segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ex-ministra americana acha que Suprema Corte errou na decisão sobre as eleições de 2000


Declaração da aposentada da Suprema Corte da Justiça Sandra Day O’Connor sobre a decisão tomada a favor da legalidade dos votos da Flórida que decidiram a eleição de Bush contra Al Gore, em 2000: “Talvez a gente devesse ter dito ‘Estamos fora, e tchau’. As autoridades da Flórida não fizeram um bom trabalho e meio que bagunçaram tudo” (“Maybe the court should have said, ‘We’re not going to take it, goodbye’. It turned out the election authorities in Florida hadn’t done a real good job there and kind of messed it up.”). Essa declaração foi feita ao Chicago Tribune e reproduzida pelo Washington Post. É bom lembrar que a decisão a favor de Bush no Supremo foi apertada, 5x4. Tudo girava em torno das recontagens de votos, que acabou sendo feita em uma parcela reduzida das cédulas. (Parece que o que é bom para os Estados Unidos não é bom para a Venezuela. Apesar disso, Chávez reconheceu o governo Bush...)
Talvez fosse o caso do nosso STF escutar Sandra Day O’Connor, antes de tomar suas decisões tão discutíveis.

Capriles virou chavista?


Interessante esse artigo de Rubens Ricupero hoje na Folha. Fala da importância eleitoral que têm as conquistas sociais na América Latina de hoje e dá uma informação muito boa: o oposicionista Capriles, na Venezuela, cresceu nas pesquisas depois de adotar o discurso chavista.
Mudar mas não tanto
Rubens Ricupero
O vencedor da eleição para suceder a Hugo Chávez foi o próprio Hugo Chávez, conforme observou um analista americano. Isto é, não só a apertada vitória de Maduro se deve ao voto de simpatia decorrente da morte do líder venezuelano. Também no sentido de que a campanha do opositor Capriles foi em boa parte pautada pela agenda chavista.
Capriles deu à sua equipe o nome de Simon Bolívar, enxertou em seus discursos frases e símbolos chavistas, declarou que seu modelo é o presidente Lula! Mais importante, prometeu manter todas as missões sociais de Chávez (30 e tantas) e acrescentar outras, anunciou aumentos significativos para salários e aposentadorias. Estreitou assim de dez pontos para menos de dois a margem de derrota em relação a outubro de 2012.
Esses fatos geralmente ignorados na maioria dos relatos jornalísticos sugerem que, em países pobres e marcados por desigualdade, o eleitor tende a conservar as conquistas sociais e limita o desejo de mudança à margem: corrigir excessos, retificar desvios.
Isso vale até para a Argentina. Lá, segundo me dizem, aspira-se por uma espécie de Cristina Kirchner melhorada, sem a corrupção e o espírito de "vendetta". No caso argentino, haveria razão adicional. O profundo trauma de 2001 vacinou os argentinos contra as soluções extremas como a convertibilidade de Cavallo-Menem. Ninguém crê que tenha chance uma plataforma de negação total e mudança radical, um "tiro para matar o tigre" como o confisco da poupança de Collor. As pessoas querem melhorar, mas devagar, sem balançar o coreto.
Se isso ocorre em dois países nos quais o agravamento da crise econômica e política já leva milhares de pessoas às ruas, o que dizer do Brasil, onde o processo de desgaste é mais recente e a sensação de bem-estar prevalece para a maioria? Aqui também tudo indica que o apetite por mudança não ultrapassa a proposta expressa na sentença "é possível fazer mais".
Terá sido muito diferente o espírito da "Carta ao Povo Brasileiro" de 2002 e a campanha vitoriosa de Lula em garantir que os contratos seriam honrados e a estabilidade preservada?
Na América Latina, os governos de desempenho econômico melhor que o social e sem reeleição (Peru, Chile, México) têm sido derrotados pelos opositores, que conservam, no entanto, a orientação econômica. Já os sociais e desastrados economicamente (Chávez, os Kirchner) ganham as eleições, mas aprofundam as políticas econômicas disfuncionais. Dessa maneira, o êxito eleitoral acaba sendo em longo prazo o bilhete para o desastre definitivo.
O Brasil se parece cada vez mais à Venezuela e à Argentina. A afirmação choca porque estamos longe de falsificar a inflação ou perseguir a imprensa. Contudo, nos indicadores econômicos básicos --inflação e, sobretudo, acelerada deterioração das contas externas e da dívida bruta-- vamos pelo mesmo caminho.
O atraso na crise e a demora na percepção pública favorecem as chances eleitorais do governo. A dúvida maior, portanto, é se após 2014 o país mudará para sustentar as conquistas sociais ou arriscará perder mais uma década de crescimento.

domingo, 28 de abril de 2013

EUROPA CONTRA A TROIKA!



Os ativistas do movimento europeu Que se Lixe a Troika (criado há um ano em Portugal) decidiram mobilizar o continente contra a política de austeridade imposta pelo capital financeiro através da troika composta pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), BCE (Banco Central Europeu) e CE (Comunidade Europeia). Reunidos esta semana em Lisboa, escolheram a data de 1º de junho para mobilização em todas as ruas de todas as cidades de todos os países. Vejam o manifesto na íntegra (copiado do Correio do Brasil, com pequenas adaptações para o português brasileiro):

A Europa está sob violento ataque do capital financeiro que se faz representar pela troika (FMI, BCE, CE) e pelos sucessivos governos que aplicam as políticas concertadas com essas entidades desprezando as pessoas. Sabemos que essa ofensiva aposta em vergar os povos, tornando-os escravos da dívida e da austeridade. Atravessa a Europa e também deve ser derrotada pela luta internacional.
Cada um de nós, em cada país, em cada cidade, em cada casa, com as suas especificidades, sente na pele as medidas que aniquilam direitos conquistados ao longo de décadas, medidas que agravam o desemprego, que privatizam tudo o que possa ser rentável e condicionam a soberania dos países sob a propaganda da “ajuda externa”. É urgente que unamos as nossas forças para melhor combatermos esse ataque.
O apelo que lançamos para uma manifestação internacional descentralizada circulou entre dezenas de movimentos na Espanha, França, Itália, Grécia, Chipre, Irlanda, Inglaterra, Escócia, Alemanha, Eslovênia… Na reunião de ontem, 26 de Abril, em Lisboa, estiveram presentes companheiros e companheiras de vários países da Europa, que discutiram em conjunto essa proposta.
Assim, chegamos ao consenso, a nível internacional, de que sairemos à rua no próximo dia 1º de junho: POVOS UNIDOS CONTRA A TROIKA!
Este é o início de um processo que se quer descentralizado, inclusivo e participante. Queremos construí-lo coletivamente, juntando as nossas forças. A partir de hoje a data de 1º de Junho será divulgada em escala europeia e todos e todas estão convidados a juntarem-se num protesto internacional contra a troika e contra a austeridade… a favor de que sejam os povos a decidirem as suas vidas.
Apelamos a todos os cidadãos e cidadãs, com e sem partido, com e sem emprego, com e sem esperança, apelamos a que se juntem a nós. A todas as organizações políticas, movimentos cívicos, sindicatos, partidos, coletividades, grupos informais, apelamos a que se juntem a nós.
Queremos continuar a alargar os nossos contatos tanto nacionais como internacionais, porque estamos conscientes de que será o somatório das nossas vozes que poderá travar a nova onda de austeridade que está sendo preparada. Os povos da Europa têm demonstrado em vários momentos que não estão disponíveis para mais sacrifícios em nome de um futuro que nunca chegará. Por isso pensamos que é chegada a hora de uma grande demonstração da capacidade desses povos de se coordenarem na luta e na recusa dessas políticas.
De Norte a Sul da Europa, tomemos as ruas contra a austeridade!

Movimento QUE SE LIXE A TROIKA

sexta-feira, 26 de abril de 2013

No programa eleitoral do Eduardo Campos o pior foi o Eduardo Campos

Contradições do discurso pessebista apontadas pela Folha (clique na imagem para ampliar)

Interessante esse programa do Eduardo Campos veiculado ontem em cadeia nacional. Interessante em primeiro lugar pelo desequilíbrio. A produção, por exemplo, está bem correta, mas às vezes faz umas imagens ridículas, como uns closes do nariz do Eduardo Campos, usados obviamente para edição de falas.
A conceituação é bem esperta. Começa, corretamente, dirigindo-se à classe média, digamos, mais festiva, lembrando a união da sociedade contra a ditadura – e o PSB procura se denominar como “herdeiros da esquerda democrática”. Mais adiante, o programa muda o foco, passa a dirigir-se, mais espertamente ainda, à nova classe média (daí o slogan “passo adiante”). Aqui mostra que seguiu o conselho de Fernando Henrique dado em abril de 2011 ao próprio partido, ainda sob o impacto da derrota diante de Dilma, para “priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia”.  Nessa época, comentei aqui esse artigo de FHC (O Papel da Oposição): “Ele está apostando nas parcelas da nova classe média que vão procurar se adequar a novos valores, esquecer que um dia já foram povão”.
O programa tem algumas barbaridades, como a fala de Rollemberg, que procura assumir os louros da conquista dos trabalhadores e trabalhadoras domésticas – uma proposta da deputada petista Benedita da Silva. Ou ainda as várias contradições, como as apontadas pela Folha: critica a política federal para a educação, mas no governo de Eduardo Campos a rede escolar estadual tem avaliações inferiores à da média nacional; o PSB se diz defensor de alianças, mas em 2012 rompeu aliança com o PT para lançar candidato próprio à prefeitura de Recife; é contra o nepotismo, mas o governo pernambucano conta com parentes do governador.  E por aí vai. Mas o que mais me surpreendeu negativamente foi o desempenho de Eduardo Campos. Na verdade, já tinha notado que ele é fraco, mas que isso poderia ser corrigido. Não foi, e ele ficou horrível. Não passa verdade na sua cara. Tem sempre um sorriso falso estampado, olhos meio esbugalhados, um conjunto nada convincente. Acentua algumas frases, com um desenho esquisito da boca. O Aécio, por exemplo, nessas inserções recentes, apareceu muito melhor que ele. Gostei da sua frase final: “É hora de fazer o Brasil crescer para, juntos, ganharmos 2013”. Além de servir para driblar a lei eleitoral, ela traz uma verdade para o próprio PSB: aliado de Dilma, obviamente ganha 2013; separado, vai perder feio em 2014.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O homem de uma cara




Ninguém se iluda: Eduardo Campos não tem duas caras. Tem uma cara só – da oposição, cada vez mais conservadora. Esse papo de “base aliada crítica” é puro oportunismo. Oportunismo bem feito, diga-se de passagem. Quer fazer oposição sem perder as benesses do poder. Quer mostrar para o “mercado” e para a classe média conservadora do “sul maravilha” que bate no governo Dilma, ao mesmo tempo em que tenta vender ao povo nordestino a imagem de que sempre esteve ao lado de Lula. Tentar mostrar duas caras é o melhor que pode fazer para crescer nas pesquisas. Mas a verdade é que essa moeda tem uma face só – e isso o povo inteiro já sabe.
Mais um bom artigo de Janio de Freitas, hoje, na Folha.

ALIADO E OPOSITOR
Janio de Freitas

 Aspirante à sucessão presidencial e governador pernambucano, Eduardo Campos apresentará hoje na TV, se não mudar na última hora o programa gravado, sua lista do que considera os erros desastrosos de Dilma Rousseff. Pelos quais, no entanto, ele é corresponsável.
Se o PSB, conduzido por Eduardo Campos, se fez sócio dos êxitos do governo federal, não tem como fugir da condição de sócio do que sejam os erros e insucessos do governo em que tem até ministério e integra a "base aliada" no Congresso. Não há conversa farsesca que anule essa obviedade.
Eduardo Campos não faz crítica, como diz. Poderia e talvez devesse fazê-la se, como caberia mesmo a um aliado, examinasse a natureza do erro, como e por que ocorre. A mera atribuição de erro ou insucesso não é crítica, é oposição. "O Brasil caminha para a crise", como já disse Eduardo Campos a empresários do Sul, é uma advertência grave demais, sobretudo partindo do governador de Estado com a importância de Pernambuco, para que passe sem a exposição de embasamento sério, seja convincente ou não.
Do joguinho de aliado e opositor, de sugar proveito dos dois lados, o que resulta é simples: embuste como aliado e embuste como oposição, ou, vá lá, "crítico".
A mesma evidência ressalta deste ridículo: "Nós não temos um projeto de poder, nós temos um projeto de país". Até em nome do pudor alheio, se não puder ser do próprio, quem deixa lá o seu governo e sai pelo país em óbvia pré-campanha pelo poder - na qual ainda não ofereceu nem uma só ideia nova para o país - deve apresentar um engodo melhorzinho.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O vice-versa de Serra e Campos




Esse novo partido, o MD, nascido da fusão do PPS e do PMN - mas com focinho tucano -, é o elo da aliança de José Serra (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Com 13 deputados federais, 58 estaduais, 147 prefeitos, 2.527 vereadores e a permissão para atrair insatisfeitos com outras siglas, o MD poderá servir, em primeiro lugar, como instrumento de chantagem de Serra contra o PSDB. Ameaçando mudar de partido, ele teria mais cacife para ser escolhido candidato ou a Presidente ou a Governador de São Paulo pelos tucanos. Difícil, muito difícil, praticamente impossível.
Por outro lado, o MD poderia ser o partido alternativo para Serra candidatar-se tanto a Presidente quanto a Governador de São Paulo. Difícil? Nem tanto. Principalmente contando-se com uma aliança com o PSB de Eduardo Campos. Em São Paulo seria praticamente natural. Para a Presidência, poderia ser em um hipotético segundo turno.
2018 é mais uma face dessa aliança. Ou desaliança, já que Serra e Campos poderão se chocar na disputa pela liderança das oposições. Ou não. Poderiam fortalecer ainda mais a aliança para um segundo turno ou, quem sabe, poderiam um ser vice do outro. Será? Quase impossível.
Há muitos vices e muitas versões nesse vaivém partidário. A face verdadeira dessa questão é a economia. A oposição inteira aposta no fracasso da política econômica de Dilma. É uma aposta baseada principalmente em desejo (é sintomático que os investidores locais tenham apostado em alta maior para a taxa Selic, enquanto os estrangeiros apostavam em menor, como ocorreu nessa última alta). Com a aprovação recorde que vive Dilma, basta a economia se manter como está para que ela vença as eleições de 2014 no primeiro turno. Com o cenário de um crescimento razoável, inflação sob controle e aumento da oferta de emprego, à oposição só resta treinar para 2018. Sem chances de vice-versa.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Pesquisa Mitofsky: antes de morrer, Chávez conquistou altíssima avaliação

O instituto Mexicano de pesquisas Mitofsky acaba de divulgar os resultados da mais recente avaliação popular sobre os governantes de 19 países do continente americano. O campo foi feito no início do ano e aponta Chávez - seguindo Rafael Correa (Equador) e Danilo Medina (República Dominicana) - como um dos líderes na faixa da mais alta avaliação. É fácil entender porque o nome que ele indicou para sua sucessão, o ex-motorista Maduro, conseguiu vencer nas eleições deste domingo para Presidente da Venezuela.
Dilma Roussef, com 63%, confirma sua alta avaliação. Obama, com 48%, ficou na faixa média.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Violência armada americana: o campo perde espaço no controle do Congresso



Surge uma nova divisão na batalha em torno da legislação sobre posse de armas nos Estados Unidos. No lugar de Republicanos X Democratas, a disputa agora é entre Urbanos e Suburbanos de um lado contra Ruralistas do outro. E a grande surpresa é que o voto ruralista passou a ter menor poder de fogo. Os povoados rurais "onde a posse de armas é mais do que um modo de vida" estão encolhendo, enquanto o rápido crescimento dos subúrbios nos estados historicamente pró-armas está forçando os políticos a atender os pontos de vista mais centristas e pragmáticos dos “eleitores de bairros residenciais mais protegidos” (em tradução livre de voters in subdivisions and cul-de-sacs), como mostra reportagem do Washington Post. Graças a essa nova realidade, o Senado americano aprovou a continuação do debate em torno de uma legislação mais restritiva aos abusos dos fabricantes de armas. Ainda está longe de ser o tiro de misericórdia na legislação faroeste. Mas graças ao pragmatismo eleitoral a mira está cada vez mais ajustada.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Entrevista Uol-Folha com Zé Dirceu: imperdível




Não importa que você goste ou não goste do José Dirceu. Não importa que você já esteja com a opinião formada sobre o "mensalão" em função de tudo que leu, viu e conversou sobre o assunto. São 74 minutos. Talvez pareça longa, mas não é. Excelente entrevista. Parabéns para a Mônica Bergamo e o Fernando Rodrigues. E principalmente parabéns ao José Dirceu.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Thatcher - o mundo não precisava passar por isso


Não entendo como pode existir tanta viúva de Margaret Thatcher. Ou melhor, entendo: é puro radicalismo dos mais obtusos. Tem um amigo que diz que ela teve a coragem de fazer o que era preciso fazer. É verdade, teve a coragem de destruir as conquistas sociais britânicas para impor o receituário neoliberal. Mas acabou com a inflação, argumentam, e ainda alavancou a economia. Não é bem assim. Pelo que sei, ela pegou o país (1979) com inflação de 8,3%, chegou a baixar para 3,4% e no final do seu “reinado” (1990) estava em 9,5%. Pegou o país com 3,2% de crescimento do PIB e largou com 0,8%. Desemprego, nem se fala. Ela era boa de marketing, isso, sim. Hoje, na Folha, Vladimir Safatle publicou esse artigo, bem interessante.
Canonizando MargaretVladimir Safatle
"Não existe esse negócio de sociedade. Existem apenas homens e mulheres individuais, e há famílias." Foi com essa filosofia bizarra que Margaret Thatcher conseguiu transformar o Reino Unido em um dos mais brutais laboratórios do neoliberalismo.Com uma visão que transformara em inimigo toda instituição de luta por direitos sociais globais, como sindicatos, Thatcher impôs a seu país uma política de desregulamentação do mercado de trabalho, de privatização e de sucateamento de serviços públicos, que seus seguidores ainda sonham em aplicar ao resto do mundo.De nada adianta lembrar que o Reino Unido é, atualmente, um país com economia menor do que a da França e foi, durante um tempo, detentor de um PIB menor que o brasileiro. Muito menos lembrar que os pilares de sua política nunca foram questionados por seus sucessores, produzindo, ao final, um país sacudido por motins populares, parceiro dos piores delírios belicistas norte-americanos, com economia completamente financeirizada, trens privatizados que descarrilam e universidades com preços proibitivos.Os defensores de Thatcher dirão que foi uma mulher "corajosa" e, como afirmou David Cameron, teria salvo o Reino Unido (Deus sabe exatamente do quê). É sempre bom lembrar, no entanto, que não é exatamente difícil mostrar coragem quando se escolhe como inimigo os setores mais vulneráveis da sociedade e quando "salvar" um país equivale, entre outras coisas, a fechar 165 minas.Contudo, em um mundo que gostava de se ver como "pós-ideológico", Thatcher tinha, ao menos, o mérito de não esconder como sua ideologia moldava suas ações.A mesma mulher que chamou Nelson Mandela de " terrorista" visitou Augusto Pinochet quando ele estava preso na Inglaterra, por ver no ditador chileno um "amigo" que estivera ao seu lado na Guerra das Malvinas e um defensor do "livre-mercado".Depois do colapso do neoliberalismo em 2008, ninguém nunca ouviu uma simples autocrítica sua a respeito da crise que destroçou a economia de seu país, toda ela inspirada em ideias que ela colocou em circulação. O que não é estranho para alguém que, cinco anos depois de assumir o governo do Reino Unido, produziu o declínio da produção industrial, o fim de fato do salário mínimo, dois anos de recessão e o pior índice de desemprego da história britânica desde o fim da Segunda Guerra (11,9%, em abril de 1984). Nesse caso, também sem a mínima autocrítica.Thatcher gostava de dizer que governar um país era como aplicar as regras do bom governo de sua "home". Bem, se alguém governasse minha casa dessa forma, não duraria muito.

sábado, 6 de abril de 2013

Sábado de Satie

Acordei com Satie na cabeça. Vamos ouvir "Trois Morceaux en forme de poivre".


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Eleição 2014, RJ: como um jogo de Go, o tabuleiro é simples, os movimentos são complexos


São apenas 3 nomes que se apresentam com chances de vitória para Governador do Rio em 2014: Anthony Garotinho, ex-Governador do Estado, atualmente Deputado Federal (PR); Lindberg Farias, ex-Prefeito de Nova Iguaçu, atualmente Senador (PT); e Luiz Fernando Pezão, ex- Prefeito de Piraí, atualmente Vice-Governador (PMDB). Seus partidos fazem parte da base de apoio do Governo Dilma e é aí que começam os problemas.
O PR de Garotinho seria o de menor importância, mas Garotinho foi o deputado mais votado do estado, é quem lidera as pesquisas (23% para Garotinho, 17% para Lindberg e 16% para Pezão, segundo o Instituto Ideia deste mês) e quem mais provoca alvoroço no processo. Apesar de sua dianteira, Garotinho sabe que a rejeição ao seu nome costuma ser sempre alta. Por isso, seus próximos movimentos devem ser muito bem calculados, porque no momento ele ocupa um ponto chave para o seu partido e não pode correr o risco de ficar sem mandato. Não posso deixar de lembrar que ele adorou uma citação do Sun Tzu que coloquei em meu livro, “A Arte da Guerra Eleitoral”: “O General que vence uma batalha fez muitos cálculos no seu templo, antes de ser travado o combate”.
O PT do Rio encontrou em Lindberg o nome possível para tentar a sorte rumo ao governo estadual, um sonho de longas datas. O senador petista tem um desempenho considerado excelente nas disputas eleitorais e vive um momento de tudo ou nada. Dentro de seu projeto político-pessoal que tem como meta a Presidência da República, ele tem antes que garantir cacife ocupando o cargo de Governador do Estado. E esta poderá ser sua última oportunidade. Em 2018, é praticamente certo que o candidato do PMDB será o Prefeito Eduardo Paes, que entrará na eleição carregando os títulos de “cidade-sede da Copa 2014”, “cidade-olímpica 2016” e de “transformador da Zona Oeste e da Região do Porto” – ou seja, considerado praticamente imbatível. A conclusão, portanto, foi a de que ou se tentava agora ou era melhor dar adeus ao sonho, pelo menos até 2022 ou 2026. Mas a candidatura de Lindberg em 2014 significa pesadelos imediatos para o PT. Em primeiro lugar, porque prejudica a candidatura Dilma exatamente no estado onde ela obteve uma grande vitória em 2010, graças em boa parte à aliança PT-PMDB. Em segundo lugar, porque poderá contaminar alianças em outros estados. E em terceiro lugar porque no caso de uma provável derrota o PT ficará mais isolado no Rio de Janeiro. Como diz o Lula, o Lindberg tem todo o direito de tentar a sorte – pero... Seus movimentos com toda certeza são os mais difíceis de realizar, embora ele tenha demonstrado muita disposição.
Pezão, do PMDB, representa a continuação de uma administração bem avaliada. É vice de Sérgio Cabral, que soube fortalecer as alianças com Lula e Dilma e soube também aproveitar o excelente “momento Brasil”. Com ele, o Rio de Janeiro voltou a ser um lugar atraente e seguro. Pezão participou intensamente de todo o governo, embora sempre se mantivesse em segundo plano, quase desconhecido do grande público. Fez tanto silêncio de sua intensa atividade que foi tratado como um “poste”, quando Sérgio Cabral resolveu apoiá-lo para a sucessão. Mas é um político experiente, com grande atuação eleitoral. Em 96, quando se lançou candidato a Prefeito de Piraí, todos acreditavam que seria facilmente derrotado - e acabou sendo eleito com 69,44% dos votos válidos. Na sua reeleição, em 2000, teve o maior índice de votos válidos do estado, 86,06%. Apoiando-se no seu estilo “trator”, na alta avaliação da administração Cabral e nas máquinas administrativa e partidária, Pezão promete surpreender mais uma vez. Há um mês, antes das inserções do PMDB, tinha 13% das intenções de voto. Depois das inserções, foi o único que avançou, pulando para 16%, em empate técnico no segundo lugar com Lindberg. E há certos cenários em que Pezão está colado em Garotinho, na disputa pelo primeiro lugar. É um “poste” que já começa a andar, como ele declarou. Talvez seus próximos movimentos não sejam muito complexos, mas serão os mais trabalhosos.
Ainda existe algum tempo e bom espaço para manobra, claro. Mas todos os players têm que ter consciência de que não há lugar para movimentos em falso.