sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A manchete do dia é do Meia Hora



Cesar Maia e o fim do PSDB


No seu Ex-Blog de hoje, Cesar Maia (DEM) sintetiza muito bem a agonia tucana. Diante da movimentação de Aécio, de Fernando Henrique e de outros líderes pela "refundação" programática do partido, Cesar Maia é bem preciso: "o problema principal não está aí, mas na marca de identidade do partido, que se esvaiu". Me parece que esse é um risco que todo partido corre quando faz alianças extremadas para garantir o poder e, tempos depois, perde o poder. O PSDB chegou ao poder central - e manteve-se no topo durante muito tempo - graças à sua guinada para a direita, aliando-se ao PFL (ex- Arena e agora DEM) e seu caminhão de votos no Nordeste. Ao perder o Nordeste para o PT de Lula, o PSDB perdeu o rumo e vive um momento meio zumbi. O PT também tem feito alianças bastante questionadas, por parecerem afastar o partido de seus princípios. Mas o PT tem fundamentos bem melhores do que o PSDB, o próprio Cesar Maia reconhece isso. O PT nasceu do encontro das organizações clandestinas de esquerda, da Igreja Católica e do sindicalismo do ABC paulista, tendo como amálgama imediato o combate não armado à ditadura. Havia certa estreiteza original com a defesa de um “governo dos trabalhadores” (ou seja, do “socialismo já”), mas isso pôde ser superado (com forte influência de José Dirceu) com a defesa de um “governo democrático e popular”.  O PT ainda mantém sua identidade bem viva, ao contrário do PSDB que teve a sua identidade... qual era mesmo? Vale a pena ler o Ex-Blog:
RISCOS PARA O FUTURO DO PSDB!
1. Os principais líderes do PSDB, a começar por FHC e Aécio, falam em refundação, em renovação programática... Tudo bem. Mas o problema principal não está aí, mas na marca de identidade do partido, que se esvaiu. Pode-se dizer que essa é uma característica de todos os partidos brasileiros, com exceção – ainda – do PT, por sua conexão sindical. Mas não era do PSDB (e não era do PFL). Agora é. Bom que se refunde e que tenha um programa renovado, mas isso não resolve o problema de identidade.
2. Porém, há um risco transversal e mortal para o PSDB. E há referência disso em sua própria história. Seu núcleo paulista, no governo Montoro, abriu as portas para o PSDB sair do PMDB como uma costela de qualidade, diferenciando-se do “franciscanismo” imperante no PMDB de SP, como se dizia. Deu certo: o PMDB de S. Paulo, com o tempo, se desintegrou.
3. Ficou o PSDB que, com suas marcas de identidade (modernidade, grandes quadros, classe média, apoio do alto empresariado...), atraiu quadros nacionais e construiu um binário  – PT/PSDB – na cabeça dos analistas e da imprensa. Esse binário terminou de ser desmontado na eleição de 2012. Talvez por isso a disposição de renovação e a antecipação de candidatura presidencial por FHC. Nos EUA, com “primárias”, a dinâmica é muito diferente.
4. Mas há uma questão crítica e grave. A coluna Painel da Folha de SP (23) informa: “Serra tem demonstrado a aliados preocupação com o cenário eleitoral para Alckmin em 2014. Ele tem insistido na importância de tentar preservar a aliança com o PSD de Kassab”. Com a “franciscanização” quase generalizada da política brasileira, o poder de atração de um partido articulado por experimentados cardeais da “franciscanização”, será o golpe final na dissolução da identidade do PSDB de SP com a liquidação de vez do sistema binário imaginado.
5. Em poucas palavras: o PSD pode ser para o PSDB o que o PSDB foi para o PMDB em S. Paulo.
6. Nesse momento, o alto empresariado já não tem o PSDB como partido preferencial e circula com desenvoltura e intimidade entre o Instituto Lula e o Palácio do Planalto. O agronegócio ainda é uma exceção, pois não confia em PT de nenhuma espécie. O PSD tenta gerar esta confiabilidade junto a Dilma. Se conseguir, nem essa base que deu vitórias em seus espaços regionais a Alckmin e Serra restará.
7. Bem, é hora de pensar estrategicamente (o que há de futuro no presente, como ensinava Peter Drucker). E com pressa. Ficar sonhando com uma campanha bem “abastecida” e com um marqueteiro genial é marcar um jogo só na Loteria da Virada. Ganhar capilaridade política e eleitoral e desenhar, como ponte, a identidade de sua candidatura a presidente é o básico. E o tempo urge (ruge?).

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Morreu Dona Canô, mãe da música


Dona Canô: 105 anos, Bahia, mãe de Caetano e Bethânia. Tem muito a ser dito sobre Dona Canô, claro. Mas isso já é suficiente. Talvez acrescentar que era amiga do Lula.
Grande perda.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Zé Dirceu, bem consciente, diante da prisão que não houve


Muito boa a reportagem de Mônica Bergamo, da Folha, acompanhando, desde as 5,30h da manhã de ontem, aqueles que poderiam ter sido os minutos que antecederiam a prisão de José Dirceu. Seria o Dia JD do chamado “mensalão”. Felizmente, isso não aconteceu. Tudo me pareceu mais uma pirraça do Procurador Geral da República, uma bobagem.
Apesar da tensão natural do momento, Dirceu demonstrou tranquilidade e ainda soube fazer análise da luta política que se trava no país. Belo flagrante da vida real. Abaixo, a reportagem na íntegra.

DIRCEU TEM MOMENTOS DE TENSÃO À ESPERA DA POLÍCIA
Mônica Bergamo

O interfone tocou ontem às 5h30 da manhã na casa do ex-ministro José Dirceu, na Vila Mariana, em São Paulo.
Um de seus advogados, Rodrigo Dall'Acqua, e a Folha pediam para subir.
O porteiro hesita. "Como é o seu nome? Ele [Dirceu] não deixou autorização para vocês subirem, a gente não chama lá cedo assim." Ele acaba tocando no apartamento do ex-ministro, ninguém atende. Dall'Acqua liga para o advogado José Luis Oliveira Lima, que está a caminho. Telefonemas são trocados, e Dirceu autoriza a subida.
Na saída do elevador, o ex-ministro abre a porta de madeira que dá para o hall. Por uma fresta, pede alguns minutos para se trocar.
Abre a porta.
Pega a Folha entre vários jornais sobre uma mesa. Comenta algumas notícias. Nada sobre a possibilidade de Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), decretar a sua prisão ainda naquela manhã.
Intuição
Está de camiseta preta e calça jeans cinza.
Senta no sofá da sala. A empregada ainda não chegou. Ele se desculpa. Não tem nada o que servir.
"Eu não vou dar entrevista para você, não", diz à colunista da Folha. "Podemos conversar, mas não quero gravar. Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? É loucura, eu não consigo."
E, diante da insistência: "Estou com uma intuição, não devo dar".
Em poucos minutos, chegam o advogado Oliveira Lima, três assessores e uma repórter que trabalha no blog que o petista mantém.
Dirceu pega o seu iPad.
"Acho que eu vou lá [no escritório do apartamento] fazer um artigo para o blog. Mas falar sobre a situação econômica do Brasil, gente? Hoje? Eu não estou com cabeça." {Nota deste Blog: o Blog do Zé fez 5 posts ontem}
Hora marcada
Os advogados alertam: se houver ordem de prisão, a polícia deve chegar em meia hora, às 6h. Se até as 7h nenhuma viatura aparecer, é porque eventual ordem só sairia mais tarde. Ou então Barbosa não decretaria a prisão (o que acabou ocorrendo).
A Folha questiona se ele já tinha preparado a mala para ir para um presídio. "Eu não. Eu fui procurar, estou sem mala aqui. Achei uma mochila esportiva. Depois o Juca [o advogado José Luis Oliveira Lima] leva as coisas para mim. Ele vai ser a minha babá." No primeiro momento, só os advogados podem visitar o detento.
"Os policiais dão um tempo para a pessoa se arrumar [antes de levá-la presa]", explica Oliveira Lima.
Dirceu diz acreditar que Joaquim Barbosa não determinará a sua reclusão. "Ele não vai fazer, ele estaria rasgando a Constituição."
Diz que não está com medo da prisão. "Eu me organizo. Eu vou voltar a estudar. Vou fazer um mestrado, alguma coisa. E tenho que imediatamente começar a trabalhar na prisão. Até para começar a abater da pena."
"Se eu for para [a penitenciária de] Tremembé 2 [no Vale do Paraíba], dá para trabalhar." O presídio ofereceria as condições necessárias.
"Eu não sou uma pessoa de me abater. Eu não costumo ter depressão. Mas a gente nunca sabe o que vai acontecer. Uma coisa é falar daqui de fora, né? A outra é quando eu estiver lá dentro. Eu posso ter algum tipo de abatimento, sim, de desânimo. Tudo vai depender das condições da prisão. Às vezes elas são muito ruins, isso pode te abater muito."
Leitura
Dirceu ainda não sabe se, na cela, terá acesso a livros, jornais, iPad. "A lei permite, para o preso trabalhar e estudar. Tem gente aí até querendo mudar essa lei. Foi aprovada proibição no Senado, o PT bloqueou na Câmara."
Se puder acessar publicações, acredita que o tempo passará mais rápido. "São 33 meses. Não é fácil."
Analisa que poderá ser colocado numa cela com outro preso. "Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também. Vai depender da pessoa."
Escola do crime
Diz que não tem medo de sofrer eventual violência no presídio. "Mas em termos. É um ambiente de certo risco."
Acha que o sistema carcerário nunca vai melhorar. "Isso não é prioridade de nenhum governo, nem dos governos do PT", afirma.
"Nenhum governo nosso se preocupou com essa questão, nenhum Estado se preocupou em ter um sistema modelo. É caro, não tem dinheiro. O governo federal é que deveria dar os recursos. Nós [no governo Lula] fizemos, construímos os presídios federais para isolar os presos de maior periculosidade. Tinha que fazer, senão virava uma escola do crime."
Os advogados consultam o telefone, os assessores leem jornais e a internet em busca de alguma pista sobre a decisão que Joaquim Barbosa em breve tomará.
'Oi, Bonitinha'
"Se ele [Barbosa] mandar me prender, vai pedir para que nos apresentemos, vocês não acham?", pergunta Dirceu aos advogados. "Não vão mandar polícia aqui, eu acho que ele vai dar algumas horas para eu me apresentar em algum lugar."
Atende o celular. "Oi, bonitinha. Você vem aqui me visitar?" É Evanise Santos, sua companheira, que estava em Brasília porque não tinha conseguido lugar no avião na noite anterior. Ela avisa que já está embarcando para SP.
"Para mim é uma tragédia ser preso aos 66 anos. Eu vou sair da cadeia com 70. São mais de três anos. Porque parte [da pena] é cumprida em regime fechado, mas depois [no semiaberto] vou ter que dormir todos os dias na cadeia. Sabe o que é isso?"
"Eu perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos [em que teve que se defender das acusações de chefiar a quadrilha do mensalão]. Os anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir ao país", diz.
Luta política
"Eu transformei isso [mensalão] em uma luta política. Eu poderia ter ganhado muito dinheiro como consultor. Poderia estar rico, ter ganhado R$ 100 milhões. Mas é por isso que eu sou o José Dirceu. Tudo o que eu ganhei eu gastei na luta política."
Ele avisa à Folha que o presidente do PT, Rui Falcão, chegará às 7h. E que terá que interromper a conversa.
"Eu sugeri a eles que fizéssemos uma manifestação em fevereiro, colocando 200 mil pessoas na rua". "Eles" são o ex-presidente Lula e dirigentes do PT. Acha que nem todos "da esquerda" fazem a avaliação correta sobre "a disputa política em curso". "É preciso dar uma demonstração de força."
A disputa, no seu entendimento, incluiria a desqualificação não só de petistas, mas da política de forma geral.
Clichê
"Sempre foi assim. Parece clichê, mas em 1954 [quando Getúlio Vargas se suicidou] foi assim, em 1964 [no golpe militar] foi assim. Era a guerra contra a subversão e a corrupção. Depois entrou a Arena [partido que apoiou a ditadura]. Aí sim foi tudo à base de corrupção."
Ele acha que o PT falhou ao não estimular, nos últimos anos, uma "comunicação e uma cultura" de esquerda no país. "Até nos Estados Unidos tem isso, jornais de esquerda, teatro de esquerda, cinema de esquerda. É uma esquerda diferente, deles, mas que é totalmente contra a direita. Aqui no Brasil não temos nada disso."
A classe média está "vivendo num paraíso, e isso graças ao Lula". Mas, ao mesmo tempo, está sendo "cooptada" por valores conservadores.
Já disse a Lula que "o jogo pode virar fácil. Nós [PT] não temos a maioria, a esquerda ganha eleição no Brasil com 54% dos votos".
"É preciso trabalhar. A esquerda nunca teve uma vida tranquila no Brasil nem no mundo. Nunca usufruiu das benesses do poder."
grampos
"De 1889 a 1946, o poder era militar. Tudo era decidido por tenentes e depois pela cúpula militar. Depois, o país viveu seu período político, mas sempre sob tutela militar, até o golpe de 64. Só em 1989 retornamos [civis]. É tudo muito recente", diz.
"Ninguém hoje vai bater nos quartéis. A situação é outra: a esquerda ganha [eleição], mas não tem o poder midiático, o poder econômico. E nós [PT] nunca fizemos política profissional nas indicações do Judiciário, no Ministério Público, como outros governos fizeram. Nunca."
Ele segue: "O Ministério Público e a polícia com esse poder, esses grampos... isso está virando uma Gestapo. Quando as pessoas acordarem, pode ser tarde demais."
Natal
Para Dirceu, a maioria dos empresários não apoia o que seriam investidas contra Lula e o PT. Teriam medo de uma crise política, com manifestações e greves combinadas com uma situação econômica mais delicada.
E o empresário Marcos Valério, pode atingir Lula com suas acusações? "Esquece. Nem a mim ele conhece direito. Nunca apertei direito a mão do Marcos Valério."
Os advogados o chamam na varanda. Dirceu em seguida diz à Folha que precisa encerrar a conversa. Ele ainda esperaria sete horas até que, às 13h30, Barbosa divulgasse que não mandaria prender os réus ontem. Fez as malas e foi passar o Natal na casa da mãe em Passa Quatro (MG).

Boas Festas


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pobres Poderes


Faz meses que assistimos incrédulos às sessões do STF. Dividido em duas grandes torcidas, o país passou a dar importância nunca antes vista àqueles senhores togados. Não vou entrar no mérito da disputa, embora tenha posição definida e conhecida. Mas como brasileiro quero dizer que fiquei bem decepcionado com o desempenho desses senhores. Eles se apequenaram, tornaram-se mínimos. Sua vaidade extremada, seu lero-lero, sua empáfia, suas pinimbas, suas caras e bocas, seu aparente despreparo para julgar, tudo isso me chocou e me desanimou. Ainda outro dia conversava com alguns advogados (não eram petistas, até apoiavam alguns resultados do julgamento) e um deles resumiu o que eu, leigo, percebia: “Falta grande jurista nesse Supremo”. É isso mesmo, é um Supremo sem nomes que não dependam do marketing de ocasião para ganharem respeito. Pobre poder, tristemente pobre.
Na mesma esplanada, outro poder já bastante conhecido do grande público, o Legislativo. Tem o mérito de ser inteiramente escolhido pelo povo brasileiro. E já deu na sua história grande demonstração de coragem em defesa do interesse público e da democracia. Embora às vezes cometa deslizes capazes de emporcalhar sua imagem junto ao povo que o elegeu, ainda conta com figuras ilustres, políticos respeitáveis, batalhadores de causas nobres. Mas me digam agora o que é isso que estamos presenciando? Que palhaçada foi essa? Como podem envergonhar a Nação com tanta facilidade? Como podem num piscar de olhos revelar que, ao longo de 12 anos, deixaram acumular a análise de 3.060 vetos presidenciais simplesmente porque estavam sem disposição pra isso? Como podem dar razão a seus críticos com tanta facilidade? É também pobre poder, tristemente pobre..
Ao povo brasileiro só resta lastimar: que podreres são esses?

Em tempo: do Procurador Geral da República já se esperava esse marketing estilo pitbull que adotou. O que não se esperava era esse papel bobo (mas perigoso) de brincar com o destino das pessoas, buscando o artifício do recesso do STF para ameaçar réus do chamado mensalão com prisão imediata. Meu Deus, parece até aqueles tempos em que De Gaulle teria dito: "Le Brésil n’est pas un pays serieux".

sábado, 15 de dezembro de 2012

A campanha de Obama killed the snake and showed the stick


Em abril de 2011, a campanha de Obama distribuiu uma espécie de "vídeo-convocação", onde o coordenador Jim Messina fala diretamente para o cabo eleitoral. Fala de estratégia, da missão de cada um, mostra mapas eleitorais, a conquista do voto um a um (microtargetting) e mostra o que deverá ser o principal confronto de focos em 2012: enquanto os Republicanos deverão focar sua campanha em Obama, os Democratas deverão focar no povo. Enfim, ele fala exatamente o que pretendiam fazer para vencer – e fizeram. Vale a pena ver o vídeo de Messina para aplaudir o bom trabalho pela conquista de corações e mentes de cada eleitor. Clique aqui para reler o post e ver o vídeo.

GLOBO X GLOBO




Alguém precisa ler o Globo em voz alta para quem escreve o Globo. Hoje, na página 2, na sua coluna política mais importante (Panorama Político), o jornal diz que os russos falaram “o que a presidente Dilma queria ouvir” (um investimento de 1 bilhão de dólares na exploração de petróleo no Amazonas). Já na página 45, abrindo a seção de Economia, o mesmo jornal fala de “missão frustrada”, destacando o fato de os russos ainda não terem decidido voltar a importar carne do Brasil. Mas nada disso desvia do principal: Dilma tem 78% de aprovação (recorde), segundo a pesquisa CNI/Ibope que ela ganhou de presente de aniversário...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Luiz, respeita Januário!


Tempos atrás, pensando nessa música, cheguei a pensar em ter um filho com o nome de Januário.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Luiz Gonzaga e Ravi Shankar: arado X odara




Mais uma explicação para a vitória de Obama: sua estratégia para compra de espaço na TV


Democratas e Republicanos não fazem outra coisa a não ser arranjar explicações para o fato de Obama ter sido reeleito apesar da situação do país não ter sido das melhores durante seu primeiro mandato. O Washington Post de hoje traz um excelente artigo comparando as compras de espaços na TV feitas pelas duas campanhas. A conclusão é simples e direta: Romney gastou mais, mas Obama veiculou mais comerciais e com uma programação bem mais eficiente. Por exemplo, Obama veiculou 13.232 spots nas TVs de língua espanhola, enquanto Romney só veiculou 3.435. No total, de junho até a eleição, a campanha de Obama veiculou 50.000 spots a mais. O que mais surpreendeu nisso tudo foi a decepção com a fama de eficiência de Romney, tido como um competidor fervoroso, que construiu reputação “por produzir retornos impressionantes, com base em forte compromisso com o rigor de pesquisas e análises”.
Dá pra se ter uma boa noção da diferença na eficiência de cada um com esse gráfico, onde o vermelho significa propaganda positiva para Romney e o azul significa a propaganda negativa, no período que vai de 10 de abril a 6 de novembro de 2012. Leia a matéria completa do Washington Post.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Leucemia e HIV - tudo a ver

Em janeiro de 1975, o doutor Robert Gallo anunciou que tinha isolado o vírus da leucemia (a partir desses estudos, chegou-se ao HTLV - Human Thymus Lymphotropic Virus). Eu trabalhava em Nova York e fui lá entrevistá-lo no Instituto Nacional do Câncer, em Washington. Continuando suas pesquisas, ele anunciou, anos depois, que o retrovírus agora conhecido por HIV (Human Immunodeficiency Virus)-1 é a causa da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Graças a seus estudos, Gallo é a única pessoa a ter recebido o Prêmio Lasker e ninguém ainda entendeu porque ele foi preterido para o Nobel de Medicina.
Ontem, foi anunciada a cura de uma menina de 7 anos (Emma Whitehead) que estava com leucemia, graças ao uso de vírus tipo HIV desativados, método desenvolvido pela equipe de Carl June, da Universidade da Pensiivânia. Acho difícil que Gallo pudesse imaginar que um levaria à cura do outro, embora seus estudos, me parece, estarem na origem de tudo. Na entrevista que fiz (ouça trecho), ele disse acreditar que um dia será possível controlar (mesmo sem compreender) todas as causas do câncer. Mas que não estará vivo para testemunhar isso. Esse dia parece cada vez mais perto...



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Marqueteiro Republicano esbraveja: “perdemos porque os brancos ficaram em casa!”



Os Republicanos estão mais perdidos do que ragabola na zaratumba. Até agora não conseguiram entender a derrota para Obama em uma eleição onde consideravam a vitória como líquida e certa. As justificativas foram várias. Razões econômicas, dizem uns. Foi o voto demográfico, dizem outros. Foi o furacão! Foi traição! Foi a propaganda dos SuperPACs! O marqueteiro Dick Morris, em texto distribuído hoje, foi taxativo: “Os brancos ficaram em casa e reelegeram Obama”. Diz ele: “Não é o fato de que os negros, latinos e mulheres solteiras compareceram em números recordes à votação. A questão é que os brancos não compareceram”. E cita números: enquanto a soma de negros e latinos foi 2 milhões a mais do que em 2008, os brancos foram 7 milhões a menos. Ele lamenta que isso aconteceu principalmente entre os idosos, que tiveram apenas 16% de comparecimento.
Dick Morris também cita o furacão Sandy que, além de tudo, teria impedido a realização de pesquisas confiáveis. Segundo ele, Romney estava liderando antes do Sandy, mas foi surpreendido pela famosa foto do governador Republicano Chris Christie ao lado de Obama. O texto fica mais engraçado quando ele usa isso para explicar porque errou suas previsões de vitória para Romney: “Sabem por que errei? Porque sou um pesquisador, não um meteorologista”. E não para por aí. Explica a ausência dos brancos pela incapacidade da campanha de Romney e seus SuperPACs de responder aos ataques de Obama.  “Os consultores republicanos estavam tão enamorados dos anúncios negativos que não consideraram o impacto da mídia de refutação e sua capacidade de desencadear uma forte reação ao adversário. A sua doutrina de sempre atacar – herança dos generais franceses e britânicos da Primeira Guerra – não permite refutações, apenas novas ações negativas. E nós pagamos o preço”.
Aqui entre nós, eles, que são brancos, que se entendam...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Não morre nunca!



Enfim, veio a notícia que todos temiam. Niemeyer morreu. Quem deu a notícia foi meu filho, Tiago. Corremos, eu, Gisele e Ana Clara, para ver. Ana Clara (que tem 12 anos e que, assim como já fizeram Tiago e Hayle, estuda na mesma escola que Niemeyer estudou) choramingou: "Pensei que ele nunca fosse morrer...". Mês passado, a pedido do Hayle, participei de um leilão e arrematei uma gravura dele. Fiquei emocionado com isso. E penso logo em Maíra, que mora em Brasília. Niemeyer sempre foi uma presença muito intensa. No meu livro "A Arte da Guerra Eleitoral" escrevi sua frase que usarei sempre como se fosse minha: "Minha melhor obra foi ter tido tempo para pensar".

Take Five, Dave Brubeck




segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Morreu o Décio






Foto de Arnaldo Alves,
publicada no Globo

Quando li o seu Teoria da da Guerrilha Artística, acho que foi em 65 ou 66, no Correio da Manhã, se não me engano, minha cabeça revirou. Fiquei fascinado e ao mesmo tempo sem entender bem aquilo. Em 67, em Brasília, quando conheci o poeta Hugo Mund Jr., falamos muito sobre Décio Pignatari e sobre poesia concreta. Criei meu primeiro poema concreto, “Comunicação”, que publiquei no jornal da Universidade. Depois vieram “Blow up, Blow down”, “Olho por olho” e muitos outros, sempre com Décio e os irmãos Campos como principal referência. Já em São Paulo, em 68/69, quando estava na Veja, a presença da poesia concreta foi muito grande. Fizemos boas matérias mostrando o que havia de concreto no tropicalismo, que chegamos a chamar de movimento tropiconcreto. Lembro de uma vez entrevistando o Décio em seu apartamento nas Perdizes, ele falando da superioridade de Caetano sobre Chico como poeta, comparando Resnais e Godard e também mostrando com orgulho um pedaço de grade velha, enferrujada, que tinha na parede, com destaque, como se fosse uma grande obra de arte. Era um pedaço do túmulo do Mallarmé, que ele arrancou de lembrança durante viagem à Europa. Deve ter decidido devolver ao dono...
Uma perda imensa.

sábado, 17 de novembro de 2012

ROMNEY PISA NA BOLA MAIS UMA VEZ E REPUBLICANOS DIZEM PARA ELE CAIR FORA.


Mitt Romney ganhou fama por seus comentários desastrosos, o mais famoso por ter afirmado que 47% viviam às custas do estado. Ele voltou à carga ao tentar explicar su...
a derrota. Disse que Obama venceu por causa do seu plano de saúde e outros ”presentinhos” que deu para negros, hispânicos e outros grupos de simpatizantes. Os republicanos mais tradicionais e menos conservadores (se é que isso é possível...) reagiram imediatamente: “Romney pode cair fora, que ninguém vai lamentar”, disse Ed Rogers, estrategista Republicano.
É isso aí. Não basta perder feio – é preciso não fazer feio na hora das justificativas. Leia reportagem do Washington Post.

domingo, 11 de novembro de 2012

Afinal, por que Obama venceu?


Dick Morris, amigo e consultor de Bill Clinton, (mas, antes de tudo, um consultor de marketing político/eleitoral Republicano), distribuiu nessa sexta-feira um artigo com o título de “A campanha não fez diferença” (The Campaign Made No Difference), onde afirma que “os meses e meses de campanha, as centenas de milhões de dólares em comerciais de TV, o vaivém dos candidatos e os intensos esforços de ambos os lados na conquista de votos fizeram pouca ou nenhuma diferença nos resultados eleitorais de 2012”(The months and months of campaigning, the hundreds of millions of TV advertising, the incessant travel schedules of the candidates, and the vigorous efforts of both sides to get their vote out made little or no difference in the outcome of the Election of 2012). Para ele – que um dia antes da eleição chegou a prever a vitória de Romney por 325 delegados contra 213 de Obama –, foram os eventos que fizeram a diferença: foram os debates, as convenções, o ataque ao consulado americano em Benghazi, a economia, os dados sobre emprego, etc. que influenciaram a votação em todos os 50 estados. Para ele, nem a mídia paga, nem a campanha in-person nos estados indefinidos, nem o ground game (microtargeting) massivo, contribuíram para nada. Os números não se alteraram por isso, e Dick Morris tira duas conclusões principais:
1 – a TV está perdendo impacto, principalmente na corrida presidencial. Os eleitores não estão vendo TV como antigamente e os que ainda veem passam por cima dos comerciais.
2 – o voto demográfico é a nova regra americana. Você vota baseado em quem você é, não em onde você vive ou em como cada campanha trabalhou cada caso específico. O que importa é que 93% dos negros, 70% dos latinos, 60% dos jovens (menos de 30) e 62% das pessoas solteiras votaram em Obama, enquanto os casais brancos com mais de 30 anos votaram em Romney.
No lado vencedor, há aspectos mais consistentes em consideração. Dave Axelrod (principal estrategista de Obama) declarou que a equipe Obama reinventou a campanha com novas ferramentas e que desde o começo eles tinham um “game plan” que trataram de executar. Segundo ele, a campanha essencialmente construiu a união em torno de Obama desmembrando a América em vários grupos raciais e de gênero e pondo questões que os convenceram a ir às urnas.
David Plouffe, um dos consultores seniors da campanha de Obama, disse nessa quinta-feira que o microtargeting não poderia ser copiado automaticamente para outro candidato Democrata, porque ele foi feito principalmente pelo apelo particular que Obama exerce sobre os eleitores progressistas.
Há verdade em tudo isso. O fato é que o marketing eleitoral adquiriu novas ferramentas e sofisticação que dão mais valor e mais precisão ao seu desempenho. O voto demográfico – que sempre existiu – ganhou contorno e apelos mais definidos. O microtargeting – que na verdade está nas origens das campanhas eleitorais – pode agora equiparar-se ou mesmo superar a grande mídia. Mas nada disso pode ser tratado mecanicamente ou sectariamente. Não se pode dizer, por exemplo, que agora a economia não tem mais importância, o que importa é o voto demográfico. Esses novos conceitos e essas novas ferramentas chegaram para somar, não para excluir. Sua importância está em aumentar a precisão do marketing. Obama venceu porque sua equipe percebeu isso bem melhor.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Eleição americana: Obama 44%, Romney 38%, indefinidos 18%




Nós sabemos que a eleição americana é uma coisa esquisita, com várias formas de votar. O voto pode ser antecipado ou não. Pode ser pelo correio ou no local de votação. Pode ser no papel ou em urnas eletrônicas (aparentemente, ultrapassadas). Pode exigir ou não um documento, que pode ser com foto ou não. E pior: pode acontecer do mais votado não ser o eleito, como aconteceu no caso do Bush. Certo mesmo é que o voto não é obrigatório e a fraude corre solta. O fato de ser eleição indireta (você elege um colegiado que elege o presidente) torna as pesquisas eleitorais ainda mais estranhas. Por exemplo: hoje as pesquisas indicam praticamente empate (1 ponto de vantagem para Obama) e ao mesmo tempo indicam que Obama está bem na frente em previsão de delegados. O quadro acima foi feito a partir dos dados do The Washington Post de hoje.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Jornal da Tarde – já vai tarde?




Infelizmente, o Jornal da Tarde já foi há muito tempo. Seus tempos foram de glória, de beleza, de escrever muito bem. Comecei no jornalismo profissional (Revista Semanal da Abril – que se tornou Veja e Leia e depois Veja –, vejam só!) tendo o JT como referência. Não podia ser diferente, porque o criador de Veja, Mino Carta, tinha sido o seu idealizador e levou para a Abril boa parte de sua equipe no jornal. Apaixonados pelo jornalismo. Aprendi nessa época que a objetividade é importante, mas é relativa, aprendi que o texto da notícia deve ser bonito. O Jornal da Tarde nas bancas de revista me enchia de alegria e preguiça, era lindo de se ver, lindo de se ler. E era muito paulistano. Teve essa manchete, que nunca poderia esquecer, quando João Saldanha foi escolhido técnico da Seleção: “Nós perdemos a Seleção”. Fiquei chocado. Mais chocado ainda quando vi que todos na redação da Veja pensavam igual. Foi aí que criei a FUAJOS – Frente Unida de Apoio a João Saldanha. Colei cartazes em todas as editorias da revista. Na verdade a FUAJOS era eu sozinho contra todos... Fico com saudade do Jornal da Tarde daqueles tempos.

O incerto drummondiano


ÁPORO

Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana
uma orquídea forma-se.


Pensei em reproduzir um cartão que Drummond me enviou parabenizando por meu primeiro livro, Onomatopoemas, mas não está aqui comigo. De qualquer maneira, a melhor homenagem que se pode fazer nesses 110 anos do seu nascimento é reproduzir um de seus poemas. Escolhi o soneto Áporo (inseto himenóptero, da família dos cavadores; problema difícil ou impossível de resolver; planta das orquídeas), pouco conhecido, mas que Décio Pignatari considerou “uma das peças de poesia mais perfeitas e mais criativas, em âmbito internacional e dentro da tradição do verso pós Mallarmé” (Um Inseto semiótico, em Contracomunicação, Ed. Perspectiva, 1971). A análise feita por Décio Pignatari por sua vez é brilhante, escavando o soneto e expondo suas entranhas. Ele ainda lembra que Áporo surgiu em A Rosa do Povo, 1945, “ano da agonia do nazifascismo e do Estado Novo (‘em país bloqueado’), ano da soltura de Luís Carlos Prestes (‘presto se desata’...) ano de todas as auroras”.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

São Paulo, cada vez mais verde-amarela


No início do ano (4 de fevereiro), postei aqui que “até as pedras sabem que São Paulo quer mudar”. Não estava inventando história para juiz dormir.  Naquela época, já existia uma pesquisa Datafolha (27 de janeiro) que apontava Serra (21%) e Russomano (17%) empatados tecnicamente e seguidos de Netinho (11%), Soninha (9%), Paulinho (8%), Chalita (6%), Haddad (4%), Afif (3%), Fidelix (1%) e Borges (1%). Mas também tive acesso a outras pesquisas que apontavam Haddad com mais de 40%, quando seu nome era associado a Lula. E escrevi: “O povo paulistano está vendo no Brasil que está à sua volta um mundo inteiramente novo e bem melhor, no qual ele não está inteiramente inserido. O paulistano quer renovação, quer viver 100% o Brasil de Lula e Dilma”. Para ilustrar o post, fiz um mapa de São Paulo com seus bairros em verde e amarelo (uma divisão, aliás, bem próxima do mapa eleitoral que a Folha divulgou). Os resultados do primeiro turno começam a me dar razão – mas por que demorou tanto? Acho que houve tropeços táticos na campanha petista. Contaram com um Lula que ainda não está a todo vapor. Possivelmente, confiante demais na garantia de Lula na conquista do voto de perfil popular, a campanha (de excelente qualidade) ganhou um ar extremamente classe média. Foi em busca do voto com tendência mais tucana. Não viram (ou não consideraram) que o ambiente de eleitor tradicionalmente petista coincide com o de eleitor evangélico. Foi a liga necessária para o impulso de Russomano. A tática petista teve a vantagem de não permitir o crescimento de Serra – mas isso não era o mais importante, já que sua rejeição altíssima e seus “aliados” de todas as plumagens se encarregariam disso. Foi preciso acender a luz verde-amarela para que a campanha de Haddad partisse para cima de Russomano em busca do eleitor perdido. Acabou dando a lógica que tinha sido abandonada. Agora, dificilmente Haddad perderá. A cidade mais poderosa do país certamente se incorporará a um Brasil novo, mais vibrante e menos desigual – tudo aquilo que São Paulo precisa – e deseja – ser.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cesar Maia – enrolando a razão com o desejo incontrolável de derrotar Eduardo Paes


Cesar Maia é um daqueles poucos políticos que conseguem tratar a política usando simultaneamente altas doses de razão e emoção. Respeitável por isso. Mas muitas vezes a emoção fala bem mais forte e ele deixa de lado a razão para virar um enrolão. O seu texto de hoje no Ex-Blog analisando o Ibope de ontem é exemplar. Ele começa por Belo Horizonte, afirmando que “está garantida a vitória de Lacerda – 47% –  no primeiro turno. Os 17 pontos de vantagem de Lacerda lhe dão uma tranquila margem de segurança, com Patrus numa paralela de 30% e a soma dos demais em 3%, contra 2% na última pesquisa”. É uma opinião com alguma possibilidade de estar correta, já que em termos de projeção de votos válidos Lacerda já teria 58,8% contra 41,2% dos outros (37,5% de Patrus). Acontece que, quando passa para o Rio, com um resultado que lhe apavora, Cesar Maia faz uma mistureba monumental. Diz ele: “No Rio, a probabilidade da eleição ir para o segundo turno é a mesma de terminar no primeiro, 50%. É fácil entender. Eduardo – 52% – vinha antes da TV num patamar de quase 50% e, com a TV, oscilou na margem de erro para 52%. Ou seja, a margem que tinha pela taxa muito maior de conhecimento pré-eleitoral não se alterou, com o enorme tempo de TV que dispõe”. Ora, isso é óbvio. Ele já era muito conhecido, com governo altamente aprovado, e soube manter isso. Caberia aos adversários usar o tempo na TV para derrubar as intenções favoráveis a Paes – coisa que não conseguiram. Freixo, brilhantemente, soube ampliar sua participação no bolo com um discurso bem voltado para a classe média Zona Sul e para os jovens. Chegou a 17% e não deve ir muito além. Cesar Maia reconhece dificuldades da oposição em função do pouco tempo de TV. Mas em seguida vem a frase “mágica” dele: “Hoje, a diferença para se ter segundo turno são 13 pontos (26 dividido por 2). Essa diferença, faltando 15 dias, mostra a probabilidade do segundo turno. Se a TV só teve o efeito tampão a vantagem de quem lidera é frouxa. Estima-se essa gordura, pronta para ser derretida, em 15 pontos”. Como assim? Ele oculta os não-votos (brancos, nulos, ns/nr), mas mantém a diferença que existe com eles presentes. O mais correto seria projetar os votos válidos com resultados de 66,7% para Paes contra 33,3% para os outros. A diferença seria de 33,4% (não 26%) e seria bem superior à diferença que há entre o primeiro colocado e os outros em Belo Horizonte (17,6%). Portanto, alguém aí me explica a lógica da frase “está garantida a vitória de Lacerda” comparada com a afirmação de que, no Rio, “a probabilidade da eleição ir para o segundo turno é a mesma de terminar no primeiro, 50%”. Será que pirei de vez?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Barretão e Zé Dirceu: bela declaração de amor e respeito


Sempre tirei o chapéu pro Zé Dirceu. Em boa parte de minha militância política, vi nele uma referência bem positiva, e fiquei feliz vendo-o lado a lado com Lula, assumindo, em 2003, o sonho de toda a vida. Estive com ele pessoalmente apenas uma vez, em 2010, em um evento da campanha de Benedita, na Churrascaria Estrela do Sul do Rio Plaza Shopping. Cheguei, ele estava em uma roda de amigos, falei rapidamente com todos e saí para providenciar a projeção de um vídeo. Logo depois tive que ir embora, fui me despedir do Zé e fiquei feliz por saber que ele já (mais ou menos) me conhecia de nome. Assim como fiquei muito feliz com esse texto do Barretão (84 anos!) que recebi por e-mail - ousado, verdadeiro, bom de ler.

Luiz Carlos Barreto - ¿Por qué no lo matan?

Fidel Castro estava fascinado pela beleza e graça das irmãs Nabuco -Nininha e Vivi-, filhas dos anfitriões dona Maria do Carmo e José Nabuco, que abriram as portas da mansão da rua Icatu, no Rio de Janeiro, para recepcionar o líder da vitoriosa revolução Cubana.
Ela viera para agradecer ao embaixador brasileiro em Cuba que, durante os duros tempos de luta contra o ditador Batista, deu apoio aos guerrilheiros do exército fidelista.
Intelectuais e políticos de todas as tendências se misturavam nos salões. Todos procuravam Fidel para tirar um papo, mas o comandante só tinha olhos para Nininha e Vivi.
O pessoal da esquerda, quando conseguia um pouco de atenção, aproveitava para falar mal de Carlos Lacerda, governador da Guanabara.
Cansado e irritado, meio em tom de "broma", de ouvir as queixas contra Lacerda, Fidel, querendo se ver livre, mandou: "¿Lacerda es un hombre como nosotros? ¿Tiene brazos, piernas? ¿Camina por la calle?"
"Si, si", disse um dos "reclamões".
"¿Entonces por qué no lo matan?", disse Fidel, encerrando o papo.
O episódio não me sai da cabeça quando leio, quase todo dia, notícias sobre José Dirceu nos jornais.
O tom é sempre de acusação, tratando de atos e práticas ilegais como se ele, na sua trajetória de animal político militante corajoso, só tivesse contabilizado ações negativas.
Sua trajetória é sempre contada a partir de 2004, como se tivesse nascido com o "mensalão". Não se fala na sua trajetória de líder estudantil que se entregou de corpo e alma à luta contra a ditadura militar. Prisão, exílio, retorno ilegal ao Brasil, clandestinidade -Dirceu jogou sempre toda sua energia pela democracia.
Anistiado, se filiou ao PT, coerente com sua visão de mundo.
Sua disciplina, sua vocação de estrategista, sua capacidade de trabalho e seu talento de transformar teoria em ação o elevaram a líder do PT. Afirmou-se assumindo sem medo a tarefa de acomodar no partido as diversas tendências, desde as mais radicais de esquerda às quase conservadoras, consolidando o primeiro partido de massa do Brasil.
Dirceu, apesar de sua formação de classe média e conhecimento acadêmico, teve a capacidade e humildade de entender o papel reservado a Lula. Reconhecendo a sua inegável qualidade de líder de massa, soube estruturar com o PT e a sua militância a grande revolução pacífica e democrática acontecida em toda a história republicana do Brasil.
Nos primeiros dois anos, a desconfiança das classes dominantes em relação ao governo Lula era enorme, como confidenciou-me um parrudo banqueiro: "Não sabíamos qual seria o exato momento que o governo Lula viraria a mesa".
Não se pensava noutra coisa a não ser evitar que Dirceu tivesse tempo e espaço para isso. Num desses almoços de entidades empresariais, ouvi o seguinte: "Zé Dirceu é a cabeça pensante, Lula é o líder mobilizador do sentimento popular. Vamos cortar a cabeça que o corpo cai".
Os oito anos de Lula serviram para destruir o mito de virada de mesa; o que o Lula virou mesmo foi o jogo do poder, priorizando políticas para as áreas social e econômica, o que resultou no Brasil de hoje, cada vez mais sólido internamente e respeitado internacionalmente.
O governo Lula mostrou também que José Dirceu não é uma cabeça sem corpo e que nem Lula é um corpo sem cabeça. Eles são carne e osso, são "hombres como nosotros y caminan por las calles".
"¿Entonces por qué no los matan?"
LUIZ CARLOS BARRETO, 84, é produtor cinematográfico. Produziu, entre outros, "Lula, o Filho do Brasil", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "O que é Isso, Companheiro?", "O Quatrilho" e "Bye, Bye, Brasil"

domingo, 3 de junho de 2012

Palmas para Gilmar, ele (des)merece!


Ninguém, além dos personagens presentes, pode descrever exatamente o que aconteceu no encontro (casual? proposital?) entre Lula e Gilmar Mendes que gerou tanta polêmica. É uma questão de acreditar ou não acreditar nas versões dos fatos. Eu acredito no Lula. Por sua história, por suas ações, por tudo que fez pelo Brasil. Consequentemente, não acredito em Gilmar Mendes. Mas me surpreendeu a sua ousadia em colocar tanta aversão no ventilador. Que motivos terá tido? Vejo pelo menos dois, que podem até se fundir em um único. Primeiro, de ordem pessoal. Ao sair na frente com a sua versão do encontro, ele ganharia credibilidade (coisa que parece que lhe tem faltado). Segundo, de ordem política. E aí já não estaria agindo por conta própria – estaria a serviço da oposição tucana que busca uma forma de desviar a atenção da questão principal no momento (que é a CPI de Cachoeira), e trazer de volta 2005 com seu "mensalão". Pessoalmente, acredito que os nomes envolvidos no chamado processo "mensalão" não estão tão preocupados em que a sentença - favorável ou não - saia agora ou em 2013 - afinal, o mal maior a eles já foi feito. Perderam seus cargos, perderam sua imagem, agora seja o que Deus quiser. Mais importantes pra eles - e todos nós, claro - é que o desenrolar do processo não seja usado para outros fins, como as eleições municipais próximas. Nessa perspectiva, Lula não teria o menor interesse em influenciar o resultado. No máximo seu interesse seria não misturar a cenografia do julgamento com o momento político, momento absolutamente inoportuno, por tentar influenciar o eleitor, como feito anos atrás. Gilmar Mendes sabe disso melhor do que ninguém. E se é verdade que está mentindo, foi brilhante ao pegar carona no uso político do “mensalão” para melhorar a própria imagem. Ainda tentou se identificar com o próprio Supremo – como se isso fosse possível. Ou melhor, se isso é possível, com certeza esse não é o Supremo que o país espera ter. De qualquer maneira, devemos reconhecer que para quem sempre viveu do marketing das caras e bocas, até que o ministro se saiu bem na tarefa de estimular aversões aos fatos. Ou não?

domingo, 29 de abril de 2012

O marketing da baixaria, um mal sem fim da política




Em 98, logo após a campanha vitoriosa de Garotinho para governador do estado do Rio de Janeiro, escrevi um “Diário de Campanha” (que você pode ler na íntegra, clicando na foto da capa, aqui ao lado), e um de seus capítulos foi sobre “O Marketing da Baixaria”. Meu alvo principal era a campanha do terror que Cesar Maia desenvolveu na época, principalmente contra Brizola e Garotinho. Começo dizendo: “A baixaria, infelizmente, está incorporada às campanhas políticas. De tal maneira, que virou regra”.
Marketing, como diz Al Ries, é guerra de percepções, e o marketing político não é diferente. Talvez até seja mais intenso. O problema é que há uma linha de pensamento entre políticos e marqueteiros políticos que acredita que construir uma percepção negativa do adversário é mais importante do que construir (ou fortalecer) a sua própria imagem positiva. Nessa campanha de 98, foi assim. Cesar Maia tinha grandes realizações para mostrar, sua administração como prefeito era bem avaliada – mas o complexo de escorpião falou mais alto e ele preferiu atacar Brizola e associá-lo com o adversário Garotinho.
“César diz que Brizola criou a Fetranscoca”, noticiava o jornal Extra. Ou “Cesar quer a cabeça de Marcello” (jornal O Dia). Ou “César fará vídeo-denúncia” (JB). Nada disso adiantou. Ou melhor, funcionou ao contrário: Cesar Maia acabou personificando todo o noticiário negativo, sua imagem virou sinônimo de trevas. É verdade que em 92 tinha dado certo. Ele conseguiu associar Benedita aos arrastões que, misteriosamente, surgiram na praia e foram bem documentados. Apropriou-se também de uma história de um filho da Benedita que teria comprado um diploma escolar (só muitos anos depois a Benedita teve conhecimento da história verdadeira e completa). Mas a situação era outra. A campanha petista era extremamente ingênua, ainda despreparada para um enfrentamento mais pesado, e tinha feito a bobagem de levantar a bandeira da honestidade. Lembro até a história de um irmão do Cesar Maia que teria ido à produtora petista disposto a “revelar os podres de Cesar Maia”, mas a Coordenação não achou correto divulgar, porque não existiam provas concretas. Se fosse o contrário, bem provavelmente o depoimento teria ido ao ar, dentro da lógica de que “em campanha política a única coisa que não se pode fazer é perder”.
Quando vejo os ataques de baixo nível que Garotinho faz agora contra o Sérgio Cabral, lembro de todos esses momentos, e me impressiono. Ou talvez nem tanto. Afinal, esse tipo de ataque é típico do desespero. Garotinho e Cesar Maia – hoje, aliados – estão sem alternativas, com imagem em queda, não veem outro caminho que não seja o de desqualificar o principal adversário regional. Procuraram pegar carona no escândalo de Cachoeira (que obviamente deve ser noticiado e investigado) para tentar envolver Sérgio Cabral (de certa forma, até contribuindo para desvio do foco principal) e para isso divulgaram cenas que – independentes do que realmente representam – podem causar grande imagem negativa. O maior prejudicado, no entanto, é o eleitor, que fica perdido nesse tiroteio da guerra de percepções. Talvez seja o caso de recuperar a reportagem da Tribuna de 22 de julho de 1998 que manchetava: “Garotinho pede a César para elevar o nível da campanha”.


Benedita 70

Recebi cópia da carta que Dilma enviou a Benedita, dando parabéns pelo aniversário de 70 anos. "Ela desafiou uma realidade dura e venceu: negra e pobre, enfrentou preconceitos e quebrou todas as barreiras que a vida lhe impôs", diz Dilma. Fico igualmente feliz pelas vitórias de Benedita, e feliz por também ter contribuído para algumas delas. Parabéns, Benedita.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dessa vez, nem a sogra salvou Dicró


Fiz vários trabalhos com o Dicró, para Sonoleve, Governo do Estado e campanhas políticas. Era realmente uma figura que tinha mil e uma histórias sobre a sogra. Chegava lá na agência e dizia: "Gadelha, você tem que me contratar pra Criação. Sou melhor do que todo esse pessoal que você tem aí. Pode demitir todo mundo que faço o trabalho deles". Sempre bem humorado, alto astral. Tão alto que decolou de vez... Fará falta.
(Se não me engano, a mulher com cara de sogra que aparece no final do comercial estava na praia, viu o Dicró e resolveu participar das filmagens...)

sábado, 7 de abril de 2012

Inflação: o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil?


Na quinta-feira, dia 5, o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman publicou um artigo, Not Enough Inflation (traduzido hoje na Folha com o título de “Mais inflação, por favor”, reproduzido mais abaixo), que certamente deixou nossos analistas econômicos de plantão com o estômago embrulhado. Afinal, ele diz com todas as letras que o Fed (Banco Central de lá) deve “preocupar-se com a oferta de empregos e também com a estabilidade dos preços”. Aliás, vai além: “A direita quer que o Fed se mantenha obsessivo com a inflação, quando a verdade é que estaríamos melhor se, em vez disso, ele se preocupasse mais com o desemprego”. Isso nos lembra muito do desvario que tomou conta de nossos “analistas de mercado” quando o nosso Banco Central, em agosto do ano passado, decidiu reduzir os juros para 12% ano. Foi um Deus nos acuda, todos dizendo que era irresponsabilidade, que a inflação ia voltar, etc, etc. Este Blog fez questão de sair em defesa do Banco Central e esclarecer, como Paul Krugman, que a sua função não se restringe a garantir inflação baixa, de forma submissa ao cassino financeiro. O Banco Central acima de tudo tem que ter responsabilidade social – e às vezes isso pode significar criar estímulos a mais empregos, mesmo que represente inflação. Krugman  reconhece que “uma política mais agressiva para lutar contra o desemprego talvez levasse a inflação acima dos 2%”, mas ressalta que “se a taxa tivesse uma alta maior, para 3% ou 4%, seria terrível? Pelo contrário, iria ajudar a economia”, e se o Fed desistisse de combater o desemprego seria o mesmo que “violar seu próprio estatuto”. Na nossa postagem do dia 2 de setembro passado (A autonomia do Banco Central está em “cheque” ; ver também Paul Krugman e os bancos centrais, do dia 10 de setembro de 2011), igualmente afirmamos que “não existe sistema financeiro forte e eficiente sem princípios sociais”. Será que isso tudo quer dizer, como diria o ministro da ditadura, Juracy Magalhães, que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil? Nessa questão do papel dos bancos centrais, estamos de acordo. Mas, aqui entre nós, se apesar do desemprego o Fed aumentasse um pouco os seus juros e valorizasse mais o dólar, nossas exportações agradeceriam...
Mais inflação, por favor
Paul Krugman
O Fed tem mandato duplo: se preocupar com a estabilidade dos preços e também os empregos
Há alguns dias, Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (o banco central americano), fez um discurso em defesa de seu sucessor. Ataques de republicanos a Ben Bernanke, ele disse, são "completamente inapropriados e destrutivos".
Mas por que os ataques são tão devastadores? Afinal de contas, ninguém na América deveria ser imune a críticas, muito menos aqueles -como os diretores do Fed- que têm o poder de fazer nossas vidas melhores ou piores.
Não. O real motivo dos ataques a Bernanke serem tão negativos é que eles são um esforço para induzir o Fed a tomar a decisão errada. Quem critica a política da instituição quer que ela sufoque a recuperação, ao invés de acelerá-la.
A direita quer que o Fed se mantenha obsessivo com a inflação, quando a verdade é que estaríamos melhor se, em vez disso, ele se preocupasse mais com o desemprego.
Na realidade, um pouco mais de inflação não seria uma má ideia.
O Fed tem, segundo a lei, um mandato duplo: preocupar-se com a oferta de empregos e também com a estabilidade dos preços.
E uma política mais agressiva para lutar contra o desemprego talvez levasse a inflação acima dos 2%.
Mas lembre-se das obrigações do Fed: se ele se recusar a aceitar os riscos no campo da inflação, mesmo com a desastrosa performance do emprego, seria o mesmo que violar seu próprio estatuto.
E, mais que isso, se a taxa tivesse uma alta maior, para 3% ou 4%, seria terrível? Pelo contrário, iria ajudar a economia.
A maioria do setor privado continua a ser prejudicada pelo excesso de dívida acumulada durante o período da bolha imobiliária. Esse débito é, sem dúvida, o principal fator a impedi-lo de investir e, por consequência, perpetua a crise.
Uma taxa modesta de inflação poderia, no entanto, reduzir essa ameaça -fazendo com que a dívida assuma seu real valor- e ajudar a promover a melhora de que o setor privado necessita.
Ao mesmo tempo, outras áreas do setor privado acumularam grandes quantias; uma inflação moderada faria esse montante estagnado menos atraente, agindo como um estímulo ao investimento.
Em resumo, longe de temer que medidas contra o desemprego levem a uma escalada da inflação, o Fed deveria desejar essa previsão.
Esse raciocínio me leva de volta às criticas republicanas e seu efeito negativo na política.
Realmente, Bernanke gosta de insistir que ele e seus colegas não são afetados pela política. Mas essa afirmação não é coerente com o comportamento do Fed -ou, às vezes, com a falta de medidas tomadas pela entidade.
Como muitos analistas têm notado, a própria previsão do Fed indica que, enquanto as coisas têm melhorado um pouco, ainda são esperados inflação baixa e desemprego alto nos próximos anos.
A mais recente reunião desse órgão mostrou que o Fed está inclinado a não tomar providências, a não ser esperar que as coisas se direcionem para o pior caminho.
Então, o que está acontecendo? Creio que os membros do Fed, admitam eles ou não, estão se sentindo intimidados -e são os trabalhadores americanos que estão pagando o preço por essa timidez.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dilma, Ibope e a classe média, segundo Merval


Na sua coluna de hoje no Globo, “Dilma agrega apoios”, Merval Pereira faz uma análise bem correta sobre os resultados da pesquisa CNI/Ibope de ontem, que aponta aprovação de Dilma com 77%, novo recorde. Diz ele que esse Ibope “pode ser explicado por uma conjunção de apoios, pois ela mantém a hegemonia na Região Nordeste (82%) e entre os cidadãos que ganham entre um e dois salários (59%), mas conseguiu ser igualmente bem avaliada entre os eleitores com renda familiar superior a dez salários mínimos (60% de ótimo e bom) e na Região Sudeste (75%) (grifo nosso). Em seguida conclui: “Isso quer dizer que a maneira de governar de Dilma tem agradado à classe média, sem perder o apoio das classes mais populares”.
Perfeito. O que me espanta é a demora que a mídia mais conservadora, bem representada por Merval, teve para compreender isso tudo. O primeiro grande nome da oposição a perceber o que estava ocorrendo foi Fernando Henrique, demonstrando sua preocupação no artigo “O Papel da Oposição”, pré-divulgado no dia 12 de abril do ano passado. Na época, escrevi aqui no Blog (FHC: finalmente o grão-tucano mostra bom-senso), aplaudindo a sua perspicácia: “Isso significará que Fernando Henrique, além de reconhecer as realizações de Lula, já percebeu o estrago que Dilma está fazendo no seu eleitorado preferencial. A capacidade que ela tem tido de agradar a classe média (e a mídia) mostrou-se complementar ao que Lula fez e está deixando a oposição em polvorosa. Fernando Henrique ainda terá a ‘ousadia’ de sugerir que a oposição deve buscar a classe média ‘em lugares onde os partidos praticamente não existem, como as redes sociais da internet’”.  Dois dias depois, quando ele finalmente publicou seu artigo pré-divulgado(!), escrevi (“Povão” ou “Classe Média”: em defesa de Fernando Henrique): “Fora do poder e na entressafra eleitoral, a oposição tucana, de perfil mais elitizado, tem mesmo que tentar se manter forte e unida através do discurso classe média, principalmente diante da 'ameaça Dilma', que conquista brilhantemente largas fatias não só da classe média, como da classe mídia... FHC ainda demonstra mais um momento de lucidez ao aconselhar o partido 'a priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia'”.
No dia 19 de agosto de 2011, escrevi (A herança mal dita de Lula):  "Apesar de toda a campanha contra, Lula conseguiu eleger Dilma para sucedê-lo. Inicialmente, ela era tratada como marionete, burocrata, politicamente despreparada para o cargo. Ninguém foi capaz de dar valor a seu trabalho na Casa Civil, e pré-anunciavam uma administração fracassada. Espertamente, Dilma tratou de passar a mão na cabeça da classe média mal amada – e deu certo. Deu certo até demais".
Em outras palavras: esse Ibope da Dilma já estava previsto antes de sua eleição. Só não viu quem não acreditava no que via.

sábado, 24 de março de 2012

Chico Anísio pra valer

Quem diria, Chico Anísio morreu. Será? Desde que me entendo por gente que vejo ele por perto, fazendo graça da vida. Talvez às vezes nem tivesse graça, mas foi sempre genial, indispensável para a cultura nacional. Fico feliz de ter tido a ideia de fazer esse comercial utilizando o seu quadro da Escolinha do Professor Raimundo, isso na década de 80, quando era redator da MPM Propaganda, que tinha a conta de publicidade do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Mergulhei no espírito da coisa assistindo vários programas e as falas saíram exatamente como escrevi. A direção foi de Carlos Manga. Obrigado pela inspiração, Chico Anísio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O Blog do Gadelha no Mundo da Disney



Pelo menos uma vez por mês, o Blog do Gadelha tem sido reproduzido em Orlando, pelo Jornal B&B (Brasileiras & Brasileiros), que conta com a designer Inez Oliveira na sua coordenação. Na edição que está no ar, foi reproduzido o post "... E o vento levou os Republicanos", que você pode ver na imagem acima e ler na íntegra aí abaixo. O endereço do Jornal B&B é http://www.jornalbb.com.

quinta-feira, 15 de março de 2012

... E o vento levou os Republicanos



Teve uma época em que os Republicanos tinham esperanças em derrotar Barack Obama nas eleições de novembro. Mas isso faz tanto tempo... é uma coisa tão antiga... Naqueles tempos, eles acreditavam que o governo Democrata afundaria junto com a herança maldita deixada por Bush, uma economia em crise, governo desacreditado, a produção solapada, o desemprego em alta constante. Obama soube reagir com tranquilidade, com precisão e com um timing perfeito. Apostou no investimento no mercado interno e na recuperação do setor produtivo e soube jogar de volta a responsabilidade pelas dificuldades econômicas no colo dos Republicanos – graças à incompetência de seus congressistas que, ávidos em atrapalhar o desempenho do governo, radicalizaram na politização das soluções econômicas e impuseram medidas antipopulares.
Começaram as prévias e o discurso oposicionista mostrou-se cada vez mais vazio. O principal candidato, Mitt Romney, avançou, mas não convenceu. Sua visão da economia foi um fiasco. Fracassou até mesmo na sua terra, Detroit, onde as montadoras voltaram a crescer e os empregos voltaram a surgir – contra todas as suas previsões e propostas. Foi aí que o Sul Republicano se rebelou, iniciou uma espécie de Segunda Guerra da Secessão. Os “Novos Confederados” lançaram-se à luta com uma agenda ultraconservadora, priorizando questões como o aborto, homossexualismo, imigração, sempre com um discurso sectário. Ao contrário da Guerra da Secessão do século XIX, quando o Sul defendia a escravidão dos negros, esses “Novos Confederados” querem também escravizar mulheres, homossexuais e imigrantes. E empunhando essa bandeira partiram para batalhas sangrentas, ferindo de morte a candidatura Republicana. Bem que o Rhett (Mitt Romney) Butler revivido tenta conquistar o coração de Scarlett (Sul) O’Hara. Nas até agora não teve o mínimo sucesso. Pode ser que – como no melodrama imortalizado por Clark Gable e Vivien Leigh – nossa Scarlett O´Hara descubra que ama Rhett Butler. Mas, assim como na ficção, será tarde demais.

terça-feira, 6 de março de 2012

Resposta a Merkel: quem vive o azedo do “agressionismo” não pode falar de protecionismo


Angela Merkel tenta desviar a atenção de sua política extremamente agressiva, expansionista, atacando o Brasil como protecionista. Que moral ela tem para falar assim? A Alemanha é um dos maiores países exportadores do mundo, com saldo na balança comercial no ano passado de cerca de 17% superior a suas importações. Enquanto isso, no acumulado de 12 meses, nosso saldo foi negativo em janeiro e apenas 7% superior às importações no acumulado de 12 meses em fevereiro. E não é só isso. A Alemanha é um dos principais responsáveis pela aniquilação da economia da Grécia (e de outros países europeus) por impor um comércio desigual entre eles, com um euro super forte que encarecia os produtos dos países vizinhos economicamente mais fracos. Foi sugando essas economias que ela cresceu mais. Como a fonte secou, ataca os emergentes com movimento inverso: desvaloriza o euro, através de seu tsunami monetário, para avançar mais facilmente sobre nossas economias. Foi mais de 1 trilhão de euros o total de empréstimos que o Banco Central Europeu concedeu ao sistema financeiro com juros subsidiados. (Similar ao que fazem os Estados Unidos com sua política de juros a quase zero.) Isso provoca uma avalanche de dólares em nossa economia, valorizando o real, prejudicando nossas exportações e dificultando ainda mais nosso setor produtivo. Felizmente temos um mercado interno forte, ainda em expansão (graças à política de inclusão social iniciada por Lula e continuada por Dilma), que garante um PIB em crescimento constante. Nossas medidas “protecionistas” foram bem tímidas e atingem muito mais os países asiáticos. Por isso, é melhor escolher palavras menos azedas, Dona Angela. E trate de vender seu Sauerkraut em outro lugar!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O SuperPAC de Obama


Os SuperPAC são Comitês de Ação Política sem limites. Eles podem arrecadar o que bem entendem para apoiar aliados ou destruir adversários políticos. Ganharam destaque muito especial graças à campanha milionária que os Republicanos colocaram no ar. Segundo levantamento do Washington Post, só no mês de janeiro, os  SuperPAC pró-Republicanos arrecadaram 22,1 milhões de dólares – contra apenas 60 mil dólares dos pró-Obama. Apesar de milionária, a campanha Republicana é literalmente primária. Primeiro por ser autofágica – uma verdadeira aula sobre o que realmente significa “fogo amigo”. Depois por ter caído na armadilha da crise econômico-financeira montada por Obama. Esqueceram o que significa ter “a máquina na mão” e acreditaram que Obama ficaria de mãos atadas. Primeiro, ele tratou de colocar boa parte do abacaxi do desemprego na conta dos Republicanos (os impasses que eles, ingenuamente, provocaram no Congresso foram decisivos).  Depois, fez o oposto do que estão fazendo os europeus, com sua fórmula recessiva de enfrentar a crise. Obama investiu na recuperação do setor produtivo, está trazendo empregos de volta, fortalecendo o mercado interno. Por último, temos que considerar que ele lidera a melhor equipe de marketing político do momento. Cada passo que dá, seja no cenário internacional, seja na vida pessoal, é meticulosamente calculado. Veja por exemplo o comercial da Chrysler com Clint Eastwood no intervalo do SuperBowl – garanto que tem dedo da equipe. Ou os exemplos das “canjas” que Obama deu, primeiro cantando Al Green e depois, a pedido de Buddy Guy e Mick Jaegger, cantando no show da Casa Branca reunindo vários artistas. Tem dinheiro que pague isso? Enquanto os Republicanos gastam milhões para se destroçar, Obama amplia espaço rumo à re-eleição simplesmente cantarolando “Sweet Home Chicago”. Aliás, foi essa mesma música que a Banda de Dan Aykroyd e John Belushi apresenta no filme “Blues Brothers” para arrecadar o dinheiro que os irmãos Jake e Elwood Blues precisam para investir em um orfanato. Isso é ou não é mais forte do que os SuperPAC Republicanos?

Blues Brother cantando "Sweet Home Chicago":

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Churrasquinho grego



O neoliberalismo, à moda dos generais, conseguiu acabar com a democracia grega. O tal acordo comemorado, que garante 130 bilhões de euros para supostamente fortalecer a economia do país, trata-se de uma intervenção descarada para garantir os lucros de bancos alemães e franceses. O premier grego, Lucas Papademos, feliz por estar momentaneamente salvando o couro, delirou:  “Agora seremos capazes de progredir com estabilidade, limitar a incerteza e aumentar a confiança na economia grega”. Que progresso será esse que prevê que até 2020 a dívida será de “apenas” 120,5% do PIB? Muito mais lúcido do que o premier é o vendedor de frutas Raptis Michalis, de 67 anos, que declarou à Reuters: “É como se não tivéssemos na Grécia pessoas capazes de governar o país”. Ele sabe que as altas taxas de desemprego que estão sendo impostas eliminarão os clientes de seu mirrado negócio. E deve perceber também que dificilmente esse governo se manterá por muito tempo, principalmente porque haverá eleições agora em abril. O povo irá para as ruas protestar, defender seus direitos e seus empregos. Os políticos tentarão fazer média para conquistar votos. O calote da dívida certamente acontecerá. Talvez a Grécia saia da Zona do Euro. Seja como for, o futuro grego será espeto.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Rubens Ricupero: arrogância X arrogância


O jurista, diplomata e Ministro da Fazenda do Plano Real, Rubens Ricupero, aproveitou esta segunda de Carnaval para escrever, na Folha, um artigo que parece procurar rasgar todas as fantasias. “Perdão pela Crise” é um texto muito bom celebrando “os 30 anos do início do Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento da Unctad, um dos raríssimos estudos que advertiram sobre a ameaça que se avizinhava”. Mas ele acusa os todo-poderosos da economia mundial de menosprezarem a advertência sobre a crise econômico-financeira que explodiu em 2008. “Os sabichões, alguns ganhadores do Nobel, seguros da infalibilidade de seus cálculos sobre o sistema financeiro, haviam tomado seus desejos pela realidade e tinham sido culpados de  hubris, a soberba que desafia os deuses. Em relação às advertências prevalecera naqueles anos uma psicologia da negação”, escreve ele, que também disse: “Tão logo passem os piores efeitos na economia, os sabichões voltarão com a arrogância de sempre”. Tudo bem, se Ricupero ele próprio não tivesse se tornado célebre por uma frase bem arrogante que vazou dos microfones da Globo para todo o Brasil, em setembro de 94, em plena campanha pela eleição de Fernando Henrique:  "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
Arrogâncias à parte, vale a pena ler o texto completo.
Perdão pela crise
Rubens Ricupero

Tão logo passem os piores efeitos na economia, os sabichões voltarão com a arrogância de sempre
Noventa e quatro vezes pediu o papa João Paulo 2º perdão pelos crimes cometidos pelos cristãos ao longo de 2.000 anos. Seria demais esperar que ao menos uma vez as organizações internacionais e os economistas convencionais admitam a parte de responsabilidade que lhes cabe na crise financeira em que mergulharam o mundo?
Quando for publicada esta coluna, estarei iniciando desse modo o discurso de abertura no Palais des Nations em Genebra da reunião para celebrar os 30 anos do início do Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento da Unctad, um dos raríssimos estudos que advertiram sobre a ameaça que se avizinhava.
Em visita à London School of Economics, em 2008, a rainha Elizabeth 2ª fez a pergunta inocente que estava em todos os lábios: "Como foi que ninguém havia previsto a crise?". Após meses de silêncio embaraçado, um grupo de economistas britânicos se desculpou: "Majestade, o fracasso em prever o momento, a extensão e a gravidade da crise e em evitá-la (...) foi, sobretudo, uma falha da imaginação coletiva de muitas pessoas brilhantes (...) em entender os riscos que corria o sistema como um todo".
Os sabichões, alguns ganhadores do Nobel, seguros da infalibilidade de seus cálculos sobre o sistema financeiro, haviam tomado seus desejos pela realidade e tinham sido culpados de "hubris", a soberba que desafia os deuses. Em relação às advertências prevalecera naqueles anos uma "psicologia da negação".
Essa é a verdadeira explicação para a imprevisão e as suas devastadoras consequências. Nem todos estiveram cegos para os perigos da orgia de liberalização financeira. A Unctad, no começo dos anos 1990, em pleno auge do triunfalismo da globalização como ideologia (para distingui-la da versão autêntica e histórica), já previa que a década se caracterizaria pela frequência, intensidade e caráter destrutivo das crises financeiras e monetárias.
Poucos prestaram atenção. No Brasil, os mestres do "saber superficial, pretensioso e tendencioso" (mas de grande prestígio em Washington e Davos), julgavam a Unctad um dinossauro em extinção. Ao contrário do Fundo Monetário Internacional, que na véspera da crise asiática de 1997 proclamava em seu relatório: "O futuro da economia mundial é cor-de-rosa"! Ou que, um ano após o início da atual crise, insistia que tudo não passava de perturbação passageira.
Não é o feio pecado da "alegria do profeta" que me leva a dizer tais coisas. É que, tão logo passem os piores efeitos da crise, esse pessoal, hoje de rabo entre as pernas, há de voltar com a arrogância de sempre. Basta atentar na teimosia do FMI em só aceitar controles de capital como último remédio, e não como arma normal do arsenal para evitar crises.
 Não foi a falha de imaginação ou inteligência a culpada da imprevisão. A causa é a ideologia, o disfarce de interesses de classe e setores sob roupagem científica. Os que dão as cartas no Departamento do Tesouro e equivalentes na Europa são os mesmos homens do setor financeiro que prepararam a crise. E o único arrependimento que deles se pode esperar é o daqueles que choram o tempo todo no trajeto para depositar no banco seus bônus milionários.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O estilo “miguelito” ajuda a inflar as greves?


Tempos atrás participei da organização de várias greves, em um grupo político de esquerda ou como diretor da CUT. Uma das que lembro, com grande sucesso pela mobilização, foi a greve do Arsenal da Marinha, em 85, a famosa “Greve dos Mascarados”. Acredito que tenha sido a única realizada pelos trabalhadores do Arsenal da Marinha, com seus piquetes feitos à distância, porque se tratava de área de segurança nacional. Nas discussões sobre como agir, sempre havia sugestões do tipo “vamos espalhar miguelitos por toda parte!”, ou seja, parar a cidade com aqueles pregos de 4 pontas que furam pneus de carros. O bom senso acabava prevalecendo, porque é importante que a população apoie, ao invés de reagir contra a greve.
Foi principalmente na conquista da simpatia popular que os policiais falharam dessa vez. Acreditaram que poderiam repetir o que os bombeiros do Rio fizeram no ano passado e, com essa ideia na cabeça e uma arma na mão, tentaram fazer imensa mobilização nacional. Foram ingênuos, deixaram-se levar por politiqueiros excitados com a chance de faturar mais uns votinhos logo no início desse ano eleitoral. O primeiro erro foi a escolha do momento pré-carnavalesco. Ameaçar a realização da festa do povo? Onde já se viu fazer uma escolha dessas!?! Isso deixou o país inteiro em pânico - o folião, os pequenos comerciantes, os blocos e escolas de samba, a indústria do turismo, a TV Globo, por aí vai. Outro grande erro foi o estímulo ao vandalismo. Queimar caminhão para bloquear estradas é pior do que “miguelito”. As dezenas de assassinatos que surgiram de uma hora pra outra foram aterrorizantes – mães impedindo que os filhos fossem à escola, amigos organizando grupos para saírem à rua com mais segurança, o medo lado a lado com a população. Os tiros contra bancos, viaturas da polícia e emissoras de TV também foram inteiramente desnecessários. O terceiro grande erro foi o de organização, com seus líderes deixando-se grampear facilmente, parecendo estagiários de vigia.
Do outro lado, vimos os governos federal e estaduais extremamente atentos e eficientes. Souberam informar corretamente e venceram logo de cara a guerra das percepções. Aquela onda vermelha e romântica dos grevistas do ano passado transformou-se rapidamente em nuvem negra, ameaçadora, indesejável. Lideranças atrás das grades e um movimento frustrado, que não conseguiu acrescentar nada ao soldo/salário de cada um. A greve dos policiais/bombeiros fracassou e deixou pelo menos duas lições. A primeira reafirma que, para ter sucesso, a greve primeiro tem que vencer a guerra de percepções. A outra deixa claro que os problemas na área de segurança são bem maiores do que a simples reposição salarial, exigem, na verdade, reposição da política nacional de segurança. Que país é esse que, no lugar de uma polícia única e eficiente, tem em cada estado duas polícias em conflito entre si? Que país é esse onde parte da polícia é militar? Investir em uma polícia única em cada estado, que seja civil, que seja eficiente e que esteja a serviço da população – é por esse objetivo que nossos políticos devem lutar. A boa remuneração dos policiais é praticamente consequência natural.
Quanto aos grevistas, é bom aprender de uma vez por todas que esse estilo “miguelito” que só faz agredir a população é sempre uma furada.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Eleições 2012: São Paulo vai virar Brasil de Lula e Dilma



Como até Gilmar Mendes diria, até as pedras sabem que São Paulo quer mudar. Garanto que tem pesquisa de intenção de voto para Prefeito da Capital que já captou isso, mas o que se viu até agora foram velhos nomes liderarem a preferência popular. Aliás, isso é natural. Nesse momento de candidaturas ainda não divulgadas amplamente, é mais do que lógico que se responda o primeiro nome que vem à cabeça. Daí políticos tradicionais como Russomano, Serra e Netinho aparecerem na liderança. Mas são nomes que também devem liderar os índices de rejeição até o final – principalmente Serra. E o apoio de Alckmin e Kassab só faz piorar as coisas.
O que está acontecendo, afinal? O povo paulistano está vendo no Brasil que está à sua volta um mundo inteiramente novo e bem melhor, no qual ele não está inteiramente inserido. O paulistano quer renovação, quer viver 100% o Brasil de Lula e Dilma. Por isso tenho certeza que quando Haddad (que deve estar em quarto lugar nas intenções de voto, logo atrás dos velhos conhecidos) é associado a Lula e Dilma, ele pula para a liderança, com uns 40% a 50% das intenções. Os nomes de Andrea Matarazzo e Afif Domingos, associados a Serra e Alckmin (o primeiro) e a Kassab (o segundo), juntos, não devem nem mesmo chegar a 30%.
A opção do PT por Haddad atende perfeitamente os anseios da população. A mudança é inexorável, e Lula percebeu isso de longe. Hoje, quem se informa bem também sabe disso.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Alô, mídia, vê se não atrapalha com essa história da Yoani Sánchez!

Não sei do que a nossa grande imprensa gosta mais, se é de bater em Lula e Dilma ou de bater em Cuba. Por isso gostei de ver esse artigo publicado hoje, na Folha, de Julia Sweig. Ela nasceu em Chicago e é uma estudiosa de América Latina. É diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations. É autora de "Inside the Cuban Revolution" e "Cuba: What Everyone Needs to Know". É PhD da Universidade Johns Hopkins University (Escola de Estudos Internacionais Avançados), entre outras coisas.

Na ilha, não é o blog de Yoani Sánchez que merece atenção
Julia Sweig

Uma confissão: a viagem da presidente Dilma a Cuba me faz sentir "inveja de política externa". Como historiadora e analista política que vem viajando à ilha e escrevendo sobre ela há 25 anos, já teci fantasias sobre ter a oportunidade de assistir a meu próprio presidente fazer uma viagem dessas.
Mas, nos EUA, a ideia de que eleitores e financiadores de campanhas cubano-americanos puniriam um presidente que fosse longe demais nos leva a ignorar as transformações monumentais, embora lentamente implementadas, advindas sob Raúl. Perda nossa, ganho do Brasil.
Quando primeiro decidi escrever uma coluna sobre a viagem de Dilma a Cuba, imaginei que eu falaria sobre o teor das reformas econômicas, sociais e políticas -empresas privadas, acúmulo de capital e produtividade agora são coisas patrióticas, e não contrarrevolucionárias- abrangidas no eufemismo governamental sobre "atualização do socialismo cubano".
Mas, quando uma jornalista de uma séria agência de notícias internacional me telefonou para falar sobre a visita, ela me surpreendeu ao apresentá-la, como a imprensa brasileira vem fazendo, como um teste da política de direitos humanos de Dilma.
Após um ano na Presidência, Dilma vem lentamente, e com alguns desvios incômodos, assinalando a intenção de fazer dos direitos humanos uma parte de sua agenda nacional e internacional.
Em Cuba, porém, não são o blog de Yoani Sánchez nem a comparação autoelogiosa e historicamente falsa que ela traçou com Dilma na juventude que merecem atenção ou são medidas de avanço dos direitos humanos.
Os tuítes dela não se comparam às críticas aguçadas e profundamente focadas ao governo que podem ser encontradas, por exemplo, em nada menos que o site da Arquidiocese de Havana, www.espaciolaical.org.
Ali, uma gama inusitada e ideologicamente diversificada de vozes critica o governo, a burocracia e o Partido Comunista por sua opressão desumanizadora dos cidadãos cubanos. As críticas não medem palavras, mas sua intenção é serem construtivas, e não histriônicas -escritas no espírito de uma oposição leal, nacionalista.
A Igreja Católica não é a única outra voz ativa no país, mas sua voz, e a de numerosos outros acadêmicos, figuras culturais e jornalistas, torna obrigatório perguntar "o que significa a dissidência na Cuba de Raúl? E qual seria a melhor maneira de potências externas apoiarem o movimento em Cuba em direção a uma sociedade e economia abertas?".
O "diálogo político" que o ministro Patriota e a presidente Dilma pretendem realizar com Cuba, além da geração de empregos (o porto de Mariel) e os primeiros passos em direção ao aumento do comércio e dos investimentos, tem muito mais chances de reforçar transformações positivas do que se poderia conseguir brincando de favorito com este ou aquele "dissidente".
Nos EUA já tivemos mais de um século de experiência tentando e não conseguindo identificar vencedores na política interna cubana.
Se não posso ter meu presidente em Havana, permita-me a liberdade de oferecer uma sugestão não solicitada a Dilma: falar com Raúl sobre opções para a imprensa brasileira abrir sucursais em Havana em tempo para a viagem do papa Bento 16, em março.
A cobertura das transformações na ilha e das vozes que fazem parte dela só poderá ajudar a vocês e seu público, no momento em que o Brasil se abre para Cuba e Cuba se abre para o Brasil. E talvez também ajudar Washington a ver Cuba além de sua política doméstica.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Republicanos: prévias imprevisíveis


Os Republicanos estão mais perdidos do que mórmon monogâmico. Pensavam que o seu pré-candidato à presidência em 2012, Mitt Romney, ia dar um passeio na primária (caucus) de Iowa – mas foi Rick Santorum, correndo por fora, em uma campanha baseada no tostão contra o milhão, quem venceu. E ainda foi pior: durante dias, Romney teve que conviver com a humilhação de ter vencido por apenas 8 votos, mas, com a recontagem, a humilhação foi maior – ele perdeu por 34 (ou algo assim). Vieram as primárias de New Hampshire, terreno de Mitt Romney, e ele fez o feijão com arroz, vencendo dentro do esperado. No terceiro estado, South Carolina, tudo levava a crer que, apesar de pesquisas inconclusivas apontando vitória de Gingrich, Romney faria barba, cabelo e bigode, e sairia consagrado como candidato oficial do Partido Republicano. Venceu Gingrich. Agora começam as primárias da Flórida, com muito mais eleitores, e mais uma vez Romney aparece como provável vitorioso. Será? Qual dos três chegará à segunda vitória: o conservador católico (Santorum), o conservador protestante (Gingrich) ou o liberal (!) mórmon (Romney)? Talvez não tenha a menor importância. Seja quem for o vitorioso, ele já começa derrotado. O imbróglio Republicano é tão grande que dificilmente terá capacidade de motivar o seu eleitorado. Enquanto isso, Obama posa de Mickey, canta soul, ameaça os aiatolás e reduz o desemprego. Não dá pra saber que vencerá as prévias Republicanas, mas o resultado final, em novembro, está cada vez mais previsível.

A preocupação das potências ocidentais não é mais com a esquerda, é com o capitalismo de estado

(clique nas imagens para ampliar)

O liberalismo econômico, como conhecíamos, vive seus estertores. E podemos dizer que a concordata do Lehmann Brothers, em setembro de 2008, equivale, para os liberais, ao que significou a queda do muro de Berlim para as esquerdas. No mínimo, os dois acontecimentos estão intimamente ligados. Com a Queda do Muro (1989), o liberalismo, que tinha ganhado fôlego com Reagan e Thatcher, radicalizou. O laissez-faire tornou-se o Pai nosso de cada dia. A dissolução da União Soviética passou a ser a garantia de que a política de descontrole total é que estava certa e que representava a evolução da humanidade. Mas os “Ninjas” (No Income, No Job, no Assets – crédito concedido a tomadores que não podiam comprovar renda, nem emprego, nem a propriedade de ativos) deram um golpe mortal nessa pretensão. De 2008 para cá testemunhamos, meio incrédulos, as potências ocidentais em desespero, quase rastejando, tentando entregar os dedos para salvar os anéis. Enquanto isso, os chamados países emergentes, para quem todos torciam o nariz, tornam-se protagonistas da nova economia mundial. “The era of free-market triumphalism has come to a juddering halt, and the crisis that destroyed Lehman Brothers in 2008 is now engulfing much of the rich world”, diz The Economist em sua matéria de capa da semana passada. Pior: o Fraser Institute, canadense, que tem medido a “liberdade econômica” (!!!) nos últimos quarenta anos e que tinha visto o seu índice subir implacavelmente de 5,5 (de 0 a 10) em 1980 para 6,7 em 2007, a partir de 2008 viu tudo andar pra trás. Pior ainda: ganhou força entre os “emergentes” o capitalismo de estado, que funde os poderes do estado com os poderes do capitalismo.
The crisis of liberal capitalism has been rendered more serious by the rise of a potent alternative: state capitalism, which tries to meld the powers of the state with the powers of capitalism. It depends on government to pick winners and promote economic growth. But it also uses capitalist tools such as listing state-owned companies on the stockmarket and embracing globalisation. Elements of state capitalism have been seen in the past, for example in the rise of Japan in the 1950s and even of Germany in the 1870s, but never before has it operated on such a scale and with such sophisticated tools.
O capitalismo de estado, argumentam, representa um esforço significativo sobre seus predecessores em vários aspectos: está se desenvolvendo em escala maior, mais rapidamente e com instrumentos mais sofisticados.
Obviamente, a reportagem procura lançar senões sobre os novos rumos do mundo fora das garras das potências ocidentais. Levanta dúvidas sobre a capacidade de renovação e de correção de erros, e alerta que o “capitalismo de estado é atormentado pelo nepotismo e pela corrupção” – como se nada disso acontecesse no chamado “primeiro mundo”. Mas a reportagem lembra que a ascensão do capitalismo de estado está derrubando algumas “verdades” sobre os efeitos da globalização. Por exemplo, Kenichi Ohmae tinha dito que a nação-estado tinha acabado. Thomas Friedman argumentava que os governos teriam que usar a camisa de força dourada de disciplina do mercado. Naomi Klein apontava que as maiores companhias são maiores do que muitos países. E Francis Fukuyama declarou que a história tinha acabado com o triunfo do capitalismo democrático. O fato é que a “fórmula” do liberalismo econômico fracassou completamente e seus defensores têm motivos de sobra para se preocuparem com esse mundo que avança livre de sua tutela. Acima de tudo porque, olhando para a crise americana, para o caos europeu e para as trapalhadas do grande capital financeiro, podemos dizer que as esquerdas sempre estiveram mais perto de uma proposta de mundo melhor, onde o estado pode de fato ser o protagonista na condução harmonizada de políticas econômicas e sociais. Evidentemente, estamos longe de viver o melhor dos mundos. Mas já é um alívio saber que nos distanciamos da truculência do liberalismo.