segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Vergonha! Preparem-se para 2014: Espanha 4x0 Brasil...

 Ontem vimos o retrato do futebol brasileiro: triste, sem imaginação, decadente. Aliás, confesso que nem vi direito o jogo de ontem – estava assistindo a apresentação de balé de minha filha, só vi trechos através do meu smartphone. Mas não perdi nada, porque é o futebol que praticamos todo dia, sob a batuta dos mano menezes da vida. Se ontem foi vergonhoso, imaginem na Copa de 2014: dificilmente estaremos na final... Nosso destino é ser musse do messi.

domingo, 11 de dezembro de 2011

O desarranjo europeu


O ideograma chinês para se referir a Europa (ōu, em pinyin) significa “desarranjo”.  Talvez, infelizmente, seja exatamente isso o que melhor retrata a Europa que estamos vivendo. Talvez, não. Talvez “desarranjo” seja o que melhor retrata a Europa desde sempre, com suas guerras, seus desequilíbrios permanentes. Mas uma coisa é certa, o sonho da União Europeia é de um arranjo equilibrado, harmônico, bem diferente do que se vê. Talvez fosse apenas mais uma utopia (no grego – epa! – um “não-lugar”) tipicamente europeia. Os idealizadores da União Europeia talvez tenham sido apenas isso, idealistas. Não perceberam que na selva neoliberal “união” não faz parte do vocabulário – é cada um por si, Deus contra todos, como disse brilhantemente nosso “herói sem caráter”, repetido por Werner Herzog como título de filme (“Jeder für sich und Gott gegen alle”, apresentado no Brasil como "O Enigma de Kasper Hauser"). Percebemos, hoje, que na verdade a União Europeia nasceu para aprofundar a desigualdade e, consequentemente, para ser mais desunida. Como bem observou Francesco Saraceno, economista do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, em entrevista a Deborah Berlinck publicada hoje no Globo (Com desequilíbrio externo, Europa ‘caminha na direção da depressão’), fizeram uma “Europa baseada na ideia de que o crescimento virá de fora. O que tentam fazer hoje é conter a demanda doméstica e a política macroeconômica, esperando que o crescimento venha das exportações. É o modelo alemão, o que é uma loucura”. Uma loucura principalmente porque tentaram empurrar um modelo padrão sem compensações em realidades tão diversas. Como é que a Grécia pode pôr seus produtos no mercado externo com uma economia frágil e uma moeda (euro) supervalorizada? Não dá, não deu. Nem mesmo a Alemanha está conseguindo se dar bem, com endividamento de 81,7% do PIB, bem acima dos 60% estabelecidos para a zona do euro. Depois desse massacre à economia europeia (ou às economias europeias...), o próximo alvo, natural, é a democracia, com forte ameaça de ressurgimento de governos autoritários. Sinceramente, a Europa não merece passar por mais uma dessas. Não existe desarranjo maior do que virar terra de gregos e germanos.

Abaixo, entrevista de Francesco Saraceno, texto distribuído pela Agência O Globo.
É melhor uma Europa menor e mais integrada
Francesco Saraceno
O economista Francesco Sarace­­no, do Observatório Francês de Con­­junturas Econômicas (OFCE), es­­tá inquieto: para ele, a nova União Europeia (UE) que está emergindo sob as rédeas da Ale­­manha vai caminhar para o buraco, se seguir o modelo rigoroso e ex­­por­­tador da chanceler Angela Merkel.
Mas a decisão de 26 países de avançar na integração, deixando de fora o Reino Unido, que se recusa a seguir, diz ele, vai salvar o euro. Melhor uma Europa integrada menor, do que uma grande ineficaz, argumenta.
O Globo: A cúpula de Bruxelas decidiu por uma UE em duas velocidades: um grupo avança com a reforma do euro, outro fica de fora. Não é isso que deveria ser evitado?
Francesco Sarace­­no: Esta é praticamente a única boa notícia. Houve um reconhecimento de que não é possível avançar com toda a UE. E ficou clara a vontade dos que querem avançar. A cúpula não poderia acabar sem uma decisão. Precisamos de uma Europa mais integrada. Se isso só vai acontecer com uma parte dos 27 países mem­­bros da UE, que seja. É arriscado, há algumas armadilhas, mas no longo prazo é melhor uma zona do euro menor, integrada e que coopera, do que uma maior que funciona mal.
O Globo: Um novo tratado com 26 países não será difícil de negociar?
Francesco Sarace­­no:Tentar um novo tratado com 27 países, alguns deles resistindo, nunca vai funcionar. Precisamos deixar claro que a Europa vai avançar com quem quiser realmente. Um novo tratado não deverá ser problema, porque a decisão foi bastante consensual. E não será problema especialmente se os europeus convencerem os mercados e outros atores de que o que estão fazendo faz sentido. Se você me perguntar: a direção que estão tomando é boa? Não. Acho que estão na direção errada. Falar sobre isso é como abrir uma caixa de Pandora [segundo a mitologia grega, ela libera todos os males do mundo, quando aberta]. O importante é que, metodologicamente, comecemos a pensar em fazer algo sério com os querem fazer parte. E os que não querem… Não significa que a UE não vai trabalhar com eles ou que a UE não funcionará.
O Globo: O Reino Unido está se distanciando da UE. O que pode acontecer com o país?
Francesco Sarace­­no: Não sei. Não estou nem certo de que isso é duradouro. Não sei como os britânicos vão conseguir resolver, até mesmo diante da opinião pú­­blica deles, o fato de que são os únicos que não querem avançar na integração. Quantos meses ou anos o Reino Unido vai conseguir se isolar? Em 1960, o país optou por ficar fora da UE. Só queria ter acordo de livre comércio com Áus­­tria, Suíça, Noruega etc. Isso durou menos de um ano. A força da atração da UE foi tão grande que o Rei­­no Unido rapidamente voltou [pa­­ra a Comunidade Europeia, como era chamada a UE na época]. Se con­­­­seguirmos construir um bloco integrado e bem-sucedido, a médio prazo isso atrairá quem estiver fora.
O Globo: O Reino Unido resistiria estando fora da UE?
Francesco Sarace­­no: Não poderia ficar fora de uma UE que funciona. Se ela fun­­cionar, aposto que em cinco, seis ou sete anos, os britânicos voltam.
O Globo: Que UE está surgindo?
Francesco Sarace­­no: A Alemanha conseguiu quase tudo o que queria: um euro baseado em austeridade fiscal, que nega qualquer papel para política macroeconômica, e acha que é virtude ter superávit na conta corrente. É uma Europa baseada na ideia de que o crescimento virá de fora. O que tentam fazer hoje é conter a demanda doméstica e a política macroeconômica, esperando que o crescimento venha das exportações. É o modelo alemão, o que é uma loucura.
O Globo: Por quê?
Francesco Sarace­­no: É uma loucura porque se todo mundo fizer isso, vamos ter de fazer comércio com o planeta Marte. Não se pode ter um mundo em que todos só exportam. Até os chineses entenderam isso. A China tem passado os últimos dez anos tentando reequilibrar o seu modelo de crescimento na direção da demanda interna.
O Globo: A Alemanha no comando da UE então é ruim?
Francesco Sarace­­no: Não necessariamente. Na His­­tória, há sempre um país dominante liderando o caminho. Logo no início, foi a França, com Jean Monnet, depois a França, com François Mitter­­rand, de­­pois França com a Alemanha de Helmut Kohl [ex-chanceler do período da reunificação alemã]. Está claro que é preciso li­­derança. Mas a Alemanha está liderando a UE na direção errada e impondo uma visão que não vai mudar. Acham que fizeram tudo certo, então, defendem que todo mundo tem que agir como eles. Isso é um erro, porque os problemas da Europa são de desequilíbrio externo: alguns países exportando muito e outros importando muito. Os países do sul precisam gastar menos e arrumar a casa. Mas, ao mesmo tempo, os que gastam pouco precisam gastar mais. Se o Sul para de gastar e o Norte também não gasta, o resultado será depressão. E estamos indo nessa direção.
O Globo: O senhor não está otimista quanto ao futuro do euro?
Francesco Sarace­­no: É uma questão difícil. Acho que o custo do fim da zona do euro seria tão alto que o euro não vai acabar. Nesse sentido, não estou pessimista: não sou o profeta do pior. Acho que vão fazer o que for necessário. Minha preocupação é o modelo que estão escolhendo, que é frágil. O maior risco não é a implosão do euro: é uma década perdida para a economia europeia.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sarah Palin será a adversária de Obama?


Sarah Palin, aquela figura estranha que foi Governadora do Alaska e concorreu à vice-presidência na última eleição americana, ainda pode ser a escolhida do Partido Republicano para enfrentar Obama em 2012. Quem avisa é Rhodes Cook, colunista sênior do Sabato’s Crystal Ball, em artigo de hoje (texto completo clicando aqui). Segundo ele, a chance de Sarah Palin aumenta em função do calendário das primárias republicanas que, dessa vez, concentra maior número de eleições mais para o final. Se os principais nomes republicanos não desencantarem logo de início, darão chance aos ultraconservadores para lançar um nome como o de Sarah Palin. Vejam o texto (parcial):
Corrida republicana 2012: o cenário talvez não esteja definido 
Rhodes Cook
A sabedoria convencional diz que o cenário republicano na corrida à presidência está definido, e que é tarde demais para um novo candidato entrar na corrida.
Nos últimos anos, isso seria absolutamente correto. Ao longo das últimas décadas, dezenas de primárias e caucuses foram encaixadas na semana de abertura do ano eleitoral, com a tendência, no campo republicano, de seu candidato líder realizar nocaute rápido.
Mas, no próximo ano, o arranjo do calendário das primárias é muito diferente. É menos condensado no início, muito mais carregado de eleições na parte final, com a perspectiva bem real de um candidato de última hora tornar-se uma alternativa viável.
Não quer dizer que isso vá acontecer, mas é uma possibilidade. Tal cenário não poderia acontecer em 2008, quando as eleições de janeiro foram seguidas de perto pelas votações de uma Super Terça-Feira de Fevereiro que envolveu quase metade do país.
Mas o perfil alongado do calendário de votações de 2012 cria a oportunidade para um candidato de última hora. Se Mitt Romney se der mal nas primárias de janeiro em Iowa, New Hampshire, Carolina do Sul e Flórida, outro republicano talvez possa entrar na corrida no início de fevereiro e ainda competir diretamente em estados com pelo menos 1.200 dos 2.282 delegados do Partido Republicano. Muitos deles estarão na disputa após 1º de abril, com as primárias do tipo “leva-tudo” de alguns estados.
Da mesma forma, se as alternativas Newt Gingrich, Michele Bachmann e Rick Perry caírem por terra em janeiro, haverá tempo para a ala conservadora do partido encontrar um novo líder para levar a sua bandeira pela maior parte das primárias.
Em alguns aspectos, o perfil do calendário das primárias de 2012 assemelha-se ao de 1976, começando no auge do inverno com as eleições de Iowa e New Hampshire e crescendo com a da Califórnia no início de junho. Naquele ano, o presidente Gerald Ford e o ex-governador da Califórnia Ronald Reagan lutaram delegado por delegado até Ford prevalecer na convenção do verão em Kansas City. Foi a primária republicana mais acirrada e mais longa dos últimos 40 anos.
No lado democrata, esse arranjo de final de calendário estimulou duas pré-candidaturas no final de 1976, a do governador Jerry Brown, da Califórnia, e a do senador Frank Church, de Idaho. Cada um venceu várias primárias de primavera. Mas eles montaram suas campanhas muito tarde para compensar os delegados conquistados pelo ex-governador da Geórgia, Jimmy Carter, em sua campanha longa.
Oito anos antes, o senador Robert Kennedy, de Nova York, teve muito mais sucesso em sua estratégia de campanha curta. Ele entrou na corrida democrata após a primária de New Hampshire e começou a colecionar vitórias importantes, culminando com um triunfo “leva-tudo” na Califórnia no início de junho. Se ele não tivesse sido baleado na noite de sua vitória na Califórnia, Kennedy poderia ter tomado do vice-presidente Hubert Humphrey a indicação para a candidatura. A campanha inacabada de Kennedy é um dos mais intrigantes "e se fosse diferente?" da história americana.

Henfil continua



Sempre admirei o Henfil. E admiro também a batalha do Ivan para manter o trabalho do pai mais vivo do que nunca. Recebi esse e-mail do Ivan:
Amanhã (hoje, dia 8), vai ter aqui no Rio a entrega do 3º troféu Henfil, da Associação dos Voluntários do HemoRio.
No meio de 2009, eu adaptei este desenho da Graúna, que tinha sido feito pelo meu pai na dedicatória de um livro, e desenhei o fundo de uma bolsa de sangue, oferendo para a campanha do HemoRio. Entrei em contato com as pessoas que eu conheço na Globo, e consegui fazer veicular uma animação na programação, e sair também no O Globo (meia página), umas 4 ou 5 vezes.
A Associação já dava este prêmio aos voluntários (pessoas físicas, gráficas, imprensa, agências, empresas) que ajudavam de alguma maneira, mas ele nunca teve nome, e neste ano (2009), resolveram batizá-lo de "Troféu Henfil" e usar a imagem para confeccionar o troféu. Fico contente por minha iniciativa ter rendido frutos.
Quem puder, apareça por lá e divulgue este prêmio, que incentiva a imprescindivel participação de voluntários nas atividades do HemoRio.
Abraços
Ivan

Instituto Henfil
Ivan Cosenza de Souza
21-2229 4850
21-9872 3269

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Classificação real do Brasileirão


Não gosto de discutir futebol, porque é tudo baseado em muita paixão, onde ninguém tem razão. Por isso resolvi criar um Código Secreto de Objetividade (CSO) para definir os dez melhores (de fato) times desse Brasileirão:   
  1. Santos (Neymar e Ganso fazem a diferença)
  2. Vasco (Ricardo Gomes/Cristóvão, Juninho Pernambucano, Felipe, Dedé, Diego Souza, etc. fizeram um novo Vasco)
  3. (nenhum mereceu ser o terceiro melhor)  
  4. Flamengo, Fluminense, Internacional (saíram-se muito bem; destaque para Ronaldinho, Felipe, Fred e Dorival Júnior)
  5. ...   
  6. ...   
  7. Figueirense (emocionante)
  8. Coritiba (bela surpresa)
  9. São Paulo (grande decepção)
  10. Corinthians, Palmeiras (empataram na ruindade)
Obs.: bem que eu gostaria que o Botafogo estivesse entre os 10, mas o rigor do CSO não permitiu - que pena...
E não se discute!

domingo, 4 de dezembro de 2011

"A Europa está entregue aos especuladores. É preciso romper com os neoliberais", declarou Mário Soares


Entrevista publicada no Globo do ex-presidente português.

RIO - Mário Soares respirou política e socialismo a maior parte de seus 86 anos. Referência na esquerda portuguesa e europeia, ele abre o verbo diante do terremoto econômico e político que ameaça seu país e o continente, ao defender a democracia do assédio dos mercados. De sua boca saem palavras como "vergonha", "roubalheira", "criminosos" quando se refere aos especuladores e às agências de classificação de risco e à forma como vêm se impondo sobre os governantes europeus. Ex-premier, ex-presidente e europeísta, Soares acaba de lançar em Portugal a autobiografia "Um político assume-se". Na véspera da segunda greve geral no país este ano, há dez dias, ele encabeçou, com outros políticos e intelectuais, o manifesto "Mudança de rumo", atacando o neoliberalismo e incentivando os portugueses a saírem às ruas para protestar contra as medidas de austeridade: "Sou a favor de uma sociedade em que haja o mercado livre, mas com regras éticas e disciplina", diz ele, por telefone, da fundação que leva seu nome, em Lisboa.

Sandra Cohen: O senhor declarou que se a Europa não mudar, haverá uma revolução. O que é preciso mudar diante de tão grave cenário econômico?
MÁRIO SOARES: É mudar o modelo econômico, acabar com essas aventuras do neoliberalismo, com essas roubalheiras, com a economia virtual, com as agências de risco, que estão a descontrolar completamente a vida não só da Europa, mas do mundo inteiro. É preciso uma mudança de paradigma, uma ruptura. O que é extraordinário é que os dirigentes políticos atuais, aqueles que mandam ou que julgam que mandam, como é o caso da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, não mandam. Quem efetivamente manda hoje são os mercados, não são os Estados. Os mercados e as agências de classificação de risco começam a dizer coisas, e as finanças mudam completamente às custas deles. Os Estados só obedecem. É absurdo que sejam os mercados a mandar. Sou a favor de uma sociedade em que haja o mercado livre, mas com regras éticas e disciplina.  
Sandra Cohen: Houve então uma distorção dos princípios da União Europeia?
SOARES: Houve uma total distorção e não só na União Europeia como em toda parte. Mesmo na ONU. Quando aparece uma série de organizações, como G-7, G-8 e o G qualquer coisa, são criações para acabar e destruir com a ONU e que paralisam os fenômenos. Veja, por exemplo, os Objetivos do Milênio, que foram assinados por cerca de cem chefes de Estado. Eram as melhores metas e não se fez nada até agora. Está tudo assim, descontrolado. E não é só na Europa e por causa do euro. Tudo está em causa. Li um artigo de uma autoridade do Reino Unido já cogitando o futuro depois do euro. Por que a libra esterlina não acaba? Porque há emissões sobre emissões, assim como se faz com o dólar nos EUA. Se o Banco Central Europeu fabricasse moeda, esses problemas desapareceriam. Mas tudo está entregue aos especuladores, que só se interessam em ganhar dinheiro e fazer fortuna.
Sandra Cohen: O senhor estava à frente de Portugal quando o país aderiu à União Europeia...
SOARES: Aderimos no mesmo dia que a Espanha, após oito anos de negociações difíceis. Foi um acontecimento imenso para a Península Ibérica e para a América Latina. Depois da nossa Revolução dos Cravos e da redemocratização da Espanha, após a morte de Franco, houve uma série de rupturas e mudanças em diversos países. Mas veio a queda da ideologia comunista e os americanos se acharam donos do mundo e lançaram o neoliberalismo, do qual estão sendo vítimas, como nós, europeus. Queremos agora outra revolução, uma ruptura com o neoliberalismo. Começaremos vida nova, com novo projeto de desenvolvimento.
Sandra Cohen: Qual a responsabilidade dos socialistas nessa crise?
SOARES: As duas famílias ideológicas que fundaram a UE foram, de um lado, os socialistas ou social-democratas, que são a mesma coisa exceto em Portugal. E de outro, as democracias cristãs. Foram essas famílias que fizeram esse projeto europeu, que era um farol e um exemplo no mundo inteiro. Foi o projeto mais importante que se fez no mundo, um projeto de paz, de justiça social e bem-estar para as populações, respeito pelos direitos humanos e pelas democracias. Isso nos deu um grande desenvolvimento. O mundo olhava para a União Europeia como um projeto extraordinário. Não é por acaso que povos que se debateram em duas guerras cruentas no século XX tenham vivenciado mais de 50 anos em paz. É isso tudo que está em causa hoje com essas mudanças econômicas e com esses especuladores, que são verdadeiros criminosos.
Sandra Cohen: Mas em que os socialistas erraram?
SOARES: Houve um socialista inglês chamado Tony Blair, que nunca foi socialista, que enganou as pessoas, mas não a mim. Ele tentou colonizar o Partido Socialista em função do que chamou de Terceira Via, que era uma ligação ao neoliberalismo. E muitos socialistas europeus prevaricaram com seus partidos, que entraram em crise e em decadência. E, por outro lado, houve quem colonizasse as democracias cristãs como partidos populares, que são outra coisa.
Sandra Cohen: Como o senhor vê os governos que são liderados por tecnocratas, como Grécia e Itália?
SOARES: Da pior maneira, isso ofende a democracia, onde tudo deve ser decidido pelo voto. Não faz o menor sentido.
Sandra Cohen: O que o senhor acha do governo do primeiro-ministro português, o social-democrata Pedro Passos Coelho?
SOARES: Ele é um homem sério, decente e um patriota. Mas é um neoliberal. Não é da minha família política. Não é com austeridade que se resolvem problemas como os que temos em Portugal. Temos que ter uma certa austeridade, mas não que arrase o crescimento econômico e faça subir o desemprego como está ocorrendo. Senão, daqui a um ano, teremos imposto muitos sacrifícios aos portugueses e estaremos ainda pior.
Sandra Cohen: Na semana passada, o senhor liderou um manifesto criticando as medidas de austeridade em Portugal...
SOARES: Não fui contra. Num momento em que Portugal estava numa situação muito difícil e sem liquidez, fui partidário de pedir dinheiro à Europa. Mas não é justo que senhores que vêm da troika (comitê formado por FMI, do BCE e Comissão Europeia) possam governar Portugal porque temos pouco dinheiro ou estamos em dificuldade.
Sandra Cohen: O senhor cogitou criar um novo movimento paralelo ao Partido Socialista, como foi especulado?
SOARES: Não, de jeito nenhum, é pura especulação. Fui um dos fundadores do PS, fui socialista durante toda a minha vida política ativa e nunca deixarei de ser. Nunca pensei em criar um movimento próprio.

O futebol ficou mais fraco: morreu o Doutor...



Obrigado, Sócrates, por tudo que fez. Não precisava ter tomado tanta "cicuta"...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Bonner & Fati

O Meia Hora, do Rio, ganhou destaque no hall da fama dos grandes mancheteiros com essa manchete: