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segunda-feira, 27 de maio de 2013

César Maia e o boato do Bolsa Família



Muito bom o texto de César Maia no seu Ex-Blog de hoje sobre o Boato do Bolsa Família. Como bom tardeano, ele fala com propriedade do fluxo que nessa semana passada apavorou a população beneficiária desse importante programa social. Só não concordo muito quando ele diz que esse "é um caso que mostra que aqueles que imaginavam que a mobilização via redes (indignados...) era uma exclusividade da classe média veem agora que não". Acho que ele esqueceu da campanha da Marina em 2010, que deu um show de Orkut com grande sucesso na classe C, basicamente entre os evangélicos. Diz Caio Túlio Costa em seu artigo O Papel da Internet na Conquista dos Votos de Marina Silva: "a atuação de Marina Silva na internet representou o maior diferencial na campanha presidencial". Mais adiante: "Examinando melhor essa audiência, percebia-se que o Orkut tinha uma grande quantidade de integrantes da chamada classe C – emergente – muito maior que qualquer outra rede social. Marina Silva sempre apostou muito na comunidade evangélica, da qual faz parte. Definiu-se então que o Orkut seria usado para levar a mensagem da candidata aos evangélicos. A principal comunidade de Marina Silva no Orkut registrou 58.859 integrantes até setembro. Se multiplicarmos por 231, que é a quantidade média de amigos que os brasileiros têm no Orkut, isso dá 13,6 milhões de pessoas".
Veja o texto de César Maia.

BRASIL: O PRIMEIRO CASO DE FORTE MULTIPLICADOR E MOBILIZAÇÃO PELAS REDES SOCIAIS!

1. O pânico e a mobilização relativos ao caso Bolsa Família/CEF, além de serem investigados pela Polícia Federal, para identificar eventual promotor, devem estimular pesquisadores de opinião pública a estudar o processo que levou a mensagens –provavelmente deflagradas para smartphones- terem produzido essa enorme mobilização.
2. Se foi assim, esse é o primeiro caso no Brasil de um multiplicador via redes sociais ter produzido tamanho efeito. Um caso novo (talvez no mundo), pois o público atingido de baixa renda não é o característico das redes sociais. Em outros casos, como na África do Norte, na Europa e EUA, a dinâmica desses processos se deu em torno da classe média.
3. O fato de a CEF ter liberado pagamento de bolsa família de dois meses, com um mês adiantado, certamente deu credibilidade à onda que veio logo em seguida, pois mudou a regra do jogo. Dessa forma, se teve dois tipos de multiplicador: um vertical e outro horizontal. O vertical seria a distribuição de mensagens a partir de pontos via –imagina-se- telemarketing. Provavelmente esta distribuição só ocorreu porque teve como lastro o adiantamento pela CEF no dia anterior, dando credibilidade ao início da onda.
4. O multiplicador horizontal é o que deve despertar o maior foco dos pesquisadores. Uma vez deflagrado o processo verticalmente –e dado que o uso de smartphones, incluindo, claro, os celulares mais simples, que são de uso generalizado no Brasil- os pontos alcançados se encarregaram de multiplicar solidariamente para seus pares cadastrados no bolsa-família. Como o bolsa-família tem concentração espacial entre comunidades de baixa renda, da mesma forma, o boca a boca, aumentou o multiplicador.
5. O notável é o fato da onda, via redes, ter chegado em 24 horas a 13 Estados e centenas e centenas de municípios, sem quaisquer proximidades com as fontes de deflagração, e atingido à população de baixa renda. Esse é um caso que mostra que aqueles que imaginavam que a mobilização via redes (indignados...) era uma exclusividade da classe média veem agora que não.
6. Claro que os assuntos deflagradores podem não ser os mesmos, mas o meio sim. Em nível político essa é uma informação importante. Os setores de baixa renda são também alcançáveis pelas redes sociais, só que por assuntos específicos e meios de amplo uso.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Boato, uma ciência política



No livro “Política é Ciência”, de César Maia, podemos ler esse seu depoimento sobre um diálogo com seu assessor durante a campanha de 96, quando ele apoiava Conde contra Sérgio Cabral para Prefeito do Rio: “Pega o celular, liga para o fulano, manda colocar umas 150 pessoas em botequins tomando cafezinho e dizendo: ‘Eu soube que o Sérgio Cabral vai renunciar. Diz esta frase que é boa’. Dali a três dias alguém veio me dizer: ‘O Serginho vai renunciar...’” Em seguida o jornalista Luís Erlanger comenta: “É o princípio do boato”. E César acrescenta: “Os fluxos tardeanos não são nada mais do que o boato ou a verdade. Vai contaminando”. O rodapé do livro, que foi lançado em 98, faz questão de explicar: “Fluxo tardeano é um conceito sobre a formação da opinião pública, desenvolvido pelo filósofo francês Gabriel Tarde, no início do século”.
Isso tudo é verdade. Esses fluxos de que tanto fala César Maia fazem parte da vida política, sejam boateiros ou verdadeiros. Por isso, não me venha a oposição fazer ar de surpresa ou de indignação, porque esse boato recente envolvendo o Programa Bolsa Família é obviamente uma peça oposicionista, mesmo que tenha surgido espontaneamente (coisa que duvido muito). Por isso, acredito que a Maria do Rosário tenha agido com precisão ao denunciar esse “partido”, o CNO, que tem atuado com força nos períodos pré-eleitorais. O CNO (Central de Notícias da Oposição) é o “partido” que mais cresce nesse período e é importante que se esteja atento contra suas investidas. Chiliques à parte, infelizmente é assim que a coisa funciona. Cientificamente...

domingo, 18 de abril de 2010

Eleições 2010: pesquisa sem margem de erro

(clique para ampliar)

O diálogo acima faz parte da boa reportagem, "Progresso varia entre os pobres do Nordeste", do enviado especial da Folha a Pernambuco, Fernando Canzian. Às vezes parece que há intenção de desqualificar o Bolsa-Família por não ter atingido 100% do seu objetivo na educação, mas acaba mostrando que de um modo ou de outro é um programa fundamental para o povo mais pobre. E reflete muito bem as razões do favoritismo da candidatura apoiada por Lula. Essa "pesquisa" in loco não se abala com jogos de amostragem ou alteração de cenário, aqui a margem de erro é zero. E é por essas e outras que os institutos de pesquisa não gostam de testar a transferência de voto de Lula para Dilma, associando os dois nomes no questionário. Vejam o texto completo:

Progresso varia entre os pobres do Nordeste 
A família de Sueli Dumont é beneficiária do Bolsa Família desde 2005, quando a reportagem da Folha passou a acompanhar todos os anos algumas das famílias atendidas pelo programa no Nordeste.
Em 2005, o núcleo familiar dos Dumont era composto de 10 pessoas. Em 2008, passou a 13. Na última visita, no início deste mês, eram 17.
Todos vivem em uma favela, o Suvaco da Cobra, na periferia de Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife. Uma semana antes da visita da Folha, houve três assassinatos no local.
Há poucos anos, as quatro filhas maiores de Sueli (Kássia, Késsia, Rafaela e Priscila) garantiam, na adolescência e durante a idade escolar, o recebimento do benefício pela mãe.
Ainda adolescentes, engravidaram. As quatro têm juntas hoje sete filhos. Antes de se tornarem mães, receberam dinheiro federal para participar do programa Agente Jovem.
Fizeram cursos de bordado e cabeleireira. Hoje, nenhuma delas trabalha. Mas três das quatro já passaram a receber R$ 90 cada do Bolsa Família.
A própria matriarca Sueli ainda é beneficiária. Aos 37 anos, tem quatro filhos com idades entre cinco e 15 anos. Diz receber R$ 134 por mês.
No clã dos Dumont, apenas o marido de Sueli trabalha com alguma frequência, como carroceiro. Sueli trabalhava sem registro em um lixão. Teve de parar por causa de uma incômoda doença de pele que faz partes do corpo "descascar".
No dia a dia, os Dumont vivem amontoados em três barracos. Em 2005 era uma moradia, em um terreno mínimo. Com o aumento da família, ficou tudo mais apertado.
"Tem hora que gostaria de estar morando no meio do mato, só com bicho em volta, em silêncio", queixa-se Sueli.
A poucos metros da casa de Sueli, uma experiência um tanto mais bem sucedida, até aqui.
A família de Pedro Silva e Micinéia Santos, com três filhos, avança devagar, mas de forma consistente. Luan, 11 e Alan, 10, estão na escola desde que a Folha passou a visitá-los nos últimos anos. A pequena Vanessa, 8, entrou mais recentemente.
A cada visita, a reportagem fez um ditado para as crianças e pediu para que lessem um texto. O progresso foi grande, assim como tem sido, desde o início, a atenção dos pais com a escola (que a Folha conheceu).
A maior parte das visitas ao Suvaco da Cobra ocorreu pouco antes das crianças irem para a aula. É a mãe quem supervisiona o banho, o almoço e quem as leva ao colégio. Mas é Pedro, 60, quem normalmente cobra a lição e os estudos.
Micinéia também é beneficiária do Bolsa Família (R$ 134 ao mês) por conta das crianças. Mas, finalmente, depois de anos solicitando uma pensão por invalidez, Pedro (que teve o braço direito praticamente inutilizado em um acidente) agora recebe um salário mínimo por mês do INSS.
Ele diz que ainda "não gravou" o nome dos candidatos à sucessão. Mas também achava que Lula poderia ser candidato. "Meu candidato será o do governo", diz.
Cerca de 14% dos eleitores, a maioria no Nordeste, segundo o Datafolha, dizem querer votar em alguém apoiado por Lula, mas ainda não sabem que Dilma é candidata.

Metas do programa
Para Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda e Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, vários aspectos do Bolsa Família têm sido "incrementados" nos últimos anos.
Mas ela admite que "os avanços não são suficientes" no programa, que saltou de um atendimento de 3,6 milhões de famílias em 2003 para 12,3 milhões no final de 2009.
Uma das principais metas do Bolsa Família é atingir 100% no monitoramento da frequência escolar e nos postos de saúde entre os beneficiários.
Há ainda a meta de ampliar o programa Próximo Passo, para capacitação profissional de jovens. Lúcia admite que, em muitos casos, o Agente Jovem acabou funcionando mais como "terapia ocupacional" do que como treinamento.
"Mas o Bolsa Família tem, indiscutivelmente, um poderoso impacto sobre a pobreza extrema", diz.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Até Cesar Maia critica oportunismo de Tasso Jereissati com Bolsa Família


O Globo, claro, a serviço da Oposição (ou será o contrário?), colocou na sua manchetona que "PSDB amplia Bolsa Família e líder do governo é contra". Refere-se a um projeto do tucano Tasso Jereissati vinculando a Bolsa Família ao bom desempenho das crianças na escola, que foi aprovado ontem na Comissão de Educação do Senado e seguirá diretamente para a Câmara. Trata-se obviamente de uma jogada eleitoreira, mal feita, típica dos desesperados, dispostos a qualquer barbaridade para impedir o crescimento de Dilma. Mas o troço é tão absurdo que dessa vez até Cesar Maia se alinhou com o governo. Veja seu texto no Ex-Blog de hoje:
SENADOR TASSO JEREISSATI:  ISSO NÃO É FUNÇÃO DA BOLSA FAMÍLIA! E É UM EQUÍVOCO CONCEITUAL!
1. O Bolsa Família é um programa de renda mínima com vinculações a obrigações sociais em relação ao filho estar na escola, ser vacinado, etc. Dirige-se a famílias abaixo da linha de pobreza e em especial a nível de indigência. São famílias, em geral, dirigidas pela mulher, com vários filhos. A vinculação à escola é um elemento que ajuda a reduzir a evasão, permite que dentro da escola, a criança identificada no cadastro tenha uma atenção focalizada da direção da escola e sua professora.
2. Vincular valores de Bolsa Família ao aproveitamento do aluno na escola, suas notas e avaliações, é um grave equívoco conceitual. Essa é tarefa da escola que em programas dos estados e municípios e com apoio federal, podem criar estímulos que reconheçam o desempenho do aluno. Incluir isso no Bolsa Família é confundir assistência social com educação. E ainda criar insegurança em relação ao programa. Não ajuda seu candidato a presidente.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Guerra total! Decretado o fim do noticiário!

"O grande triunfo do adversário é fazer-nos crer o que diz de nós." Paul Valéry
(Peguei essa frase acima do twitter MagazineBrasil)
A mídia entrou com força total na campanha eleitoral 2010. Não existe mais busca da verdade, tentativa de imparcialidade, um mínimo de objetividade, praticamente não existe mais notícia. Jornalismo investigativo acabou. Aquelas velhas perguntas do o que, quem, onde, como, quando e por que agora têm resposta única: Lula e o PT são culpados - não se sabe por que nem de quê. O objetivo é tenta derrotar Lula em 2010 para colocar de volta os de sempre no poder. Ainda assim, apesar de todo esse esforço concentrado, parece muito difícil a Oposição vencer as eleições de 2010. A marca Lula, apoiada nos ganhos sociais e econômicos, Bolsa Família, PAC, retomada do desenvolvimento, destaque no cenário internacional, educação, superação da crise, etc, etc, etc, tudo isso me parece imbatível. Eles não conseguirão fazer o Brasil crer que o certo é tudo o contrário. Nem mesmo com a ajuda da Blackwater (agora disfarçada de Xe...) Oposição e Mídia conseguirão vencer essa guerra.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Oposição tem medo de Família, mas quer ser o pai da criança

A Oposição chegou à conclusão óbvia de que não adianta lutar contra o Bolsa Família do Governo Lula. E agora tenta dizer que que foi ela a mãe (ou pai) da criança. Notamos isso ou através dos vários discursos em que os seus representantes afirmam com todas as letras que o Bolsa Família nasceu no Governo Fernando Henrique, ou de forma sub-reptícia, com um pretenso distanciamento científico ou suprapartidário, como faz no seu artigo publicado hoje ("Muito além do Bolsa Família") o Deputado Rodrigo Maia (DEM). Ele começa lamentamdo "desapontar, com uma só cajadada, o triunfalismo governista, autossuficiente e mesquinho, e o radicalismo oposicionista, conservador e desconfiado". Depois diz que "estrategicamente, este é o momento dos brasileiros superarem qualquer tipo de oportunismo político-partidário e assumirem como conquistas coletivas os avanços de promoção social realizados até agora por diferentes governos, politicamente antípodas". Mais adiante, nessa busca insana de tentar esvaziar o Bolsa Família do Governo Lula, escorrega ao afirmar que "o fato marcante, datado de 1993, foi a adoção no país do conceito 'Proteções Sociais' que estabeleceu uma ordem consequente de iniciativas que contiveram os arroubos de 'queimar etapas' e deu sentido de acumulação à sequência de avanços". Esqueceu de falar que as primeiras idéias de Programas de Garantia de Renda Mínima surgiram entre pensadores liberais do século XVIII e que países europeus desenvolvidos já adotam essa idéia desde a década de 30 do século passado. Mas "esqueceu" principalmente que - surpresa! - em 1991, o Senado brasileiro aprovou, por unanimidade, o projeto de lei do Programa de Garantia de Renda Mínima apresentado pelo senador Eduardo Suplicy, do PT. Além das conquistas sociais da Constituição de 88, é esse o fato marcante nas políticas de renda mínina no Brasil. Mas algo curioso, descrito em 1999 no artigo "Pobreza - Bolsa-Escola: Uma política pública de renda mínima e educacional", pelo sociólogo e mestre em Ciências Políticas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Silvio Caccia Bava, que, entre outros, tem o título de Consultor do Programa de Gestão Urbana - PGU para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD, deixa a Oposição em maus lençóis com essa tentativa de paternidade indevida: "Este projeto", diz Silvio Caccia Bava, "embora aprovado no Senado, fica 'congelado' por mais de 6 anos na Câmara dos Deputados por força da maioria governista que bloqueia sua aprovação". Ele continua dizendo que a partir de inúmeras iniciativas parlamentares, nos âmbitos federal, estadual e municipal, "colocou o governo federal em posição muito incômoda por manter paralisado o PGRM do senador Suplicy e um substitutivo apresentado pelo deputado Nelson Marchesan é aprovado com uma rapidez fulminante no final de 1997 e sancionado imediatamente pelo Presidente da República. O que se lamenta é o caráter extremamente restritivo dos critérios de acesso ao programa e a falta de recursos orçamentários para sua implementação. Técnicos do governo identificam os beneficiários deste PGRM como 'um conjunto vazio', uma vez que os municípios mais pobres não terão recursos próprios para complementar os recursos federais, condição para o repasse federal". O que tem a dizer sobre isso a nossa Oposição? Graças a ter levantado a bandeira contra o Bolsa Família no passado, só lhe resta manter-se no MSBP - Movimento dos Sem Bandeira Política... (Ver também "Programas de Garantia de Renda Mínima: Perspectivas Brasileiras", de Lena Lavinas)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bolsa Família e a crise

A mídia procurou atacar a decisão do Governo de ampliar o Bolsa Família como sendo uma decisão contraditória. "Lula amplia Bolsa Família um dia após cortar o Orçamento", diz a manchete do Globo de hoje. Não há contradição. Bloqueio provisório do orçamento e ampliação do Bolsa Família, ambos foram determinados pela chamada crise financeira global. A ampliação do Bolsa Família é um dos principais instrumentos de combate à crise que o Governo tem. Na passagem de 2003 para 2004, escrevi, em um trabalho de marketing para uma rede de varejo, o que se devia esperar para o ano que começava: "Todos esperam queda dos juros, recuperação econômica do país e forte investimento do Governo na área social. Isso significa mais emprego, maior poder aquisitivo da população e maior inserção da população mais pobre na faixa de consumo". Essa foi uma das chaves do sucesso da política econômica do Governo Lula. E é aí que está chave para abrir a porta da esperança (com perdão do pieguismo) nos próximos meses. Investimento em infraestrutura, fortalecimento das políticas sociais, ampliação do mercado interno – esse é o segredo. O resto é desespero oposicionista.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

César Maia demonstrou, ontem, porque Lula bateu recorde de aprovação no Datafolha de hoje.

No seu Ex-Blog de ontem, César Maia citou uma pesquisa do Instituto GPP no Rio onde foi feita a seguinte pergunta:
Com essa crise e perspectiva de aumento da inflação e desemprego, você acha melhor – votar num candidato do Governo Federal, votar num candidato da Oposição, ou não sabe o que dizer?
O resultado foi:
  • Votar num candidato do Governo Federal – 40,5%
  • Votar num candidato da Oposição – 32,3%
  • Não sabe – 27,2%.
A conclusão é óbvia. Os governos anteriores ao de Lula estão todos associados a “oposição”. E todos estão associados também a péssimas administrações, desde Sarney até Fernando Henrique. Assim, diante da necessidade de se escolher um governo com capacidade de enfrentar os problemas gerados pela crise internacional, qual a opção lógica: governos associados ao fracasso ou um governo que está fazendo tudo certo até agora? O governo do desastrado Plano Cruzado ou o governo com desenvolvimento consistente? O governo da falsa caça aos marajás ou o governo da Polícia Federal? O governo do fusquinha ou o governo do Bolsa Família? O governo de quem acabou com a inflação – mas que praticamente faliu o Brasil e aumentou o desemprego – ou o governo da estabilidade econômica e social, dos novos empregos, do crescimento acelerado, que fala a linguagem do povo e ainda assim soube conquistar o respeito internacional? Lamento informar, mas o Governo Lula é a resposta natural. E nessa pesquisa do GPP a Oposição só teve índice tão alto porque o povo sabe que Lula não é candidato – mas já deixa claro que prefere um candidato indicado por ele. Assim, é incompreensível a irritação de César Maia, no seu Ex-Blog de hoje, diante dos 70% de Ótimo+Bom que o Governo Lula conquistou no Datafolha (vale lembrar que no Nordeste, que tem cerca de 27% do eleitorado, o índice atingiu 81% - clique no gráfico acima para ampliar). Não adianta acusar de populismo ou dizer que Lula, diante da crise mundial, “mantém uma coreografia glacial e mistura má fé, ao criar otimismo com ilusão da boa fé da população”. A constatação de que o governo está fazendo a coisa certa vem de todas as partes do mundo. Agora mesmo a Reuters distribui notícia de que estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sinalizou forte desaceleração das economias globais por conta da crise financeira, e o Brasil foi único país que teve a sua perspectiva de ciclo de crescimento apresentada apenas como "declínio". Será que isso não basta? Até quando a Oposição vai ficar sem se encontrar, batendo cabeça, tentando descobrir uma falha mínima de Lula para tentar conquistar um pouco do eleitorado? Cadê o marketing correto? Está difícil, Oposição, cada vez mais difícil...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Política social tem hora?

Ainda no começo do primeiro mandato de Lula, uma amiga, muito querida, me falou de sua decepção com o governo, achando que o PT era muito complicado, fazia tudo errado. Respondi que concordava que o PT era bem confuso, estava um pouco batendo cabeça. Mas achava isso natural. Para mim, o mais importante era a prioridade que se estava dando à política social. E isso era uma coisa pra valer, não era apenas um slogan ("Tudo pelo social"), como acontecia no Governo Sarney. Era isso que podia reduzir a pobreza, inserir mais consumidores no mercado, dar um dinamismo de novo tipo à economia. Ela ouviu calada, meio desconfiada, mas tenho certeza que hoje ela reconhece o que falei. Lembrei desse acontecimento hoje, lendo esse bom artigo ("A hora e a vez das políticas sociais") de Lena Lavinas e João Sicsú, publicado no Valor Econômico do dia 13, mostrando a grande importância das políticas sociais nesse quadro crítico mundial - que reproduzo abaixo:
A hora e a vez das políticas sociais
Os governos enfrentam e enfrentaram as crises e as dificuldades das instituições financeiras se utilizando de diversos instrumentos. Até o momento, foram bem sucedidos. Os keynesianos aplaudiram as políticas de resgate das instituições e o enfrentamento das dificuldades no âmbito da economia financeira porque sabem da necessidade do sistema financeiro para que haja um bom funcionamento do sistema produtivo. Keynesianos sabem que o sistema financeiro não produz um prego sequer, mas sabem que sem ele nem sequer um prego será produzido. Muitos, entretanto, aplaudiram os governos simplesmente porque ganham quando o setor público privatiza seus ativos ou quando estatiza as dívidas privadas.
O mundo encontra-se numa segunda fase da crise. A crise saiu do âmbito da economia financeira. Já contaminou decisões empresariais de investimento e decisões de gasto por parte dos trabalhadores. O risco é que haja uma parada súbita de fluxos monetários e reais. A política fiscal de gastos deve ser utilizada como estabilizadora da trajetória de crescimento econômico. Quando o setor privado está gastando de forma intensa, o setor público deve reduzir os seus gastos. Quando o setor privado ameaça estancar o seu fluxo de gastos, o setor público deve elevar os seus gastos. Essa formula é velha. Foi ensinada pelo economista que virou fashion: J. M. Keynes. Mas a fórmula keynesiana não se restringe a realizar ou cortar gastos públicos.
A fórmula relaciona quantidade à qualidade do gasto. Terá maior qualidade aquele gasto que tem o maior efeito multiplicador na economia. É considerado um gasto de baixa qualidade aquele gasto que se transforma em renda daqueles que não têm uma alta propensão a gastar aquilo que recebem, porque tem um baixo multiplicador. O investimento em obras públicas contrata vastos contingentes (elevada quantidade) de trabalhadores que gastam tudo o que recebem (alta qualidade). As políticas sociais para Keynes não são políticas que deveriam estar relacionadas com os ciclos econômicos. Elas deveriam estar relacionadas com o objetivo de redução plena das vulnerabilidades sociais.
Entretanto, dadas as evidentes vulnerabilidades da grande parte da população brasileira, a ampliação da cobertura dos programas sociais, assim como o aumento real dos benefícios previdenciários e sociais, cujo valor do salário mínimo é parte integrante, tornam-se nesse momento uma política fiscal de gastos anti-cíclica. Em outras palavras, políticas sociais são indissociáveis de um projeto de desenvolvimento de longo prazo. Contudo, hoje no Brasil, frente à ameaça de uma crise de parada brusca dos fluxos monetários e reais, o aprofundamento das políticas sociais cumprirá o objetivo macroeconômico de curto prazo de auxiliar a manutenção da rota de crescimento, tal como a política de investimentos públicos do PAC. Políticas sociais realizam gastos em volumes consideráveis e realizam um gasto de alta qualidade.
Para evidenciar tal assertiva, simulamos duas dinâmicas diferenciadas de evolução do valor dos rendimentos do trabalho, aposentadorias e pensões e também benefícios assistenciais, a partir dos dados da Pnad 2007. Na primeira simulação, limitamo-nos a um reajuste linear de 12,3% para todos esses rendimentos, índice obtido tomando-se o INPC acumulado no período outubro de 2007 a outubro de 2008, e a inflação futura estimada para 2009 (4,5%). A segunda simulação envolveu variações distintas para cada tipo de rendimento, levando em consideração a proposta do governo de elevar para R$ 464,78 o valor do salário mínimo em fevereiro de 2009, bem como a recente decisão da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado que, ao aprovar substitutivo ao Projeto de Lei n. 58/03, concede às aposentadorias e pensões até o teto previdenciário, reajuste igual ao do salário mínimo.
Assim, corrigimos esses benefícios previdenciários em 17%, combinando o reajuste de 5% de 2008 e o previsto em 2009 para o salário mínimo, acompanhando a decisão da CAS. Demais valores de remuneração do trabalho - diferentes de um salário mínimo - foram reajustados em 14,8% (além de incorporar a inflação acumulada e a prevista, considerou 1,5% de aumento real médio dos salários observado em 2008 e mais 1% para 2009). Os benefícios assistenciais foram corrigidos pelo índice de 12,3%. Porém, dada a importância do crescimento econômico na geração de novos postos de trabalho, estimamos, com base na variação do PIB para 2008 e 2009, a criação de 10,2 milhões de empregos. Destes, perto de 55% seriam formais, com remuneração pelo piso salarial (projeção conservadora posto que 92,1% dos empregos criados no decorrer deste ano estão na faixa de até 3 salários mínimos), enquanto os informais receberiam o valor médio observado em 2007, mas atualizado para 2009, pelo INPC. Na simulação 2, estes empregos foram distribuídos aleatoriamente centenas de vezes entre os desocupados e os trabalhadores precários, até obtermos uma distribuição média.
O paralelo entre a simulação 1 e a simulação 2 demonstrou que preservar a trajetória de recuperação do mínimo e atualizar os benefícios assistenciais e previdenciários tem retornos significativos do ponto de vista do consumo agregado e do bem-estar da população, contribuindo para manter aquecida a atividade econômica. Assim, constatamos que a simulação 2 leva a um aumento importante da renda familiar per capita média nos décimos inferiores da distribuição, exatamente aqueles cuja propensão a consumir é elevadíssima. É factível considerar, apoiados em resultados da POF 2003, que até o sétimo décimo da distribuição tal propensão seja superior a 90%. Ou seja, 70% da população, cerca de 128,8 milhões de indivíduos, terão um aumento real médio de sua renda mensal per capita da ordem de 21%, que vai se transformar em mais consumo. Isso significa R$ 6 bilhões mensais a mais na economia real, ou R$ 72 bilhões ao longo do ano de 2009.
Não bastasse o multiplicador do consumo ser ampliado, haveria uma forte redução da pobreza, pois o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha do Bolsa Família cairia de 17%, registrado na simulação 1, para 13,5%, resultado alcançado na simulação 2. São 5 milhões a menos de pobres.
Tudo isso é para agora, se for possível ao governo governar para superar a crise em prol do emprego e da atividade econômica. A hora das políticas sociais responsáveis, no seu escopo, escala e qualidade, é essa.
Lena Lavinas é professora associada do Instituto de Economia da UFRJ. João Sicsú é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea e professor do Instituto de Economia da UFRJ.
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domingo, 12 de agosto de 2007

Gabriel Tarde a serviço de Lula

Gabriel Tarde é o nome preferido de César Maia para tecer suas tramas políticas. É a partir do pensador francês que ele fala dos "fluxos de opinamentos" ou da teoria da "pedra no lago" anti-Lula. César Maia chega a parecer obsessivo nessa questão. De fato, ele procura municiar a mídia oposicionista com uma teoria bem montada. É a partir dessa mídia despreparada teoricamente - mas ávida de sangue - que César Maia vê a chance de contaminar o eleitorado brasileiro com um pensamento antilulista. Escreve ele: "Um fato forte funciona no Brasil como uma pedra que se joga na água de um lago onde os círculos concêntricos vão se abrindo, vão chegando às margens, ou seja, aos segmentos com menos informação. Nesta conjuntura - o efeito - o Rei Está Nu - foi precipitado pelas vaias do Maracanã no dia 13 de julho. Estas funcionaram como uma pedra jogada na água, no meio de um lago. O tamanho da pedra aumenta o diâmetro que se atinge. Mas sempre que se lançam outras pedras na direção das margens - nos 4 pontos cardeais que envolvem a canoa de onde foi lançada a primeira pedra - os círculos concêntricos são sustentáveis, recobram intensidade e garantidamente chegam às margens, ou seja, aos que têm menos informação. Esse processo no Brasil leva uns 90 dias. Mas se novas pedras não forem jogadas no lago os círculos vão se tornando mais tênues, com menor poder de contaminação da opinião pública de menor renda e menor escolaridade, que é exatamente o público alvo do governo". Foi a fórmula que ele encontrou para transpor o fato de que a base da sociedade não está iniciando um processo de contaminação anti-Lula. Escreve César: "Este Ex-Blog já comentou algumas vezes que a opinião pública se forma por contaminação e na base da sociedade. Esse processo é mais rápido quando toda a sociedade tem acesso a uma mesma informação publicada pela imprensa. No Brasil, em função dos níveis de renda e escolaridade o processo é mais lento". O problema é que as pedras da grande mídia não estão sendo fortes suficientes para contaminar a base negativamente. Há uma pedra mais forte lançada pela comunicação (com trocadilho) boca a boca. O Bolsa Família é mais forte do que a vaia ou do que a forçação da crise aérea. Junto com o Bolsa Família vem a redução da pobreza. Vem a educação. Vem a saúde. Vem a redução do desemprego. Vem a Carteira assinada. Vem o crédito. Aí, sim, podemos dizer, com toda propriedade, que "a opinião pública se forma por contaminação e na base da sociedade". São pedras mais fortes, mais variadas e melhor localizadas no "lago que formará a opinião pública". Além disso, a mídia que deveria ser fonte única de "pedras anti-Lula" é obrigada, mesmo a contragosto, a divulgar: previsão de crescimento do país acima de 5%; crescimento de 7% (sobre 2006) nas vendas do Dia do Pais (superior até ao último Dia das Mães); sucesso de Lula, do etanol e do bio-combustível no mundo inteiro; solidez da economia mesmo diante da revoada financeira mundial. É esse fluxo de opinamento que garante os altos índices de apoio a Lula, apesar das crises (algumas naturais, mas a maiotria fabricada), apesar do desespero da grande mídia e da Oposição. Eles têm dificuldade em aprender que os fluxos de opinamento não têm direção única. Que pode haver outros fluxos em direção oposta e com muito mais vigor. Mas nunca é Tarde para aprender...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O tico tico no fubá da mídia golpista, segundo o Blog do Mello

O Blog do Mello está apresentando uma versão do clássico "TicoTico no Fubá", de Zequinha de Abreu. Por enquanto ele apresentou apenas a letra. Promete uma versão com letra e música:
O Tico tico no fubá da mídia golpista (Zequinha de Abreu / Antonio Mello) Eu manipulo cá, eu manipulo lá Eu manipulo pro governo derrubar O Lula cai aqui, o Hugo Chávez lá E a minha grana corrigida vai voltar Aí omito aqui, aí aumento lá Distorço tudo pra melhor manipular O Lula cai aqui, o Hugo Chávez lá E essa raça vai voltar pro seu lugar Deus me defenda dos governos compañeros Estão querendo dividir o meu dinheiro Bolsa Família virou tudo de pernas pro ar O pobre já não reconhece o seu lugar Filho de pobre agora vive na escola E a Polícia Federal da minha cola não descola Sei que esse operário de gravata Acabou me transformando num burguês de passeata Eu manipulo cá, eu manipulo lá...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

De olho na pesquisa

Essa nova Pesquisa Sensus não trouxe surpresas. A não ser, talvez, para quem não viu o país nos últimos meses, ou não quis ver. Lula teve uma reeleição com votação fabulosa. Conseguiu montar um segundo mandato com uma coalizão de ampla maioria no Congresso. Os números da economia são extremamente favoráveis, com controle da inflação, queda dos juros, crescimento do PIB, mais empregos, aumento do salário mínimo, etc. Há outros fatores favoráveis, como o cenário mundial, a visita de Bush, o biocombustível, o papel de liderança regional do país, a boa inserção de Lula nos meios políticos internacionais. Nem mesmo o fato de a aprovação do Governo ter atingido (49,5%) seu ponto mais alto desde agosto de 2003 pode ser considerado surpresa. Pode ser que haja espanto com uma aprovação tão alta, já que as pessoas, na maioria, nem ouviram falar (só 32,2% ouviram falar) do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, marca do segundo mandato. Vamos analisar em termos de percepção: assim como o Bolsa-Família está mais associado a "povão" e "Nordeste", o PAC está mais associado a "empresariado", "classe média", "Sul-Sudeste". É algo novo, ainda não claramente percebido e desnecessário para a maioria que está aprovando Lula. E o "apagão aéreo", será que não influenciou negativamente? Para desespero da oposição, não. Não dá para comparar (embora tenham tentado) com o "apagão real", na energia elétrica, de Fernando Henrique. A massa ouviu falar do problema aéreo (82%), mas não sentiu na pele, como aconteceu no Governo anterior. As dificuldades de transporte da maioria estão na terra, nas estradas, nas rodoviárias. Isso vem de longos anos e não entrou na pesquisa. Somente 25,8% culparam o Governo Lula pela crise aérea.O Deputado Rodrigo Maia (Dem, ex-PFL) bem que tenta juntar esses 25,8% com os 15,1% que culparam os controladores mais os 9,9% que culparam a Aeronáutica mais os 9,3% que culparam a Infraero (o que daria 60,1%...) e dizer que é uma coisa só. Mas se ele conversar com o pai - que sabe de verdade que as coisas não são bem assim -, vai descobrir que as percepções são diferentes, não dá para botar tudo no mesmo saco, a não ser para tentar fazer política com apoio da mídia. Aliás, o próprio Cesar Maia, em seu Ex-Blog de hoje, já reduz para 45% (colocando os "controladores" como uma percepção à parte de "governo Lula"). Claro que é papel da oposição tentar ver o lado pior do Governo para mostrar que pode fazer melhor. Mas a oposição vai ter que fazer muito melhor do que o que está fazendo. Talvez deva seguir o exemplo de Serra que está escondido, calado, procurando fazer com que tudo passe em brancas nuvens... Ler também a coluna de Tereza Cruvinel, hoje no Globo.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

O Globo finalmente descobriu o Bolsa Família em Nova York

Em outubro do ano passado, o colunista Bob Herbert, do New York Times (para assinante do Times Select), anunciou o programa social do prefeito novaiorquino Michael Bloomberg inspirado no Bolsa Família. O Blog de Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada) noticiou e este Blog também (Nova Tork adota o Bolsa-Família). Claro que O Globo e outros jornais também poderiam ter noticiado. Não vi. Na época, estávamos indo para o 2º turno e evidentemente a mídia não estava interessada em qualquer notícia que pudesse favorecer o Governo Lula. Só tinha olhos para o Dossiê Serra e a fotos dos dólares. Hoje, seis meses depois, a correspondente do Globo, Marília Martins, deu a notícia. Nunca é tarde para noticiar o que é bom...

sexta-feira, 23 de março de 2007

Mas era só o que faltava: Cora Rónai chama 90 reais de esmola!

De todas as bobagens sobre menor infrator de que tomei conhecimento ultimamente — e que não foram poucas — nada barra o texto da senhora Cora Rónai “Mas era só o que faltava: a Bolsa Bandido!” publicado no Globo de ontem. O texto critica a proposta do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através de sua Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, de procurar apoiar as famílias dos menores infratores com uma Bolsa Família (que geralmente varia entre 65 e 90 reais mensais). Quando li sobre essa proposta, pensei logo: “A classe média conservadora vai associar isso a apoio ao crime”. Não deu outra, e o texto da senhora Cora Rónai sintetiza muito bem esse conservadorismo. Ela escreve: “A idéia seria, se bem entendi, ‘reconstruir os laços familiares para reintegrar os menores à sociedade’ — como se a desintegração familiar fosse única e exclusivamente uma questão financeira, e como se todos os menores infratores fossem filhos de chocadeira”. Onde foi dito que a razão é “única e exclusivamente uma questão financeira”? Claro que não é, mas em uma sociedade miserável como a nossa isso tem um peso enorme. Por outro lado, parece que a senhora Cora Rónai não sabe exatamente o que é isso quando trata R$ 90 mensais como esmola (“Imaginar que uma esmola entre R$ 15 e R$ 90 mensais possa tirar um menor (de 1m80) do crime é não ter a mais pálida noção da vida aqui fora”). Com 90 reais, minha senhora, uma família miserável faz compras do mês, faz crediário do colchão que nunca teve, tira o filho da rua... Tudo bem, a senhora pode dizer que não faz sentido, porque o menor (de 1m80...) está recolhido por ter cometido infração e, portanto, não está na rua. Mas, minha senhora, e os outros menores (de 1m80...) da família? Vão continuar em risco e – quem sabe – colocando em risco a vida dos outros? Além disso, mais do que nunca, o menor (de 1m80...) infrator precisa do apoio familiar. Precisa sentir uma família forte e minimamente reconstruída, precisa saber que o mundo é muito mais do que um “Padre Severino”. A senhora sabe, por exemplo, que muitos desses menores (de 1m80...) pedem para que suas mães e irmãs não os visitem para evitar a humilhação da revista da entrada? A senhora já viu, pelo menos em foto, como infelizmente essas revistas são feitas? Existem menores (de 1m80...) infratores que podem ser recuperados, sim. E o Estado tem o dever de tentar isso através de apoio às famílias, educação e saúde (tanto quanto tem o dever de levar apoio às famílias das vítimas). O que o Estado não pode é manter esses menores (de 1m80...) e sua famílias em situação ainda mais miserável do que a que se encontravam antes, como costuma acontecer. Se o Estado não faz nada, acaba entregando a sociedade ao populismo desenfreado, que perpetua a miséria. É isso que se quer? Noto que a senhora continua com a associação simplista de “maioridade penal” com “maioridade eleitoral”, mas já evoluiu para perceber diferenças nos tipos de “crimes”. A senhora pode evoluir ainda muito mais, e até ajudar a conquistarmos uma política que traga mais segurança para as ruas, uma política de recuperação dos menores infratores - que é possível e desejável. Como aconteceu recentemente, no Rio de Janeiro, onde uma menor (de 1m80?) infratora, apesar das condições miseráveis de sua retenção, conseguiu estudar e passar no vestibular de Direito. Vale ou não vale a pena, senhora Cora Rónai?