sábado, 18 de junho de 2011

Cesar Maia acaba de descobrir o óbvio: a política externa brasileira não mudou com Dilma/Patriota


Em artigo publicado hoje na Folha, “Política externa” (aqui, para assinantes), Cesar Maia mostra-se decepcionado porque a política externa brasileira conduzida por Dilma e Patriota não se difere substancialmente da que vinha sendo adotada por Lula e Celso Amorim. E assinala pontos para demonstrar a continuação de uma política externa que obviamente não lhe agrada.
“Na decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia, o Brasil se absteve, com a Rússia e a China”. Segundo Cesar Maia, seria “um aval ao desequilibrado Gaddafi”. Na verdade, significou não dar aval a uma decisão desequilibrada, que prometia evitar mortes de civis e mostrou-se mera “caça a Kadafi” (que até então contava com apoio ocidental), implicando matança de civis e destruição do país. Hoje, até o Congresso americano questiona o que está sendo feito.
“A pressão sobre o Congresso para rever o acordo de Itaipu”. Segundo Cesar Maia, estaríamos criando “um grave precedente” sem justificativa geopolítica. Mas ele não entende que “pragmatismo e solidariedade são as referências primordiais que deverão continuar pautando a crescente atuação brasileira nos planos global e regional”  (*). O Brasil “defende interesses definidos do país e da América do Sul, esta sim prioridade da plataforma exterior do país” (*). Apoiar política e economicamente o Paraguai e outros países da região faz parte da nossa estratégia.
“A ostensiva atuação do governo, e do PT, na eleição peruana”. Aqui, Cesar Maia se excede ao acusar o nosso governo de atuar “suavizando a imagem do candidato chavista Ollanta Humala”. Talvez ele preferisse ações que estigmatizassem ainda mais Ollanta Humala, empurrando-o para posições radicais que possibilitassem a vitória da filha (e digna representante) de Alberto Fujimori, aquele ex-presidente famoso por seu “autogolpe” e que cumpre pena por “abuso dos direitos humanos e sequestro”.
“A decisão do STF sobre o caso do terrorista assassino Cesare Battisti teve claro envolvimento do governo Dilma, antes e depois, por meio do ministro da Justiça”. Cesar Maia alega que agora “o país enfrenta um constrangimento com os italianos, que fazem parte da formação econômica e cultural do Brasil contemporâneo”. Só falta agora Cesar Maia defender com unhas e dentes a política de “tirar os sapatos” do Governo Fernando Henrique – isso, sim, bastante constrangedor. É bom recordar que também a França não se importou com “constrangimentos” quando deu asilo a Battisti.
“A legitimidade do discurso e a coerência de suas posições de Estado são componentes essenciais do patrimônio diplomático acumulado pelo Brasil” (*). Talvez quem mais agrediu esse patrimônio foi exatamente o Governo Fernando Henrique, por ter defendido “pés descalços” diante dos Estados Unidos, principalmente quando radicalizou na liberalização, privatização e desregulação de nossa economia, atendendo as diretrizes do “Consenso de Washington” (principal responsável pela crise de 2008-2009). Felizmente, ao contrário do que pretendia Cesar Maia e toda a oposição liberal-conservadora, a política externa brasileira atual mantém-se coerente. Assim como acontecia no período Lula/Celso Amorim, não pretende se afastar dos propósitos desenvolvimentistas e nacionalistas que estão contribuindo para um país menos desigual internamente e de altivez nas relações internacionais. O choro dos descontentes não representa os interesses nacionais.
(*) trechos de um trabalho nota 10 sobre política externa
Acrescento essa interessante entrevista do economista Darc Costa sobre a "América do Sul e a nova geopolítica" para o programa Milênio. Clique aqui.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

EUA x Paquistão: nova batalha entre “aliados”


O Paquistão acaba de prender 30 informantes que ajudaram os Estados Unidos a localizar bin Laden (leia reportagem no NYT). Foi apenas mais uma etapa do distanciamento cada vez maior entre Estados Unidos e Paquistão – onde também se envolvem Afeganistão, Índia, China e, last but not least, Irã. Os Estados Unidos precisam do Paquistão para derrotar o Talibã, controlar o Afeganistão e fechar o cerco ao Irã – além de marcar posição mais sólida junto à China. Mas encontram dificuldades que vão desde questões religiosas (talibãs e paquistaneses são predominantemente sunitas) até a forte oposição entre Paquistão e Índia – país que se aproxima dos interesses americanos. A China, evidentemente, procura proteger seus interesses geopolíticos e busca laços ainda mais fortes com o Paquistão. A Índia, de olhos abertos e bombas em punho, busca fortalecer os laços com os Estados Unidos sem acirrar os ânimos regionais. É sob esse céu nada estrelado que correm soltas as batalhas tipicamente “spy versus spy” entre Estados Unidos e Paquistão. Aguardemos a próxima traição.

sábado, 11 de junho de 2011

Comunicação e Poder – a guerra pelas mentes


Cesar Maia publica hoje na Folha um bom artigo, Indignados, baseado no trabalho de Manuel Castells, Comunicação y Poder. Trata da “mudança da política pela transformação da comunicação”, lembrando algo de McLuhan. “A batalha pelas mentes se joga na comunicação”, diz o trabalho, parecendo óbvio, mas de compreensão fundamental dentro do marketing político. Leia o artigo de Cesar Maia logo abaixo e/ou veja o vídeo de Manuel Castells, clicando aqui.
Indignados
Cesar Maia
Manuel Castells apresentou, em 2009, seu livro "Comunicación y Poder" numa conferência na Universidade Complutense de Madri (ver no YouTube). Trata da mudança da política pela transformação da comunicação.
A construção do poder é a capacidade de atores sociais influenciarem outros, de maneira a reforçar o seu poder. Onde há poder existe contrapoder ou resistências às relações institucionalizadas.
A batalha pelas mentes se joga na comunicação. Não é o Estado, e sim a comunicação, o instrumento básico de construção do poder. Castells diz que a emoção fundamental é o medo, que elimina o espírito crítico e foca, nos indivíduos, a busca por proteção.
A informação que reforça o que uma pessoa pensa tem seis vezes mais probabilidade de ser registrada. Por isso, a imprensa vai atrás da opinião que as pessoas já têm. A comunicação cria o campo das mudanças na opinião pública. Isso não quer dizer que se siga a mídia – que constrói os espaços públicos. As pessoas opinam sobre o que é divulgado.
Informações omitidas pela mídia restringem o espaço público do debate. A audiência é ativa, mas se dá no espaço público do que é divulgado. Grave é o que a mídia omite.
Política sem comunicação de massa não chega ao público. A mídia não é detentora de poder, mas formadora dos espaços onde se constrói o poder. A comunicação política requer mensagens simples e poderosas. O mais simples é o rosto humano. O mais poderoso é a confiança.
A estratégia fundamental na disputa pelo poder é destruir a confiança numa pessoa ou num partido. Quem não participa de tal jogo não está na política.
Essa disputa é a política do escândalo. São batalhas pelo poder simbólico onde se joga reputação e confiança. Mas o excesso gera fadiga do escândalo que termina igualando a todos e desprestigiando o sistema político. A correlação entre corrupção percebida e descrédito nos políticos é clara.
Hoje, o jogo do poder depende também das novas mídias, via internet e celular, que são redes horizontais ou autocomunicação de massa.
O sistema se abre a mensagens de todo tipo, individuais e de movimentos sociais. Estes atuam sobre valores sem objetivar o poder, e estão fora da sociedade civil organizada.
Aqui surgem práticas políticas insurretas, movimentos espontâneos dos indignados, que até desestabilizam governos. Passam por cima dos partidos e das regras do jogo. É a cultura da indignação. Os indignados que não atuavam na política entram no jogo.
O espaço público está sendo reconstituído fora das instituições. As condições de mudança se produzem nesse novo espaço da comunicação. É a sociedade fora dos partidos e dos sindicatos. Esse é o mundo do poder e da mudança.

Mais percepções: Luiz Sérgio e Ideli


Se eu não soubesse que o Luiz Sérgio foi metalúrgico, poderia pensar que ele tinha estudado em Eton. Sempre cortês, de voz calma. Quando foi Prefeito de Angra, fiz uma campanha de prestação de contas dos seis meses de sua administração e nunca cheguei a vê-lo. Depois, quando já era Deputado, estive várias vezes com ele, que sempre se mostrou solícito. A impressão que tenho é que ele é assim o tempo todo, mais silencioso do que estridente. Mas isso nunca impediu que fosse um ótimo quadro petista, destaque na política fluminense. Ao contrário de Luiz Sérgio, conheço Ideli apenas das manchetes. A percepção que tenho dela é igual à que a maioria tem: guerreira, agressiva, petista de coração e sem papas na língua. Em outro cenário, não acharia necessária a troca. Mas acho que, no momento, Dilma precisa de alguém que fale grosso na articulação política. Isso muitas vezes é ruim, mas pode ser indispensável quando o mar não está pra peixe.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Percepções: Palocci, Obama, Battisti, bombeiros e Humala

Em política, mais do que em qualquer outro aspecto da vida, não basta ser – tem que ser percebido que é. Foi o que aconteceu com Palocci. Não bastou provar que não há nada concreto contra o seu enriquecimento súbito, nada demonstra que foi ilícito. Mas, se pretende ser percebido como íntegro, o homem público não pode deixar transparecer enriquecimento malvisto – por mais honesto que tenha sido. O erro de Palocci foi esquecer essa regra. A oposição está mais interessada nas percepções do que nas comprovações, é o que lhe resta para crescer. Como teria dito Lula, Palocci saiu na hora certa.
Obama ganhou admiração do eleitor americano quando mostrou que sabe falar grosso no combate ao terrorismo. Invadiu o Paquistão, matou bin Laden, sequestrou e desapareceu com seu corpo – e seus índices de aprovação dispararam. Agora precisa ser percebido como aquele que também fala grosso na economia.
Sobre Battisti, a Itália e Gilmar Mendes podem dizer o que bem entenderem – mas o caso é político, e foi com essa visão que Lula corretamente agiu. Mas a guerra de percepções continua.
Os bombeiros do Rio (e provavelmente do mundo inteiro) sempre foram percebidos como heróis. Além de combatentes do fogo, a partir do Governo Brizola, passaram a atuar no atendimento de emergência para acidentes. E no Governo Sérgio Cabral sua ação se ampliou, com os bombeiros agindo como auxiliares da saúde, muitas vezes substituindo com vantagem os profissionais tradicionais da saúde. Infelizmente, esse novo papel causou fissuras internas (“brancos” x “vermelhos”), inclusive em questões salariais. A insatisfação cresceu e uma espécie de movimento sindical-fundamentalista (evangélico) ganhou força. Com a votação da PEC 300 em perspectiva e a decisão de radicalizar diante de impasses, os bombeiros ganharam as ruas. Provocaram uma situação de confronto irreversível e, ao contrário do que normalmente ocorre nessas situações, conservaram a simpatia pública. O Governo não teve alternativa a não ser cumprir a lei. Mas agora está enfrentando uma difícil guerra de percepções, que pode se ampliar nacionalmente.
Humala confirmou a previsão deste Blog. Reagiu na reta final e superou a adversária, Filha de Fujimori, em uma guerra de percepções bastante complexa. Agora, eleito, enfrenta o terceiro turno dessa guerra, a luta contra os neoliberais que buscam inviabilizar o seu governo associando-o a Hugo Chávez. Como antídoto inicial, Humala escolheu o Brasil de Lula e Dilma como primeiro país a ser visitado.

domingo, 5 de junho de 2011

Fujimori nunca más! Ollanta Presidente! Vibração com resultado.

O Globo insiste em provar que herrar é umano

(clique na imagem para ampliar)

Quem me deu o toque foi meu filho Tiago, 16 anos, lendo o jornal de ontem. Na mesma edição em que puxa a orelha do MEC por distribuir livros didáticos com erros crassos, o Globo, uma falha depois, em importante reportagem sobre a modernização das Forças Armadas, tratando de questões geopolíticas, coloca a sigla do Amazonas (AM) no mapa do Amapá (AP). Nada demais. As duas reportagens são importantes. Quem sabe, o erro do jornal deve ter tido proposital, em defesa do MEC...

Carcará encantado




Não gosto de novela (pior do que isso só o BBB e afins), mas gostaria de gostar. Fiz várias reportagens sobre novela, lembro de Beto Rockfeller, que na Veja de 68 virou capa ousada e foi saudada como novidade no vídeo (edição 35 de Veja, 7 de maio de 1969). Realmente uma novidade nesse gênero que Plínio Marcos classificou como “história de um casal que quer ir pra cama e de mais cinco ou seis personagens que estão ali para atrapalhar”. De lá pra cá, pouco assisti e não vi grande novidade. Vi agora Cordel Encantado e me surpreendi. Bom de história, de texto, de direção, de interpretação, de direção de arte, figurino, cenário, produção musical e tudo mais. Parabéns. Na trilha, músicas lindas, e para esse domingo que acordei encantado, esse vídeo de João do Vale e Chico cantando Carcará.



sexta-feira, 3 de junho de 2011

Fujimori nunca más! Viva el Peru!

Por que Ollanta Humala vai vencer.
Hoje de manhã fiquei ansioso, esperando a Sandra (Recalde) e o Juan (Pessoa), da MPI, amigos e parceiros de algumas campanhas políticas, acordarem e acessarem o skype. Eles estão no Peru (duas horas mais cedo...) dando consultoria em Redes Sociais à campanha de Humala, e eu estava louco pelas novidades da campanha presidencial de lá.
Não é uma eleição fácil. A Filha de Fujimori pulou na frente e sabemos que ela (graças ao pai) tem grande força junto ao eleitorado de perfil popular. Mas não era apenas esse o problema: ela também liderava (com folga) em Lima. Ou seja, questões como ditadura ou esterilizações sem autorizações não serviam para motivar o povão contra a Filha de Fujimori e, além disso, a classe média não se motivava a favor de Ollanta Humala, por ele ser militar ou por medo de um fracasso econômico (como fizeram aqui com Lula). Foi preciso repensar a estratégia de Ollanta, dando mais valor ao voto classe média. E para isso nada melhor do que as chamadas redes sociais. 77% dos eleitores utilizam o Facebook! As comunidades independentes, de jovens, principalmente, são muito fortes e com grande tendência anti-ditadura, em defesa da democracia – tanto que a comunidade “No a Keiko” já contava com 60.000 seguidores. Foi mais do que natural aproximar-se dessas comunidades. A equipe Humala foi atrás das classe B e C, dos intelectuais, jovens, estudantes, professores, artistas, de todos que eram contra a ditadura. Mostrou-se que a Filha de Fujimori tem a mesma mão pesada do pai, que ela possivelmente tem forte complexo de Electra, desejando reencarnar o pai (clique aqui). A primeira grande demonstração de força dessa nova atitude da campanha com apoio das redes sociais foi o 
#26m Fujimori nunca más!, que ajudou a mobilizar 20.000 pessoas, predominantemente jovens, que foram para as ruas, à maneira da Espanha, em defesa da democracia, não à ditadura (clique aqui). Paralelamente, Ollanta tratou de provar flexibilidade e amor à democracia. O resultado positivo já é visível. Talvez ainda estejam em empate técnico. Mas o sentimento da vitória de Ollanta já ganha as ruas. Na última pesquisa da Universidad Católica, Ollanta Humala já aparece com 51,8% contra 48,2% da Filha de Fujimori. A democracia vencerá. (imagens do último comício , aqui também)