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domingo, 17 de março de 2013

"Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino da Terra", Chico 2.0



A mídia está querendo transformar o novo Papa em aliado de sua luta contra os governos populares da América Latina (berço da Teologia da Libertação). Pode vir a ser, mas acho difícil. Essa luta não é o foco atual da igreja Católica e um escorregão nessa direção pode atrapalhar na sua questão principal, que é a luta contra o avanço dos evangélicos, basicamente os pentecostais e neopentecostais. Ao contrário do medievalismo católico, que oferece como única alternativa “concreta” a felicidade no Reino do Céu, os evangélicos acenam com riquezas bem terrenas a seus fiéis. A partir dessa diferença básica e com uma estratégia de marketing bem mais agressiva, os evangélicos arrebanham fatias cada vez mais expressivas das estatísticas católicas (principalmente nas áreas urbanas, com suas franjas lumpen). No Brasil, o maior país católico do mundo, de 1970 para 2010, a participação do catolicismo caiu de 91,8% para 64,6%, enquanto a participação dos evangélicos pulou de 5,2% para 22,2%. (Destacamos que, na Argentina, as estatísticas de 2008 mostram 75,5% de católicos contra 9% de evangélicos – mas com grande crescimento desses últimos, o que também ajuda a explicar um Papa argentino.)
Diante dessa realidade infernal, à igreja Católica – agora sob nova direção –, interessa muito mais aliar-se aos governos populares do que forçá-los a uma aproximação do universo evangélico. Se o Papa Francisco nos tempos das ditaduras foi conivente ou omisso, é uma questão que vai se tornar um “não foi nada disso”. E em vez de oferecer riquezas imateriais, a igreja Católica passará a acenar com riquezas mais palpáveis, capazes de abafar o canto da sereia evangélico. Para isso, terá que apoiar as políticas sociais e fugir como o diabo foge da cruz da política de terra arrasada dos neoliberais. "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”, como diz Lucas 6.20? Nem pensar. O mote é outro, surge a possibilidade de uma nova aliança popular. E quem saltou na frente estendendo a mão para esse novo acordo político-religioso foi o presidente Maduro, da Venezuela, que atribuiu aos conselhos do “apóstolo” Chávez a escolha do novo Papa. Apesar de esse Papa estar sendo visto (com razão) com certa desconfiança por parte da esquerda,  pode estar sendo lançada a Nova Igreja Católica Popular da América Latina.
(“Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis.” Lucas 6.24 e 25)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cesar Maia e a doença de Lula

Cesar Maia fez o texto abaixo no seu Ex-Blog de hoje:

A ABSURDA DISCUSSÃO SOBRE OS EFEITOS POLÍTICOS DA DOENÇA DE LULA!
               
1. Os humanistas - que têm a pessoa humana como razão e centro dos objetivos políticos - devem se negar a participar de especulações sobre o futuro político em função da doença de Lula. O que cabe é a solidariedade pessoal, a energia de uns e a oração de outros, para que Lula se reestabeleça rápida e plenamente. E nada mais.
2. Até porque os efeitos sobre o imaginário popular - em curto e médio prazos - são imprevisíveis entre os latinos. Vide Argentina recentemente. Vide Brasil de Tancredo. Sendo assim, nem é cristã essa especulação, e ainda é inócua. As energias devem se voltar para a recuperação pronta de forma a que o debate político se dê em seu campo próprio com Lula na plenitude de suas forças. E aí sim as ideias devem ser confrontadas.
3. Mas a coincidência do mesmo mal em líderes em função de governo como Chávez, Lula, Lugo e Dilma, deveria levar a uma reflexão sobre a relação entre o estresse político e a alteração do equilíbrio celular. No caso de Kirchner isso ficou patente, embora não tenha falecido por ocorrência de tumor. Os líderes nos EUA e na Europa cuidam de suas jornadas de trabalho e dos períodos de férias e relaxamento. Aqui, os líderes se jactam por dar publicidade a serem workaholic - trabalhadores compulsivos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Percepções: Palocci, Obama, Battisti, bombeiros e Humala

Em política, mais do que em qualquer outro aspecto da vida, não basta ser – tem que ser percebido que é. Foi o que aconteceu com Palocci. Não bastou provar que não há nada concreto contra o seu enriquecimento súbito, nada demonstra que foi ilícito. Mas, se pretende ser percebido como íntegro, o homem público não pode deixar transparecer enriquecimento malvisto – por mais honesto que tenha sido. O erro de Palocci foi esquecer essa regra. A oposição está mais interessada nas percepções do que nas comprovações, é o que lhe resta para crescer. Como teria dito Lula, Palocci saiu na hora certa.
Obama ganhou admiração do eleitor americano quando mostrou que sabe falar grosso no combate ao terrorismo. Invadiu o Paquistão, matou bin Laden, sequestrou e desapareceu com seu corpo – e seus índices de aprovação dispararam. Agora precisa ser percebido como aquele que também fala grosso na economia.
Sobre Battisti, a Itália e Gilmar Mendes podem dizer o que bem entenderem – mas o caso é político, e foi com essa visão que Lula corretamente agiu. Mas a guerra de percepções continua.
Os bombeiros do Rio (e provavelmente do mundo inteiro) sempre foram percebidos como heróis. Além de combatentes do fogo, a partir do Governo Brizola, passaram a atuar no atendimento de emergência para acidentes. E no Governo Sérgio Cabral sua ação se ampliou, com os bombeiros agindo como auxiliares da saúde, muitas vezes substituindo com vantagem os profissionais tradicionais da saúde. Infelizmente, esse novo papel causou fissuras internas (“brancos” x “vermelhos”), inclusive em questões salariais. A insatisfação cresceu e uma espécie de movimento sindical-fundamentalista (evangélico) ganhou força. Com a votação da PEC 300 em perspectiva e a decisão de radicalizar diante de impasses, os bombeiros ganharam as ruas. Provocaram uma situação de confronto irreversível e, ao contrário do que normalmente ocorre nessas situações, conservaram a simpatia pública. O Governo não teve alternativa a não ser cumprir a lei. Mas agora está enfrentando uma difícil guerra de percepções, que pode se ampliar nacionalmente.
Humala confirmou a previsão deste Blog. Reagiu na reta final e superou a adversária, Filha de Fujimori, em uma guerra de percepções bastante complexa. Agora, eleito, enfrenta o terceiro turno dessa guerra, a luta contra os neoliberais que buscam inviabilizar o seu governo associando-o a Hugo Chávez. Como antídoto inicial, Humala escolheu o Brasil de Lula e Dilma como primeiro país a ser visitado.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O triste fim de um discurso diplomático


Excelente esse artigo (O triste fim de um discurso diplomático) de Marco Aurélio Garcia. Clareza, precisão, interessantíssimo, excelente leitura:

Não é fácil poder dar, em um período relativamente curto, duas entrevistas às páginas amarelas da revista Veja. É preciso estar muito afinado com o conservadorismo raivoso dessa publicação para merecer tal distinção.
Sei disso por experiência própria. Há muitos anos, um colunista-fujão de Veja dedicou-me um artigo cheio de acusações e insultos. Ingenuamente, enviei minha resposta a esta publicação, que se proclama paladina da liberdade de expressão. Meu texto não foi publicado e, para minha surpresa, li uma semana mais tarde uma resposta à minha resposta não publicada.
O embaixador-aposentado Roberto Abdenur teve mais sorte que eu. Emplacou uma segunda entrevista à Veja, talvez para retificar o tiro da primeira que concedeu (7 de fevereiro de 2007). Ou quem sabe para "compensar" o excelente depoimento do Presidente Juan Manuel Santos, na semana anterior, que não sucumbiu às tentativas da revista de opor o Brasil à Colômbia na América do Sul. Em sua primeira entrevista o diplomata destilava ressentimento contra o Ministro Celso Amorim que, num passado distante, o havia convidado para ser Secretário-Geral do Itamaraty e, mais recentemente, o havia enviado para uma de nossas mais importantes embaixadas – a de Washington. Abdenur preservava, no entanto, a política externa brasileira e, sobretudo, o Presidente Lula, que o havia designado como seu representante nos Estados Unidos.
Agora, tudo mudou. A crítica é global e dela não escapa nem mesmo o Presidente da República. Em matéria de política externa Lula não passa de um "palanqueiro", a quem o Itamaraty "não sabe dizer não". Faltando à verdade, o intrépito embaixador diz que nosso Presidente "começou a bater em Obama antes de eleito e não cansa de dar canelada no americano". Abdenur desconhece, ou finge desconhecer, as inúmeras manifestações de simpatia – e de esperança – que a eleição do atual Presidente norte-americano provocou em seu colega brasileiro. Ao invés disso, o ex-embaixador escorrega em rasteiro psicologismo ao detectar no Presidente Lula "um elemento de ciúme" em relação a Obama, pois este último lhe teria subtraído "a posição privilegiada no palanque global"...
Abdenur fez vinte anos de sua carreira diplomática durante o regime militar e não sofreu nenhum constrangimento. Até aí tudo bem. Muitos outros de seus contemporâneos tampouco foram perseguidos. Mas essa experiência profissional não lhe autoriza fazer analogias entre a política externa atual e aquela levada adiante nos primeiros anos da ditadura, quando chanceleres proclamavam que o que "é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil" ou patrocinavam o envio de tropas brasileiras para esmagar as mobilizações populares na República Dominicana.
É claro que aquelas inflexões da política externa brasileira foram tomadas por "razões ideológicas" (de direita). Mas a pergunta que não quer calar é: quando não temos motivações ideológicas na política, em particular na política externa?
Durante o Governo Geisel, quando Abdenur integrou o grupo dos "barbudinhos" do Itamaraty, foram resgatados princípios da Política Externa Independente de Santiago Dantas, Afonso Arinos e Araújo Castro, apresentados para a ocasião sob a eufemística denominação de "pragmatismo responsável". Mas aquela política – que tinha conteúdos progressistas, diga-se de passagem – também era expressão do projeto autoritário de "Brasil Potência" propugnado pelos militares. Tanto ela, como a Política Externa Independente do período Goulart-Jânio, tinham fortes componentes "ideológicos", como é normal em qualquer sociedade, democrática ou não.
É igualmente "ideológica" a reivindicação do ex-embaixador de que nossa diplomacia se alimente de "valores ocidentais". Mais do que ideológica, é ultrapassada e perigosa.
Ultrapassada, pois traz à memória os tempos da "guerra fria", quando se falava em "civilização ocidental e cristã" para esconder propósito profundamente conservadores.
Perigosa porque traz à tona e legitima a idéia de choque de civilizações (entre "oriente" e "ocidente") que os neo-conservadores têm defendido com tanta insistência nos últimos anos para justificar suas aventuras belicistas, queima de livros ou interdição de templos religiosos.
O ex-embaixador se alinha com as críticas da oposição brasileira contra a política externa atual. Seletivamente, ataca nosso bom relacionamento com Venezuela, Bolívia e Equador, supostamente motivado por afinidades ideológicas, esquecendo-se de mencionar nosso igualmente bom relacionamento com Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Motivado por que?
Escondendo-se detrás de "boa fonte boliviana bem informada", desconhece ou deliberadamente omite, a cooperação militar e policial que se desenvolve com a Bolívia e com outros países para fazer frente ao flagelo do narcotráfico na região.
É próprio do pensamento conservador tentar apropriar-se de valores universais para encobrir interesses particulares – de classe, estamento, grupo ou etnia. A história do Brasil está cheia de exemplos. Nosso liberalismo conviveu alegremente com a escravidão. Nossa República proclamou retoricamente, durante décadas, a cidadania plena e praticou a mais brutal exclusão econômica, social e política. Tudo isso à sombra o Iluminismo, dos ideais da Renascença, do Humanismo ou da Revolução Americana que o embaixador invoca em seu vago projeto diplomático.
O Presidente Lula, assim como quase todos governantes, manteve e mantém relações com Chefes de Estado e de Governo dos mais distintos países: de democráticos, de regimes teocráticos, de partido único ou de responsáveis por graves violações de direitos humanos em nível local ou global. Não será difícil encontrar os nomes dos países na tipologia antes aludida.
Esses relacionamentos não se devem a idiossincrasias presidenciais como, de forma desrespeitosa, pretende Abdenur. Eles se inserem no difícil esforço de construção de um mundo multilateral e, sobretudo, de um mundo de paz.
São muitos os caminhos para atingir esse objetivo. Vão do uso da força militar ao emprego das sanções que golpeiam mais ao povo do que aos governantes dos países atingidos. Mas há também o caminho da negociação, da diplomacia que não renuncia valores, mas que não faz deles biombo por traz do qual se ocultam inconfessáveis opções políticas e ideológicas, particularmente quando a sociedade brasileira é chamada a decidir seus destinos pelos próximos quatro anos.
P.S.: há algum tempo a imprensa noticiou que Roberto Abdenur estava dando cursos de política externa para os Democratas (ex-PFL). Não acreditei. Agora passei a acreditar.
Marco Aurélio Garcia é assessor para assuntos internacionais da Presidência da República.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Colômbia X Venezuela: Lula aplicou golpe preciso em Hillary, antes que ela metesse os pés pelas mãos


Vamos combinar o seguinte – interessa muitíssimo aos Estados Unidos fincar os pés definitivamente na região amazônica, e a Colômbia, ultimamente, tem sido o melhor caminho. Com a justificativa do combate ao narcotráfico, os Estados Unidos transformaram a Colômbia no terceiro maior destino de suas verbas entre todos os países do mundo. Com a presença longa e em grande extensão dos homens das FARC, encontraram outra boa desculpa para impor suas bases militares próximas às fronteiras com o Brasil. O estilo verborrágico de Chávez também serviu de desculpa e Uribe foi um aliado de mão-cheia.
Quando tudo indicava que a Colômbia poderia se transformar em uma espécie 51º estado americano (exageros à parte...), a diplomacia brasileira entrou em campo, através de Lula, para defender nossos interesses geopolíticos.
A capacidade política de Lula permitiu fazer os países vizinhos compreenderem que era importante abandonarem o papel de meros pretextos para se transformarem em atores soberanos de uma nova América Latina. Como assinala o editorial do jornal mexicano La Jornada, Lula “indicó que cuanto más pronto se establezca la armonía entre Caracas y Bogotá, ‘más van a ganar los pueblos’ de ambas naciones, y convocó a un acercamiento entre el mandatario venezolano Hugo Chávez y el presidente electo de Colombia, Juan Manuel Santos, a quien pidió ‘ejercer su mandato y negociar para alcanzar la paz’". Segundo a agência EFE, “O embaixador colombiano em Buenos Aires, Álvaro García Jiménez, disse neste domingo que a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ‘foi fundamental’ em busca de uma solução ao conflito entre a Colômbia e a Venezuela”. O editorial do La Jornada ainda conclui que “ante las posturas expresadas por Lula, es claro que Brasil desempeña, hoy día, un papel lúcido y constructivo en la solución de tensiones en el ámbito diplomático. La condición de interlocutor central y creíble que ha adquirido el gobernante brasileño coloca a su país en la posición de incidir positivamente en conflictos diversos que se desarrollan dentro y fuera del continente, y cabe esperar que lo consiga”.
Lula e a diplomacia do novo Brasil deram grande passo para uma nova América Latina, unida, pacifista, disposta a resolver seus problemas sociais para avançar com altivez no cenário mundial. O estilo Hillary perdeu esse round e, se continuarmos com o pé firme nesse caminho, perderá de vez essa batalha geopolítica.

Eleições 2010: Cesar Maia entrega os pontos


O Ex-Blog de hoje, escrito por Cesar Maia (DEM), poderia se chamar "Desisto". Com o pretexto de criticar a letargia das campanhas presidenciais em geral, ele demonstra o desespero que tomou conta da Oposição por sua total incapacidade de oferecer ao povo brasileiro um futuro melhor do que o presente lulista. Ao contrário, a Oposição só tem a oferecer a imagem de FHC no retrovisor. O único entusiasmo de Cesar Maia é com sua própria candidatura ao Senado pelo Rio de Janeiro, que tem grandes chances de vitória - embora comece a ser ameaçada por Lindberg (PT). Leia o Ex-Blog:

A CAMPANHA MAIS FRIA DA HISTÓRIA!
                   
1. Por onde se circula - capitais, municípios metropolitanos e interiores- não se consegue ver nenhuma iniciativa das campanhas presidenciais. A exceção se dá quando um candidato se apresenta -fisicamente- num local. E apenas por aquelas duas horas. E é essa a avaliação por todo o país. E que não se culpe a imprensa, pois essa tem feito força para animar a campanha, excedendo-se na divulgação de propostas e de conflitos.
2. Falta experiência eleitoral à candidata do governo, é verdade. Mas sobra no da oposição. E quando se pensava que a alternativa ambiental viria com alguma "verdade inconveniente", o que se vê é um bom comportamento que beira a uma espécie de 'saudades do governo'. O debate da Band foi apenas a apoteose da falta de brilho e de consistência.
3. As candidaturas favoritas fazem suas campanhas como se a instância presidencial estivesse completamente separada da política regional. Nem informação - reclamam as "bases" de ambos os lados- se tem. Isso, num país continental, em que por mais que os candidatos andem, não chegarão - diretamente - a 0,5% dos eleitores. E, por isso mesmo, precisam mobilizar suas "bases" para que estas deem capilaridade à campanha. A animação que se tentou com as Farc sequer passou pelo crivo de uma pesquisa que diria que as Farc não existem no imaginário do eleitor médio. Quem existe é Chávez.
4. Essa letargia pode até interessar a candidatura do governo, mas a sensação que se tem é que ocorre menos por estratégia que por falta de talento. E a oposição vive enjaulada numa tentativa de explicar ações do atual governo pelas ações do governo anterior. Só que, as ações do governo anterior - quando percebidas positivamente - se referem a 12 anos atrás. Ou seja, quem tem hoje 25 anos, tinha na época 13 anos, e quem tinha 70 anos, tem hoje 82. O que passa é que vai tudo bem e, se vai bem, para que mudar, comentava uma dona de casa num município do interior do Estado do Rio, semana passada.
5. O debate na Band foi a expressão desse quadro. Se os atores tivessem recebido um script para representar uma campanha insípida e inodora, não poderiam ter se saído melhor. O destaque foi nostálgico: como eram animados os anos 50, poderia se dizer do candidato da poli-oposição, que ainda ironizou os demais, batizando-os, num 'revival' de Brizola. E 'coerentemente' se debateu o tema saúde em torno dos mutirões de cirurgia -ou seja- daquilo que não foi feito pela rede e se tenta corrigir depois.
6. Lembre-se que, faltando 50 dias para as eleições, o eleitor já começa a transformar sua intenção inicial de voto em decisão final. Quem usa a audiência do debate como justificativa para torná-lo inócuo, se esquece da cobertura da imprensa, que por três dias abriu todos os espaços -escritos, ouvidos e vistos- para tratar do tema. A audiência pós-debate foi, assim, muito grande. E já veio com as conclusões: foi um não debate.
7. Agora, todos se concentram nos programas e comerciais na TV como se a criatividade dos publicitários pudesse transformar a realidade e produzir o milagre de mudar os  produtos pela substituição da embalagem. A pré-campanha, como dizia Paul Lazarsfeld nos anos 40, é o momento da fotografia (de seu tempo), impregnando a imagem no celulóide. E a campanha é a revelação dessa imagem impregnada. Se não há pré-campanha, dizia ele, não há campanha.
8. Se os presidenciáveis pensam que a campanha é na TV, como não houve pré-campanha, a atenção estará voltada para as pesquisas, com cada um torcendo por elas, como se pudessem ser o retrato do que não fizeram.  E se popularidade do presidente fosse a pedra de toque, o presidente do Chile hoje não seria Piñera e Churchill não teria perdido a eleição 3 meses depois de terminada a segunda guerra.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Samuel Pinheiro Guimarães: caças não são automóvel


Em entrevista ao Globo de hoje, o atual Secretário de Assuntos Estratégicos coloca o parecer da FAB sobre a compra dos caças no seu devido lugar. Trata-se um parecer técnico, valorizando o item preço, mas que não é suficiente para uma decisão que é estratégica para o país. Veja entrevista completa, com voos além dos caças.

O preço não pode ser o único determinante
Secretário de Assuntos Estratégicos dá recado à FAB e diz que escolher novo caça não é 'como comprar automóvel'

ENTREVISTA
Samuel Pinheiro Guimarães

Após comemorar os 70 anos, sendo 48 dedicados ao Itamaraty, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães abriu mão de uma aposentadoria para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos, foco de atritos e polêmicas na gestão de Mangabeira Unger. Conhecido pelas ideias nacionalistas e indicado pelo PRB do vice-presidente José Alencar, o novo ministro diz que o Brasil precisa ampliar seu espaço entre as grandes potências. E dá recado aos oficiais da FAB insatisfeitos com a preferência pelos caças franceses Rafale: — Isso não é como comprar automóvel.


Bernardo Mello Franco

O GLOBO: A Defesa vive um impasse com a concorrência para a compra de caças. Quando Lula anunciou a preferência pelo Rafale, o presidente francês Nicolas Sarkozy defendeu a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Isso pesa na escolha?
SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES: Tudo está interligado. Não é só questão econômica. Envolve aspectos políticos, estratégicos.
Isso não é como comprar um automóvel. O preço não pode ser o único determinante. Você não está comparando coisas que são iguais, como dois grãos de soja, um mais barato que o outro. Só o nome é que é igual: avião. Decisões na área de defesa e soberania são decisões de governo. Não são setoriais.
O GLOBO: A oposição acusa o governo de inchar o Estado.
GUIMARÃES: É equívoco. Outros países têm número de servidores proporcionalmente maior. Falta muito, os índices (de contratação no setor público) são insuficientes. Há 500 municípios brasileiros sem médico. O Estado tem que atuar onde as empresas privadas não atuam ‘A Constituição prevê plebiscitos e referendos’
O GLOBO: O Plano Nacional de Direitos Humanos foi atacado por prever a realização de mais plebiscitos e referendos. O senhor defendeu a tese da democracia direta. É hora de retomar a ideia?
GUIMARÃES: A Constituição prevê plebiscitos e referendos. A população não pode participar diretamente do processo de elaboração das normas, por isso elege representantes.
À medida que essa representação é afetada pelo poder econômico, há distorção da vontade popular. O pleb iscito não tem nada demais.
O GLOBO: Deveria ser mais usado?
GUIMARÃES: Há hoje em dia situações extremamente difíceis de compreender. É necessário que haja maior responsabilidade dos representantes em relação aos representados: que só possam exercer mandatos pessoas que tenham recebido votos.
O GLOBO: Isso significaria o fim dos suplentes no Senado.
GUIMARÃES: Se as pessoas estão ali para elaborar leis, é necessário que tenham passado pelo crivo eleitoral.
O GLOBO: Em sua posse, Lula o chamou de guru do presidente Hugo Chávez e contou que ele é fã de seus livros. Como vê as acusações de que a Venezuela viveria sob restrição à liberdade de imprensa?
GUIMARÃES: É uma questão sujeita a grande distorção e desinformação. Há liberdade absoluta de imprensa na Venezuela. As pessoas dizem o que bem entendem, e com um grau de violência...
O GLOBO: Mas o governo fechou a emissora RCTV, de oposição. E Chávez é acusado de abusar no populismo.
GUIMARÃES: Televisões são concessões, não propriedades de pessoas. É o que dizem a Constituição e a lei.
Aliás, aqui também. Onde nós estamos? Há um altíssimo grau de desinformação, isso sim. Ter altos índices de aprovação popular é ser populista? (Risos). Quando um governante tem alta aprovação, é porque alguma coisa está fazendo pelo povo.
O GLOBO: No último ano do governo Lula, o senhor está coordenando o Plano Brasil 2022 com metas para o bicentenário da Independência para um período que pega outros três governos. Isso terá força de lei.
GUIMARÃES: Transcende a ideia de um governo apenas.
Queremos algo de que a sociedade participe. O que o presidente pretende fazer, eu não sei. Ele dará o encaminhamento que considerar oportuno. É preciso ter ambição e audácia. O Brasil deve ter um crescimento acelerado para chegar a 2022, no mínimo, como a quinta maior potência do mundo.
Mas também é preciso que tenha reduzido de forma muito significativa as suas disparidades sociais.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Honduras, divisor de águas profundas

Todos já sabem o que aconteceu em Honduras, aquele pedaço de terra menor (em tamanho e população) do que o nosso Ceará, situado entre as águas profundas do Caribe e do Pacífico, um dos países mais pobres do continente, que sobrevive graças à venda de café e banana para os Estados Unidos. Um grupo de políticos (e militares) da direita hondurenha, sentindo-se traído pelo antigo aliado Zelaya, deu um golpe de estado e expulsou o Presidente eleito, que não aceitou calado e movimentou-se em busca de apoio internacional. O Brasil destacou-se na sua defesa. Zelaya, em movimento ousado, retornou clandestinamente a seu país e instalou-se na Embaixada do Brasil. O governo brasileiro não pôde fazer nada, e fez bem em não reagir contra. A tática dos golpistas e seus apoiadores era empurrar com a barriga até que o golpe virasse fato consumado e aceito por “usucapião”. A nova situação provocada por Zelaya em nossa embaixada exigiu definição dos atores envolvidos. Os golpistas tiveram que arreganhar os dentes e mostrar os trogloditas que realmente são. Os Estados Unidos tiveram que deixar exposta a ambiguidade de seu jogo: ao mesmo tempo que Obama deseja uma política mais liberal para o continente, os assessores da Secretária Hillary Clinton insistem na importância de apoiar os golpistas para não ceder espaço à política chavista. OEA e países emergentes tomaram posição firme contra o golpe. O Conselho de Segurança, comandado pelos Estados Unidos, mostrou-se frágil. Mas o importante é que os golpistas sentiram o golpe e tentam desesperadamente voltar atrás em suas truculências. Até contrataram empresa de relações públicas para melhorar sua imagem – na minha opinião, tarde demais. Tarde demais também para nossos políticos, intelectuais e jornalistas que, no afã anti-Lula, apressaram-se em demonstrar simpatia pelos golpistas hondurenhos. Buscaram justificativas “constitucionais” para o golpe. Chamaram o Itamaraty de bando de trapalhões. Torceram o nariz para o presidente democraticamente eleito “por causa” da proximidade de Chávez e do seu chapelão texano. Demonstraram, isso sim, mentalidade subserviente, que acredita que o melhor slogan para o Brasil seria “no, we can’t”. Fecharam os olhos para o que diz o resto do mundo, como o jornal inglês The Independent, em sua reportagem The rise and rise of Brazil: Faster, stronger, higher, onde afirma que "a ação brasileira (...) pegou Washington no contrapé e expôs um claro abismo na confusão hondurenha entre Obama – que quer uma ação decisiva para repor Zelaya no poder – e uma vacilante Hillary Clinton”. Ou o argentino Clarín na reportagem El protagonismo de Brasil en Honduras modifica su tradición: “Ahora Brasil ha salido del Sur y se ha tornado un protagonista fundamental de la principal crisis de América latina del Norte. Está en el centro de los acontecimientos en Honduras. No actúa en forma compartida o multilateral, sino individualmente, como gran potencia. Es una novedad histórica. Brasil es hoy la representación de la comunidad internacional en una crisis que se profundiza, se polariza y escala”. Honduras foi um divisor também para nós, brasileiros. Opôs, de um lado, o atraso, a cabeça colonizada, o conservadorismo, o neoliberalismo, e, de outro, um Brasil que soube crescer, reduzir desigualdades, conquistar espaço, projetar-se no mundo e preparar-se para assumir um lugar de relevância no futuro.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Boal e o mundo

Discurso de Augusto Boal, diretor artístico do Centro de Teatro do Oprimido, para o Fórum Social Mundial 2009.
A mídia costuma publicar só o que é espetacular, sensacional, mesmo que tenha que esconder a verdade. Hoje, fala-se mais da cor da pele de Barack Obama do que do seu projeto político, como ontem falou-se mais dos seios da Carla Bruni do que das idéias direitistas do seu marido Sarkozy.
A mídia tem dono, e reflete as opiniões do seu proprietário: o Fórum Social Mundial não tem dono, e deve refletir as nossas.
Foro, Fórum, significa etimologicamente a praça pública, onde se pode discutir livremente. Este nosso Foro é mundial e deve, portanto, discutir os assuntos do mundo.
Temos que saudar o fim da era Bush e seus parceiros, mas ficar atentos à nova era que começa. Aplaudir os primeiros atos de Barack Obama, mas analisá-los com cuidado. Aplaudir sua decisão de fechar Guantânamo, mas lembrar que isso não basta: é necessário restituir Guantânamo ao seu legítimo dono, que é o povo cubano. Aplaudir a ordem de acabar com a tortura, mas lamentar que os torturadores não sejam punidos por esse crime de lesa-humanidade e continuem nos seus postos de comando. Aplaudir o desejo do novo presidente em dialogar com todos os países, mas explicar que não queremos, como ele promete ou ameaça, não queremos ver o seu país liderando o mundo - essa tarefa não compete nem aos Estados Unidos nem ao Paraguai, mas sim à Organização das Nações Unidas que para isso foi criada e tantas vezes tem sido desrespeitada pelo país de Barack Obama.
O Fórum é social, e temos que falar do genocídio dos palestinos. Temos que separar, de um lado, o cruel governo de Israel e, de outro, as centenas de milhares de judeus que com ele não concordam. Não devemos cometer a injustiça que se fez com os alemães, pensando que todos fossem nazistas, quando muitos morreram lutando contra Hitler e seus asseclas.
Milhares de judeus, dentro e fora de Israel, condenam e se envergonham do que fez e faz o seu governo, que representa tão somente aqueles que o elegeram, mas não o judaísmo. Dentro de Israel existem organizações como a dos Combatentes Pela Paz, de Chen Allon, que condenam a invasão e denunciam seus crimes. Tenho orgulho em dizer que, para isso, usam o Teatro do Oprimido entre outras formas de combate.
No Oriente Médio já se inverteu a distribuição de papéis: se, ontem, Israel foi o pequenino David, hoje é o gigante Golias, filisteu. O novo Golias, apoiado pelos Estados Unidos, em 22 dias matou mais de 300 crianças e centenas de mulheres e homens, civis ou combatentes. Eu chorei vendo a fotografia de um menino, um pequenino David palestino, jogando pedras contra um tanque de guerra. Se a lenda de David e Golias, ontem, foi apenas lenda, a história de Golias e David, hoje, é triste realidade: os 1.300 mortos ainda estão sendo retirados dos escombros, sem as solenes pompas fúnebres dos 13 soldados israelenses. O Fórum e o mundo não podem esquecer esse crime antes mesmo que sejam enterradas suas vítimas.
Nosso Fórum é pluralista, e deve se manifestar contra o colonialismo italiano que ofende a nossa soberania, que tenta interferir nas decisões da nossa Justiça, como está sendo o caso da concessão de asilo a Cesare Battisti. Existe uma lei brasileira que proíbe a extradição de pessoas condenadas em seus países à pena de morte ou à prisão perpétua. É este o caso, é esta a lei! O ministro Tarso Genro apenas cumpriu a lei – a lei brasileira. O presidente Lula foi claro explicando aos italianos as sólidas bases da nossa decisão, mas parece que eles não entenderam, nem disso são capazes. Por quê?
A Itália, que foi o berço do fascismo e deveria ser também a sua sepultura, mostra agora que a ideologia colonialista ainda está viva e pretende anular decisões soberanas do Brasil, invadindo o nosso Judiciário e querendo nos ensinar a diplomacia da obediência e da submissão. Temos que repudiar essa ofensa e libertar o prisioneiro!
Nosso Fórum é social, e a economia também. A maioria dos países que estão em crise, ou dela se aproximam, sempre disse não ter dinheiro para melhorar a Educação, a Saúde, a Previdência Social. De repente, para socorrer seguradoras, bancos e montadoras, esses governos descobriram que tinham bilhões e trilhões de dólares, euros, iens e libras. Nosso Fórum tem a obrigação moral de interrogar os senhores da Davos: de onde veio esse dinheiro? Quem os escondia? Quanto sobrou? Onde estão?
O nosso Fórum Social também é brasileiro e é camponês: devemos saudar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, que é o mais democrático e bem organizado movimento de massas que o Brasil já teve, e que completa agora 25 anos de luta pela terra, luta que continua.
O Fórum Social Mundial não é daqueles que dizem Hay Gobierno? Soy Contra, e, porque assim não é, deve se alegrar em receber tantos presidentes de tantas Repúblicas sulamericanas juntos neste evento: Evo, Correa, Kirchner, Chavez, Lugo e Lula. Nunca se viu fraternidade igual. Queremos agora ver os resultados concretos dessa irmandade.
Devemos, muito cordialmente, lembrar aos nossos presidentes que a Política não é a arte de fazer o que é possível fazer, mas sim a arte de tornar possível o que é necessário fazer!
Caminhar não é fácil! As sociedades se movem pelo confronto de forças, não pelo bom senso e justiça. Temos que avançar e, a cada avanço, avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe porto seguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto mar e o nosso navio tem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é, porque navegar é viver, viver é navegar!
Eu sou homem de teatro e não posso deixar de falar de Arte e Cultura quando falo de Política, porque a Política é uma Arte que a Cultura produz.
Temo que, mesmo entre nós, muita gente ainda pense em arte como adorno, e nós dizemos: não é! A Palavra não é absoluta, Som não é ruído, e as Imagens falam. São esses os três caminhos reais da Estética para o entendimento: a palavra, o som e a imagem. São também os canais de dominação, pois estão os três nas mãos dos opressores, não dos oprimidos: a Palavra dos jornais, o Som das rádios, as Imagens da TV e do cinema estadunidense, dominam nossos meios de comunicação e invadem nossos cérebros com seu pensamente único, seus projetos imperiais e suas mercadorias.
Acabou-se o tempo da inocência... o tempo da contemplação já não é mais. Temos que agir!
Palavra, imagem e som, que hoje são canais de opressão, devem ser conquistados pelos oprimidos como formas de libertação. Não basta consumir Cultura: é necessário produzi-la. Não basta gozar arte: necessário é ser artista! Não basta produzir idéias: necessário é transformá-las em atos sociais, concretos e continuados.
A Estética é um instrumento de libertação.
Eu felicito o nosso Ministério da Cultura pela criação de mais de mil Pontos de Cultura no Brasil inteiro, onde o povo tem acesso não só à Cultura alheia, mas aos meios de produzir sua própria Cultura sem servilismos, sua Arte sem modismos, porque entendemos que Arte e Cultura são formas de combate tão importantes como a ocupação de terras improdutivas e a organização política solidária.
Sonho com o dia em que no Brasil inteiro, e no inteiro mundo, haverá em cada cidade, em cada povoado ou vilarejo, um Ponto de Cultura onde a cidadania possa criar e se expressar pela arte, a fim de compreender melhor a realidade que deve transformar. Nesse dia, finalmente, terá nascido a Democracia que, hoje, só existe em Fóruns como este!
Ser cidadão, meus companheiros, não é viver em sociedade: é transformar a sociedade em que se vive!
Com a cabeça nas alturas, os pés no chão, e mãos à obra!
Muito obrigado.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Classe Média X Lula

As eleições passadas demonstraram e as chamadas "crises" recentes confirmam que está se formando um fosso quase intransponível entre Lula e a Classe Média. Obviamente, essa intolerância está sendo estimuladas por grupos oposicionistas e está longe de levar a índices de reprovação ao Governo que sejam superiores aos índices de aprovação popular. Mas é sempre bom para o Governo estar alerta. Garotinho, ex-Governador do Rio de Janeiro, costumava se preocupar com a rejeição que tinha na Classe Média - até que desistiu. Ele dizia: "Sou do Interior, não sou elegante, sou casado, tenho família, tenho 9 filhos, sou evangélico, não bebo, não fumo e não cheiro - a Classe Média nunca vai me aceitar!" Deu no que deu. A Folha de hoje publica análises da última pesquisa Datafolha e reproduzo aqui a entrevista de Leandro Beguoci com José Murilo de Carvalho, "Classe média se divorciou de Lula":
FOLHA - As vaias na abertura do PAN, o movimento "Cansei" e o desgaste com o caos aéreo são sinais são sinais de que acabou a lua-de-mel entre Lula e a classe média?
JOSÉ MURILO DE CARVALHO - A lua de mel com a classe média já tinha acabado desde a última eleição. As vaias são a manifestação pública do divórcio.
FOLHA - Quais são as conseqüências para o governo, a curto e médio prazo, da insatisfação? E para o PT?
CARVALHO - Alguém disse muito bem que já se pode ganhar eleição sem classe média, mas é difícil governar sem ela. A classe média não pode ser conquistada com Bolsa Família nem com aumentos de salário mínimo. E ela é a senhora da opinião pública. Se quiser evitar mais turbulência, o governo terá que aplacá-la de algum modo.
FOLHA - O PT e a CUT traçam paralelo entre movimentos insatisfeitos com Lula e organizações apoiadoras do golpe de 1964. Há quem compare o "Cansei" à "Marcha da Família". O que o sr. acha disso? CARVALHO - Retórica. Dificuldade de aceitar oposição. Dificuldade de entender que há um Brasil importante entre o povão e os banqueiros.
FOLHA - Há alguma chance de o "Cansei" ganhar força a ponto de se tornar um grupo comparável ao MST durante o governo FHC?
CARVALHO - Não. A classe média foi para as ruas em 1964 movida por razões religiosas e políticas, como o anticomunismo, muito fortes, que tinham respaldo popular. Voltou na campanha das Diretas e na do impeachment do presidente Fernando Collor, também com respaldo popular. Agora, esse respaldo é improvável. O apagão ético e o apagão aéreo ajudam a desmoralizar o governo, mas não despertam a reação das classes mais pobres.
FOLHA - O presidente disse que a oposição está brincando com a democracia e que ele sabe, como ninguém, colocar gente nas ruas. Qual o significado das declarações?
CARVALHO - É uma ameaça explícita. É o que [o presidente] Hugo Chávez fez e está fazendo na Venezuela.
FOLHA - Lula também disse que só os pobres poderiam estar bravos, já que os ricos ganharam muito dinheiro com seu governo. Isso é uma forma de "getulismo" escancarado?
CARVALHO - As afirmações do presidente nunca primaram pela coerência. A política econômica tem, sim, favorecido, e muito, o setor financeiro e bastante o povão, mas não a classe média, que está espremida entre o tostão e o milhão. E é ela que está mais descontente.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O tico tico no fubá da mídia golpista, segundo o Blog do Mello

O Blog do Mello está apresentando uma versão do clássico "TicoTico no Fubá", de Zequinha de Abreu. Por enquanto ele apresentou apenas a letra. Promete uma versão com letra e música:
O Tico tico no fubá da mídia golpista (Zequinha de Abreu / Antonio Mello) Eu manipulo cá, eu manipulo lá Eu manipulo pro governo derrubar O Lula cai aqui, o Hugo Chávez lá E a minha grana corrigida vai voltar Aí omito aqui, aí aumento lá Distorço tudo pra melhor manipular O Lula cai aqui, o Hugo Chávez lá E essa raça vai voltar pro seu lugar Deus me defenda dos governos compañeros Estão querendo dividir o meu dinheiro Bolsa Família virou tudo de pernas pro ar O pobre já não reconhece o seu lugar Filho de pobre agora vive na escola E a Polícia Federal da minha cola não descola Sei que esse operário de gravata Acabou me transformando num burguês de passeata Eu manipulo cá, eu manipulo lá...

sábado, 31 de março de 2007

Americanos trocam soja e algodão por milho

O jornal inglês Financial Times traz reportagem sobre a corrida americana rumo ao milho, graças ao crescimento na produção de etanol (ou álcool combustível), deixando de lado outros produtos agrícolas. Segundo o jornal, "a troca massiva pode resultar na maior safra de milho de todos os tempos, afetando as indústrias agrícolas dos Estados Unidos e de todo o mundo". Os produtos mais afetados são a soja e também o algodão, cuja plantação nos Estados Unidos já caiu a seu nível mais baixo desde 1989. Os preços subirão e os ganhos com o milho aumentarão. Os produtores brasileiros e argentinos sofrerão pressão para aumentar a produção de soja - que, entre nós, disputará terreno com a cana de açúcar. Mas tudo isso dependerá ainda, segundo analistas, dos efeitos do La Niña, o fenômeno climático que poderá provocar fortes chuvas no período do plantio. O jornal acrescenta que essa corrida desenfreada rumo ao milho traz para foco o debate "alimento versus combustível", em um momento em que a demanda global por alimento está crescendo. Isso significa que, apesar de termos que seguir avante nosso política de produção de combustível a partir de fontes renováveis, não devemos estar inteiramente surdos às advertências de Fidel e Chávez.

domingo, 18 de março de 2007

O caldeirão de letrinhas da coalizão de Chávez começou a entornar

Chávez não quer mais governar com uma coalizão. Quer transformar os 24 partidos que o apóiam em um só, o Partido Socialista Unidos da Venezuela (PSUV), mas três partidos importantes estão resistindo, o Podemos, o PPT (Patria Para Todos) e o PCV (Partido Comunista da Venezuela). Juntos, eles tiveram 1.499.514 votos dos 7.309.080 votos que foram dados a Chávez (ver mais detalhes aqui mesmo no Blog: "Chávez: contra a "sopa de letrinhas", a receita da coalizão de partido único..."). Cerca de 20,51% dos votos da coalizão. Mesmo assim, no programa deste domingo, Chávez declarou que é melhor que eles saiam. Como amigos... Leia também reportagem de Clodovaldo Hernández, para El País.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Chávez: contra a "sopa de letrinhas", a receita da coalizão de partido único...

Mal tinha sido encerrada a última eleição e o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, vitoriosíssimo, chamou os partidos que compunham a sua coligação, uma mistura de 24 siglas, e pediu que se dissolvessem. Queria acabar com essa "sopa de letras" e deu um prazo de 9 meses para que eles criassem o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). "Quem não quiser me acompanhar, não tem problema, pode seguir seu caminho - e levar seus ministros também", advertiu Hugo Chávez. Foi aí que começaram os problemas. A coligação de Chávez teve 7.309.080 votos (62.84% do eleitorado), divididos pelo seu partido, Movimiento Quinta República (MVR, 4.845.480 votos, 41,66%) e também Podemos (759.826votos, 6,53%), Patria Para Todos (PPT, 597.461 votos, 5,13%), Partido Comunista da Venezuela (PCV, 342.227, 2,94%), MEP (94.706 votos, 0,81%), Migato (88.307, 0,75%), Unidad Popular Venezolana (UPV, 79.929, 0,68%), Clase Media Revolucionaria (69.264 votos 0,59%), Tupamaro (69.239 votos 0,59%), LS (58.330 votos 0,5%), MDD (41.357 votos, 0,35%), Gente Emergente (30.154 votos, 0,25%), Unión (29.614 votos, 0,25%), MCM (29.428 votos, 0,25%), PROVEN ( 27.427 votos, 0,23%) , Unidad Patriótica Comunitaria (UPC, 22.473 votos, 0,19%), Movimiento de Concentración Gente Nueva (MCGN, 21.876 votos, 0,18%), FACOBA (19.643 votos, 0,16%), Independientes por la Comunidad Nacional (IPC, 18.165 votos, 0,15%), O.N.D.A. (16.046 votos, 0,13%), Movimiento Nacional Independiente (MNI, 13.539 votos, 0,11%), Poder Laboral (12.612 votos, 0,1%), CRV (11.444 votos, 0,09%) e REDES (9.233 votos, 0,07%). A Unidad Popular Venezolana, UPV, com apenas 0,68% dos votos, pulou na frente e aderiu à idéia. Mas outros partidos não estão concordando, com o PCV, criado em 1931, o mais antigo da Venezuela, que é marxista-leninista e quer se manter assim. O Podemos e o PPT, estruturados em toda a Venezuela, também resistem. Aqueles que são acima de tudo chaviztas fazem suas ameaças, alertando contra deslealdades e deixando claro: "Não há meio-termo: com Chávez, tudo; sem Chávez, nada". Ler também reportagem em El País.

sábado, 10 de março de 2007

Encontro de Lula e Bush alcançou o "Ponto L"

Bush não esperava muita coisa de sua visita ao Brasil, porque está muito mais fazendo política anti-Chávez e anti-Mercosul. É verdade que a defesa do etanol e das energias alternativas, renováveis, faz bem ao seu marketing político interno, mas tudo ficava por aí mesmo. Quem se saiu bem nessa história foram o Itamaraty e o Presidente Lula. Tomados de surpresa pela decisão do périplo bushiano, conseguiram tranformar um limão azedo em gostoso caldo de cana. Bush foi surpreendido. Primeiro, por ter tido a política de subsídios americana rotulada de "nefasta", pelo próprio Lula. Foi surpreendido também pela tecnologia brasileira com relação ao álcool, que desconhecia, e teve que reconhecer o desconhecimento geral nos Estados Unidos sobre os carros "flex". Foi surpreendido ainda pela desenvoltura de Lula, que cobrou mais decisão no destravamento da "Rodada de Doha" e ainda disse claramente para Bush parar com essa história de "ajuda" e passasse a investir na América Latina. (Afinal, não somos apenas "repúblicas de bananas"; yes, nós temos bananas, canas, marmelos e todas as condições para trabalharmos uma nova matriz energética.) Mas o que o Brasil ganhou de verdade com a passagem maluca de Bush por essas bandas foi o marketing em dimensão internacional do nosso álcool e a projeção que o país conquistou como interlocutor de respeito. É por isso que podemos dizer que, mais do que alcançar o "Ponto G" (que poderia ser de "George"), o encontrou alcançou o "Ponto L", de Lula.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Hi, Bush; adiós, Bush

Bush não quer muita coisa, não. "Etanol, tudo bem, vamos tratar desse assunto". Mas o que Bush quer de verdade é fazer política, interna e internacional. Internamente, ao mesmo tempo em que se afasta no meio de confusões políticas envolvendo o Iraque e desvio de conduta no caso da deduragem da agente da CIA, procura agradar eleitores de origem hispânica. Em termos de política internacional, tenta correr atrás do prejuízo na imagem aqui na América Latina. Em entrevista na CNN em espanhol, Bush disse: "Trago uma mensagem de esperança, uma mensagem de que cuidamos da condição humana". Alguém acredita nisso, diante da negligência que teve com a América Latina e a ferocidade que usa por toda parte? "O sentimento anti-americano nunca esteve tão forte", declarou Julia Sweig, do Conselho de Relações Internacionais. Bush fala em ajuda à América Latina, mas Dan Restrepo, diretor do Projeto Americas do Centro do Progresso Americano, lembra que os Estados Unidos vão gastar mais com o Iraque nos seis dias de sua viagem do que ele propôs investir no hemisfério (Sul) inteiro, no próximo ano fiscal". O que Bush está conseguindo acima de tudo é promover Hugo Chávez. O périplo simultâneo dos dois favorece uma comparação mais direta - e Chávez dispara na frente. Aqui no Brasil, apesar da cordialidade com que está sendo tratado, Lula conseguiu encaixar a palavra "nefasto" no seu discurso de ontem. Talvez tivesse sido melhor para Bush ter ficado erm casa. Leia mais no Washington Post.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Bush perde para Chávez entre brasileiros

A BBC divulgou nessa terça-feira pesquisa que encomendou à GlobeScan sobre a imagem dos Estados Unidos na América Latina. O Brasil, junto com o Chile, "está entre os países latino-americanos pesquisados em que os Estados Unidos tiveram maior índice de avaliação positiva". Ainda assim, a visão geral sobre os Estados Unidos é mais negativa que positiva. "Quase três em cada cinco brasileiros (57%) entrevistados em oito cidades disseram ter uma visão negativa do país liderado pelo presidente George W. Bush, contra dois em cada cinco (41%) que disseram ter a mesma percepção do país liderado por Hugo Chávez. Leia reportagem completa da BBC.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Chávez reduz o próprio programa na TV para apenas... 1 hora e meia!

Google

Uma das notas mais engraçadas foi dada pelo Plantão Globo de hoje, às 21:30h, a partir de notícia divulgada pela Reuters. Diz o texto que Chávez prometeu à filha reduzir o seu programa de TV dominical para apenas (!) 90 minutos. Atualmente, o "Olá, Presidente" dura 8 horas (atenção: 8 horas!!!) com Chávez contando piadas, cantando e fazendo pronunciamentos políticos. Ninguém acredita que ele cumpra a promessa de reduzir o programa. Mas, se ele cumprir, o povo venezuelamo certamente vai deixar que ele fique mais uns 200 anos no poder...