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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Globo x Freixo: como ocultar os fatos mostrando os fatos


Marcelo Freixo é um dos bons nomes políticos que surgiram recentemente. Talvez um dos principais adversários de Eduardo Paes na disputa pelo governo do Rio de Janeiro em 2018. Tem marca jovem, de mudanças, progressista, aparentemente íntegro. De repente, teve seu nome associado a um noticiário espinhoso, a morte do jornalista da Band, Santiago Andrade. A meu ver, uma associação injusta. Acredito que o PSOL (como praticamente todos os outros partidos) procure associar-se aos movimentos sociais, principalmente os de oposição (caso do PSOL) e com boa aceitação. Acredito que os partidos deem apoio logístico e financeiro a alguns desses grupos – e estão certos ao fazer isso, porque afinal um partido existe, como o nome diz, para representar as ideias e os interesses de uma parte da sociedade. E é por isso que não se pode atribuir culpa ao PSOL no caso da “cabeça de nego”. Apesar de se apresentar como à esquerda do PT no espectro político-partidário, não é uma associação extremista. Seu perfil eleitoral está bem mais associado à classe média tipo Zona Sul do Rio – exatamente aquele segmento que mais repele ações rotuladas de vândalas. Por que então seu nome foi associado ao artefato terrorista? Não me venha o Globo dizer que agiu com isenção jornalística. Isso nunca existiu e não seria agora que começaria. O Globo atirou a primeira pedra, sim. No seu editorial do dia 12, “Os inimigos da democracia”, escreveu que “o crime jogou luz sobre a inaceitável atuação do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) em defesa de vândalos. Ele e partido precisam explicar a função dupla de Thiago de Souza Melo, assessor do deputado, pago, portanto, pelo contribuinte, e, ao mesmo tempo, advogado de black-bloc e similares”.  “Inaceitável atuação do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) em defesa de vândalos”? Isso é ou não é uma acusação grave? Caetano Veloso soube protestar contra esse parcialismo do Globo, corajosamente, na sua coluna dominical no próprio jornal. Mas Marcelo Freixo errou no seu protesto. Resolveu fazer política barata ao tentar colocar o Globo como parceiro de Sérgio Cabral, dizendo (erroneamente) que o jornal não criticava o atual governador do Rio de Janeiro e lembrando que foi um dos veículos de comunicação que defenderam a ditadura de 64 ("A exaltação de um factoide"). O Globo respondeu bem ("O dever de um jornal — II"). E a questão não é essa. O Globo – como qualquer veículo de comunicação – pode ser parcial aparentando ser imparcial. É capaz, portanto, de ocultar ou alterar fatos simplesmente mostrando os fatos.
Ou mostrando fotos, como é o caso da foto ridicularizando José Dirceu no dia seguinte (3 de agosto de 2005) à Comissão de Ética que apresentou o seu confronto com Roberto Jefferson. Ou fazendo associações forçadas, como é o caso de apontar na direção de Freixo em um editorial intitulado “Os inimigos da democracia”. Freixo agiu defensivamente. O que ele tem que fazer é mostrar que  maior inimigo da democracia pode ser quem dribla os fatos. Ou as fotos.

Nota Para que fique bem claro: não sou filiado ao PSOL nem a qualquer partido político e condeno veementemente o vandalismo. E gosto de ler diariamente o Globo e vários outros jornais.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Entrevista Uol-Folha com Zé Dirceu: imperdível




Não importa que você goste ou não goste do José Dirceu. Não importa que você já esteja com a opinião formada sobre o "mensalão" em função de tudo que leu, viu e conversou sobre o assunto. São 74 minutos. Talvez pareça longa, mas não é. Excelente entrevista. Parabéns para a Mônica Bergamo e o Fernando Rodrigues. E principalmente parabéns ao José Dirceu.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Zé Dirceu, bem consciente, diante da prisão que não houve


Muito boa a reportagem de Mônica Bergamo, da Folha, acompanhando, desde as 5,30h da manhã de ontem, aqueles que poderiam ter sido os minutos que antecederiam a prisão de José Dirceu. Seria o Dia JD do chamado “mensalão”. Felizmente, isso não aconteceu. Tudo me pareceu mais uma pirraça do Procurador Geral da República, uma bobagem.
Apesar da tensão natural do momento, Dirceu demonstrou tranquilidade e ainda soube fazer análise da luta política que se trava no país. Belo flagrante da vida real. Abaixo, a reportagem na íntegra.

DIRCEU TEM MOMENTOS DE TENSÃO À ESPERA DA POLÍCIA
Mônica Bergamo

O interfone tocou ontem às 5h30 da manhã na casa do ex-ministro José Dirceu, na Vila Mariana, em São Paulo.
Um de seus advogados, Rodrigo Dall'Acqua, e a Folha pediam para subir.
O porteiro hesita. "Como é o seu nome? Ele [Dirceu] não deixou autorização para vocês subirem, a gente não chama lá cedo assim." Ele acaba tocando no apartamento do ex-ministro, ninguém atende. Dall'Acqua liga para o advogado José Luis Oliveira Lima, que está a caminho. Telefonemas são trocados, e Dirceu autoriza a subida.
Na saída do elevador, o ex-ministro abre a porta de madeira que dá para o hall. Por uma fresta, pede alguns minutos para se trocar.
Abre a porta.
Pega a Folha entre vários jornais sobre uma mesa. Comenta algumas notícias. Nada sobre a possibilidade de Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), decretar a sua prisão ainda naquela manhã.
Intuição
Está de camiseta preta e calça jeans cinza.
Senta no sofá da sala. A empregada ainda não chegou. Ele se desculpa. Não tem nada o que servir.
"Eu não vou dar entrevista para você, não", diz à colunista da Folha. "Podemos conversar, mas não quero gravar. Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? É loucura, eu não consigo."
E, diante da insistência: "Estou com uma intuição, não devo dar".
Em poucos minutos, chegam o advogado Oliveira Lima, três assessores e uma repórter que trabalha no blog que o petista mantém.
Dirceu pega o seu iPad.
"Acho que eu vou lá [no escritório do apartamento] fazer um artigo para o blog. Mas falar sobre a situação econômica do Brasil, gente? Hoje? Eu não estou com cabeça." {Nota deste Blog: o Blog do Zé fez 5 posts ontem}
Hora marcada
Os advogados alertam: se houver ordem de prisão, a polícia deve chegar em meia hora, às 6h. Se até as 7h nenhuma viatura aparecer, é porque eventual ordem só sairia mais tarde. Ou então Barbosa não decretaria a prisão (o que acabou ocorrendo).
A Folha questiona se ele já tinha preparado a mala para ir para um presídio. "Eu não. Eu fui procurar, estou sem mala aqui. Achei uma mochila esportiva. Depois o Juca [o advogado José Luis Oliveira Lima] leva as coisas para mim. Ele vai ser a minha babá." No primeiro momento, só os advogados podem visitar o detento.
"Os policiais dão um tempo para a pessoa se arrumar [antes de levá-la presa]", explica Oliveira Lima.
Dirceu diz acreditar que Joaquim Barbosa não determinará a sua reclusão. "Ele não vai fazer, ele estaria rasgando a Constituição."
Diz que não está com medo da prisão. "Eu me organizo. Eu vou voltar a estudar. Vou fazer um mestrado, alguma coisa. E tenho que imediatamente começar a trabalhar na prisão. Até para começar a abater da pena."
"Se eu for para [a penitenciária de] Tremembé 2 [no Vale do Paraíba], dá para trabalhar." O presídio ofereceria as condições necessárias.
"Eu não sou uma pessoa de me abater. Eu não costumo ter depressão. Mas a gente nunca sabe o que vai acontecer. Uma coisa é falar daqui de fora, né? A outra é quando eu estiver lá dentro. Eu posso ter algum tipo de abatimento, sim, de desânimo. Tudo vai depender das condições da prisão. Às vezes elas são muito ruins, isso pode te abater muito."
Leitura
Dirceu ainda não sabe se, na cela, terá acesso a livros, jornais, iPad. "A lei permite, para o preso trabalhar e estudar. Tem gente aí até querendo mudar essa lei. Foi aprovada proibição no Senado, o PT bloqueou na Câmara."
Se puder acessar publicações, acredita que o tempo passará mais rápido. "São 33 meses. Não é fácil."
Analisa que poderá ser colocado numa cela com outro preso. "Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também. Vai depender da pessoa."
Escola do crime
Diz que não tem medo de sofrer eventual violência no presídio. "Mas em termos. É um ambiente de certo risco."
Acha que o sistema carcerário nunca vai melhorar. "Isso não é prioridade de nenhum governo, nem dos governos do PT", afirma.
"Nenhum governo nosso se preocupou com essa questão, nenhum Estado se preocupou em ter um sistema modelo. É caro, não tem dinheiro. O governo federal é que deveria dar os recursos. Nós [no governo Lula] fizemos, construímos os presídios federais para isolar os presos de maior periculosidade. Tinha que fazer, senão virava uma escola do crime."
Os advogados consultam o telefone, os assessores leem jornais e a internet em busca de alguma pista sobre a decisão que Joaquim Barbosa em breve tomará.
'Oi, Bonitinha'
"Se ele [Barbosa] mandar me prender, vai pedir para que nos apresentemos, vocês não acham?", pergunta Dirceu aos advogados. "Não vão mandar polícia aqui, eu acho que ele vai dar algumas horas para eu me apresentar em algum lugar."
Atende o celular. "Oi, bonitinha. Você vem aqui me visitar?" É Evanise Santos, sua companheira, que estava em Brasília porque não tinha conseguido lugar no avião na noite anterior. Ela avisa que já está embarcando para SP.
"Para mim é uma tragédia ser preso aos 66 anos. Eu vou sair da cadeia com 70. São mais de três anos. Porque parte [da pena] é cumprida em regime fechado, mas depois [no semiaberto] vou ter que dormir todos os dias na cadeia. Sabe o que é isso?"
"Eu perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos [em que teve que se defender das acusações de chefiar a quadrilha do mensalão]. Os anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir ao país", diz.
Luta política
"Eu transformei isso [mensalão] em uma luta política. Eu poderia ter ganhado muito dinheiro como consultor. Poderia estar rico, ter ganhado R$ 100 milhões. Mas é por isso que eu sou o José Dirceu. Tudo o que eu ganhei eu gastei na luta política."
Ele avisa à Folha que o presidente do PT, Rui Falcão, chegará às 7h. E que terá que interromper a conversa.
"Eu sugeri a eles que fizéssemos uma manifestação em fevereiro, colocando 200 mil pessoas na rua". "Eles" são o ex-presidente Lula e dirigentes do PT. Acha que nem todos "da esquerda" fazem a avaliação correta sobre "a disputa política em curso". "É preciso dar uma demonstração de força."
A disputa, no seu entendimento, incluiria a desqualificação não só de petistas, mas da política de forma geral.
Clichê
"Sempre foi assim. Parece clichê, mas em 1954 [quando Getúlio Vargas se suicidou] foi assim, em 1964 [no golpe militar] foi assim. Era a guerra contra a subversão e a corrupção. Depois entrou a Arena [partido que apoiou a ditadura]. Aí sim foi tudo à base de corrupção."
Ele acha que o PT falhou ao não estimular, nos últimos anos, uma "comunicação e uma cultura" de esquerda no país. "Até nos Estados Unidos tem isso, jornais de esquerda, teatro de esquerda, cinema de esquerda. É uma esquerda diferente, deles, mas que é totalmente contra a direita. Aqui no Brasil não temos nada disso."
A classe média está "vivendo num paraíso, e isso graças ao Lula". Mas, ao mesmo tempo, está sendo "cooptada" por valores conservadores.
Já disse a Lula que "o jogo pode virar fácil. Nós [PT] não temos a maioria, a esquerda ganha eleição no Brasil com 54% dos votos".
"É preciso trabalhar. A esquerda nunca teve uma vida tranquila no Brasil nem no mundo. Nunca usufruiu das benesses do poder."
grampos
"De 1889 a 1946, o poder era militar. Tudo era decidido por tenentes e depois pela cúpula militar. Depois, o país viveu seu período político, mas sempre sob tutela militar, até o golpe de 64. Só em 1989 retornamos [civis]. É tudo muito recente", diz.
"Ninguém hoje vai bater nos quartéis. A situação é outra: a esquerda ganha [eleição], mas não tem o poder midiático, o poder econômico. E nós [PT] nunca fizemos política profissional nas indicações do Judiciário, no Ministério Público, como outros governos fizeram. Nunca."
Ele segue: "O Ministério Público e a polícia com esse poder, esses grampos... isso está virando uma Gestapo. Quando as pessoas acordarem, pode ser tarde demais."
Natal
Para Dirceu, a maioria dos empresários não apoia o que seriam investidas contra Lula e o PT. Teriam medo de uma crise política, com manifestações e greves combinadas com uma situação econômica mais delicada.
E o empresário Marcos Valério, pode atingir Lula com suas acusações? "Esquece. Nem a mim ele conhece direito. Nunca apertei direito a mão do Marcos Valério."
Os advogados o chamam na varanda. Dirceu em seguida diz à Folha que precisa encerrar a conversa. Ele ainda esperaria sete horas até que, às 13h30, Barbosa divulgasse que não mandaria prender os réus ontem. Fez as malas e foi passar o Natal na casa da mãe em Passa Quatro (MG).

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Barretão e Zé Dirceu: bela declaração de amor e respeito


Sempre tirei o chapéu pro Zé Dirceu. Em boa parte de minha militância política, vi nele uma referência bem positiva, e fiquei feliz vendo-o lado a lado com Lula, assumindo, em 2003, o sonho de toda a vida. Estive com ele pessoalmente apenas uma vez, em 2010, em um evento da campanha de Benedita, na Churrascaria Estrela do Sul do Rio Plaza Shopping. Cheguei, ele estava em uma roda de amigos, falei rapidamente com todos e saí para providenciar a projeção de um vídeo. Logo depois tive que ir embora, fui me despedir do Zé e fiquei feliz por saber que ele já (mais ou menos) me conhecia de nome. Assim como fiquei muito feliz com esse texto do Barretão (84 anos!) que recebi por e-mail - ousado, verdadeiro, bom de ler.

Luiz Carlos Barreto - ¿Por qué no lo matan?

Fidel Castro estava fascinado pela beleza e graça das irmãs Nabuco -Nininha e Vivi-, filhas dos anfitriões dona Maria do Carmo e José Nabuco, que abriram as portas da mansão da rua Icatu, no Rio de Janeiro, para recepcionar o líder da vitoriosa revolução Cubana.
Ela viera para agradecer ao embaixador brasileiro em Cuba que, durante os duros tempos de luta contra o ditador Batista, deu apoio aos guerrilheiros do exército fidelista.
Intelectuais e políticos de todas as tendências se misturavam nos salões. Todos procuravam Fidel para tirar um papo, mas o comandante só tinha olhos para Nininha e Vivi.
O pessoal da esquerda, quando conseguia um pouco de atenção, aproveitava para falar mal de Carlos Lacerda, governador da Guanabara.
Cansado e irritado, meio em tom de "broma", de ouvir as queixas contra Lacerda, Fidel, querendo se ver livre, mandou: "¿Lacerda es un hombre como nosotros? ¿Tiene brazos, piernas? ¿Camina por la calle?"
"Si, si", disse um dos "reclamões".
"¿Entonces por qué no lo matan?", disse Fidel, encerrando o papo.
O episódio não me sai da cabeça quando leio, quase todo dia, notícias sobre José Dirceu nos jornais.
O tom é sempre de acusação, tratando de atos e práticas ilegais como se ele, na sua trajetória de animal político militante corajoso, só tivesse contabilizado ações negativas.
Sua trajetória é sempre contada a partir de 2004, como se tivesse nascido com o "mensalão". Não se fala na sua trajetória de líder estudantil que se entregou de corpo e alma à luta contra a ditadura militar. Prisão, exílio, retorno ilegal ao Brasil, clandestinidade -Dirceu jogou sempre toda sua energia pela democracia.
Anistiado, se filiou ao PT, coerente com sua visão de mundo.
Sua disciplina, sua vocação de estrategista, sua capacidade de trabalho e seu talento de transformar teoria em ação o elevaram a líder do PT. Afirmou-se assumindo sem medo a tarefa de acomodar no partido as diversas tendências, desde as mais radicais de esquerda às quase conservadoras, consolidando o primeiro partido de massa do Brasil.
Dirceu, apesar de sua formação de classe média e conhecimento acadêmico, teve a capacidade e humildade de entender o papel reservado a Lula. Reconhecendo a sua inegável qualidade de líder de massa, soube estruturar com o PT e a sua militância a grande revolução pacífica e democrática acontecida em toda a história republicana do Brasil.
Nos primeiros dois anos, a desconfiança das classes dominantes em relação ao governo Lula era enorme, como confidenciou-me um parrudo banqueiro: "Não sabíamos qual seria o exato momento que o governo Lula viraria a mesa".
Não se pensava noutra coisa a não ser evitar que Dirceu tivesse tempo e espaço para isso. Num desses almoços de entidades empresariais, ouvi o seguinte: "Zé Dirceu é a cabeça pensante, Lula é o líder mobilizador do sentimento popular. Vamos cortar a cabeça que o corpo cai".
Os oito anos de Lula serviram para destruir o mito de virada de mesa; o que o Lula virou mesmo foi o jogo do poder, priorizando políticas para as áreas social e econômica, o que resultou no Brasil de hoje, cada vez mais sólido internamente e respeitado internacionalmente.
O governo Lula mostrou também que José Dirceu não é uma cabeça sem corpo e que nem Lula é um corpo sem cabeça. Eles são carne e osso, são "hombres como nosotros y caminan por las calles".
"¿Entonces por qué no los matan?"
LUIZ CARLOS BARRETO, 84, é produtor cinematográfico. Produziu, entre outros, "Lula, o Filho do Brasil", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "O que é Isso, Companheiro?", "O Quatrilho" e "Bye, Bye, Brasil"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desespero global


Não quero nem entrar no mérito dessa história da Folha sobre as fibras óticas e o Zé Dirceu. O Azenha já fez isso muito bem. O que me impressiona (é verdade, sou ingênuo, ainda fico impressionado...) é ver manchetes como essas do Globo de hoje tentando tirar proveito de uma história mal contada.
Na capa, “Governo corre para esvaziar denúncia de lobby de Dirceu” e, dentro, “Operação abafa no governo”. Na primeira página, ainda lemos “O governo agiu rápido diante das denúncias...” e nas páginas internas “... o governo evitou politizar o tema e acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para rebater juridicamente a suspeita ...”. Perguntamos: o governo tinha que correr, agir rápido? (Sim, claro que tinha.) O governo fez certo ao evitar politizar o tema? (Sem dúvida alguma.) O governo foi correto ao acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para rebater juridicamente a suspeita? (Corretíssimo.) Então, por que esses truques jornalísticos com “esvaziar denúncias” ou “operação abafa”?
É uma pobreza jornalística tão imensa que até me pergunto por que perco tempo e espaço no meu Blog com isso. Só há uma justificativa para essa bobagem global: o desespero causado pela aproximação de mais uma derrota tucana está cada vez mais incontrolável. Ou seja, esse tipo de jornalismo tende a proliferar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Zé Dirceu fala sobre "Lulismo e PT"

Reproduzo o artigo de Zé Dirceu que li no Blog do Noblat:
Lulismo e PT

A partir dos estudos e de um artigo do jornalista e professor da USP André Singer, ex-porta voz do primeiro governo de Lula e seu secretário de Imprensa durante três anos, abriu-se um debate sobre o Lulismo e, para alguns, sobre o pós-Lula, como se isso fosse algo próximo.
O Lulismo, sim, é uma realidade que já faz parte de nosso cotidiano, devido a sua liderança e a sua força política, eleitoral e social, devido também às obras de seus dois governos e, principalmente, ao seu partido, o PT.
Já que não podemos falar em Lulismo sem o PT e vice-versa, não vejo como possam sobreviver separados. Ainda que Lula e seu peso político e eleitoral possam ser maiores que o PT, foi e ainda é o PT sua principal força e seu principal apoio, não apenas no parlamento e na militância, mas também na sociedade. O núcleo duro de sua base social e eleitoral é o PT.
Desconsiderar o PT como partido, sua origem, trajetória, história e memória, sua contribuição para a construção de políticas publicas, suas lutas sociais, seus governos municipais e estaduais, seus parlamentares e seus 20 milhões de votos, é exatamente não compreender o Lulismo e sua transcendência aos seus dois governos, as mudanças realizadas nos país, cujo depositário é o PT ou deveria ser o PT.
O futuro do Lulismo e do PT estão assim interligados e dependem do PT. Somente com a reintegração de Lula ao partido, com sua volta à construção do PT, é que poderemos falar na continuidade do Lulismo. Que não sobreviverá sem o PT, apesar das mudanças que Lula e seus governos realizaram no Brasil, com o apoio do PT, principalmente.
A questão é se o PT compreendeu o caráter das mudanças que o país viveu nos últimos anos e da mudança de sua base social, como bem demonstra André Singer, deslocada das classes médias para as classes populares mais pobres do país.
Se voltarmos à fundação do PT, à sua origem, um partido das classes trabalhadoras – e não apenas da classe média – fundado nas lutas da periferia das grandes cidades e nas fábricas da nova indústria pós-milagre brasileiro, dos movimentos populares das periferias, das comunidades de base e dos sindicatos, veremos que lá já tínhamos a semente de um partido de operários e de pobres.
Mas sua construção foi desigual e, em muitas regiões, predominou a militância e a relação social com as classes médias.
Agora o desafio é deslocar não apenas a política do partido, de seus parlamentares e governos, como fez Lula, para as camadas pobres da sociedade, mas disputar as novas classes médias que as mudanças realizadas pelo próprio governo Lula desencadearam no Brasil.
É esse desafio que, ainda segundo André Singer, garantiria um Lulismo sem Lula, desaguando no PT o apoio que os pobres deram e dão a Lula e a seu governo.
Tal desafio, reafirmo, somente será vencido se Lula o assumir depois das eleições de 2010, depois da eleição de sua sucessora, garantida a continuidade do projeto político que ele encarna e que o PT construiu nesses 30 anos. Aliás, sem essa compreensão, as mudanças realizadas no Brasil não teriam explicação.
Não podemos falar no Lulismo ou mesmo no Petismo sem o projeto de desenvolvimento nacional, de reconstrução do Estado, de reafirmação do Brasil no mundo, de resgate de nossas riquezas naturais e da retomada do nosso crescimento econômico com distribuição de renda e combate à pobreza.
Um projeto que apenas começou e que exige uma reforma política e institucional, para aprofundar a democracia e dar um salto educacional e tecnológico, de forma a consolidar nosso desenvolvimento.
Tarefas que o Lulismo e o PT assumem ao apresentar a candidatura de Dilma Rousseff.
José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro da Casa Civil

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ciro usa Dirceu como pretexto


Não existe “rompante” nenhum nas recentes declarações “anti-petistas” de Ciro Gomes, nada foi feito de “cabeça quente”. Tratou-se apenas do “ou dá ou desce” de sua candidatura (ou candidaturas...). Do jeito que estava, seus índices de intenções de voto secariam. Percebeu que pelo lado do “sim a Lula” o nome Dilma ganhava corpo em ritmo acelerado, sem que ele pudesse fazer nada. Ciro precisava diferenciar-se. Partiu para a conquista dos votos da classe média do Sul-Sudeste, aquele eleitor refratário ao PT, que está do lado do “não a Lula”, mas que não se sente confortável com a plumagem tucana. Foi pra cima dos votos de Serra e vai sobrar também para Marina (principalmente depois desse programa “xéu com fréu” do PV). Vai ganhar pontos nas pesquisas, sem mexer com Dilma. Ganha cacife para manter-se na disputa, seja a presidencial, seja a disputa em São Paulo. Zé Dirceu entrou na história como trampolim. Acho difícil que tenha combinado tudo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Zé Dirceu precipitou-se: no Rio, o mais provável é aliança PT-PMDB

No seu blog de hoje, José Dirceu, falando sobre o PED e a política de alianças por todo o país, escreveu "RJ: sem unidade no PT, Dilma terá três palanques". Precipitou-se. Ou usou notícia velha como se fosse atual. Pelos últimos dados de que disponho sobre o PED do Rio de Janeiro, o Deputado Luiz Sérgio (CNB) venceu a eleição com cerca de 41%-43% dos votos válidos. Em segundo lugar ficou o candidato mais comprometido com a proposta de Lindberg (Lourival Casula), em terceiro lugar o candidato Bismark, em quarto Valdeck e em quinto Taffarel. Os percentuais dos candidatos corresponderão basicamente à formação da nova Direção do partido e tudo indica que o percentual dos que defendem a aliança com o PMDB em busca do fortalecimento da candidatura Dilma supera os 50%.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

PT com a faca nos dentes por Dilma

A frase de José Dirceu ("enfiar a faca") na última sexta-feira, durante o encontro da tendência majoritária petista CNB, mostrou a disposição de todo o PT no apoio à candidatura Dilma. Não há ranger de dentes que altere a decisão estratégica de alianças para eleger a sucessora de Lula. E a lógica é elementar: se Dilma perde, perdem todos os outros projetos regionais. Por isso, quem estiver pensando em lançar candidaturas a Governador contra tudo e contra todos pode esquecer, porque a faca é certa. É verdade que muitos candidatos sabem disso e estão se lançando agora para se cacifar mais adiante ou para ter maior poder de barganha na retirada. É o caso, por exemplo, da candidatura a Governador do petista Lindberg, no Rio de Janeiro. Melhor do que ninguém ele sabe que não será candidato, mas insiste nisso, organiza uma Frente (dita) de Esquerda (como se o Governador Sérgio Cabral fosse de direita e Wagner Montes, o PTB e o PSC fossem de esquerda...) e ocupa o espaço na mídia. Coloca tudo como se fosse fato consumado para ter mais proveito na retirada. Claro que existem situações mais complicadas - mas, no final, todos concordarão que fazer aliança em nome da eleição de Dilma não será nenhuma navalha na carne.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Da série "Alberto Dines pensa que a imprensa tem o dom de buscar a verdade"

Essa tal "busca da verdade" de nossa imprensa está me deixando nervoso. A verdade encontrada agora foi a de que o ex-Deputado Federal José Dirceu saiu derrotado do 3º Congresso Nacional do PT, realizado no último fim de semana em São Paulo. Disse Tereza Cruvinel na sua coluna de hoje: "(...) o encontro explicitou ainda uma ascendência maior de Lula sobre o partido, e, para dentro, o fim da era Dirceu (...) fim da hegemonia do antigo Campo Majoritário de Dirceu". Não consigo entender exatamente essas verdades, porque o que vi, na própria mídia, foram sinais que apontam da direção contrária. 1) Antes do Congresso, José Dirceu já falava em candidatura própria para apresentar aos aliados - tese vencedora; 2) se em outros Congressos e Encontros José Dirceu era muito aplaudido pelos militantes do Campo Majoritário, neste 3º Congresso, já no primeiro dia, ele foi ovacionado por todas as correntes presentes; 3) as teses do "Construindo um Novo Brasil" (CNB, antigo Campo Majoritário) foram aprovadas por maioria absoluta; 4) A ascendência de Lula sobre o partido já é tão imensa, que é difícil imaginar que ela fique maior - ele continua sendo o grande líder petista. Agora pergunto: em qual Congresso essas "verdades" foram encontradas? Talvez seja o caso de providenciar uma lanterna, para que nossa imprensa, à maneira de Diógenes, tenha mais luz na sua busca da verdade...
Li agora no Blog de José Dirceu, que ele escreve algo próximo do que escrevi aqui. Destaco trechos:
A Folha de hoje vem com uma matéria surrealista e bem ao estilo da nossa mídia. Quer decidir o que foi deliberado no Congresso do PT e estabelecer que houve derrotados e vencedores, mesmo que a matemática e as decisões digam o contrário. Danem-se os fatos. O que vale é a notícia, que o título da matéria expressa bem - "Derrotas de direção atual abrem disputa no PT” (só para assinantes).
O jornal dá a entender que Lula, Berzoini e Zé Dirceu foram derrotados. Atribui vitórias à minoria, ou seja, à tese que ficou conhecida como Mensagem. Na prática, o Congresso aprovou a candidatura própria, vinculada à coalizão e a um programa de governo, e não como uma imposição do PT. Teses que defendi em entrevistas e aqui no blog. Logo, não sei como fui derrotado.
Essa matéria, como tantas outras, é apenas mais uma tentativa de nossa mídia de influir nos destinos do PT, mesmo às custas de deixar de lado os fatos, as votações e a realidade interna do PT.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Grave denúncia do Ministro do Supremo: a mídia determinou o julgamento

Imagem do Google, adaptada Está lá na manchete da Folha de hoje: "Supremo votou com a faca no pescoço". E quem afirma isso é ninguém menos do que um ministro do Supremo, Ricardo Lewandowski. Essa é uma das maiores provas de que a grande imprensa está funcionando como um poder paralelo, chegando a forçar decisões até mesmo do Supremo. Não está apenas fazendo o trabalho pretensamente objetivo de informar. Atua claramente como um partido político de oposição. OK. Seria o caso da grande imprensa informar agora quais os interesses que estão por trás de sua ação tão bem planejada. Leia a reportagem completa da Folha:
"Tendência era amaciar para Dirceu", diz ministro do STF
Lewandowski afirma que "imprensa acuou o Supremo" no julgamento do mensalão
"Todo mundo votou com a faca no pescoço", declara o autor do único voto contra a imputação do crime de quadrilha ao petista
VERA MAGALHÃES,DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Em conversa telefônica na noite de anteontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), reclamou de suposta interferência da imprensa no resultado do julgamento que decidiu pela abertura de ação penal contra os 40 acusados de envolvimento no mensalão. "A imprensa acuou o Supremo", avaliou Lewandowski para um interlocutor de nome "Marcelo". "Todo mundo votou com a faca no pescoço." Ainda segundo ele, "a tendência era amaciar para o Dirceu". Lewandowski foi o único a divergir do relator, Joaquim Barbosa, quanto à imputação do crime de formação de quadrilha para o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, descrito na denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como o "chefe da organização criminosa" de 40 pessoas envolvidas de alguma forma no escândalo. O telefonema de cerca de dez minutos, inteiramente testemunhado pela Folha, ocorreu por volta das 21h35. Lewandowski jantava, acompanhado, no recém-inaugurado Expand Wine Store by Piantella, na Asa Sul, em Brasília. Apesar de ocupar uma mesa na parte interna do restaurante, o ministro preferiu falar ao celular caminhando pelo jardim externo, que fica na parte de trás do estabelecimento, onde existem algumas mesas -entre elas a ocupada pela repórter da Folha, a menos de cinco metros de Lewandowski. A menção à imprensa se deve à divulgação na semana passada, pelo jornal "O Globo", do conteúdo de trocas de mensagens instantâneas pelo computador entre ministros do STF, sobretudo de uma conversa entre o próprio Lewandowski e a colega Cármen Lúcia. Nos diálogos, os dois partilhavam dúvidas e opiniões a respeito do julgamento, especulavam sobre o voto de colegas e aludiam a um suposto acordo envolvendo a aposentadoria do ex-ministro Sepúlveda Pertence e a nomeação -que veio a se confirmar- de Carlos Alberto Direito para seu lugar. Lewandowski chegou a relacionar o suposto acordo ao resultado do julgamento. Ontem, na conversa de cerca de dez minutos com Marcelo, opinou que a decisão da Corte poderia ter sido diferente, não fosse a exposição dos diálogos. "Você não tenha dúvida", repetiu em seguidas ocasiões ao longo da conversa.O fato de os 40 denunciados pelo procurador-geral terem virado réus da ação penal e o dilatado placar a favor do recebimento da denúncia em casos como o de Dirceu e de integrantes da cúpula do PT surpreenderam advogados de defesa e o governo. Na véspera do início dos trabalhos, os ministros tinham feito uma reunião para "trocar impressões" sobre o julgamento, inédito pelo número de denunciados e pela importância política do caso. Em seu voto divergente no caso de Dirceu, Lewandowski disse que "não ficou suficientemente comprovada" a formação de quadrilha no que diz respeito ao ex-ministro. "Está se potencializando o cargo ocupado [por Dirceu] exatamente para se imputar a ele a formação de quadrilha", afirmou. Enrique Ricardo Lewandowski, 58, foi o quinto ministro do STF nomeado por Lula, em fevereiro do ano passado, para o lugar de Carlos Velloso. Antes, era desembargador do Tribunal de Justiça de SP. No geral, o ministro foi o que mais divergiu do voto de Barbosa: 12 ocasiões. Além de não acolher a denúncia contra Dirceu por formação de quadrilha, também se opôs ao enquadramento do deputado José Genoino nesse crime, no que foi acompanhado por Eros Grau. No telefonema com Marcelo, ele deu a entender que poderia ter contrariado o relator em mais questões, não fosse a suposta pressão da mídia. Ao analisar o efeito da divulgação das conversas sobre o tribunal, disse que, para ele, não haveria maiores conseqüências: "Para mim não ficou tão mal, todo mundo sabe que eu sou independente". Ainda assim, logo em seguida deu a entender que, não fosse a divulgação dos diálogos, poderia ter divergido do relator em outros pontos: "Não tenha dúvida. Eu estava tinindo nos cascos". Lewandowski fez ainda referência à nomeação de Carlos Alberto Direito, oficializada naquela manhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Negou ao interlocutor que fizesse parte de um grupo do STF contrário à escolha do ministro do Superior Tribunal de Justiça para a vaga de Pertence, como se depreende da conversa eletrônica entre ele e Cármen Lúcia. "Sou amigo do Direito. Todo mundo sabia que ele era o próximo. Tinha uma campanha aberta para ele." Ainda em tom queixoso, gesticulando muito e passando várias vezes a mão livre pela vasta cabeleira branca enquanto falava ao celular, Lewandowski disse que a prática de trocar mensagens pelos computadores é corriqueira entre os ministros durante as sessões. "Todo mundo faz isso. Todo mundo brinca." Já prestes a encerrar a conversa, o ministro, que ainda trajava o terno azul acinzentado e a gravata amarela usados horas antes, no último dia de sessão do mensalão, procurou resignar-se com a exposição inesperada e com o resultado do julgamento. "Paciência", disse, várias vezes. E ainda filosofou: "Acidentes acontecem. Eu poderia estar naquele avião da TAM". Além dos trechos claramente identificados pela reportagem, a conversa teve outras considerações sobre o julgamento, cuja íntegra não pôde ser depreendida, uma vez que Lewandowski caminhou para um lado e para outro durante o telefonema. Logo após desligar, ao voltar para o salão principal do restaurante, Lewandowski se deteve para cumprimentar um dos proprietários, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, figura muito conhecida em Brasília e amigo de vários advogados e políticos -entre eles o próprio Dirceu, citado na conversa. Lewandowski ficou pouco mais de uma hora no restaurante. A Expand Wine Store by Piantella é um misto de loja de vinhos, restaurante e bar localizada na quadra 403 Sul, no Plano Piloto. Pertence ao mesmo grupo de proprietários do Piantella, o mais tradicional restaurante da capital federal, ponto de encontro de políticos. Só depois da conversa com Marcelo é que Lewandowski sentou-se e fez os pedidos: uma garrafa de vinho argentino Santa Júlia, R$ 49 segundo o cardápio, uma porção mista de queijos e outra de presunto, cada uma ao preço de R$ 35. No telão localizado às costas do ministro, eram exibidos DVDs musicais -um show do grupo Simply Red e uma apresentação da cantora Ana Carolina.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Mensalão: o Supremo vai julgar fatos ou versões?

O Supremo pode ficar alheio à opinião pública? Não, claro que não. O Supremo não pode ser uma entidade à parte, como se não pertencesse à sociedade que o criou. Por outro lado, não pode ser seu refém. Não pode ficar im-pressionado. Muito menos quando se percebe que há muitos interesses conflitantes tentando influenciar na decisão. A grande imprensa, por exemplo, pressiona incansavelmente, a pretexto, talvez, de representar a opinião pública - o que está longe de ser verdade, embora muitas vezes consiga formar a opinião pública. Mas o fato é que nem sempre o fato corresponde à versão. Às vezes até pode corresponder, mas é difícil ou impossível comprovar. Vejamos o exemplo dessa história (que virou manchete do fim de semana) que fala do dinheiro do Ministério do Esportes que teria ido parar nas mãos de uma assessora de um deputado (não lembro qual) do PT. Pelo que foi divulgado como material da acusação pode até ser verdade. Mas pode até não ser. A rigor, nada comprova o elo. Trata-se acima de tudo de uma percepção nesse sentido. Os juízes devem considerar esse tipo de percepção? Claro que sim. Mas devem também considerar os seus riscos. Alguém pode argumentar que o julgamento do mensalão ainda não é definitivo. O Supremo está está apenas julgando se deve haver julgamento ou não - portanto, seria aconselhável aceitar essas percepções de acusação para que haja um julgamento completo e, assim, ter todos os elementos para a verdade final. Mas isso é meia verdade. O Supremo já está fazendo um julgamento, sim. O mundo das percepções vai se alimentar das decisões de agora. Quem for conduzido para julgamento já estará condenado politicamente. Por exemplo, se José Dirceu for conduzido para julgamento hoje, amanhã ele já estará ardendo na fogueira das primeiras páginas. A decisão não é simples, mas deve ter parâmetros indiscutíveis. Não podemos sobreviver às custas de pressões e percepções discutíveis. Mais importante seria julgar essas democracias "representativas" que de fato só servem para representar os interesses de poucos. Que democracia é essa que faz com que os executivos negociem com os parlamentares benefícios em dinheiro para garantir governabilidade? E qual o papel dos juízes nessas "democracias"? Infelizmente, ainda teremos muitas versões em julgamento, antes de termos democracia representativa de fato.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nelson Jobim faz plano de vôo para 2010

Quando um político diz "minha mulher não deixa" quer dizer "não penso em outra coisa". E a idéia de candidatura à Presidência da República com certeza já sobrevoa a cabeça de Nelson Jobim há muito tempo. A alta exposição positiva que teve como Presidente do STF dava margem a pensar nessa direção. A tentativa de presidir o PMDB seguia nesse rumo, mas a derrota para Michel Temer mostrou fragilidade política e abortou a decolagem mais ousada. Agora uma nova chance pousou perfeitamente em seu colo. Primeiro, claro, ele terá o que resolver a chamada crise aérea. O que não é difícil. Na guerra das percepções, ele já conseguiu passar muito bem a imagem de "salvador da Pátria". Postura austera, mostrando decisões, comando, disposição para análise e carta branca para mudar o que for preciso. Já conquistou a mídia, está agradando a classe média e até calou a oposição. As condições climáticas estão favoráveis. Mas é claro que ainda existe muita pista pela frente. O mau tempo começará a surgir exatamente entre seus amigos Serra e Fernando Henrique, que verão no seu nome turbulência para os vôos tucanos. Da mesma forma, César Maia e seus "demos" não gostarão de ver seus eleitores conservadores embarcando nessa viagem. O céu nordestino também não será de Brigadeiro. Ciro Gomes vai ligar os sinais de alerta, claro. E o próprio povo nordestino pode se mostrar arredio ao ar imperial de Nelson Jobim que agrada tanto em regiões sulistas. Dois fatores vão contribuir para que Nelson Jobim mantenha as turbinas ligadas: o fato de finalmente o PMDB ter um nome próprio forte para concorrer à Presidência e o seu trânsito fácil no terreno petista, a começar por Lula, Mercadante, Tarso e até, quem sabe, José Dirceu. Mas, como já disse, ainda existe muita pista pela frente e Jobim terá que ter mais combustível para alçar vôo com segurança.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Gil & Pezão, uma banda larga

Além de Zé Dirceu, Jorge Bastos Moreno e uma infinidade de internautas, um dos maiores entuasiastas da música Banda Larga (sucesso de Gilberto Gil que percorre o YouTube) é o Vice-Governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Ele fala o tempo todo da música, na maior alegria. E com razão. Nessa deliciosa referência ao novo mundo da internet, Gil refere-se a Piraí (pira aí), o município fluminense onde Pezão foi Prefeito e que se notabilizou (em sua gestão) por ter implantado a internet em alta velocidade (banda larga) com acesso livre para toda a população.

domingo, 10 de junho de 2007

Reforma política: Zé Dirceu dá aula a Elio Gaspari

Pessoalmente, acredito que o "voto de lista", apesar de poder apresentar problemas, poderia ser uma importante contribuição aos fortalecimento dos partidos - algo extremamente necessário no momento. Mas não é o que pensaElio Gaspari, uma espécie de "Nosso Guia" do colunismo político (ou pelo menos é o que ele parece pretender por seu estilo). Na sua coluna deste domingo (O Globo, Folha), decidiu investir, de forma meio grosseira, contra a proposta de "voto de lista". Resume tudo a um "golpe do comissariado", referindo-se principalmente à cúpula do PT, mas também ao PSDB e DEM (ex-PFL). Identifica o "voto de lista" com "cassação do direito de os cidadãos escolherem seus representantes na Câmara". Apelativo, como a maior parte do que escreve: "Aos trancos e barrancos, esse direito está aí desde o século XIX. A nomenklatura do PT, assim como as do PSDB e do DEM, quer impor um sistema pelo qual os eleitores ficarão obrigados a votar nos partidos, elegendo maganos colocados numa lista de acordo com as preferências dos donatários das siglas". Em vez de fazer propostas relevantes para melhorar a possível reforma eleitoral, Elio Gaspari dedica-se a argumentos fraquinhos e bobos, usa as imagens que se tornaram negativas de Renam, Delúbio e outros menos "votados" contra o "voto de lista" e também contra o "financiamento público de campanhas". Aproveita para bater em Zé Dirceu que, no mesmo dia, deu o troco em seu Blog. Surpreendetemente, o ex-Deputado não caiu no jogo de Elio Gaspari e deu uma resposta serena, bem fundamentada, em defesa do PT e de seus pontos de vista para uma reforma política. Elio Gaspari, procurando agradar um eleitorado eminentemente lacerdista, ficou igual a esses políticos que tanto ataca. Zé Dirceu, ao contrário, mostrou-se "bem comportado" e racional. É uma pena ler um Elio Gaspari tão fraco. Mas vale a pena ler as duas colunas, clicando em "O golpe do comissariado" e em "Em defesa do voto em lista e do financiamento público".

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Quem diria, o Estadão apóia Lula...

Leia a íntegra do editorial de hoje do Estado de São Paulo:
O irmão, o compadre e a batota

Todo político tem um séquito: é da natureza do ofício. O séquito, naturalmente, tem uma hierarquia. No topo, ficam os poucos e bons operadores da mais estrita confiança do prócer - a exemplo do falecido Sérgio Motta, no caso de Fernando Henrique, e de Gilberto Carvalho, no caso do presidente Lula. Eles não apenas são incumbidos de missões delicadas e sigilosas, como ainda funcionam como conselheiros do chefe. No sopé dessa estrutura estão os seus paus-para-toda-obra, tarefeiros que abrem portas, guardam costas, dirigem carros, carregam volumes, para o político e seus familiares. Nada mais natural que, subindo o político na vida, membros dessa arraia-miúda de autodenominados “assessores” sejam procurados por espécimes do submundo da periferia do poder e a eles se associem no crime. São figurantes que o chefe pode ou não conhecer pessoalmente, mas há de saber quando se valem da sua conexão consigo, ainda que remota, para conseguir uma boquinha numa repartição - no mínimo. Eis o material com que habitualmente se confeccionam as teias pegajosas como a que a Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal (PF), acaba de romper, no combate à máfia dos caça-níqueis. A peculiaridade, agora, é a presença nesse circuito de um irmão e de um compadre do presidente da República. O primeiro, Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi indiciado sob a acusação de tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio no Judiciário. O segundo, Dario Morelli Filho, apontado como sócio do batoteiro Nilton Cezar Servo, o 79º preso pela PF em seis Estados, é acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha. Desta vez respeitando estritamente o sigilo de Justiça que recobre a operação, os federais não divulgaram os nomes das autoridades junto às quais teriam delinqüido. De outra parte, não há o mais tênue indício de que, a serem verdadeiras as ações de que são acusados o irmão e o compadre, Lula tivesse motivo para delas suspeitar, antes de ser informado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, da operação em preparo. A conduta do presidente, aliás, foi nada menos do que irretocável. Ao que se sabe, não moveu uma palha para impedir que se expedisse o mandado judicial de busca e apreensão na casa de Vavá. Ao ser entrevistado, em Nova Délhi, pelos jornalistas que o acompanham na viagem, tomou a iniciativa de revelar que é padrinho de um filho de Morelli. Foi elegante com o irmão - a quem repreendera de público, em 2005, quando se divulgou que tentava fazer lobby para empresas do ABC junto ao Planalto -, dizendo enfaticamente “não acreditar mesmo, de verdade”, que ele tenha parte com a gangue da tavolagem, que contrabandeava componentes eletrônicos para os caça-níqueis e, de quebra, traficava drogas. Mas, falando “como presidente”, emendou, “se a Polícia Federal tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência”. Do compadre, disse pouco: “Se foi preso, será investigado, interrogado e, depois, haverá um veredicto.” Morelli é o típico sequaz de político descrito no início deste texto. Faz-tudo da família de Lula, escoltou o candidato presidencial em eleições anteriores (e José Dirceu, em 1994), fez bicos para o PT e o sindicato dos metalúrgicos, abriu uma firma de segurança e, apadrinhado do petismo, enveredou pelo setor público: conseguiu emprego numa empresa municipal em Mauá, numa secretaria da Assembléia Legislativa e, ultimamente, na área de saneamento da prefeitura de Diadema, da qual foi afastado anteontem. Aparentemente, envolveu-se com caça-níqueis ao cuidar da segurança de uma casa de bingos. Então teria conhecido o ex-deputado estadual paranaense Nilton Cezar Cervo, tido como o capo da quadrilha. Este é outro personagem do submundo da política: ao trabalhar nas campanhas de Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul, acabou conhecendo Lula, de quem passou a se dizer amigo e comensal. Depois, teria pedido ao presidente que legalizasse os bingos. A PF registrou pelo menos um telefonema dele a Vavá. Em suma, ele, Morelli e o bingueiro estavam na mesma ciranda. Deveria o presidente ter se informado dos negócios do irmão e do compadre? Seria o ideal. Mas essa saudável curiosidade é incomum entre os políticos brasileiros. Talvez porque saibam que quem procura acha.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Lula está certo quando dá bronca no PT pelas brigas que saem na imprensa e está certo também quando diz que não há racha no PT

Lula apareceu no encontro do Diretório Nacional do PT e reclamou de ver mais notícias sobre as brigas internas do PT do que notícias sobre as realizações do Governo. Estava certo. As lideranças do PT têm que estar mais atentas às manipulações da grande imprensa conservadora. Desde 2005, qualquer grão de areia petista pode virar terremoto nas manchetes do dia seguinte. Mais: a imprensa usa esses “problemas petistas” para tentar minar o Governo. As lideranças petistas – não importa de qual tendência interna – não pode se entregar à manipulação da imprensa. Isso é contra sua própria tendência, seu próprio partido, seu próprio governo. Fora do ambiente petista, Lula declarou que o PT “não está dividido nem rachado (...) está exercitando uma coisa que chamamos de democracia”. A imprensa tratou de ver nisso uma contradição – afinal, o PT está ou está rachado? Claro que não está. Esse tipo de debate interno no PT sempre existiu – desde que o PT é PT. E não significa racha. Pode parecer loucura, mas é exatamente isso que o Lula falou – o exercício da democracia. Devo dizer que essa democracia petista, nas vezes que presenciei, me pareceu extremamente chata – mas devo reconhecer que parece necessária ao partido. Talvez as tendências minoritárias estejam se aproveitando da imprensa conservadora para tentar minar o chamado Campo Majoritário que conta, entre outros, com o grupo liderado por José Dirceu, que foi por muitos anos a principal referência interna. Se isso é verdade, é um risco muito grande, que pode minar a todos. A imprensa conservadora não pode ser vista como tendência interna – e sim como adversária. Aliás, isso serve não apenas para o PT. É uma regra básica para todos os partidos progressistas.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Eleição na Câmara: deu a lógica

Arlindo Chinaglia acaba de se tornar Presidente da Câmara com 261 votos. Tanto quanto a vitória de Renam para Presidente do Senado, foi um resultado esperado. Este Blog de certa forma já anunciava que o resultado seria esse. Hoje pela manhã, conversando com amigos, previ vitória de Chinaglia no primeiro turno com 265 votos. Errei por muito pouco. Claro que ter dois turnos foi muito mais lógico e eu pensava assim. Vitoriosos: o Governo, o PT, José Dirceu, o PMDB (principalmente o de Michel Temer), José Serra e, de certo modo, até Aécio Neves. Derrotados: o PFL, o PSDB lacerdista, Fernando Henrique, Alckmin, Tasso (e Ciro) e, principalmente, a grande imprensa.