Obama. Esqueceram o que significa ter “a máquina na mão” e acreditaram que Obama ficaria de mãos atadas. Primeiro, ele tratou de colocar boa parte do abacaxi do desemprego na conta dos Republicanos (os impasses que eles, ingenuamente, provocaram no Congresso foram decisivos).  Depois, fez o oposto do que estão fazendo os europeus, com sua fórmula recessiva de enfrentar a crise. Obama investiu na recuperação do setor produtivo, está trazendo empregos de volta, fortalecendo o mercado interno. Por último, temos que considerar que ele lidera a melhor equipe de marketing político do momento. Cada passo que dá, seja no cenário internacional, seja na vida pessoal, é meticulosamente calculado. Veja por exemplo o comercial da Chrysler com Clint Eastwood no intervalo do SuperBowl – garanto que tem dedo da equipe. Ou os exemplos das “canjas” que Obama deu, primeiro cantando Al Green e depois, a pedido de Buddy Guy e Mick Jaegger, cantando no show da Casa Branca reunindo vários artistas. Tem dinheiro que pague isso? Enquanto os Republicanos gastam milhões para se destroçar, Obama amplia espaço rumo à re-eleição simplesmente cantarolando “Sweet Home Chicago”. Aliás, foi essa mesma música que a Banda de Dan Aykroyd e John Belushi apresenta no filme “Blues Brothers” para arrecadar o dinheiro que os irmãos Jake e Elwood Blues precisam para investir em um orfanato. Isso é ou não é mais forte do que os SuperPAC Republicanos?

Blues Brother cantando "Sweet Home Chicago":

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Churrasquinho grego



O neoliberalismo, à moda dos generais, conseguiu acabar com a democracia grega. O tal acordo comemorado, que garante 130 bilhões de euros para supostamente fortalecer a economia do país, trata-se de uma intervenção descarada para garantir os lucros de bancos alemães e franceses. O premier grego, Lucas Papademos, feliz por estar momentaneamente salvando o couro, delirou:  “Agora seremos capazes de progredir com estabilidade, limitar a incerteza e aumentar a confiança na economia grega”. Que progresso será esse que prevê que até 2020 a dívida será de “apenas” 120,5% do PIB? Muito mais lúcido do que o premier é o vendedor de frutas Raptis Michalis, de 67 anos, que declarou à Reuters: “É como se não tivéssemos na Grécia pessoas capazes de governar o país”. Ele sabe que as altas taxas de desemprego que estão sendo impostas eliminarão os clientes de seu mirrado negócio. E deve perceber também que dificilmente esse governo se manterá por muito tempo, principalmente porque haverá eleições agora em abril. O povo irá para as ruas protestar, defender seus direitos e seus empregos. Os políticos tentarão fazer média para conquistar votos. O calote da dívida certamente acontecerá. Talvez a Grécia saia da Zona do Euro. Seja como for, o futuro grego será espeto.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Rubens Ricupero: arrogância X arrogância


O jurista, diplomata e Ministro da Fazenda do Plano Real, Rubens Ricupero, aproveitou esta segunda de Carnaval para escrever, na Folha, um artigo que parece procurar rasgar todas as fantasias. “Perdão pela Crise” é um texto muito bom celebrando “os 30 anos do início do Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento da Unctad, um dos raríssimos estudos que advertiram sobre a ameaça que se avizinhava”. Mas ele acusa os todo-poderosos da economia mundial de menosprezarem a advertência sobre a crise econômico-financeira que explodiu em 2008. “Os sabichões, alguns ganhadores do Nobel, seguros da infalibilidade de seus cálculos sobre o sistema financeiro, haviam tomado seus desejos pela realidade e tinham sido culpados de  hubris, a soberba que desafia os deuses. Em relação às advertências prevalecera naqueles anos uma psicologia da negação”, escreve ele, que também disse: “Tão logo passem os piores efeitos na economia, os sabichões voltarão com a arrogância de sempre”. Tudo bem, se Ricupero ele próprio não tivesse se tornado célebre por uma frase bem arrogante que vazou dos microfones da Globo para todo o Brasil, em setembro de 94, em plena campanha pela eleição de Fernando Henrique:  "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
Arrogâncias à parte, vale a pena ler o texto completo.
Perdão pela crise
Rubens Ricupero

Tão logo passem os piores efeitos na economia, os sabichões voltarão com a arrogância de sempre
Noventa e quatro vezes pediu o papa João Paulo 2º perdão pelos crimes cometidos pelos cristãos ao longo de 2.000 anos. Seria demais esperar que ao menos uma vez as organizações internacionais e os economistas convencionais admitam a parte de responsabilidade que lhes cabe na crise financeira em que mergulharam o mundo?
Quando for publicada esta coluna, estarei iniciando desse modo o discurso de abertura no Palais des Nations em Genebra da reunião para celebrar os 30 anos do início do Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento da Unctad, um dos raríssimos estudos que advertiram sobre a ameaça que se avizinhava.
Em visita à London School of Economics, em 2008, a rainha Elizabeth 2ª fez a pergunta inocente que estava em todos os lábios: "Como foi que ninguém havia previsto a crise?". Após meses de silêncio embaraçado, um grupo de economistas britânicos se desculpou: "Majestade, o fracasso em prever o momento, a extensão e a gravidade da crise e em evitá-la (...) foi, sobretudo, uma falha da imaginação coletiva de muitas pessoas brilhantes (...) em entender os riscos que corria o sistema como um todo".
Os sabichões, alguns ganhadores do Nobel, seguros da infalibilidade de seus cálculos sobre o sistema financeiro, haviam tomado seus desejos pela realidade e tinham sido culpados de "hubris", a soberba que desafia os deuses. Em relação às advertências prevalecera naqueles anos uma "psicologia da negação".
Essa é a verdadeira explicação para a imprevisão e as suas devastadoras consequências. Nem todos estiveram cegos para os perigos da orgia de liberalização financeira. A Unctad, no começo dos anos 1990, em pleno auge do triunfalismo da globalização como ideologia (para distingui-la da versão autêntica e histórica), já previa que a década se caracterizaria pela frequência, intensidade e caráter destrutivo das crises financeiras e monetárias.
Poucos prestaram atenção. No Brasil, os mestres do "saber superficial, pretensioso e tendencioso" (mas de grande prestígio em Washington e Davos), julgavam a Unctad um dinossauro em extinção. Ao contrário do Fundo Monetário Internacional, que na véspera da crise asiática de 1997 proclamava em seu relatório: "O futuro da economia mundial é cor-de-rosa"! Ou que, um ano após o início da atual crise, insistia que tudo não passava de perturbação passageira.
Não é o feio pecado da "alegria do profeta" que me leva a dizer tais coisas. É que, tão logo passem os piores efeitos da crise, esse pessoal, hoje de rabo entre as pernas, há de voltar com a arrogância de sempre. Basta atentar na teimosia do FMI em só aceitar controles de capital como último remédio, e não como arma normal do arsenal para evitar crises.
 Não foi a falha de imaginação ou inteligência a culpada da imprevisão. A causa é a ideologia, o disfarce de interesses de classe e setores sob roupagem científica. Os que dão as cartas no Departamento do Tesouro e equivalentes na Europa são os mesmos homens do setor financeiro que prepararam a crise. E o único arrependimento que deles se pode esperar é o daqueles que choram o tempo todo no trajeto para depositar no banco seus bônus milionários.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O estilo “miguelito” ajuda a inflar as greves?


Tempos atrás participei da organização de várias greves, em um grupo político de esquerda ou como diretor da CUT. Uma das que lembro, com grande sucesso pela mobilização, foi a greve do Arsenal da Marinha, em 85, a famosa “Greve dos Mascarados”. Acredito que tenha sido a única realizada pelos trabalhadores do Arsenal da Marinha, com seus piquetes feitos à distância, porque se tratava de área de segurança nacional. Nas discussões sobre como agir, sempre havia sugestões do tipo “vamos espalhar miguelitos por toda parte!”, ou seja, parar a cidade com aqueles pregos de 4 pontas que furam pneus de carros. O bom senso acabava prevalecendo, porque é importante que a população apoie, ao invés de reagir contra a greve.
Foi principalmente na conquista da simpatia popular que os policiais falharam dessa vez. Acreditaram que poderiam repetir o que os bombeiros do Rio fizeram no ano passado e, com essa ideia na cabeça e uma arma na mão, tentaram fazer imensa mobilização nacional. Foram ingênuos, deixaram-se levar por politiqueiros excitados com a chance de faturar mais uns votinhos logo no início desse ano eleitoral. O primeiro erro foi a escolha do momento pré-carnavalesco. Ameaçar a realização da festa do povo? Onde já se viu fazer uma escolha dessas!?! Isso deixou o país inteiro em pânico - o folião, os pequenos comerciantes, os blocos e escolas de samba, a indústria do turismo, a TV Globo, por aí vai. Outro grande erro foi o estímulo ao vandalismo. Queimar caminhão para bloquear estradas é pior do que “miguelito”. As dezenas de assassinatos que surgiram de uma hora pra outra foram aterrorizantes – mães impedindo que os filhos fossem à escola, amigos organizando grupos para saírem à rua com mais segurança, o medo lado a lado com a população. Os tiros contra bancos, viaturas da polícia e emissoras de TV também foram inteiramente desnecessários. O terceiro grande erro foi o de organização, com seus líderes deixando-se grampear facilmente, parecendo estagiários de vigia.
Do outro lado, vimos os governos federal e estaduais extremamente atentos e eficientes. Souberam informar corretamente e venceram logo de cara a guerra das percepções. Aquela onda vermelha e romântica dos grevistas do ano passado transformou-se rapidamente em nuvem negra, ameaçadora, indesejável. Lideranças atrás das grades e um movimento frustrado, que não conseguiu acrescentar nada ao soldo/salário de cada um. A greve dos policiais/bombeiros fracassou e deixou pelo menos duas lições. A primeira reafirma que, para ter sucesso, a greve primeiro tem que vencer a guerra de percepções. A outra deixa claro que os problemas na área de segurança são bem maiores do que a simples reposição salarial, exigem, na verdade, reposição da política nacional de segurança. Que país é esse que, no lugar de uma polícia única e eficiente, tem em cada estado duas polícias em conflito entre si? Que país é esse onde parte da polícia é militar? Investir em uma polícia única em cada estado, que seja civil, que seja eficiente e que esteja a serviço da população – é por esse objetivo que nossos políticos devem lutar. A boa remuneração dos policiais é praticamente consequência natural.
Quanto aos grevistas, é bom aprender de uma vez por todas que esse estilo “miguelito” que só faz agredir a população é sempre uma furada.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Eleições 2012: São Paulo vai virar Brasil de Lula e Dilma



Como até Gilmar Mendes diria, até as pedras sabem que São Paulo quer mudar. Garanto que tem pesquisa de intenção de voto para Prefeito da Capital que já captou isso, mas o que se viu até agora foram velhos nomes liderarem a preferência popular. Aliás, isso é natural. Nesse momento de candidaturas ainda não divulgadas amplamente, é mais do que lógico que se responda o primeiro nome que vem à cabeça. Daí políticos tradicionais como Russomano, Serra e Netinho aparecerem na liderança. Mas são nomes que também devem liderar os índices de rejeição até o final – principalmente Serra. E o apoio de Alckmin e Kassab só faz piorar as coisas.
O que está acontecendo, afinal? O povo paulistano está vendo no Brasil que está à sua volta um mundo inteiramente novo e bem melhor, no qual ele não está inteiramente inserido. O paulistano quer renovação, quer viver 100% o Brasil de Lula e Dilma. Por isso tenho certeza que quando Haddad (que deve estar em quarto lugar nas intenções de voto, logo atrás dos velhos conhecidos) é associado a Lula e Dilma, ele pula para a liderança, com uns 40% a 50% das intenções. Os nomes de Andrea Matarazzo e Afif Domingos, associados a Serra e Alckmin (o primeiro) e a Kassab (o segundo), juntos, não devem nem mesmo chegar a 30%.
A opção do PT por Haddad atende perfeitamente os anseios da população. A mudança é inexorável, e Lula percebeu isso de longe. Hoje, quem se informa bem também sabe disso.