domingo, 23 de novembro de 2014

O próximo passo


Governar não é a arte do impossível – mais do que qualquer outra coisa é simplesmente a arte do possível. Dilma está (aparentemente) demonstrando isso, principalmente nesse início de segundo mandato. Não dá para governar enfrentando os donos do capital/comunicação e sair impune. A campanha eleitoral recente deixou isso bem claro. E Dilma começa essa nova fase dando mostras de que entendeu o recado. Sem um Congresso confiável e a corrupção entranhada no país inteiro não há como bater no peito e declarar “ganhei a eleição e fim de papo”. Ganhou-se apenas uma eleição, não uma revolução. E mesmo nas revoluções é preciso saber dar um passo atrás e dois à frente. É difícil engolir a fazendeira Kátia Abreu como possível Ministra da Agricultura. Ou os representantes do mercado assumindo a direção de nossa economia. Mas esse é o momento para as esquerdas saberem se unir e ganhar força para novas conquistas e, como primeiro passo, mobilizar o país por uma reforma política profunda. Talvez isso possa compensar o desânimo de pessoas como Janio de Freitas em (mais um de seus excelentes artigos) “O primeiro passo”, publicado neste domingo, na Folha.
O primeiro passo
Janio de Freitas
Folha, 23/11/2014

A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, vista de fora, é uma decisão política, não econômica. Faz supor uma escolha de Dilma Rousseff por temor da voracidade com que os conservadores ambicionam a retomada do Poder perdido. Presenteia-os, parece, na suposição de aplacá-los.
De fora, ainda não há como saber –e muito menos crer– de algum entendimento prévio sobre linha de política econômica que possa tornar a escolha mais inteligível. Seja como for, coerente com o sentido da campanha de Dilma, não é.
A escolha não tem coerência nem com o momento em que é feita. Na manhã mesma em que fez uma reunião para definir a escolha, liberada não oficialmente à tarde, o caderno "mercado2" da Folha apresentava como manchete: "Desemprego recua em outubro e atinge 4,7%; renda bate recorde". A seção "Economia" do "Globo", com uma nota na primeira página, também dava como manchete: "Emprego em alta, renda recorde".
Aos dois jornais não faltaram, claro, o "mas" e o "apesar de". Ainda assim, das manchetes pode-se entender que a economia esteja mais para o massacrado Guido Mantega do que para o Joaquim Levy que bem poderia ser ministro em um governo de Aécio Neves.
O histórico de Joaquim Levy não deixa dúvida sobre o seu conservadorismo, posto em prática evidente ao menos desde que foi secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento no governo Fernando Henrique. Conservadorismo confirmado no governo Lula, quando foi um dos inspiradores da política econômica que consagrou Antonio Palocci nos setores do domínio financeiro. E conservadorismo consolidado como secretário do Tesouro, quando Levy foi o ponto de resistência a gastos e outras medidas de linha social pretendidas no governo Lula.
Caso o histórico não baste, o presente garante: se não fosse adepto de concepções do conservadorismo neoliberal, Joaquim Levy não seria diretor do Bradesco. O que prova não se tratar, até agora, de pessoa incoerente.
Também sem comunicação oficial quando escrevo, a apontada indicação da senadora Kátia Abreu para a Agricultura sugere, ou confirma, uma disposição incomum de Dilma Rousseff para incrementar problemas com as correntes não conservadoras. A senadora exerce com muita competência a liderança do agronegócio e dos grandes proprietários de terra. Mas nem todos os interesses que defende coincidem com o que deveriam ser objetivos do governo, de todo governo.
Dilma Rousseff entra no segundo mandato devendo muito para reparar os desempenhos deploráveis do seu governo em três capítulos da desgraça nacional: o problema indígena, sem as demarcações territoriais devidas e com o genocídio em progressão; a questão fundiária em geral, com imensos territórios tomados e explorados; e, ainda e sempre, a reforma agrária, pendente de correções e de avanços. Três assuntos em que o responsável pela Agricultura tem deveres e poderes muito grandes. Três assuntos em que os interesses representados pela senadora Kátia Abreu conflitam, em todos os sentidos desta palavra, com as vítimas e com as obrigações e as dívidas administrativas e sociais do governo Dilma.
O primeiro movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

ÓDIO X DIÁLOGO - O TERCEIRO TURNO SÓ COMEÇOU...





Neste domingo, dois sociólogos saídos da velha esquerda, ocuparam páginas opostas do Globo. Na página par, Fernando Henrique, um antigo estudioso da ciência política, particularmente do marxismo, escreveu Diálogo ou novas imposturas?”, onde procurou manter o clima belicoso das eleições presidenciais, com fortes ataques ao governo e ao PT particularmente. Na página ímpar, Moreira Franco, ex-dirigente da AP (Ação Popular), movimento político associado à igreja que ganhou mais destaque na oposição ao golpe de 64, dá entrevista com o título de “É grave levar para a disputa política a divisão do país”. Os textos atendem muito a que cada um se propõe, tentando escolher o foco ideal para os próximos movimentos políticos, principalmente no âmbito do Congresso.
Fernando Henrique, ex-Presidente e tucano-mor do mundo político, fez o discurso da valorização da beligerância eleitoral (a exemplo do que fez Aloysio Nunes no Senado). Começa pelo título e, logo no segundo parágrafo, escreve que “é bom retomar logo a ofensiva na agenda e nos debates políticos”. E em seguida “não se pode aceitar passivamente que a 'desconstrução' do adversário, a propaganda negativa à custa de calúnias e deturpações de fatos, seja instrumento da luta democrática”. Misturou duas coisas (“desconstrução” e “calúnias/deturpações de fatos”) como se fossem uma coisa só. Mas certamente é daqueles que pensa que quando sou eu que faço, é “desconstrução”; quando é o adversário, trata-se de “calúnia”. No afã de manter a tensão pós-eleitoral, atrapalhou-se com pesquisas e o segmento mais rico do eleitorado. Disse ele:
“A propaganda incentivada pela liderança maior do PT inventou uma batalha dos “pobres contra os ricos”. Eu não sabia que metade do eleitorado brasileiro, que votou em Aécio, é composta por ricos... É difícil acreditar na boa-fé do argumento quando se sabe que 70% dos eleitores do candidato do PSDB, segundo o Datafolha, compunham-se de pessoas que ganham até três salários mínimos. A propaganda falaciosa, no caso, não está defendendo uma classe da exploração de outra, mas enganando uma parte do eleitorado em benefício dos seus autores”.
Além de se enganar com percentagens e segmentos, quem está tentando enganar é Fernando Henrique. Como calcula-se em apenas 7% a classe alta no Brasil, é claro que ninguém pensou em dizer que entre os 51 milhões de eleitores do Aécio a maioria é de classe alta. Aécio foi o candidato dos mais ricos porque defendeu propostas mais afinadas com os segmentos mais ricos da sociedade. Essa é a verdade que a campanha petista propagou e que ficou demonstrada com o resultado da eleição dando a Dilma a maioria dos votos dos segmentos de menor renda e a Aécio a maioria dos votos dos segmentos de renda mais alta (segundo pesquisa Datafolha divulgada na véspera do segundo turno). Quem é que “deturpa os fatos”, Fernando Henrique?
Moreira Franco fez o discurso do diálogo. Começou por declarar que “não existe nada mais grave na história da humanidade do que você levar para a disputa política a divisão do país”. Tomou essa posição em defesa não apenas do governo de que faz parte (Ministro da Aviação Civil), como – principalmente – em defesa dos interesses do seu partido, o PMDB, o segundo em deputados federais e o maior partido de “centro” do país. À medida que o “diálogo” vier para o âmbito do Congresso, o PMDB terá mais força como fiel da balança, ampliando seu poder de fogo.
Enquanto, através de Fernando Henrique, o PSDB procura firmar-se como porta-voz da oposição dentro do Congresso (e ao mesmo tempo manter de prontidão o vasto eleitorado oposicionista que conseguiu arrebanhar nesta eleição), o PMDB, através do discurso do diálogo com o Congresso no centro de referência, procura preservar o poder de conduzir os destinos do país através do controle da maioria parlamentar. A bem da verdade, nenhuma dessas posições interessa ao país. O maior recado dessa eleição foi o da necessidade de reforma política. E a principal batalha desse "terceiro turno" deverá ser pela mobilização da sociedade em defesa de uma reforma política profunda, independente, realmente popular. Isso não pode ser deixado nas mãos de quem tem o maior interesse em deixar tudo como está.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Rio de Janeiro vai avançar a passos largos.



Fico feliz com a vitória do Pezão para Governador do Rio de Janeiro. Não apenas por confiar inteiramente na sua capacidade como político e gestor, mas por sentir que de alguma forma contribuí na comunicação de sua candidatura – mesmo não tendo participado da campanha para governador.
Em 96, fui convidado por Franklin Dias Coelho (antigo coordenador de Programa de Governo do candidato Bittar, em 94, e atualmente Secretário de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio) para participar de um seminário promovido pelo IBAM para secretários municipais da região do Médio Paraíba. Durou uma semana, em Resende, e a minha palestra, sobre a construção da imagem de uma cidade, encerrou o seminário. Assim que acabei, veio uma moça falar comigo: “Gostei muito da sua palestra. Meu marido vai se candidatar a prefeito e eu gostaria que você fizesse a campanha dele”.
Tempos depois, Maria Lúcia veio à minha empresa, acompanhada do marido, Luiz Fernando, e dos amigos Chiquinho Perota e Luiz Antonio. Luiz Fernando foi logo dizendo: “Não entendo nada disso. O que você disser pra fazer, eu faço”. Na época, ainda era voto em papel, e eu quis saber por qual nome o candidato era conhecido. “Luiz Fernando”, disseram. Mas alguém lembrou que “na cidade, ele também é conhecido por um apelido que tem, Pezão”. Completei: “Então, esse vai ser o nome dele”.
Conversamos muito, o Franklin (que é de Piraí) coordenou uma pesquisa e logo finalizei o conceito: “Com Pezão, Piraí caminha a passos largos”. Foi uma campanha sensacional, alegre, alto astral, a cara de Piraí. Tivemos liberdade total para criar. Por exemplo, no Programa de Governo, satirizando Fernando Henrique com a mão aberta apontando os 5 temas principais de sua plataforma, fizemos o desenho de um pé com seus dedos também apontando os 5 temas principais e o título: “Este Programa foi feito com o pé no chão.”
O Prefeito de Piraí, na época, era o Tutuca (que 8 anos depois elegeu-se mais duas vezes). Maria Lúcia era secretária de Fazenda. Luiz Fernando virou Pezão, elegeu-se Prefeito de Piraí em 96 (no dia da posse, ele já pôde contar com o novo conceito e a nova programação visual da cidade, feita com o Zé Luís "Bob Marley"), reelegeu-se em 2000 e é o atual Governador. Chiquinho Perota foi seu Vice-Prefeito e Luiz Antonio é o atual Prefeito. Na campanha de 2000, já com urna eletrônica e, portanto, com um número para cada candidato, mudei o tema para “Meu Pezão é 12” (o número do PDT) - logomarca criada por Robson Sosa e premiada no Prêmio Colunistas do Rio de Janeiro.
Nessa eleição de 2000, percen-
tualmente, Pezão foi o mais votado do estado. Pezão é um vencedor. Realizador incansável, apaixonado pelo que faz. E ainda tem muito chão pela frente.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

FIM DE PAPO II



No dia 5 de agosto do ano passado, postei aqui no Blog (FIM DE PAPO) a minha previsão para três eleições deste ano - Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. Errei alguma coisa (por exemplo, achei que Eduardo Campos poderia acabar apoiando Dilma e ainda não considerava a candidatura de Crivella para o Rio), mas acertei no principal. Reveja aqui os principais trechos:

Papo eleitoral.
Adoro bolas de cristal. Desde que tenham pesquisas por trás, perfis bem definidos, muita informação, histórico bem avançado de todos os atores e cenários – enfim, um papo aqui, papo acolá, e imaginação com pé no chão. Vou usar minha bola de cristal para tentar prever três resultados eleitorais.
•    Dilma (PT) vence, talvez no primeiro turno. Eu me baseio no poder da máquina e na inconsistência dos nomes da oposição. A máquina governamental, bem usada, bem azeitada, é capaz de mover montanhas. E apesar dos pequenos reveses da economia, da relação com os aliados e do clamor das ruas, a máquina federal ainda conta com uma força-reserva monumental, graças à sua política social (isso sem contar a força-Lula...). A oposição, fraca, ajuda muito. Marina (?), até hoje, tem um partido indefinido. Variou da crença evangélica ao PT, passou pelo PV e chega hoje a uma Rede da Solidariedade que ainda não encontrou gancho para se sustentar. Tá difícil. Aécio (PSDB) é o mais frágil dos tucanos. Não tem a antipatia atávica de Serra (PSDB), mas também não tem o mesmo preparo nem o mesmo maquiavelismo. Tem um lado simpático, jovem, moderno, mas pesa contra ele o lado irresponsável, “garotão”.
•    Alckmin (PSDB) vence em São Paulo, será reeleito Governador. Apesar de sua política de insegurança assustadora, ainda pode contar com a ação da máquina no Interior. Os petistas Mercadante, Marta e Padilha não avançaram bastante e Haddad até agora não ajudou em nada. Os outros não têm nem papo.
•    Pezão (PMDB) vence no Rio, passará de Vice para Governador. Talvez seja a previsão mais polêmica, mas é bom lembrar que, hoje, os principais nomes (além do Pezão, temos Lindberg, do PT, talvez Garotinho, do PR, e Cesar Maia, do DEM) estão praticamente em empate técnico, com a vantagem para Pezão de ser o menos conhecido e de poder contar com a máquina estadual e com a política de segurança que mais deu certo até agora. Não estou contando ainda com Miro Teixeira, do PDT, porque não levo muita fé na sua candidatura. Também não considero que Freixo, do PSOL, corra o risco de se candidatar agora. Nem acho que os tucanos tenham algum nome viável. Pezão conta também com a alta rejeição dos outros três e não se contamina com a rejeição (talvez temporária) de Sérgio Cabral. Seu estilo pé no chão, realizador, alheio aos holofotes passou a ser grande virtude para o momento. O PT ainda vive a dúvida de apoiar ou não apoiar a candidatura peemedebista, porque pensa no fortalecimento da aliança nacional. Mas é difícil frear a ânsia do petismo local para tentar a sorte com um nome eleitoralmente melhor, por isso é quase irreversível a candidatura de Lindberg. Aliás, em 2006, isso já aconteceu, e o PT, com Vladimir, teve 7,7% dos votos contra 41, 4% de Sérgio Cabral. No dia seguinte, o grupo de Cabral reuniu-se para discutir se apoiaria Lula ou Alckmin. Foi coisa rápida. Cabral e Pezão apoiavam Lula e logo telefonaram para comunicar a decisão. Se Lindberg for mesmo candidato, certamente terá mais votos do que Vladimir - mas apenas isso.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

DESCONSTRUINDO O TSE?



Não entendo por que “desconstruir” virou palavrão. Passaram a confundir “desconstruir” com “golpe baixo” ou “anti-política”, o que não é verdade. E o ministro Toffoli, presidente do TSE, ainda vem dizer que o conteúdo dos programas eleitorais deve ser somente "propositivo", ou programático. Na mesma linha, o ministro Tarcisio Vieira suspendeu trecho da campanha de Dilma na televisão que dizia que o adversário, Aécio Neves, construiu um aeroporto no terreno da família na cidade mineira de Cláudio. Por quê? “A Corte entendeu que, mesmo dispondo os candidatos, no segundo turno, de tempos rigorosamente iguais no horário eleitoral gratuito (simetria), o espaço disponibilizado no rádio e na TV deve ser utilizado de maneira propositiva. Ou seja, não pode ser desvirtuado para a realização de críticas destrutivas da imagem pessoal do candidato adversário, nem é justo que o ofendido tenha de utilizar o seu próprio tempo para se defender de ataques pessoais em prejuízo de um autêntico e benfazejo debate político. Em suma: o espaço é público e deve ser utilizado no mais lídimo interesse público, não soando legítima, doravante, sua apropriação desmesurada”. Continuo chocado com essa decisão, descolada da realidade política. Primeiro, se ele era governador, mas (hipoteticamente) beneficiou-se pessoalmente com a questão do aeroporto, o problema não é pessoal, é político. Por que não divulgar, não tratar da questão no horário eleitoral? Foi a ação de um ex-governador (que agora é candidato a presidente) que até agora não parece estar esclarecida. Então por que não trazer à tona essa questão, de interesse público e que pode determinar uma escolha importante para o país? Provavelmente (não vi), houve igualmente peças na campanha de Aécio que não eram programáticas, mas que não feriam a lei.
Na Resolução N° 23.404 do TSE (que dispõe sobre propaganda eleitoral e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas Eleições de 2014 e que teve como relator o mesmo ministro Dias Toffoli) está escrito no Art. 14: “Não será tolerada propaganda, respondendo o infrator pelo emprego de processo de propaganda vedada e, se for o caso, pelo abuso de poder (Código Eleitoral, arts. 222, 237 e 243, 1 a IX, Lei n° 5.700171 e Lei Complementar n° 64190, art. 22), (...) IX – que caluniar, difamar ou injuriar qualquer pessoa, bem como atingir órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública”. Claro, nada mais justo. Isso não pode e quem fizer isso tem que pagar pelo que fez. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Marketing é uma guerra de percepções, seja no âmbito político, pessoal, comercial, profissional, o que for. Na campanha eleitoral, cada candidato procura expor suas próprias características positivas para poder conquistar uma percepção positiva na mente do eleitor. Como ninguém é absolutamente perfeito, é claro que ele oculta o que pode causar má percepção. A tarefa de expor o que é negativo cabe ao adversário – o que é absolutamente saudável em uma democracia. A escolha que o eleitor faz baseia-se no confronto entre as percepções (positivas e negativas) que ele constrói, por isso ele tem que ter acesso a tudo politicamente importante para a definição do seu voto. A questão, portanto, não é “desconstruir ou não-desconstruir” – a questão é “como desconstruir”. Caso seja mal feita, a desconstrução pode se voltar contra o autor. Em 98, por exemplo, Cesar Maia tentou desconstruir a imagem de Garotinho associando-o ao que seria uma “desordem brizolista”. Acontece que a campanha do Garotinho tinha sido feita sem as marcas clássicas dos candidatos de Brizola. Isso dificultou a associação que Cesar Maia pretendia. A campanha de Cesar Maia ficou pesada, negativa – e ele só teve a perder com a sua “desconstrução”. Em certo momento da campanha, Garotinho perguntou a Brizola se gostaria de aparecer no programa. Ele, sabiamente (em todos os sentidos), recusou, dizendo: “Em time que está ganhando não se mexe”. Além disso, a campanha de Garotinho soube desconstruir. A partir da frase atribuída a Cesar Maia de que usaria água e creolina para afastar os mendigos das calçadas do Rio, foram feitas pequenas entrevistas com moradores de rua declarando que preferiam o Garotinho, porque “tem candidato que não gosta de pobre” (algo assim).
É assim que funciona o jogo democrático. Construções e desconstruções, uma guerra de percepções com regras transparentes, sem precisar “caluniar, difamar ou injuriar qualquer pessoa, bem como atingir órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública”. Se alguém pisa na bola no seu trabalho de desconstrução, o maior castigo é a perda do tempo na TV ou - pior ainda - perda da confiança do eleitor. Essa decisão do TSE de transformar o horário eleitoral gratuito no carcomido formato de retrato 3x4 é a desconstrução da democracia. Talvez seja o caso do TSE reconstruir-se...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os dois perderam: a não-virtude está no meio

(clique para ampliar)
Não importa quem vai vencer, Dilma ou Aécio (parece que é mesmo Dilma), os dois já perderam. Qualquer que seja o vencedor no dia 26, vai entrar derrotado no próximo Congresso. Basta comparar os deputados eleitos deste ano com os que vão encerrar esta legislatura. Até hoje, o PT com seus aliados mais à esquerda, mais o PMDB, mais o PSOL, formavam 195 deputados. Passaram a formar 170. O PSDB com seus aliados mais à direita, mais o seu novo aliado PSB, formavam 136 deputados. Passaram a formar 147. Seja à esquerda ou à direita, são alianças feitas, digamos, no atacado. O “centrão”, ou aquelas siglas que flutuam pra lá ou pra cá, em alianças feitas, digamos, no varejo, passou de 182 para 196. São esses 196 que, no final das contas, vão segurar a bengala do governo na travessia cega da governabilidade. O que nos apontam mais uma vez esses resultados? A necessidade urgente de reforma política. Não adianta mais ficar remoendo essa história. Como bem frisou o Presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli, no seu artigo de sábado na Folha (A quarta maior democracia do mundo), “os resultados das eleições para a Câmara dos Deputados, onde 28 partidos obtiveram assentos, são preocupantes. Revelam séria fragmentação política e desfavorecem a governabilidade. Os partidos de menor expressão, pelo acesso aos recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na TV, ficam sujeitos a se colocar a serviço de projetos políticos de agremiações mais robustas”. Toffoli faz algumas sugestões, como “o fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais (cairia de 28 para 22 o número de partidos na Câmara) e a instituição de cláusula de barreira com a necessária imposição de limites para partidos que não obtenham percentual mínimo de votos, mas que observe os princípios constitucionais do pluralismo político e garanta a expressão das minorias”. Sugere também a “redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias e duas semanas para o segundo turno” e ainda reduzir “o tempo da propaganda gratuita de seis para três semanas”. Finalmente critica firmemente as “doações de empresas para partidos e candidatos, o que é uma contradição, já que a cidadania e o voto não são exercidos por empresas, mas por cidadãos”. E propõe fixar “limites de gastos e de doações por pessoas físicas, (...) estimulando-se a reaproximação entre partidos, candidatos e eleitores. É o que chamo de financiamento democrático das eleições: o financiamento privado de partidos e candidatos, com limites isonômicos, pelos próprios eleitores”. Sugestões excelentes. Podemos acrescentar a ampliação do financiamento público de campanha e medidas que possam fortalecer ainda mais os partidos políticos (voto em lista?).
Urge, repito, a necessidade de uma reforma política profunda. Mas não podemos esperar que isso caia do céu ou aconteça espontaneamente a partir desse Congresso que acabamos de eleger. Os parlamentares não vão querer legislar contra seus interesses mesquinhos. A sociedade tem que rugir. Tem que ir paras as ruas. Tem que forçar Governo e Congresso a transformarem esse modo de fazer de política. Tem que conquistar uma virtude que não seja algo perdido no meio de nada, mas que represente os interesses da maioria. A virtude tem que estar sempre no meio do povo.

domingo, 5 de outubro de 2014

SURPRESAS E NÃO-SURPRESAS DA ELEIÇÃO



1. A maior surpresa, claro, foi a morte de Eduardo Campos. A ascensão de Marina, não foi surpresa – eu mesmo previ isso, baseado no efeito comoção (só não previ a rapidez da ascensão e queda).
2. Outra surpresa foi o tucano que tinha virado pó ter conseguido tornar-se um pó-ssível (ou pó-cível), como dizia meu amigo Edson Vidigal, nas suas campanhas da década de 60 para vereador de Caxias, Maranhão. É verdade que Aécio foi muito ajudado pela incompetência da campanha de Marina (iniciada com o imbróglio do “sim, pastor Malafaia”), mas foi principalmente o poder paulista e a mídia que conseguiram fazê-lo alçar voo novamente. Curiosamente, se conseguir o segundo turno, como indicam as pesquisas, talvez tenha contra ele exatamente o poder paulista do vitorioso Alckmin, que está de olho em 2018.
3. A vitória de Alckmin não foi surpresa, assim como não foram surpresas, para mim, as vitórias de Dilma e Pezão, no Rio. Em agosto do ano passado, postei no meu Blog: “Adoro bola de cristal. Desde que tenham pesquisas por trás, perfis bem definidos, muita informação, histórico bem avançado de todos os atores e cenários – enfim, um papo aqui, papo acolá, e imaginação com pé no chão. Vou usar minha bola de cristal para tentar prever três resultados eleitorais”. Os três resultados:
a. Dilma (PT) vence, talvez no primeiro turno.
b. Alckmin (PSDB) vence em São Paulo.
c. Pezão (PMDB) vence no Rio (...). Talvez seja a previsão mais polêmica, mas é bom lembrar que, hoje, os principais nomes (além do Pezão, temos Lindberg, do PT, talvez Garotinho, do PR, e Cesar Maia, do DEM) estão praticamente em empate técnico, com a vantagem para Pezão de ser o menos conhecido e de poder contar com a máquina estadual e a com a política de segurança que mais deu certo até agora. (...) Pezão conta também com a alta rejeição dos outros três e não se contamina com a rejeição (talvez temporária) de Sérgio Cabral. Seu estilo pé no chão, realizador, alheio aos holofotes passou a ser grande virtude para o momento.
Aliás, há pouco mais de 3 meses, o jornalista Roberto Barbosa me perguntou pelo Skype quem venceria, Pezão ou Garotinho? Respondi Pezão. Ele disse que, se isso acontecesse, ele publicaria que eu fui o único oráculo que tinha previsto isso quando Pezão ainda estava com 4%. Veremos no Blog do Roberto Barbosa.
4. Depois do desastre do avião, o maior desastre, para mim, foi a campanha de Lindberg para o Governo do Rio. Pensei, inicialmente, que ele iria para o segundo turno junto com Pezão. Mas seu marketing eleitoral foi errado do começo ao fim. Percebi logo pela foto oficial. Como ainda trazia resquício de cara-pintada, irreverente, daqueles que entram na casa dos eleitores e pedem para tomar banho, conhecido como “Lindinho” por mocinhas enlouquecidas, foi necessário dar seriedade à sua imagem para se qualificar como “Governador”. Foi o que fizeram, mas exageraram na dose: além de sério, ele ficou de cara triste. Não parou por aí. Um quadro forte e repetido exaustivamente em seu programa de TV, mostrava Lindberg atacando o candidato Pezão com a mesma cara triste, cercado por jovens cabisbaixos, mais tristes ainda. Faltou a alegria que ele sempre soube imprimir às suas campanhas. Pior: trouxe para o foco inicial o conceito de cidade partida / estado partido ou “ricos versus pobres”. Muito bom, mas com o desenvolvimento errado – em vez de usar isso para uma proposta de unir/nivelar os dois mundos, ele ampliou o abismo, dando um tom que parecia condenar o mundo da classe média. A classe média que estava pronta para abraçá-lo, mas acabou largando-o no abismo. Como disse Quaquá, presidente do PT-RJ, para o candidato: “Fizeram de você o Não-Lindberg”.
5. Uma grande e simpática surpresa foi o candidato a Governador do Rio, pelo PSOL, Professor Tarcísio. Já conhecia pessoalmente, porque ele esteve, anos atrás, na minha empresa, como um dos dirigentes do SEPE. Mas jamais poderia imaginar que ele teria desempenho tão excelente.

Meus votos, logo mais, não serão surpresas – apenas o voto para Senador, que decidi ontem, depois de um bom papo com meu cunhado, Edwaldo Cafezeiro.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A ESCOLHA DE SOFIA DA OPOSIÇÃO


“tudo muda o tempo todo no mundo
não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo”.

Lulu Santos / Nelson Motta

Uma semana para a eleição. A última pesquisa Datafolha apresenta, entre os votos válidos, 45% para Dilma, 30 para Marina, 20 para Aécio e 5% para os outros candidatos. Nesse quadro, Dilma precisa ganhar apenas 5 pontos dos adversários para vencer no primeiro turno. Não é uma tarefa fácil, mas não é impossível. Dilma teria que conquistar um pouco dos Não-Votos e um pouco de voto útil em cima dos adversários. A oposição no entanto não tem nisso a sua maior preocupação. Pensa apenas no segundo turno e o seu dilema é: quem vai ser rifado, Marina ou Aécio? Contas e mais contas, reuniões e mais reuniões estão sendo feitas para se chegar a um denominador comum. Os defensores de Aécio argumentam que ele é que tem maior capacidade administrativa, estaria mais preparado para derrotar Dilma e para domar o Congresso. Marina, para seus defensores, seria a novidade capaz de criar uma forte onda anti-PT e conseguir a vitória no segundo turno.
Mas acredito que a luz amarela está cada vez mais intensa na campanha da candidata da Rede. Ela começa a balançar em um momento que é difícil conseguir reverter o movimento. Há duas semanas escrevi que “Marina não foi favorecida pelo Horário Eleitoral. Primeiro, porque o tempo é curto (...) e o desempenho de Marina foi abaixo da crítica. Seu discurso é rancoroso, sem motivar ninguém”. Mas admiti que em “um possível segundo turno o programa de Marina pode melhorar bem. Primeiro, porque todo programa eleitoral que sai dos atuais 2 minutos para os 10 minutos do segundo turno ganha ares de vitorioso”. Ainda acho (sem muita convicção) que o mais provável é um segundo turno entre Dilma e Marina, mas não é o que pensa, por exemplo, Fernando Brito, do Tijolaço, que neste domingo me alertou para os arredondamentos estranhos do Datafolha em votos válidos, mostrando Marina e Aécio com 31% e 21%, quando deveriam ter 30% e 20%. Parece uma tentativa de reduzir o ritmo de avanço de Dilma, principalmente quando vemos na pesquisa anterior que a candidata petista teve seu índice reduzido em um ponto. Fernando Brito acredita que Aécio passa Marina.
O sociólogo Fabio Gomes, do Instituto Informa, aparentemente também acredita nessa possibilidade, embora prefira, em vez de fazer previsões, fazer reflexões. Ele me enviou esse texto com um gráfico de Padrões de Escolha Eleitoral (clique na imagem para ampliar):


Em recente palestra sobre comportamento eleitoral para executivos, evitei fazer previsões. Fiz, no entanto, reflexões com base em uma plataforma analítica que desenvolvi, alinhando a experiência nos últimos 17 anos de investigação do comportamento do eleitor e algumas Teorias das ciências políticas. Os quatro eixos para a escolha de uma candidatura podem subsidiar reflexões sobre o andamento das campanhas. Marina tem dificuldades com os dois primeiros (“competência para o exercício” e “competência política”) - e será muito testada e atacada nesses eixos nos próximos dias. Dilma, pela insatisfação com o governo, deverá argumentar os quatro eixos. Já Aécio, encontra dificuldades nos dois últimos eixos: “sentimentos despertados” e “imagem pessoal”. Melhor refletir do que prever. O comportamento eleitoral não é tão previsível como desejam alguns.
Pelo que entendi, a partir dessas reflexões, os participantes da palestra, que tenderiam para Marina, passaram a acreditar que Aécio teria mais condições para o cargo, poderia fazer mais frente a Dilma.
 Agrego a isso percepções positivas de superação, que ele receberia por ultrapassar Marina na reta final. O que acho complicado é o tempo curto e a falta de unidade da oposição. Esse marécio em que a oposição navega contribui cada vez mais para que a sua escolha de Sofia transforme-se em escolha de Dilma...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

15/09: mais 41 dias (ou apenas 20?) para a provável reeleição de Dilma




A não ser que aconteça outro desastre que jogue tudo pelos ares, a eleição caminha para vitória de Dilma sobre Marina no segundo turno. E há até quem aposte em vitória absoluta já no primeiro turno. Depois dos sacolejões em todas as campanhas, trazendo à tona o nome de Marina como candidata aparentemente viável eleitoralmente, o Horário Eleitoral, com alguma ajuda do noticiário, deu uma rearrumada nas preferências eleitorais.
O programa do PT, conduzido por João Santana, fez bem a Dilma. Com seus quase 11 minutos e meio, Dilma deitou e rolou (e agora até dá passos de funk!!!). Pôde mostrar tudo que fez, pôde mostrar tudo que ainda vai fazer, pôde falar à vontade – até com certa naturalidade – e ainda pôde desconstruir Marina.
Aliás, acusam o PT por seu trabalho de desconstrução da Marina (algo absolutamente natural em marketing eleitoral, desde que não haja golpe baixo), mas ninguém fala do maior desconstrutor de todos, que está sendo o Aécio – conseguiu desconstruir ele mesmo... No começo do Horário Eleitoral, achei estranhíssimo, na TV tucana, a opção por predomínio da câmera lateral, colocando o candidato falando só Deus sabe pra quem. Depois, quando notei a câmera frontal, entendi tudo: as características histriônicas de Aécio são perturbadoras. Fala com rosto trincado, olhos espantados, sorriso forçado, passa muita insegurança. É verdade que melhorou muito nos últimos programas. A qualidade da produção é outra. Mas definitivamente Aécio não passa a imagem que a oposição esperava tanto dele, não é aquele político forte e entusiasmante que poderia enfrentar o PT de Lula.
Marina não foi favorecida pelo Horário Eleitoral. Primeiro, porque o tempo é curto (2 minutos), comparado com o latifúndio de minutos que os adversários têm. O tempo também foi curto para refazer a estrutura do programa (estruturado para Eduardo Campos). E o desempenho de Marina foi abaixo da crítica. Seu discurso é rancoroso, sem motivar ninguém. A sua biografia ficou minguada. Não apresentou nada tcham e seus apoios até agora não convenceram. Gostei do bate-palmas contra Dilma, mas rendeu pouco.
Em um possível segundo turno o programa de Marina pode melhorar bem. Primeiro, porque todo programa eleitoral que sai de 2 minutos no primeiro turno para os 10 minutos do segundo turno ganha ares de vitorioso. Segundo, ganharia também planejamento dos programas. Falta apoio qualificado. Fala-se agora em trazer o Paulo de Tarso para reviver o clima “lulalá” (ele trabalhou na campanha petista de 89), o que significaria um clipão de artistas mais ou menos famosos, etc. Marina poderia repensar o que disse e tentar dizer algo positivamente consistente. Poderia contar (será?) com apoio de Aécio no segundo turno, mas não sei se isso seria positivo ou negativo (quem vai avaliar é Alckmin, o candidato tucano de 2018). Muita coisa poderá ser feita, para reverter o andar da carruagem. Mas, desculpe, Marina morena, parece que o eleitor ficou de mal – de mal com você...

sábado, 30 de agosto de 2014

Atenção, senhores eleitores: apertem os cintos!


Será que a candidatura Marina alçou voo de tal forma que ninguém mais pode acompanhar? Nem tanto. Claro que houve o “voto-comoção” (que ajudou muito na apresentação de Marina como sucessora de Eduardo Campos) e também o voto-hay-gobierno?-soy-contra, incrustrado no rótulo de Não-Voto, responsável pelo grande impulso que Marina teve nessas últimas pesquisas Ibope e Datafolha. Mas será que a eleição presidencial já vive um voo sem volta? É claro que os números das pesquisas são desesperadores para Aécio e preocupantes para a candidatura Dilma. Mais preocupantes ainda para quem, independente do partido, não quer ver o Brasil mergulhado outra vez no vácuo do Consenso de Washington. Mas, calma, dá para recuperar o controle. Neste sábado, por exemplo, tanto André Singer quanto o próprio Mauro Paulino, do Datafolha, escrevem artigos com bons corretivos para esse frenesi da esquadrilha midiática.
André Singer (Rumo ao desconhecido) alerta que “há muito em aberto na candidatura pessebista”. Quais são os rumos que se pretende para uma suposta relação com o agronegócio? O programa social vai ficar solto no ar? E a base de apoio para governar, no caso de Marina eleger-se, será firme? André Singer lembra que, ao se comprometer com a independência do Banco Central, Marina aponta para um governo de “juros altos, recessão bem mais que técnica, corte de gastos públicos e desemprego”. Mais ou menos um “apertem os cintos, o piloto sumiu”.
Já Mauro Paulino (Sucesso de ex-senadora depende da cristalização do eleitorado) destaca que Marina superou o clima de “comoção”, superou o recall de 2010, abriu vantagem sobre Aécio em território exclusivo do tucano e cresceu significativamente entre os eleitores de “menor renda e baixa escolaridade, grupos onde Dilma e o governo sempre demonstraram grande força”. Mas alerta que “propostas concretas e claro programa de governo” serão decisivos. E conclui que a “ênfase exclusiva no discurso da ‘nova política’ pode, com o tempo, afastar parte dos recém-conquistados eleitores”.
Os índices estratosféricos de Marina dispararam em velocidade supersônica. Ela soube muito bem representar os que estavam insatisfeitos tanto com os vácuos do governo petista quanto com a insipidez da tentativa de voo tucano (que rapidamente virou pó). Mas até agora não conseguimos perceber um quod erat demonstrandun em suas propostas. É tudo muito frágil, contraditório, oportunista, rancoroso, tudo muito eólico e ao mesmo tempo uma guinada brutal rumo ao pior do nosso passado.
O Brasil não pode voltar a apertar o cinto e ficar eternamente preso a um mundo sem futuro. O que o Brasil precisa é de um voo tranquilo para dar asas à imaginação.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DILMA E MARINA – QUEM É DO POVO E QUEM NÃO É?



Dilma Rousseff, diz o Wikipédia, nasceu em Belo Horizonte, Minas, em família de classe média alta, filha do advogado e empreendedor búlgaro naturalizado brasileiro Pedro Rousseff e da dona-de-casa Dilma Jane Coimbra Silva. Já Marina Silva, como também diz o Wikipédia, nasceu pelas mãos de sua avó, que era parteira, na localidade de Breu Velho, em Rio Branco, capital do estado do Acre, filha do seringueiro cearense Pedro Augusto da Silva e da dona de casa Maria Augusta da Silva.
Conheço as duas cidades. Morei uns 4 meses em BH, na casa de minha tia, e morei dos 12 aos 17 no Acre, já que a família de minha mãe é de lá e também tem a ver com seringueiros nordestinos. Sempre foi motivo de admiração, entre quem é do Acre, um acreano (ou acriano) com destaque nacional. “Sabe o Armando Nogueira? É do Acre”, diziam, para ouvir em seguida: “O Jarbas Passarinho também”, ou J.G. de Araújo Jorge ou Enéas. O destaque maior passou para Chico Mendes e o nome da vez é Marina (teve também Galvez, o Imperador do Acre, mas acho que ele era espanhol...).
Pela lógica das origens, diríamos que Marina é a candidata dos mais pobres e Dilma a candidata da classe média alta. Ledo engano. As pesquisas não querem saber dessa lógica e a última pesquisa Ibope vira isso de cabeça pra baixo. Na simulação de segundo turno entre Dilma e Marina feita entre 23 e 25 de agosto pelo Ibope, temos resultados reveladores sobre o perfis predominantes do eleitores de Dilma e Marina. Na tabela anexa dá para ver claramente. Basta clicar na imagem.

Os índices de Dilma são maiores entre os eleitores de mais de 54 anos, de religião católica, que estudaram até a 4ª série do Ensino Fundamental, que têm cor preta/parda, com renda de até 1 salário mínimo. Os índices de Marina, ao contrário, crescem entre os eleitores de 25 a 34 anos, de religião evangélica, com curso Superior, de cor branca, e com renda de mais de 5 salários mínimos (conversando com Fábio Gomes, do Instituto Informa, ele diz que no estado do Rio de Janeiro, esse perfil se repete; não entrei em detalhes, mas acredito que no Rio esses perfis dos eleitores são ainda mais fortes). Que aconteceu, então – trocaram os bebês? É claro que as origens, as formações originais, são importantes, mas não dizem tudo. No final o que importa é saber com muita clareza a quem a candidatura realmente interessa – e por quê. Como diria Brizola, o que importa são os interésses que estão por trás. Vamos ver para que lado penderá o Brasil. Pessoalmente, acho que o que Lula plantou continuará dando frutos.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Os jingles do Rio

Muito interessante ouvir os jingles do Rio;
Garotinho - procura associar Garotinho com "povo" e "melhor Governador". Muito bom.
Crivella - fixa principalmente o número 10, do PRB.
Pezão - estou colocando aqui a nova versão, criada por Preta Gil, Caetano e Gil, com interpretação de Jorge Benjor. Trata Pezão de forma simpática e trabalha na repetição do seu nome.
Lindberg - procura mostrar a passagem de um "cara pintada" para um "cara limpa", sério e pronto para governar o estado.
Dos quatro, o que menos gosto é o de Crivella. Clique para ouvir cada.

Garotinho
Crivella
Pezão
Lindberg

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Rio, um segundo turno de 3 ou 4


A disputa pelo Governo do Rio promete ser uma das mais eletrizantes entre os grandes estados. A última pesquisa Datafolha aponta Garotinho, Crivella e Pezão com chances reais de vitória, mas, de certa forma, dando sinais de que Pezão será o eleito. Lindberg aparecia estagnado no quarto lugar. De lá pra cá, dois fatos prometem embaralhar as cartas: a entrada de Marina na disputa para Presidente e o início do Horário eleitoral gratuito. Marina (para desespero de Aécio, que sonhava mudar de vez pro Rio) já chega à faixa de 35%-40% nos trackings (RJ) de que ouço falar e será a nova garota propaganda de Lindberg. Vai tirá-lo do isolamento e contribuir para bagunçar um pouco a disputa. O Horário Eleitoral também vai mexer com tudo:
Garotinho. O Horário Eleitoral pode servir para consolidar sua imagem de candidato do povo. Mas também pode servir para aumentar sua rejeição.
Crivella. O tempo e o desempenho na TV não parecem garantir Crivella no segundo turno. Mas ele poderá se tornar um apoio importante.
Pezão. Tende a avançar muito com a chegada à televisão. Primeiro, por torná-lo mais conhecido; segundo, por poder apresentar um carrilhão de obras.
Lindberg. Com a TV, vai fixar o discurso de “estado partido” (pobres contra ricos) e associar sua imagem a Lula (povão) e Marina (classe média).
Ficou obviamente mais difícil prever, com um mínimo de segurança, quais serão os dois escolhidos para o segundo turno, mas acredito que Crivella ficou mais distante dessa hipótese.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A campanha no Rio



Assisti à primeira parte do debate da Band entre os candidatos ao governo do Rio, Garotinho (PR), Crivella (PRB) Pezão (PMDB) e Tarcísio (PSOL). E ontem à noite vi o Horário Eleitoral. Minha grande surpresa foi o Tarcísio, um desconhecido que deu um show junto a nomes experientes da política local. Para mim, não deveria ser grande surpresa, porque já tinha feito uma reunião com ele, anos atrás, quando um grupo do SEPE (todas as tendências) foi à minha empresa para discutir uma campanha. (Também notei que ele costumava frequentar a Praça São Salvador). Tarcísio teve o mérito de colocar todos os quatro adversários contra a parede, principalmente Garotinho e Lindberg. A sorte dos outros é que ele não está no páreo.
Depois do Tarcísio, quem se saiu melhor foi Lindberg (apesar de ter ficado sem reação, quando Tarcísio declarou que não adiantava o PT acusar o PMDB do estado, sem romper o acordo com o PMDB municipal). Lindberg teve calma e soube marcar a diferença, colocou a questão do “estado partido” (ricos versus povo) e aproveitou o nome de Lula. Ele está melhor na TV do que no seu material impresso. Acho que alguém deve ter dito pra ele – com razão – que deveria deixar de ser o “Lindinho” para poder assumir o papel de homem sério. Resultado: fizeram uma foto em que ele está triste!
Pezão foi responsável pelo ponto alto do programa. Ele conseguiu atingir Garotinho na jugular, quando o tratou de “campeão dos processos”. Estava um pouco nervoso, balançando o corpo e de braços arriados desnecessariamente. Mas sua fala foi sempre muito consistente. Tem inúmeras realizações para apresentar.
Garotinho é quem tem mais a perder, e perdeu. Por outro lado, soube se colocar firmemente como o “candidato do povo”. Nisso ele é bom (aliás, o seu jingle é ótimo). O problema é que definitivamente não inspira mais confiança nem a alegria que transmitia anos atrás.
Crivella. Estranho o papel de Crivella. Parecia que ele estava mais preocupado em estabelecer uma dobradinha com Lindberg. Posso estar muito enganado, mas a sensação que me passou foi a de que já desistiu da batalha e está procurando se cacifar como apoio importante no segundo turno.
Fora o Tarcísio – que está se qualificando muito bem para as próximas eleições –, os outros quatro têm condições reais de ir para o segundo turno. Se Garotinho for para o segundo turno, acho difícil ele derrotar qualquer um dos outros.