Mostrando postagens com marcador Tereza Cruvinel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tereza Cruvinel. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Bye-bye, Tereza

A jornalista Tereza Cruvinel escreve hoje sua coluna de despedida. Ela sai das Organizações Globo para entrar na TV Pública, como presidente. Parece uma boa escolha. A partir de agora, ela também tem novo papel. Torna-se um dos alvos prediletos, ao lado de Franklin Martins e Helena Chagas, do Prefeito César Maia. Segue a íntegra da despedia de Tereza Cruvinel:
Desta janela vi a passagem dos últimos 20 anos da história política contemporânea. Registrei, observei, tentei compreender e compartilhar a compreensão dos fatos que se sucederam: uma fieira luminosa de círios, uns sendo apagados pelos outros, marcando a trilha da nova democracia brasileira. Deixo este nobre espaço que O GLOBO me confiou para enfrentar um novo desafio profissional, a construção da rede pública de televisão. Quando comecei a escrever aqui, os tempos eram difíceis na política, mas, ainda que não pareça, hoje são melhores.Também por isso, no rito de passagem que esta última coluna expressa, a gratidão pelos ganhos e pelas realizações é maior que o sentimento de perda, próprio das separações. No jornalismo político vi a agonia da ditadura, seu estertor diante das palavras de ordem por anistia e liberdades democráticas. Na campanha das Diretas, a emergência do povo, que seria derrotado pelo Congresso na noite de 25 de abril de 1984. Estive ao lado do grande Timoneiro da Travessia, Ulysses Guimarães, na hora de seu choro. Pela democracia, jornalistas também podiam chorar. A redenção viria com o apoio popular à eleição indireta de Tancredo. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.” Chico Buarque deu-nos o refrão cantado na Esplanada embandeirada, naquela noite de 15 de janeiro de 1985. Uma nova perda viria com sua doença e morte, mas o sonho democrático era grande e forte. Avançamos no aprendizado da democracia com José Sarney, com a remoção do entulho autoritário, expressão esdrúxula para os mais jovens: restos institucionais da ditadura atravancando o caminho. Com Ulysses, a Constituinte erige o primado da liberdade e da cidadania. E, ainda que tenha produzido um texto equivocado em muitos pontos, deunos as tábuas da democracia, intocáveis nas suas cláusulas pétreas. Na curva, uma nova provação. O governo do primeiro presidente eleito traz a primeira decepção de natureza ética, propiciando o mais severo dos testes para as instituições da nova democracia: seu afastamento pelo impeachment, dentro da lei e da ordem. Fomos aprovados. A imprensa travara o bom combate. Um governo de transição e ampla coalizão como o de Itamar Franco cria as condições para a morte do dragão da inflação. O Plano Real nos leva aos oito anos com Fernando Henrique Cardoso, seu esforço para assegurar a estabilidade numa conjuntura de instabilidade externa. O tempo pede reformas do Estado, que elevam as tensões políticas. O sistema político traz desafios para a governança, as mazelas políticas começam a aparecer, mas a marcha democrática segue.As instituições se consolidam e a liberdade de imprensa vige em pleno viço. A eleição de Lula, por sua origem e trajetória, será mais que uma alternância no poder. Será prova de uma permeabilidade social e de uma disposição mudancista do povo brasileiro que surpreendeu o mundo. Neste quinto ano com Lula, a economia esbanja saúde, há um vento de crescimento, mas o que se destaca, e o que deve ficar como legado, é o investimento maciço no combate à pobreza, na redução da desigualdade social mais escandalosa que todos os escândalos. Os indicadores socioeconômicos alcançam suas melhores marcas históricas, num processo iniciado no governo anterior e acelerado com o aumento dos investimentos. A percepção dessas mudanças sociais vem sendo obscurecida pelo mau tempo na política. Com a dessacralização ética do PT no primeiro mandato e a repetição dos escândalos no segundo, atingindo sobretudo o Congresso, a política é jogada num descrédito ímpar depois da transição. A democracia representativa está em crise no mundo, embora isso não nos console nem deva atenuar as exigências. Não creio, apesar de tudo, que só tenhamos piorado na política. Nunca estivemos livres das mazelas da política.Elas já foram até maiores. As mudanças e transformações da sociedade é que melhoraram nossa percepção delas: a velocidade das comunicações combinada com a liberdade de informação arrancou as velhas cortinas do sistema de poder. Os velhacos e as velhacarias são expostos. São fortes sintomas de que o sistema político está exausto, já não responde às necessidades. Por isso a discussão da reforma política teve sempre abrigo na coluna. Todo este desnudamento traz muita indignação, e isso é saudável. Propicia a busca de diagnósticos e de soluções. Por tudo, não creio que pioramos. No trato diário dos problemas políticos, busquei sobretudo oferecer a mais correta interpretação dos fatos, oferecer elementos para que o leitor-cidadão forme sua opinião. Devo ter cometido erros, mas creio ter feito um saldo maior de acertos. Foi um tempo riquíssimo, irrepetível. Sou grata a todos que, nas Organizações Globo, proporcionaram-me tão privilegiado exercício do jornalismo. Pelos primeiros tempos, os de aprendizado para uma jovem repórter, à memória de Dr. Roberto Marinho e à de Evandro Carlos de Andrade. A Carlos Lemos, quando diretor em Brasília, pela persistência em manter-me na coluna. A João Roberto Marinho, pelo compromisso com o pluralismo, que assegurou minha longa permanência. A Rodolfo Fernandes, amigo antes de diretor de Redação, pelo estímulo, apoio e compreensão, sempre, inclusive na saída. A Alice Maria, pela experiência televisiva tardia na Globonews. Sou gratíssima a todos os leitores de todos os tempos. Aos muitos amigos que ganhei e levo comigo, e homenageio na pessoa ímpar de Jorge Moreno, que para cá me trouxe um dia. Boa sorte ao Ilimar Franco na coluna que fará aqui. Até sempre, a todos os colegas desta grande escola de jornalismo que é O GLOBO.

domingo, 23 de setembro de 2007

Afinal, classe média é o quê?

Eu estava pretendendo escrever sobre essa pesquisa CNI/IBOPE que mostra a expectativa da população brasileira para os próximos seis meses, mas li um texto bem interessante da Tereza Cruvinel no Globo de hoje e preferi reproduzir na íntegra aí mais abaixo. Ela fala, com propriedade, que a oscilação negativa do Governo Lula ocorreu na classe média: "Não na 'nova classe média' que o governo considera fruto de suas políticas, composta por pobres emergentes que estão entrando na sociedade de consumo, mas na velha e tradicional classe média, de gente com curso superior que ganha mais de dez salários mínimos e que, na campanha do ano passado, votou mais em Alckmin que em Lula". Isso me recordou que há um tempo atrás quase escrevi sobre a classe média para um livreto que o jornalista Luiz Gutemberg pretendia editar. Por falta de tempo, acabei não dando continuidade. É um tema que sempre envolve muitas interrogações. As organizações clandestinas de esquerdas, nascidas na classe média, tinham verdadeira ojeriza ao assunto em suas intermináveis discussões teóricas. A ABIPEME - Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado resolve sua questão com sua classificação sócioeconômica com pontos que envolvem renda, formação escolar, posse de bens de conforto familiar e chega à seguinte pontuação: classe A, 89 pontos ou mais; classe B, de 59 a 88 pontos... e por aí vai. É uma saída, mas que nem sempre dá certo. Conheço o recrutador de um instituto de pesquisa que costuma dizer: "Ás vezes um camarada classificado como classe A chega aqui, eu olho o sapato e vejo logo que não é..." No nosso momento específico, onde vemos uma espécie de aliança entre os partidos de oposição, com a grande imprensa e os setores mais conservadores do que seria a classe média, a melhor definição talvez seja a que meu amigo Laerth Pedrosa costumava dar quando morava na Inglaterra. Em vez de falar middle class (classe média, em inglês), ele preferia usar medium class - algo como classe dos veículos de comunicação de massa. Faz sentido. A seguir, o texto "Classe média", de Tereza Cruvinel:
A divulgação dos indicadores socioeconômicos favoráveis ao governo coincidiu com a revelação, pela pesquisa CNI-Ibope, de uma queda, ainda que ligeira e dentro da margem de erro, na popularidade do presidente Lula. Os 50% que em junho consideravam o governo bom e ótimo caíram para 48%, e os 66% que aprovavam a forma de Lula governar, para 63%. Mais uma vez, a oscilação negativa ocorreu dentro da classe média. Não na “nova classe média” que o governo considera fruto de suas políticas, composta por pobres emergentes que estão entrando na sociedade de consumo, mas na velha e tradicional classe média, de gente com curso superior que ganha mais de dez salários mínimos e que, na campanha do ano passado, votou mais em Alckmin que em Lula. Deve haver, na composição da variação negativa de agora, resquícios do apagão aéreo e respingos da crise do Senado, que envolveu um aliado importante como Renan Calheiros, ao lado de quem Lula nunca se recusou a aparecer. O julgamento do STF também pode ter despertado a lembrança da decepção com os escândalos do PT. A pesquisa mostrou elevada rejeição à CPMF. Mas se, na média, 54% defenderam o fim do imposto ainda este ano, na classe média o índice foi de 72%, contra 48% entre os que ganham de dois a três salários mínimos. Se a aprovação média do governo foi de 48%, entre os pobres foi de 53% e na classe média, de 38%. Ainda é um bom índice, sinal de que a rejeição não é hegemônica, embora o contraste interclasses seja grande. A rejeição da classe média a Lula era bem mais baixa no início do primeiro mandato, 11%, segundo o Datafolha de março de 2003. Em 2004, depois do caso Waldomiro, a aprovação ao governo Lula no segmento começou a cair. Com o escândalo do valerioduto, em 2005, a rejeição passou a dominar a classe média. Nessa época, o Datafolha registrou 46% de rejeição ao presidente nessa camada social, contra uma aprovação de 18%. Na campanha de 2006, Lula recuperou parte da classe média, sobretudo no segundo turno, neutralizando a preferência anterior de Alckmin, que perdeu 2,5 milhões de votos no segundo turno. O governo continua querendo reconquistar a classe média, mas não encontra o discurso e a política certos. Iniciado o segundo mandato, o grande estrago foi feito pelo apagão aéreo. Avalia que ela também vem se beneficiando do crescimento, embora os pobres é que estejam ganhando mais. E isso, de certa forma, indispõe os segmentos médios mais conservadores ou mesmo preconceituosos, que, receando perder alguma coisa, reagem a qualquer distribuição. Detestam o Bolsa Família. A popularidade é alta entre os pobres, mas o governo sabe que, tendo a classe média contra, é sempre mais difícil governar. Continua querendo reconquistá-la. No pronunciamento do ministro Mantega, na sexta-feira, houve mensagens nesse sentido. Por isso, entre as concessões tributárias que podem ser apresentadas para garantir a aprovação da CPMF no Senado, pode surgir uma nova mexida no Imposto de Renda. Uma correção do valor das deduções por dependente e gasto escolar cairia bem.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Da série "Alberto Dines pensa que a imprensa tem o dom de buscar a verdade"

Essa tal "busca da verdade" de nossa imprensa está me deixando nervoso. A verdade encontrada agora foi a de que o ex-Deputado Federal José Dirceu saiu derrotado do 3º Congresso Nacional do PT, realizado no último fim de semana em São Paulo. Disse Tereza Cruvinel na sua coluna de hoje: "(...) o encontro explicitou ainda uma ascendência maior de Lula sobre o partido, e, para dentro, o fim da era Dirceu (...) fim da hegemonia do antigo Campo Majoritário de Dirceu". Não consigo entender exatamente essas verdades, porque o que vi, na própria mídia, foram sinais que apontam da direção contrária. 1) Antes do Congresso, José Dirceu já falava em candidatura própria para apresentar aos aliados - tese vencedora; 2) se em outros Congressos e Encontros José Dirceu era muito aplaudido pelos militantes do Campo Majoritário, neste 3º Congresso, já no primeiro dia, ele foi ovacionado por todas as correntes presentes; 3) as teses do "Construindo um Novo Brasil" (CNB, antigo Campo Majoritário) foram aprovadas por maioria absoluta; 4) A ascendência de Lula sobre o partido já é tão imensa, que é difícil imaginar que ela fique maior - ele continua sendo o grande líder petista. Agora pergunto: em qual Congresso essas "verdades" foram encontradas? Talvez seja o caso de providenciar uma lanterna, para que nossa imprensa, à maneira de Diógenes, tenha mais luz na sua busca da verdade...
Li agora no Blog de José Dirceu, que ele escreve algo próximo do que escrevi aqui. Destaco trechos:
A Folha de hoje vem com uma matéria surrealista e bem ao estilo da nossa mídia. Quer decidir o que foi deliberado no Congresso do PT e estabelecer que houve derrotados e vencedores, mesmo que a matemática e as decisões digam o contrário. Danem-se os fatos. O que vale é a notícia, que o título da matéria expressa bem - "Derrotas de direção atual abrem disputa no PT” (só para assinantes).
O jornal dá a entender que Lula, Berzoini e Zé Dirceu foram derrotados. Atribui vitórias à minoria, ou seja, à tese que ficou conhecida como Mensagem. Na prática, o Congresso aprovou a candidatura própria, vinculada à coalizão e a um programa de governo, e não como uma imposição do PT. Teses que defendi em entrevistas e aqui no blog. Logo, não sei como fui derrotado.
Essa matéria, como tantas outras, é apenas mais uma tentativa de nossa mídia de influir nos destinos do PT, mesmo às custas de deixar de lado os fatos, as votações e a realidade interna do PT.

domingo, 5 de agosto de 2007

Acidente da TAM: obrigado, Tereza Cruvinel, por concordar com o que este Blog diz desde o começo

Desde o começo foi colocado aqui que a oposição e a grande mídia usaram e abusaram da tragédia do Airbus da TAM com o objetivo de atacar o Governo Lula. Os dias foram passando, as investigações avançando, as caixas-pretas clareando as idéias e o óbvio surgindo: o culpado não foi o grooving. Até o Arnaldo Jabor já tinha se segurado para evitar ataques infundados. Só estava faltando um nome de destaque da grande imprensa de certor modo reconhecer o o uso "oportunista" da tragédia. Na sua coluna de hoje, Manutenção, no Globo, Tereza Cruvinel diz coisas interessantes. Trechos:
A evolução das investigações sobre o acidente com o avião da TAM continua recomendando cuidado com as conclusões precipitadas. Por ter embarcado nelas, acreditando estar diante da chance de dar um golpe mortal no governo Lula, a oposição ficou um tanto zonza, a ponto de seus integrantes nas CPIs da Câmara e no Senado trocarem acusações.(...) Houve o momento em que toda a culpa foi posta na liberação da pista de Congonhas sem a execução do grooving, e/ou no fato de o pouso de ter sido autorizado sob chuva, com a pista escorregadia; e/ou ainda na hipótese de aquaplanagem. Depois o foco mudou para o tripé pilotoempresa-fabricante. O reverso com defeito que voava travado e o suposto erro do piloto ao deixar um dos manetes em posição de aceleração. Crucificado o piloto, veio a possibilidade de o erro não ter sido dele, mas do computador de bordo ao interpretar o comando. E a de ser do fabricante a responsabilidade maior, já que outros dois acidentes aconteceram nas mesmas condições. Se pilotos experientes cometem o mesmo erro nas mesmas condições, é bem possível que os comandos do Airbus e a regra operacional deles induzam facilmente ao erro. Mas vale também lembrar que tudo começou foi com a quebra do reverso, com a decisão da empresa de manter o avião voando, mesmo tendo ele apresentado um defeito na turbina. No pouso com reverso travado, o piloto teria se confundido.

domingo, 22 de julho de 2007

Acidente da TAM: a mídia refletindo mais

A mídia continua em sua campanha irracional anti-Lula aproveitando-se da desgraça alheia. Mas aqui e ali começam a surgir análises e reportagens menos interesseiras e menos temperamentais. Na postagem abaixo, reproduzi texto de Tereza Cruvinel no Globo de hoje. Também o Globo, em reportagem (Soma de problemas pode explicar tragédia) de Chico Otavio, Soraya Aggege e Lino Rodrigues, começa a dizer que "condições da pista, chuva, falha mecânica, excesso de peso e velocidade do avião são aspectos sob investigação". Ou seja, tiraram um pouco o foco de cima de Lula. Elio Gaspari, na sua coluna de hoje, vê o aspecto ainda pouco analisado, da bagunça que sempre gerou lucro. Reproduzo na íntegra:
O cartel dos aerocratas gerou o caos
O Código de Aeronáutica fixa indenizações irrisórias em moeda que não existe; a Justiça atropelou-o
AS MEDIDAS ANUNCIADAS na sexta-feira por Nosso Guia vieram tarde, mas são um passo para enfrentar o descalabro do aeroporto de Congonhas. Tudo indica que, pela primeira vez, o assunto foi tratado sem a decisiva interferência do cartel de aerocratas da TAM, da Gol, da Infraero e da Anac. Em vez de reclamar, as empresas podem oferecer aos seus passageiros uns 20 pontos de embarque em ônibus para Guarulhos e Viracopos. Neles, poderiam até adiantar o check-in. A aviação comercial brasileira e a administração aeroportuária entraram em colapso porque a bagunça dá lucro. Basta que se reflita sobre um dispositivo do Código Brasileiro de Aeronáutica, de 1986. Ele determina que, em caso de morte de um passageiro, a companhia deve indenizá-lo até um limite de 3.500 Obrigações do Tesouro Nacional, ou OTN. Esse papel não existe mais. É uma peça de arqueologia financeira. Virou BTN e hoje se chama TR. Numa conta, a indenização pode valer R$ 14 mil. Noutra, R$ 125 mil. Trata-se de um dispositivo iníquo e anacrônico que só sobrevive porque tudo o que se refere à aviação comercial passa pela manipulação dos interesses de uma aerocracia privada e pública. Felizmente, os tribunais atropelaram essa maluquice, mas o fato de ela ainda estar por aí mostra como colecionam-se absurdos. A pista de Congonhas é curta, o aeroporto está engarrafado, as empresas submetem os passageiros ao overbooking e nada resta à patuléia senão relaxar e gozar. Os três grandes desastres da TAM e da Gol mataram 445 pessoas. Para conseguir indenizações adequadas, seus familiares tiveram que contratar advogados, ir à Justiça e, em muitos casos, aceitar acordos. As vítimas da TAM que batalharam na Justiça americana conseguiram compensações até três vezes superiores. Em Pindorama, a maior indenização paga pela empresa, por ordem do juiz, foi de R$ 800 mil. Só numa atividade que desrespeita os clientes em benefício da patranha um presidente de empresa pode fazer o que fez o doutor Marco Antonio Bologna, da TAM. Na quarta-feira ele disse que o Airbus estava em "perfeitas condições". Na quinta-feira, confrontado com informações que tinha, mas não revelava, Bologna confirmou que havia um defeito no sistema que ajuda a frear o avião.

Acidente da TAM: as responsabilidades de cada um

Gostei bastante da análise feita por Tereza Cruvinel no Globo de hoje. Reproduzo na íntegra:
A gula das aéreas e a inépcia estatal
As companhias aéreas vão chiar. Com as medidas baixadas pelo governo na sexta-feira, elas vão ganhar menos dinheiro. Vão gastar mais para redistribuir os vôos que concentraram em Congonhas. TAM e Gol tiveram lucros gordos na crise, enquanto eles minguavam lá fora. Desafogar Congonhas é uma medida corajosa, mas, com esta Anac servil às companhias, será difícil. Mais difícil ainda será enfrentar a resistência da Infraero à abertura de seu capital e à construção do novo aeroporto de São Paulo pelo regime de PPPs. Para especialistas, as medidas são boas, mas têm dois graves defeitos. Um, não terem sido adotadas antes. Para isso, só faltou decisão ao governo. Outro, não terem vindo acompanhadas da unificação da gestão num só comando. Com o remanejamento dos vôos de Congonhas, os primeiros cálculos indicam que a TAM perderá mais de cem conexões e cerca de 200 escalas. A Gol, quase o mesmo número, e a Pantanal, menos de cem. Elas não estão acostumadas a obedecer, e sim a convencer a Anac. Obtiveram o aumento de cerca de 40% dos pousos e decolagens em Congonhas, nos últimos três anos, e a liberação da pista reformada antes das ranhuras prontas. Como irá esta Anac amiga impor mudanças que vão reduzir os ganhos? Pode ser preciso trocar alguns diretores, admite um ministro de Lula. O governo agora excomunga a Anac, mas foi ele mesmo que nomeou seus diretores por critérios políticos. Recentemente, a ministra Dilma brecou, escandalizada, uma proposta de recesso (fora as férias) para servidores da agência, cujo presidente é ligado à ministra. É verdade que, com o fim do monopólio TransbrasilVarig-Vasp, e a entrada da Gol em cena, a competitividade aumentou, os preços baixaram e mais gente passou a voar. As tarifas caíram cerca de 40%, embora o preço do petróleo tenha subido. A demanda aumentou 12% em 2006 e 13% só no primeiro semestre deste ano. Mas as companhias levaram também para o setor uma mentalidade de empresas de transporte coletivo: ônibus cheio, faturamento alto. Se nos últimos cinco anos os passageiros saltaram de 40 milhões para 57 milhões ao ano, a frota nacional encolheu, de 366 para 230 aeronaves. A receita para manter o faturamento nas alturas foi operar em regime de “ônibus cheio”: cerca de 72% de ocupação média dos assentos. Às vezes, como no caso do avião que explodiu em Congonhas, 100% de ocupação. E cortando custos com a centralização das conexões em aeroportos centrais como Congonhas. Estas são críticas às empresas, feitas por uma autoridade do governo que não é da Anac, naturalmente. Agora, vejamos o que diz do governo um alto executivo do setor. Ele supõe que o acidente de São Paulo não teve relação com o apagão, não teria acontecido se o avião com defeito no reverso tivesse ido logo para a oficina. Não foi porque a empresa não podia prescindir da aeronave. Mas apagão mesmo virá, diz ele, se o Estado não for além do já prometido. A Infraero, com a governança atual, leva dez anos para tirar uma decisão do papel e começar uma obra. Este novo aeroporto de São Paulo não sairá nunca. Com a abertura do capital, a gestão da empresa terá que mudar, aposta o governo. Mas é preciso mudar a mentalidade: a Infraero gosta mesmo é de investir em terminais de passageiros. Não gosta de fazer nem reformar pistas, não gosta de obras pequenas, porém necessárias. Talvez porque isso não dê propina, diz o aeroteca. A pista principal de Congonhas pede reforma há cinco anos, mas só saiu na emergência.
Obra cara e sem licitação.
Melhor do que abrir o capital da Infraero, diz ele, será adotar o modelo da Inglaterra, onde todos os aeroportos são privados. Ou o de Nova York, onde um ente público, a Port Authority, concede a exploração do serviço a quem constrói a infra-estrutura. A gestão, ele concorda com o que se discute no governo, terá que ser centralizada e tendo a Anac como cabeça do sistema, mas chefiada por um gestor buscado no mercado de talentos. Pode haver acertos e impropriedades nestas considerações sobre o setor aéreo. Mas, agora, tudo é subsídio. O tema para especialistas entrou na esfera pública.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Ciro Gomes andou lendo este Blog

Tereza Cruvinel, em sua coluna no Globo, de hoje, descreve a visão de Ciro Gomes sobre a investigação do irmão de Lula pela PF : “Aquela operação foi batizada de Xeque-Mate, a jogada que, no xadrez, empareda o rei. Será apenas coincidência?” Exatamente a visão que postei aqui neste Blog. Claro que neste caso foi coincidência.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

De olho na pesquisa

Essa nova Pesquisa Sensus não trouxe surpresas. A não ser, talvez, para quem não viu o país nos últimos meses, ou não quis ver. Lula teve uma reeleição com votação fabulosa. Conseguiu montar um segundo mandato com uma coalizão de ampla maioria no Congresso. Os números da economia são extremamente favoráveis, com controle da inflação, queda dos juros, crescimento do PIB, mais empregos, aumento do salário mínimo, etc. Há outros fatores favoráveis, como o cenário mundial, a visita de Bush, o biocombustível, o papel de liderança regional do país, a boa inserção de Lula nos meios políticos internacionais. Nem mesmo o fato de a aprovação do Governo ter atingido (49,5%) seu ponto mais alto desde agosto de 2003 pode ser considerado surpresa. Pode ser que haja espanto com uma aprovação tão alta, já que as pessoas, na maioria, nem ouviram falar (só 32,2% ouviram falar) do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, marca do segundo mandato. Vamos analisar em termos de percepção: assim como o Bolsa-Família está mais associado a "povão" e "Nordeste", o PAC está mais associado a "empresariado", "classe média", "Sul-Sudeste". É algo novo, ainda não claramente percebido e desnecessário para a maioria que está aprovando Lula. E o "apagão aéreo", será que não influenciou negativamente? Para desespero da oposição, não. Não dá para comparar (embora tenham tentado) com o "apagão real", na energia elétrica, de Fernando Henrique. A massa ouviu falar do problema aéreo (82%), mas não sentiu na pele, como aconteceu no Governo anterior. As dificuldades de transporte da maioria estão na terra, nas estradas, nas rodoviárias. Isso vem de longos anos e não entrou na pesquisa. Somente 25,8% culparam o Governo Lula pela crise aérea.O Deputado Rodrigo Maia (Dem, ex-PFL) bem que tenta juntar esses 25,8% com os 15,1% que culparam os controladores mais os 9,9% que culparam a Aeronáutica mais os 9,3% que culparam a Infraero (o que daria 60,1%...) e dizer que é uma coisa só. Mas se ele conversar com o pai - que sabe de verdade que as coisas não são bem assim -, vai descobrir que as percepções são diferentes, não dá para botar tudo no mesmo saco, a não ser para tentar fazer política com apoio da mídia. Aliás, o próprio Cesar Maia, em seu Ex-Blog de hoje, já reduz para 45% (colocando os "controladores" como uma percepção à parte de "governo Lula"). Claro que é papel da oposição tentar ver o lado pior do Governo para mostrar que pode fazer melhor. Mas a oposição vai ter que fazer muito melhor do que o que está fazendo. Talvez deva seguir o exemplo de Serra que está escondido, calado, procurando fazer com que tudo passe em brancas nuvens... Ler também a coluna de Tereza Cruvinel, hoje no Globo.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Tereza Cruvinel fica indignada com Gabeira

A cronista do jornal O Globo, Tereza Cruvinel, estava de férias e voltou hoje com a corda toda. Sua análise sobre as eleições no Congresso estão bem feitas (coisa cada vez mais rara na grande imprensa) e mostram que ela estava de férias, mas estava conectada. Fala uma coisa que eu só tinha visto escrito neste Blog: o Governo Lula ganha tanto com a vitória de Aldo quanto com a vitória de Chinaglia. Ela tende a acreditar que o PSDB votará com a chapa liderada pelo PT e lembra um dado importante:a vitória no primeiro turno da Câmra não se dará necessariamente por 257 votos (maioria simples dos 513 deputados). Para ganhar, "basta a metade mais um dos votantes, desde que a maioria vote. Uma forte abstinência dos novos, por exemplo, pode influir muito no resultado". Mas Tereza Cruvinel mostrou que estava realmente conectada ao comentar uma declaração do Deputado Federal Fernando Gabeira (PV-RJ), nome que ganhou luzes recentemente por ter enfrentado Severino Cavalcanti (que ele tinha ajudado a eleger) e por ter assumido o que seria uma postura "ética". Gabeira, que no passado destacou-se por posições, digamos, mais libertárias, declarou que "a noite de Brasília é infestada por deputados, lobistas e prostitutas". Tereza Cruvinel, com a nota "Fala fácil", chamou a atenção do Deputado "ético-libertário". Disse ela: "Vinda de quem vem, a frase choca por sua carga de preconceito e generalização, que ofende todos os que freqüentam a noite na capital. Em relação às prostitutas, soa estranhíssimo porque Gabeira é também autor do polêmico projeto que regulamenta essa antiga e deprimente atividade, o que para muitos pode servir de estímulo à sua expansão. Para quem acaba de submeter-se a uma nova eleição, colhendo grande êxito, é também estranha a estigmatização da figura do deputado, como se a função tornasse desprezíveis todos os que a exercem. Já os lobistas, existem em Brasília e em qualquer outra arena de poder. Estamos mesmo no tempo do sucesso pela palavra fácil".