terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tomada do Alemão: competência ou incompetência na fuga dos traficantes?


A pergunta que todos fazem agora é: “E os traficantes – quede? cadê? onde estão?” Ninguém sabe, ninguém viu. E aí vem outra pergunta: “Foi incompetência da polícia ou foi combinado?” Não encontro resposta para nenhuma das perguntas, mas quero dizer que a fuga dos traficantes acabou sendo um grande serviço à comunidade. Graças a isso evitou-se o banho de sangue que parecia inevitável, com possível perda de vidas inocentes. Temos que considerar ainda que na fuga os traficantes abandonaram boa parte de seu arsenal, de sua droga, de seu dinheiro e – o principal – perderam o seu bunker e principal campo de ação. Pode ser que ainda estejam escondidos lá mesmo no Alemão (difícil...). Mas se é verdade que fugiram, estão bem enfraquecidos, sem aliados fortes, desacreditados e sem seus fregueses fiéis. Tornaram-se presas fáceis da polícia, sem riscos maiores para os moradores do Alemão. É difícil que tenha sido caso pensado – mas, se foi, parece tratar-se de uma ideia brilhante.

Tomada do Alemão: a conquista do Disque-Denúncia


Um dos maiores avanços que a polícia fez na tomada da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão foi no terreno da credibilidade. E isso pôde ser comprovado com os milhares de ligações para o Disque-Denúncia. Por mais que o Disque-Denúncia sempre tenha garantido sigilo, a população mais pobre desconfiava, por causa da sua ligação com a polícia. Lembro que em 99, quando realizamos extensa pesquisa qualitativa sobre segurança, os moradores de comunidades mais pobres, sem exceção, revelavam esse medo. Achavam mais seguro fazer denúncias através do programa Linha Direta da TV Globo. Por tudo isso, é fundamental que o Governo investigue a fundo todas as denúncias de abuso policial. A confiança conquistada não pode ser desligada.

Ex-executivo de seguradora de saúde nos Estados Unidos pede desculpas pelo que fez contra Michael Moore


Wendell Potter é um ex-diretor de comunicação da CIGNA, uma gigante americana de seguros de saúde, que tem grandes negócios também no Brasil e já teve até mesmo, anos atrás, participação na Golden Cross. No última dia 22, ele se apresentou no programa "Countdown" do jornalista Keith Oberman (NBC) para pedir desculpas ao cineasta Michael Moore pela campanha de difamação que dirigiu contra ele. O motivo de tudo foi o filme “Sicko”, onde Michael Moore literalmente mostra as entranhas do sistema de saúde americano. E as seguradoras morriam de medo que o filme desencadeasse um movimento social a favor da aprovação do seguro médico público universal. “Os executivos dessas companhias chegaram a ameaçar atirá-lo por um barranco se tal coisa sucedesse”. Felizmente Potter teve crise de consciência (como ele mesmo disse, “não podia viver tranquilo”) e decidiu confessar tudo. Leia mais no site Esquerda ou no próprio site de Michael Moore. Aproveite para ver esse trecho de “Sicko” que mostra a saúde em Cuba.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Os Companheiros estão de luto: morreu Mario Monicelli

95 anos e uma enxurrada de belíssimos filmes. Filmou o último há quatro anos. Trechos de duas obras primas, I Compagni (Os Companheiros, 1963) e L'armata Brancaleone (O Incrível Exército Brancaleone, 1966).


Tomada do Alemão: Fatos & Aversões


Fotos O Globo

7:29h – é fato que esse foi um momento histórico. Um momento que simboliza uma decisão difícil, de iniciar uma operação que sob muitos aspectos poderia indicar banho de sangue. Simboliza a possibilidade de vida bem melhor para quase 100 mil moradores do Complexo do Alemão, imersos em uma subvida de tensões, ameaças, agressões, subdesenvolvimento. Simboliza a possibilidade do Rio de Janeiro dar um salto na qualidade de vida de toda sua população. Simboliza mais um passo do Brasil rumo a uma posição de mais prestígio internacional.
Sérgio Cabral, Beltrame – o Governo do Rio de Janeiro criou um fato novo na política de segurança nacional, ao provar que é possível integrar políticas sociais com inteligência, rigor e eficácia policiais. E soube melhor do que ninguém integrar-se ao Governo Federal, dando mais musculatura às suas forças.
Rodrigo Pimentel – de fato, o autor e inspirador do “Capitão Nascimento” do Tropa de Elite é uma referência em questões de segurança pública. Mostrou uma análise diferenciada entre os comentaristas apresentados na mídia. Demonstrou conhecimento e, ao mesmo tempo, uma visão tranquila e bem humana. Nada de teorizações ou vociferações, tão comuns. Apoiou toda a ação, mas demonstrou preocupação (medo, mesmo) com a possibilidade de derramamento de sangue. Hoje, no Bom Dia Brasil, revelou sua dificuldade em dormir no sábado, pensando nos amigos – e até um irmão – que poderia perder, porque estavam na linha de frente da operação. Destaque também para a atuação do Júnior, do AfroReggae.
Comentaristas da bala – causou aversão assistir certas análises que apoiaram a ação do Governo aparentando ver nela a vitória de uma certa política do “bandido bom é bandido morto”. Um analista chegou a dizer que era o fim da política do “bandido cidadão” ou “bandido social”. Não é bem assim. O grande valor desse Governo na área de Segurança foi saber integrar políticas sociais, valorização da cidadania, com inteligência e eficácia policial. Não se pode confundir oportunismo populista ou banditismo eleitoral com política social séria. Os erros do passado não devem ser justificativa para apertar gatilho a torto e a direito.

Pezão e o PAC – o fato de o chefão do Alemão ter o mesmo apelido (Pezão) do Vice-Governador e coordenador do PAC no Rio de Janeiro foi muito curioso. Primeiro, porque gerou uma série de piadas com o Vice-Governador – a principal delas, como ele mesmo me contou, foi dizerem que “aquela mansão fantástica encontrada no alto do morro foi construída com o dinheiro do PAC”. Mas o fato mais importante foi o hasteamento das bandeiras da vitória (nacional e estadual) ter sido feito na estação do teleférico que está sendo construída com verba do PAC...
Mídia – a atuação impecável da mídia, dessa vez, foi fato gerador de otimismo no Rio e até no país. Globo e Record deram show. Na TV, na Rádio, na Imprensa, na Internet, os noticiários foram amplos, elucidativos e na maioria das vezes tranquilizadores. Destaque para os tuiteiros do Alemão, garotada de prontidão, atenta aos acontecimentos e antenada com as novas tecnologias.
População – um fato marcante foi a unanimidade: todos estavam favoráveis à ação, não queriam mais dar espaço à bandidagem com seus atos de terror e, acima de tudo, acreditaram na polícia.
Marketing e criatividade – os traficantes acharam que estavam sendo muito criativos com suas ações terroristas, mas conseguiram apenas causar aversão. Erraram violentamente no seu marketing. Desesperados pelas perdas de espaço e de faturamento causadas pelas UPPs, concluíram que espalhar o terror enfraqueceria as forças de segurança. Contaram com a revolta tanto da mídia quanto da população contra o Governo. Mas foi um grande equívoco. O terrorismo fez a população dar um basta! e ainda mobilizou a mídia a favor da polícia. Foi isso que estimulou o Governo Federal a aumentar sua participação e que permitiu o Governo do Estado a agir com firmeza e de forma definitiva. Os traficantes, sempre muito espertos, ignoraram uma lei básica: a comunicação pode ser criativa, mas tem que estar associada a um marketing que – por natureza – deve sempre ser óbvio. O fato é que o tiro saiu pela culatra

domingo, 28 de novembro de 2010

Apocalypse No


Nessse dia de muita tensão para todo o país, podemos tentar uma Odisseia no Espaço ao som de Pink Floyd (One of theses days). E torcer para que a importante ação das forças de Segurança no Rio de Janeiro não seja apocalíptica.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Novo passo para a Segurança no Rio: obrigar os chefões do tráfico a assistirem a TV


As cenas de Tropa de Elite 3 que o país assistiu ao vivo durante todo o dia de ontem lavaram a alma do brasileiro, particularmente do povo carioca. Revelaram que: 1) as forças de Segurança estão bem preparadas, com capacidade de organização e de reação firme ao narcoterrorismo; 2) que o poder de fogo da bandidagem é grande, mas não é imbatível – aliás, ficou claro que os traficantes estão em desespero; 3) que a população, principalmente a mais pobre (espremida nas vitrines das lojas de eletrodomésticos, bares e bancas de jornal, assistindo a TV), quer paz e apoia a polícia quando ela se mostra eficaz sob todos os aspectos.
Agora é importante reabrir os canais de informação com os chefões que ordenaram o terror. É necessário eles assistirem com urgência as imagens da tomada da Vila Cruzeiro. Precisam comprovar que a Segurança agora é outra, que eles não têm o poder de enfrentamento que imaginavam e que suas ações acabaram tendo o efeito contrário ao que pretendiam. Se tiverem um mínimo de bom senso (isso existe naquelas bandas?), ordenarão o fim do terrorismo. Caso contrário, verão seus “soldados” tombarem aos magotes. As cenas de ontem demonstraram o que disse aqui no Blog há dois dias: “Não há como o tráfico ter ganho nessas ações”.
A população aguarda com ansiedade o capítulo final dessa série de terror.

O campo de batalha...

(gráfico do Globo - clique para ampliar)
... e o M113, um dos heróis da batalha


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Provocação 2: tem gente querendo reanimar a Guerra da Coreia

Não dá para acreditar que a Coreia do Norte tenha pretendido uma “provocação” com esse bombardeio da ilha de Yeonpyeong na Coreia do Sul. Provocar para quê? Afirmar o quê? Não faz sentido esse tipo de ação menos de uma semana após a notícia “bombástica” de sua centrífuga nuclear. No mínimo, levaria ainda algumas semanas explorando a repercussão. Também não faz sentido a explicação dada por alguns “especialistas” ocidentais de que o bombardeio teve o propósito de fortalecer a autoridade do futuro líder Kim Jong-um (BBC, Financial Times, Telegraph, Council on Foreign Relations). Faz menos sentido ainda a proposta do CFR de desnuclearização da península coreana como uma das condições para pacificação da região. Prejudicar a produção de energia nas duas Coreias ajuda? Em quê? Se forem excluídas apenas as armas nucleares, ainda assim o poder de fogo nortecoreano é muito superior ao sulcoreano – ou seja, tudo continuaria no mesmo. O que desequilibra é a presença dos americanos na região, que parecem mais do que nunca interessados em re-iniciar a famosa “Guerra da Coreia” que vive compasso de espera desde 1953. Esse bombardeio pode ter sido um acidente causado por tensão ou incompetência. E se houve provocação mais provavelmente terá sido da parte da Coreia do Sul e/ou dos Estados Unidos, gerando reação nortecoreana. Seja como for, a história está mal contada.

Provocação 1: o Rio tem tudo para sair dessa fortalecido


A série de ataques narcoterroristas no Rio de Janeiro é horrível. Mas é a melhor demonstração de que a política de segurança do Governo está dando certo. E o cálculo é simples: essas ações estão dando mais despesa do que lucro aos traficantes. São operações desgastantes que prejudicam ainda mais o comércio de drogas. Traduzem muito mais desespero pela perda de pontos de venda e, consequentemente, queda na receita e deserção de “soldados”. Não há como o tráfico ter ganho nessas ações – a não ser o aspecto motivacional, dando estímulo a seu "exército" (que anda meio acuado, graças ao sucesso das UPPs) e até conquistando um ou outro novo “soldado”. Mas isso dura pouco. Principalmente porque a reação do Governo tende a ser proporcionalmente bem maior. Narcoterroristas começarão a ser presos, o cerco federal será mais amplo e mais eficaz, o espaço de manobra dos traficantes ficará mais reduzido e inviável. Com o isolamento ainda maior dos líderes que estão presos, caberá aos líderes locais buscar outras regiões para se acomodarem. Apesar do tumulto e do pânico iniciais, surgirá um Rio melhor.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O escudo antimíssil da OTAN é a consolidação da Guerra Morna


A rigor, o novo sistema antimíssil da OTAN já existe há muito tempo. O que foi aprovado agora é a sua expansão: antes, protegia apenas as tropas da OTAN; agora, protegerá também os territórios e os 900 milhões de habitantes dos 28 países-membros. Certamente, a Rússia participará desse escudo. O que altera principalmente são os 270 milhões de dólares que serão lançados na indústria de guerra (a maior parte para alteração do sofware) e o próprio conceito de guerra dessa nova fase do pós-Guerra Fria. Com o fim da bipolaridade, a hegemonia americana ganhou corpo, mas, felizmente, não viramos todos “unipolar”. E o mundo multipolar que começamos a viver não cabe mais na antiga rotulação de que “meu inimigo está do lado de lá, no polo oposto”. Novas tecnologias, novos conhecimentos, nova comunicação, uma relação inteiramente nova entre os países. Ninguém mais tem certeza de onde poderá vir a próxima ameaça, que polo se opõe a qual polo. Vejam esse exemplo da Coreia do Norte. Para espanto do mundo inteiro, acaba de anunciar que possui centrífuga nuclear, ou seja, tem capacidade de enriquecimento de urânio, tornando-se um país mais poderoso e mais independente em tecnologia nuclear. Em que polo se enquadra a Coreia do Norte? Nada muito definido. E o mesmo pode ser dito do Irã. Até Israel teria uma classificação nada tranquila. Os novos adversários não têm origem muito clara. Podem estar em cima, embaixo ou aqui ao lado. Podem ser muçulmanos, judeus, russos, americanos, chineses, curdos ou, quem sabe, até mesmo brasileiros. Essa é a “Guerra Morna” que está em curso. É uma geopolítica nova que ainda precisa ser decifrada. Os Estados Unidos, claro, enfraquecidos nesse admirável mundo novo, tratam de reagrupar seus “amigos” e usam para isso a OTAN sobrevivente e a velha ameaça nuclear. Os diversos polos fora da OTAN não ficarão de braços cruzados. Ficarão um tempo no banho-maria, mas logo logo estarão aquecendo seu escudos.

domingo, 21 de novembro de 2010

Menina na Disney: “Mamãe, tem um Beatle na fila...”; John Lennon grita logo: “Quem será? Quem será?”


Entreouvido ontem, aqui na minha sala, de minha filha de 10 anos para sua mãe: “Sabia que o baixista dos Beatles está aqui no Brasil?” Pano rápido.
Em homenagem a Paul McCartney, essa música bem açucarada, Ivory and Ebony. Em seguida, em homenagem ao nosso domingo, esse trabalho bem salgado, Revolution 9.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A ponte do rio que... já caiu!

Engraçadíssima essa reportagem da WGN de Chicago sobre a implosão de uma ponte. Ficaram uns 5 longos minutos com a câmera aguardando a hora H. Qunado mudaram de cena rapidamente e voltaram, a implosão já estava quase no fim. A apresentadora puxa os cabelos e o apresentador "engole" o texto.

Feliz do País que tem essas marcas na direção


Passamos a campanha presidencial inteira ouvindo as cantilenas oposicionistas sobre a “ficha de Dilma no DOPS” e sobre “o confronto entre as biografias de Dilma e de Serra”. A Folha queria porque queria acesso completo à ficha de Dilma, que o STM evitou a todo custo. Pelo estardalhaço que a Folha fez com uma falsa ficha podemos muito bem imaginar quais eram suas intenções. Em um momento em que a guerra de percepções torna-se particularmente acirrada, qualquer destaque em informação tirada de seu contexto pode ter efeito altamente negativo. Enquanto isso, a campanha de Serra tentava provar que mais importante do que ter apoio de Lula era apresentar uma biografia política superior no confronto direto entre os candidatos. Fiava-se no seu passado de Ministro do Planejamento e da Saúde (Governo FHC) e nas suas eleições parlamentares e para Governador e Prefeito da Capital, em São Paulo.
A ficha não foi liberada para publicação, a comparação das biografias restringiu-se ao discurso vazio de Serra e Dilma venceu, graças ao apoio de Lula e apesar de todos os golpes dados abaixo da cintura. Hoje os jornais começam a divulgar as fichas de Dilma no DOPS. E quero dizer que, assim como deu orgulho ter tido como Presidente um torneiro mecânico, com um dedo a menos na mão esquerda, que soube construir um novo Brasil, dá orgulho também saber que nos próximos anos teremos uma Presidenta que tem essa ficha no DOPS. A biografia de Serra jamais poderia ser considerada superior à de Dilma. Para desespero da oposição, a ficha caiu.
Veja trechos reportagem de hoje no Globo por Evandro Éboli e Jailton de Carvalho:

Documentos da ditadura dizem que Dilma 'assessorou' assaltos a bancos

BRASÍLIA - Liberados para consulta nesta quinta-feira pelo Superior Tribunal Militar (STM), os dezesseis volumes de documentos com páginas já amareladas e gastas que contam a história do processo movido pela ditadura militar contra a presidente eleita Dilma Rousseff descrevem a ex-militante como uma figura de expressão nos grupos em que atuou, que chefiou greves e "assessorou assaltos a bancos", e nunca se arrependeu.
Na denúncia oferecida pelo Ministério Público Militar contra os integrantes do grupo de esquerda VAR-Palmares, Dilma é chamada de "Joana D'Arc da subversão". "É figura feminina de expressão tristemente notável", escreveu o procurador responsável pela denúncia.
O GLOBO teve acesso aos autos a partir de autorização do presidente do STM, ministro Carlos Alberto Marques. A decisão foi assinada no mesmo dia em que o plenário da Corte liberou o acesso dos autos ao jornal "Folha de S.Paulo", que antes da eleição tentara consultar o processo. Dilma apresentou nesta quinta-feira um pedido para também ter acesso aos autos. O presidente do STM determinou que seja dada prioridade à requisição da presidente eleita. Ela já havia pedido acesso aos autos durante a eleição, mas ele fora negado.
Em depoimento à Justiça Militar, em 21 de outubro de 1970, Dilma contou ao juiz da 1ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária Militar que foi seviciada quando esteve presa no Dops, em São Paulo. O auditor não perguntou quais tinham sido as sevícias. No interrogatório, Dilma explicou ao juiz por que aderiu à luta armada. O trecho do depoimento é este: "Que se declara marxista-leninista e, por isto mesmo, em função de uma análise da realidade brasileira, na qual constatou a existência de desequilíbrios regionais de renda, o que provoca a crescente miséria da maioria da população, ao lado da magnitude riqueza de uns poucos que detêm o poder e impedem, através da repressão policial, da qual hoje a interroganda é vítima, todas as lutas de libertação e emancipação do povo brasileiro. Dessa ditadura institucionalizada optou pelo caminho socialista".
Sem participação ativa nas ações. Os arquivos trazem ainda cópia do depoimento que Dilma prestou em 1970 ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), delegacia em que ela ficou presa e foi torturada. No interrogatório realizado no dia 26 de fevereiro daquele ano, Dilma, sob intensa tortura, segundo o depoimento, listou nomes de companheiros, indicou locais de reuniões, e admitiu que uma das organizações da qual fazia parte, o Colina, fez pelo menos três assaltos a banco e um atentado a bomba. Mas ressalvou que nem ela nem o então marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tiveram "participação ativa" nas ações.
No interrogatório no Dops, Dilma contou que o atentado a bomba foi praticado na casa do interventor do Sindicato dos Metalúrgicos em Minas Gerais, e que atingiu também a casa do delegado regional do Trabalho. As residências eram contíguas.
Em um trecho do depoimento, Dilma disse que uma de suas funções em organizações de combate à ditadura era organizar células de militantes. Teria sido encarregada de distribuir dinheiro aos grupos. O dinheiro teria sido arrecadado em ações dos movimentos.
Os documentos relatam que Dilma começou a ser "doutrinada para o credo ideológico marximalista" (sic) por Cláudio Galeno, em Belo Horizonte, quanto atuavam na Polop, em 1967. Anos depois, na VAR-Palmares, Dilma foi a São Paulo e assumiu atividade de colegas que estavam para cair (serem presos). Dilma foi professora de marxismo e em sua casa foram apreendidos materiais para falsificação, panfletos e livros considerados subversivos.
Antes de seguir para São Paulo, Dilma e o marido passaram pelo Rio, em 1969. Sem conseguir, de início, um aparelho para morar, viveram num hotel em Laranjeiras. A Polop, movimento em que atuavam, passou a se chamar Colina. Dilma traduziu livros para os companheiros e foi cobrir pontos e contatos. Foi usada certa vez como "araque", para atrair e despistar a atenção dos militares enquanto companheiros faziam reuniões.
Dilma era deslocada para outros pontos do país para fortalecer a atuação do Colina e arregimentar companheiros. Foi ao Rio Grande do Sul, onde a atuação de seu grupo era fraca e não havia militantes suficientes. Depois, foi cumprir o mesmo papel em Brasília e Goiânia.
Em junho de 1969, teria participado da reunião que tratou da fusão do Colina com a VPR, no Rio. Dilma contou que, em outro encontro, um companheiro falou da realização de uma "grande ação" que iria render bastante dinheiro para os cofres da organização. Essa ação, soube Dilma depois, tratava-se do assalto à residência de Ana Capriglione, ex-secretária do ex-governador Ademar de Barros.
Elogio à "dotação intelectual". Num relatório sobre guerrilheiros da VAR-Palmares, o delegado Newton Fernandes, da Polícia Civil de São Paulo, traça um perfil de 12 linhas sobre Dilma. Segundo ele, ela era "uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pelas esquerdas radicais". O delegado diz que a petista pertencia ao "Comando Geral da Colina" e era "coordenadora dos Setores Operário e Estudantil da VAR-Palmares de São Paulo, como também do Setor de Operações".
"É antiga militante de esquemas subversivo-terroristas", diz o delegado. No texto, elogia a capacidade intelectual da guerrilheira: "Trata-se de uma pessoa de dotação intelectual bastante apreciável". No documento, o delegado pede a prisão preventiva de Dilma e mais 69 acusados de atividades subversivas contra o governo.
" Não é possível supor que se dialogue com pau de arara ou choque elétrico". Em maio de 2008, Dilma falou no Senado sobre o período em que foi torturada. Questionada pelo senador Agripino Maia, que relembrou uma entrevista em que ela dizia ter mentido na prisão, Dilma afirmou que foi "barbaramente torturada" e respondeu:
- Não é possível supor que se dialogue com pau de arara ou choque elétrico. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira - disse Dilma, que emocionou a plateia que a ouvia na ocasião. - Eu tinha 19 anos. Fiquei três anos na cadeia. E fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais. Entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Na democracia se fala a verdade. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. E isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, de que tenho imenso orgulho. E completou: - Aguentar tortura é dificílimo. Todos nós somos muito frágeis, somos humanos, temos dor. A sedução, a tentação de falar o que ocorreu. A dor é insuportável, o senhor não imagina o quanto.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tighten the belt – o mercado sumiu!


O G-20 encerrou o último show e deixou seu recado: cada um por si e Deus contra todos. No caso, “Deus” são os Estados Unidos, com auxílio do dragão chinês. A desvalorização do dólar, a enxurrada de dólar especulativo, a crise europeia e o freio na compra de commodities pela China são as principais ameaças do momento. O Brasil – como todos os emergentes – obviamente serão afetados. Felizmente, ainda temos a nosso favor um excelente mercado interno (na mira de todos), economia bem fundamentada, bom controle da inflação e temos energia. Além de medidas defensivas temos que aumentar a ofensiva em busca de novos mercados. Não basta apertar o cinto – é preciso também usá-lo para abrir caminho.
Abaixo, artigo de Delfim Netto publicado hoje na Folha:

Amarrem os cintos!

Antonio Delfim Netto

O encontro do G20 em Seul, na Coreia do Sul, foi uma reunião lítero-musical de qualidade duvidosa. O seu resultado, pífio. A "solução prática" foi a cínica entrega da questão aos cuidados do FMI.
No ano que vem, ele deve apresentar um programa factível que distribua equanimente os custos do ajuste. Em poucas palavras e sem nhe-nhe-nhem: cada um que volte para casa, trate de cuidar dos seus interesses e ponha as barbas de molho.
Há uma grande dificuldade em dar peso adequado ao problema dos EUA e às malfeitorias da China, o que provoca ataques cruzados.
Os EUA meteram-se numa grave crise e, desde 2007, destruíram 10 milhões de empregos. Para retornar à taxa de desemprego aceitável de 5%, precisam reconstruí-los. Devido ao crescimento da população, para manter apenas o inaceitável nível atual de desemprego, de 9,6%, precisam criar 1,5 milhão de empregos por ano, ou seja, 125 mil por mês.
Mesmo que haja uma rápida recuperação e a economia possa absorver 600 mil empregos por mês (que é o dobro da média dos anos 90!), serão precisos dois anos antes que se volte ao nível de 2007.
Não se trata de um problema de liquidez, mas de confiança: as empresas não financeiras têm em caixa US$ 3 trilhões e não investem a não ser em tecnologias poupadoras de mão de obra. As instituições financeiras têm excesso de reserva de US$ 1 trilhão e não emprestam porque não há tomadores (o nível de endividamento das famílias é da ordem de 100% do PIB).
O único tomador de recursos é o próprio Tesouro dos EUA, cujo endividamento só poderá ser sustentado com a volta ao crescimento, que, por sua vez, depende do investimento do setor privado e do consumo das famílias.
Os EUA pagam agora o preço de sua miopia. Aumentaram o emprego nas finanças e na habitação enquanto transferiam alegremente (graças à valorização do dólar) para a China suas fábricas e seus empregos industriais e para a Índia os do setor de serviços.
Com a explosão das duas "bolhas", no setor financeiro e no imobiliário, o emprego no primeiro talvez nunca se recupere, e o do segundo demorará muito tempo. Uma coisa é certa. Se a demanda interna nos EUA não se recuperou, porque o governo foi incapaz de restabelecer a confiança no circuito econômico interno, só lhe resta a saída das exportações e a substituição do petróleo importado por biocombustíveis. Ele vai persegui-la com a desvalorização do dólar.
Devemos "amarrar os cintos" e aguentar a competição que vem por aí! Parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Eleições americanas: no final, Obama saiu vitorioso


Todo mundo sabe que Obama foi o grande derrotado nas eleições de 2 de novembro. Mas pouco se disse da movimentação vitoriosa de Obama nos últimos dias, que evitou um desastre maior para os Democratas. Curiosamente, fiquei sabendo através do mailing de um dos seus adversários mais ferozes, Dick Morris, estrategista Republicano (embora tenha sido consultor de Clinton). Baseado em pesquisa pós-eleitoral do Instituto Zogby, Morris concluiu que “os esforços de Obama funcionaram”. Diz a pesquisa que entre as pessoas que decidiram o voto na última semana pré-eleitoral (ou seja, que receberam a influência dos esforços finais de Obama), 57% votaram nos Democratas e 31% votaram nos Republicanos. Os que decidiram com antecedência votaram 53% nos Republicanos e 44% nos Democratas. Para infelicidade dos Democratas, apenas 8% dos eleitores deixaram para decidir o voto no final. E mais: 46% votaram com antecedência. 
Outros dados da pesquisa:
• 15% dos solteiros decidiram no final e votaram 64% nos Democratas.
• 14% com ganho anual abaixo de 25 mil dólares decidiram no final e votaram nos Democratas na base de 59% a 36%.
• 20% dos eleitores entre 18 e 29 anos decidiram no final e votaram nos Democratas na base de 56% a 37%.
Os Democratas novamente dominaram entre os mais jovens – mas esses também foram poucos na hora de votar. A pesquisa apresenta outras curiosidades eleitorais desse tipo (clique aqui). Mas o que realmente se destaca foi o sucesso da maratona final de Obama, capaz de derrubar previsões bem pessimistas – inclusive de Dick Morris.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

G-20: Lula, Hauser e Macunaíma


Quando ouvi Lula, no palco do G-20, criticando os Estados Unidos e dizendo “Todos por todos e Deus por todos”, não pude deixar de lembrar a frase de Macunaíma, “Cada um por si e Deus contra todos”, que chegou a virar título de filme do alemão Herzog, “Jeder für sich und Gott gegen alle” (em português ficou “O Enigma de Kaspar Hauser”). Como Macunaíma, Lula é um herói brasileiro. Mas, atenção, não é anti-herói, muito ao contrário. Ele é herói porque soube trazer o povo para o primeiro plano, colocou nosso país em foco no cenário internacional. Percebeu que, como Kaspar Hauser, o povo mais pobre sofria de profunda exclusão social e se dedicou a tentar um final feliz para esse problema. Lula ampliou horizontes, não apenas para o brasileiro – pôs em cena também a América Latina, a África, os mais pobres do mundo inteiro. Não aceitou o “cada um por si” da política americana e levou alternativa viável para o pastelão cambial. Não foi à toa que, nas últimas eleições, o que prevaleceu foi “Lula por todos? Todos por Lula”.

Recado do G-20: Bretton Woods virou “Woodstock”


Em 44, quando os países vencedores da Segunda Guerra resolveram se reunir para botar ordem na economia mundial, os Estados Unidos eram literalmente os donos do pedaço. Em situação diferenciadamente robusta, eles davam as cartas. Nas Conferências de Bretton Woods, como ficou conhecido o encontro, o ouro, representado pelo dólar, passou a ser “moeda padrão”. No Governo Nixon, diante de dificuldades na economia, foi interrompida a paridade ouro-dólar. Apesar de tudo, os Estados Unidos continuaram no comando, até que a crise do Lehman Brothers embaralhou tudo. Os herdeiros de Bretton Woods ficaram parecendo herdeiros de Woodstock – o mundo ficou "doidão". Os Estados Unidos ficaram profundamente abalados pelas dificuldades internacionais que eles ajudaram a criar. E agora está praticamente impossível manter o dólar como referência internacional. Principalmente após a enxurrada de 600 bilhões de dólares com que Obama inundou o mundo. O dever do G-20 que se reúne a partir de hoje é transformar Seul em “Seul Woods”, criar uma nova ordem para as relações entre as economias mundiais. É muito saudável a proposta de Mantega de criar uma cesta de moedas para substituir o dólar como moeda-referência. Nessa cesta, estariam dólares, euros, ienes, libras (que já participam do FMI), e também o real e o Yuan. Vai dar muito bate-boca nesse “Seul Woods”, mas a verdade é que os Estados Unidos não têm mais “condições de ser o país com a moeda de reserva universal”. O próprio Capitalismo aplaudirá essa mudança. E o mundo ficará menos “pirado”.
Leiam esse artigo do sociólogo e doutor em geografia humana Demétrio Magnoli publicado hoje no Globo:

G-20, o espetáculo da soberania
Demétrio Magnoli
Aquilo que o ministro Guido Mantega define como guerra cambial é a paisagem superficial da longa crise do sistema de Bretton Woods. O desequilíbrio entre os superávits chineses e os déficits americanos forma o relevo destacado nessa paisagem, mas não a esgota nem a explica. A crise de fundo tem uma dimensão econômica mas uma raiz geopolítica. No fim das contas, as engrenagens institucionais da ordem econômica global parecem emperradas, pela primeira vez desde o pósguerra.
O G-20, palco da estreia de Dilma Rousseff na cena internacional, não é a ferramenta milagrosa de solução da crise. Antes, figura como uma expressão singular do impasse evidenciado desde a quebra do Lehman Brothers.
Na sua versão original, o edifício de Bretton Woods praticamente excluía a necessidade de interferência política no sistema monetário. O dólar refletia o ouro, que lhe servia de lastro nominal, e uma coleção de moedas orbitava em torno do dólar segundo um mecanismo de paridades quase fixas. As fundações do edifício estavam assentadas na rocha da escassez de dólares, num tempo em que os EUA eram os credores do mundo. O arranjo promoveu as três décadas gloriosas de crescimento acelerado das economias de mercado. Voluntariamente, para salvar o capitalismo, os EUA ajudaram a criar centros independentes de poder econômico, sacrificando no caminho a posição de hegemonia absoluta adquirida durante a guerra.
Quando a escassez de dólares desapareceu, premido pelo financiamento da Guerra do Vietnã, Richard Nixon levantou a âncora da paridade com o ouro. Bretton Woods 2 não emanou de uma conferência, mas de um gesto unilateral do gerente do sistema: a retomada da prerrogativa soberana de imprimir moeda. No novo ambiente de flutuação cambial, a interferência política dos principais atores tornouse um imperativo. O G-5 e o G-7, seu sucessor, nasceram como respostas à necessidade de tecer consensos em torno da governança econômica global.
Eles operaram como um clube seleto, que compartilhava uma visão de mundo similar e tomava decisões informais em reuniões fechadas, protegidas do assédio da imprensa.
Desde 1971, os EUA agem de olho nas suas prioridades nacionais, dividindo com o resto do sistema internacional o custo das políticas domésticas.
A desvalorização de Nixon difundiu para o mundo as pressões inflacionárias geradas no interior da economia americana. Dez anos depois, a “revolução econômica” de Ronald Reagan provocou a elevação dos juros globais, o desvio da liquidez mundial na direção de Wall Street e uma forte apreciação do dólar. Poucos anos mais tarde, tornou-se inadiável uma brusca correção de rumo, com a depreciação do dólar frente ao marco e ao yen, algo que demandava a aquiescência da Alemanha e do Japão. Washington obteve o que desejava no Acordo do Plaza de 1985, uma prova indiscutível da eficácia política do clube das potências.
Há dois anos, os EUA buscam uma reedição do Acordo do Plaza, sob a forma de um pacto de limitação de superávits ao máximo de 4% dos PIBs nacionais, o que implicaria forte apreciação do renminbi chinês. A proposta faz sentido, mas não decola, pela conjunção de dois motivos. Um: a China não admite reproduzir a função desempenhada pelo Japão há um quarto de século.
Dois: o G-20 não é um G7 ampliado.
Os chineses temem repetir a trajetória do Japão depois do Plaza, quando o influxo de capitais coagulou-se em bolhas especulativas nos mercados de imóveis e ações, que explodiram na crise financeira de 1990 e redundaram numa estagnação de quase dez anos. O consenso interno em torno do renminbi depreciado estendese do núcleo dirigente do Partido Comunista, que resiste a conferir direitos econômicos à população, até as empresas transnacionais estabelecidas no país, que funcionam como plataformas de exportações.
O G-20, consolidado após a quebra do Lehman Brothers, reflete o declínio relativo dos EUA e a multiplicação dos centros de poder econômico gerados pela globalização. Ele não é um clube, mas um fórum. Seus integrantes, especialmente a China, não compartilham a visão de mundo que moldou o sistema de Bretton Woods. Suas reuniões, escancaradas ao escrutínio público, são teatros do espetáculo da soberania. Hoje, em Seul, chineses, alemães, brasileiros e sul-africanos erguerão suas vozes para acusar os EUA. Todos eles estarão de olhos postos nas manchetes dos telejornais e das publicações impressas.
A decisão do Federal Reserve de inundar o mercado com uma torrente de US$ 600 bilhões assinala um ponto de inflexão. Os EUA cansaram de esperar e resolveram mudar unilateralmente o cenário mundial. A China retrucou num tom incomum, anunciando que erguerá uma “muralha de fogo” contra o ingresso de capitais especulativos.
A guerra cambial assume a configuração de um confronto político e ameaça converter o G-20 em praça de combates. Em meio aos disparos, o governo brasileiro transforma a justificada indignação com a iniciativa americana em pretexto para circundar o debate sobre a conexão entre os gastos públicos, as taxas de juros e a apreciação do real.
Uma falência do G-20 não serviria a nenhum dos atores de uma ordem econômica global que precisa da “mão visível” da política para conservar alguma estabilidade.
Mas o espetáculo da soberania, por sua própria dinâmica, pode desandar em guerra cambial e comercial, arrastando o mundo pela ladeira da depressão.
Hoje, só o FMI, que faz reuniões fechadas, propícias à separação entre a soberania e seu exercício espetacular, tem as condições políticas para exercer a mediação entre as potências do G-20.
Depois dos retumbantes fracassos dos anos 90, o FMI pode encontrar um novo papel útil nessa função de intermediação.
Se isso acontecer, o Brasil de Dilma Rousseff reconhecerá na antiga instituição de Bretton Woods um parceiro insubstituível.
Ironias da história.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Obama: enfraquecido em casa, joga pesado contra o G-20


As grandes potências, principalmente os Estados Unidos, nunca viram com bons olhos esse admirável mundo novo, cada vez mais “globalizado”. G-5, tudo bem – deixa que a gente resolve entre nós... G-7, G-8, ainda aceitamos... Mas, G-20? BRIC? BASIC? Nem pensar!! Os Estados Unidos resolveram melar esse próximo G-20. Primeiro lançaram uma revoada de dólares, acirrando a guerra cambial. Prejudicados pela redução do capital especulativo na crise de 2008, resolveram dar uma forcinha para esses “investidores” espalhados pelo mundo. Ao mesmo tempo, mostraram suas garras diante dos parceiros globais, principalmente os emergentes, procurando enfraquecê-los nas próximas discussões. Não contentes com a guerra cambial, iniciaram um minucioso trabalho de cizânia, principalmente entre os BRICs. Puxaram a Rússia para um lado, a China pro outro e decidiram dar um chega pra lá no incômodo Brasil, priorizando a Índia para uma cadeira cativa no Conselho de Segurança. Os Estados Unidos dão sua demonstração de força no cenário internacional, que com certeza vai funcionar para o público interno. Mas não conseguirão impedir que novas forças emerjam defendendo interesses divergentes dos seus. Nem conseguirão que o G-20 se transforme em mero G-“10+10”...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cid apoia Aécio: qual é a do PSB?



Este Blog já falou, ainda no ano passado, se não me engano, sobre a aproximação entre o tucano Aécio e o pessebista Ciro Gomes. Seria a possibilidade de um eixo de força política, ligando Minas e o Nordeste e formando o núcleo de uma nova oposição de centro-direita. A fala de Cid Gomes, Governador do Ceará, apoiando Aécio para a Presidência do Senado pode ser o primeiro salto nessa direção. Mas pode também restringir-se a uma questão de voos internos do partido, marcando a rinha entre Eduardo Campos, Governador de Pernambuco, e os irmãos Gomes. Ou ainda pode ser apenas um pouco de chantagem para que o partido se aninhe melhor sob as asas do Governo Dilma. Mais provavelmente, significa um pouco de tudo isso. Seja como for, daqui pra frente, o PSB será outro. O partido saiu bastante fortalecido dessa eleição e vai bater asas em todas as direções na busca de mais espaço nos céus da política. Isso até que alguém resolva cortar suas asinhas de tucano...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Globo elege o novo líder da Oposição


Ontem, para contrapor o puxão de orelha que Lula deu na Oposição, o Jornal Nacional foi ouvir o seu novo líder - Aécio Neves. Nada de Serra, Alckmin, Guerra ou FHC. O eleito global foi Aécio para dar a resposta a Lula. O conteúdo não teve nada de significativo, a forma foi mais importante. Roupas esportivas, descontraído, de forma alguma aquele personagem sanguinário encarnado por Serra e sua turma. É uma Oposição mais política - portanto, mais perigosa.

Alô, Holô...

Em comemoração ao lançamento da holografia em 4 D (em tempo - quase - real) feito por pesquisadores da Universidade do Arizona, esse trailer do THX 1138 (1967/1970), primeiro filme de George Lucas, ficção com alguns personagens holográficos (talvez "hologrâmicos"...). Um deles, se não me engano, tinha o apelido de Holô, um holograma que teria se "desprendido"...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tocando na chuva

Resolvi postar esse vídeo por pura inveja do Blog do Mello. Vi lá, achei bem simpático e imitei. Não é novidade, mas vale. Rain Choir, Perpetuum Jazzile

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ganhei a aposta



Marketing não existe sem pesquisas ou qualquer outra forma de definição de percepções. E o marketing eleitoral usa intensamente as pesquisas de opinião pública, fundamentais para projetar cenários e definir estratégias. Nesse segundo turno, não contei com pesquisas próprias, acompanhei apenas as que foram amplamente divulgadas. Para não perder o hábito, fiz alguns exercícios com elas e arrisquei projetar os resultados em post do dia 27 de outubro (Minha aposta para o dia 31). No sábado, achei que algo estava errado, mas como estou viajando, não pude checar. Concluí que por engano tinha trocado em algumas contas “135” por “125”, mas o essencial estava correto – apenas fiz pequena correção no post. Eu mesmo me impressionei com meus acertos, ainda que trabalhasse com números arredondados. Apostei que a abstenção seria de 21% – foi de 21,5%. Apostei que o comparecimento seria de 106.000.000 eleitores – foi de 106.604.687. Apostei que o não-voto seria na faixa de 7% (9.600.000 de votos) – foi de 6,7% (7.141.901 votos). Apostei que o índice dos votos válidos para Dilma seria de 55,5% a 56,5%” – foi de 56,05%. Apostei que Dilma teria de 10 a 11 milhões a mais (teve 12.041.670), “algo como 55 ou 56 milhões de votos contra 44 ou 43 milhões de Serra” – e o resultado final foi de 55.752.092 (Dilma) a 43.710.422 (Serra). Estou muito feliz por ter acertado tanto. Infelizmente, aposto que não vou ganhar na Sena...

Que papel feio...



José Serra começou mal e terminou mal. O jovem idealista da AP (Ação Popular), vibrante no Comício da Central (13 de março de 64), não entrou nessa campanha. Utilizando o princípio de que “o que importa é ganhar, não importa como”, Serra aliou-se às forças das trevas e patrocinou uma das campanhas políticas mais reacionárias deste país. Cercado por representantes dessas forças do atraso, chamou a imprensa para reconhecer a derrota, mas prometendo um futuro sangrento. Pretendeu com aquela melancólica foto final demonstrar que continuará como grande líder da Oposição e que voltará em 2014. Mas o que existe de verdadeiro é que sua fórmula da baixaria foi derrotada e dificilmente a Oposição voltará a se unir em torno do baixo mundo de Serra. Aécio deverá liderar a nova Oposição, e já conclama os parlamentares para uma tal de “agenda Brasil” – na verdade, seu pontapé inicial para a campanha de 2014. Serra cavou para ele mesmo o papel de bolinha de papel na cesta de lixo da História.