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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Política social tem hora?

Ainda no começo do primeiro mandato de Lula, uma amiga, muito querida, me falou de sua decepção com o governo, achando que o PT era muito complicado, fazia tudo errado. Respondi que concordava que o PT era bem confuso, estava um pouco batendo cabeça. Mas achava isso natural. Para mim, o mais importante era a prioridade que se estava dando à política social. E isso era uma coisa pra valer, não era apenas um slogan ("Tudo pelo social"), como acontecia no Governo Sarney. Era isso que podia reduzir a pobreza, inserir mais consumidores no mercado, dar um dinamismo de novo tipo à economia. Ela ouviu calada, meio desconfiada, mas tenho certeza que hoje ela reconhece o que falei. Lembrei desse acontecimento hoje, lendo esse bom artigo ("A hora e a vez das políticas sociais") de Lena Lavinas e João Sicsú, publicado no Valor Econômico do dia 13, mostrando a grande importância das políticas sociais nesse quadro crítico mundial - que reproduzo abaixo:
A hora e a vez das políticas sociais
Os governos enfrentam e enfrentaram as crises e as dificuldades das instituições financeiras se utilizando de diversos instrumentos. Até o momento, foram bem sucedidos. Os keynesianos aplaudiram as políticas de resgate das instituições e o enfrentamento das dificuldades no âmbito da economia financeira porque sabem da necessidade do sistema financeiro para que haja um bom funcionamento do sistema produtivo. Keynesianos sabem que o sistema financeiro não produz um prego sequer, mas sabem que sem ele nem sequer um prego será produzido. Muitos, entretanto, aplaudiram os governos simplesmente porque ganham quando o setor público privatiza seus ativos ou quando estatiza as dívidas privadas.
O mundo encontra-se numa segunda fase da crise. A crise saiu do âmbito da economia financeira. Já contaminou decisões empresariais de investimento e decisões de gasto por parte dos trabalhadores. O risco é que haja uma parada súbita de fluxos monetários e reais. A política fiscal de gastos deve ser utilizada como estabilizadora da trajetória de crescimento econômico. Quando o setor privado está gastando de forma intensa, o setor público deve reduzir os seus gastos. Quando o setor privado ameaça estancar o seu fluxo de gastos, o setor público deve elevar os seus gastos. Essa formula é velha. Foi ensinada pelo economista que virou fashion: J. M. Keynes. Mas a fórmula keynesiana não se restringe a realizar ou cortar gastos públicos.
A fórmula relaciona quantidade à qualidade do gasto. Terá maior qualidade aquele gasto que tem o maior efeito multiplicador na economia. É considerado um gasto de baixa qualidade aquele gasto que se transforma em renda daqueles que não têm uma alta propensão a gastar aquilo que recebem, porque tem um baixo multiplicador. O investimento em obras públicas contrata vastos contingentes (elevada quantidade) de trabalhadores que gastam tudo o que recebem (alta qualidade). As políticas sociais para Keynes não são políticas que deveriam estar relacionadas com os ciclos econômicos. Elas deveriam estar relacionadas com o objetivo de redução plena das vulnerabilidades sociais.
Entretanto, dadas as evidentes vulnerabilidades da grande parte da população brasileira, a ampliação da cobertura dos programas sociais, assim como o aumento real dos benefícios previdenciários e sociais, cujo valor do salário mínimo é parte integrante, tornam-se nesse momento uma política fiscal de gastos anti-cíclica. Em outras palavras, políticas sociais são indissociáveis de um projeto de desenvolvimento de longo prazo. Contudo, hoje no Brasil, frente à ameaça de uma crise de parada brusca dos fluxos monetários e reais, o aprofundamento das políticas sociais cumprirá o objetivo macroeconômico de curto prazo de auxiliar a manutenção da rota de crescimento, tal como a política de investimentos públicos do PAC. Políticas sociais realizam gastos em volumes consideráveis e realizam um gasto de alta qualidade.
Para evidenciar tal assertiva, simulamos duas dinâmicas diferenciadas de evolução do valor dos rendimentos do trabalho, aposentadorias e pensões e também benefícios assistenciais, a partir dos dados da Pnad 2007. Na primeira simulação, limitamo-nos a um reajuste linear de 12,3% para todos esses rendimentos, índice obtido tomando-se o INPC acumulado no período outubro de 2007 a outubro de 2008, e a inflação futura estimada para 2009 (4,5%). A segunda simulação envolveu variações distintas para cada tipo de rendimento, levando em consideração a proposta do governo de elevar para R$ 464,78 o valor do salário mínimo em fevereiro de 2009, bem como a recente decisão da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado que, ao aprovar substitutivo ao Projeto de Lei n. 58/03, concede às aposentadorias e pensões até o teto previdenciário, reajuste igual ao do salário mínimo.
Assim, corrigimos esses benefícios previdenciários em 17%, combinando o reajuste de 5% de 2008 e o previsto em 2009 para o salário mínimo, acompanhando a decisão da CAS. Demais valores de remuneração do trabalho - diferentes de um salário mínimo - foram reajustados em 14,8% (além de incorporar a inflação acumulada e a prevista, considerou 1,5% de aumento real médio dos salários observado em 2008 e mais 1% para 2009). Os benefícios assistenciais foram corrigidos pelo índice de 12,3%. Porém, dada a importância do crescimento econômico na geração de novos postos de trabalho, estimamos, com base na variação do PIB para 2008 e 2009, a criação de 10,2 milhões de empregos. Destes, perto de 55% seriam formais, com remuneração pelo piso salarial (projeção conservadora posto que 92,1% dos empregos criados no decorrer deste ano estão na faixa de até 3 salários mínimos), enquanto os informais receberiam o valor médio observado em 2007, mas atualizado para 2009, pelo INPC. Na simulação 2, estes empregos foram distribuídos aleatoriamente centenas de vezes entre os desocupados e os trabalhadores precários, até obtermos uma distribuição média.
O paralelo entre a simulação 1 e a simulação 2 demonstrou que preservar a trajetória de recuperação do mínimo e atualizar os benefícios assistenciais e previdenciários tem retornos significativos do ponto de vista do consumo agregado e do bem-estar da população, contribuindo para manter aquecida a atividade econômica. Assim, constatamos que a simulação 2 leva a um aumento importante da renda familiar per capita média nos décimos inferiores da distribuição, exatamente aqueles cuja propensão a consumir é elevadíssima. É factível considerar, apoiados em resultados da POF 2003, que até o sétimo décimo da distribuição tal propensão seja superior a 90%. Ou seja, 70% da população, cerca de 128,8 milhões de indivíduos, terão um aumento real médio de sua renda mensal per capita da ordem de 21%, que vai se transformar em mais consumo. Isso significa R$ 6 bilhões mensais a mais na economia real, ou R$ 72 bilhões ao longo do ano de 2009.
Não bastasse o multiplicador do consumo ser ampliado, haveria uma forte redução da pobreza, pois o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha do Bolsa Família cairia de 17%, registrado na simulação 1, para 13,5%, resultado alcançado na simulação 2. São 5 milhões a menos de pobres.
Tudo isso é para agora, se for possível ao governo governar para superar a crise em prol do emprego e da atividade econômica. A hora das políticas sociais responsáveis, no seu escopo, escala e qualidade, é essa.
Lena Lavinas é professora associada do Instituto de Economia da UFRJ. João Sicsú é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea e professor do Instituto de Economia da UFRJ.
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terça-feira, 3 de abril de 2007

Cesar Maia defende nossa Previdência

Claro que não há a menor chance de Cesar Maia, um dos caciques do partido conservador Democratas (ex-PFL, ex-ARENA), apoiar uma política mais voltada para o bem-estar social. Mas no seu Ex-Blog de hoje ele usa argumentos contra que poderiam ser usados a favor. Ele tirou trechos do artigo "Comparativo Internacional para Previdência Social", escritos pelos técnicos do IPEA Marcelo Ab-Ramia e Rogério Boueri no Boletim de Desenvolvimento Fiscal -IPEA- de dezembro de 2006 e comentou esses trechos. Vejamos esse ítem: "Razão de Dependência Demográfica é a relação entre a população com mais de 65 anos e aquela com menos de 65 anos. O Brasil aparece com 9% entre os países mais jovens. No outro extremo está o Japão com 29%". Cesar Maia conclui que "uma relação baixa como a do Brasil não justificaria altos gastos previdenciários como no item 1" (ver abaixo). Pensemos o contrário: um país com uma força de trabalho mais jovem tem mais condições de garantir situação melhor para nossos aposentados. Outro trecho: "O terceiro quadro é a aposentadoria como porcentagem da renda per cápita. O Brasil está entre os mais altos com 59,4%. A Suécia tem 70% e no outro extremo Georgia (ex-URSS) com 11%, Cazaquistão com 22% e Japão com 35%". Ele não comenta, mas eu diria que ter a Suécia como referência mais próxima seria motivo de alegria, mesmo considerando que os suecos têm um índice de contribuição total bem menor que a brasileira (ver ítem 5, abaixo). No item 4, Cesar Maia destaca um alerta importante: "Contribuintes da Previdência como percentual da Força de Trabalho. No Brasil são 56%. No extremo oposto Noruega, Holanda e Irlanda com quase 100%, o que mostra uma base baixa de contribuição no Brasil pela economia informal, taxa de exclusão..." Exatamente por isso o Governo Federal tem procurado estimular o emprego com carteira assinada - política que o oposicionista Cesar Maia deve estar aprovando... Leia abaixo o texto completo do Ex-Blog e não deixe de ler também o Blog do Mello sobre o tema.
PREVIDÊNCIA SOCIAL! Os técnicos do IPEA -Marcelo Ab-Ramia e Rogério Boueri escreveram no Boletim de Desenvolvimento Fiscal -IPEA- de dezembro de 2006 o artigo Comparativo Internacional para Previdência Social. Este Ex-Blog selecionou alguns números comparados apresentados que ajudam muito a entender os problemas e contradições da previdência social brasileira. A leitura destes números é suficiente para se entender a cama de gato da situação brasileira. 01. Gastos com previdência como percentual do PIB. A Itália se destaca com pouco menos que 18% do PIB. O Brasil vem neste bloco com quase 12% do PIB. Reino Unido tem menos que 10%, Dinamarca pouco mais que 8% e Estados Unidos menos que 8%. 02. Razão de Dependência Demográfica é a relação entre a população com mais de 65 anos e aquela com menos de 65 anos. O Brasil aparece com 9% entre os países mais jovens. No outro extremo está o Japão com 29%. Uma relação baixa como a do Brasil não justificaria altos gastos previdenciários como no item 1. 03. O terceiro quadro é a aposentadoria como porcentagem da renda per cápita. O Brasil está entre os mais altos com 59,4%. A Suécia tem 70% e no outro extremo Georgia (ex-URSS) com 11%, Cazaquistão com 22% e Japão com 35%. 04. Contribuintes da Previdência como percentual da Força de Trabalho. No Brasil são 56%. No extremo oposto Noruega, Holanda e Irlanda com quase 100%, o que mostra uma base baixa de contribuição no Brasil pela economia informal, taxa de exclusão... 05. Alíquota da contribuição total, empregado e empregador. O Brasil está entre os mais altos com 31%, no bloco da Georgia e Ucrânia com 35%. Do outro lado, Irlanda tem 12% e Suécia quase 20%.