domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Vou votar em Lula de novo, oxente"

A maior preocupação da Oposição hoje, com as pesquisas, é o alto índice de desconhecimento de Dilma. As pessoas que sabem que ela é a candidata de Lula somente agora chegaram aos 59%. Quando chegarem a 70%, ela certamente já terá ultrapassado Serra. Essa reportagem que saiu no Globo de hoje, feita em Caetés, Pernambuco, dá bem a medida do que estou falando: 

Oxente, essa não é a Olga?
Em Caetés, terra de Lula, Dilma é uma desconhecida, mas todos dizem votar em quem ele indicar
Letícia Lins e Isabela Martin, foto de João Luís

CAETÉS (PE) e ALTO SANTO (CE). Pré candidata do PT à Presidência, a ministra Dilma Rousseff não descola do presidente Lula nas viagens pelo país e lidera as pesquisas no Nordeste, mas será que o povo sabe quem é ela? Em Caetés, município onde Lula nasceu e obteve seu maior percentual de votação em Pernambuco (89,497%), moradores de áreas rurais e urbanas tiveram dificuldade de identificar a ministra em uma fotografia mostrada pelo GLOBO, que abordou aleatoriamente moradores da terra do presidente. A petista foi confundida com a mãe do governador Eduardo Campos (PSB), com uma exservidora do posto de saúde e até com Marisa Letícia, mulher de Lula.
— Oxente, essa não é a Olga? A boca é igual à de Olga. Ela é de onde? Acho que é Olga mesmo...
As tentativas de identificação, carregadas de incertezas, são de Corina Guilhermina da Silva, de 78 anos, a Tia Corina, parente de Lula que ficou conhecida na campanha presidencial de 2006 por ostentar grande fotografia do então candidato à reeleição na fachada de seu casebre e ser proprietária de um sítio onde Lula brincava quando criança. Corina, que tem diabetes, teve as pernas amputadas e vive na área urbana de Caetés, cidade que era distrito de Garanhuns quando Lula era criança.
Ela confundiu Dilma Rousseff com Olga Chagas, ex-enfermeira do posto de saúde em Caetés onde Corina era atendida. Ao lado de Corina, a neta Ruth Pereira da Silva, de 20 anos, diz conhecer a mulher da foto.
— Agora esqueci o nome dela...
Ah, lembrei, é Marta Suplicy! De 45 pessoas abordadas em Caetés — entre lavradores, pequenos proprietários, pedreiros, comerciantes, ambulantes, servidores públicos — só oito identificaram a ministra, em abordagens feitas no campo, em obras, num restaurante, em um mercadinho e no meio da rua. Todos, porém, mesmo desconhecendo a ministra, disseram que vão votar nela quando apontada como a candidata do presidente.
Já o pré-candidato do PSDB, o governador paulista José Serra, é mais conhecido.
Em fotografia do mesmo tamanho da foto da ministra, foi identificado por 28 das 45 pessoas ouvidas, mas só uma confirmou que votaria nele.
Dos que sabiam quem ele é, todos lembraram seu segundo nome. No caso de Dilma, o primeiro nome é o mais lembrado e poucos citaram Rousseff.
— Vi na televisão, mas não sei quem é. Não lembro nem o nome — disse Abel Inácio da Silva, de 40 anos, morador do Sítio Várzea Comprida, o mesmo onde Lula nasceu e passou os primeiros anos.
— É bonita. É da família da senhora? — perguntou Argemiro Godoy, agricultor de 63 anos, à repórter.
Mais adiante, três lavradores que conversavam sob uma árvore no meio da caatinga, Cícero Pedro da Silva, de 55 anos, Irineu Inácio da Silva, de 64, e José Raimundo da Silva, de 49, que disseram não ser parentes de Lula, também não reconheceram Dilma.
— Tenho três televisões em casa, mas não sou chegado. Essa mulher nunca vi — disse o primeiro, morador do sítio Várzea de Dentro, onde planta milho, feijão e mandioca. Ao seu lado, Irineu não identifica a petista.
— O nome não sei, mas acho que a vi na TV — disse.
Morador do sítio Riacho das Fruteiras, Raimundo diz desconhecer a moça da foto. Indaga se é a mulher de Lula.
Mais letrada que o marido e os amigos, Diamantina da Silva, de 40 anos, mulher de Irineu, mata a charada: — Oxe, não é a mulher que está com Lula para cima e para baixo? É Dilma, que aparece com Lula na TV.
Ele quer que ela seja presidente.
Perto dali, no Sítio Várzea Comprida, Maria Aparecida Bezerra, de 48 anos, 11 filhos, também não consegue identificar Dilma. Mas seu filho, Edvaldo Bezerra, de 22, a nora Fabiana Souza Silva, de 22, e a filha Luciana Bezerra, de 18, conhecem a ministra, embora só lembrem seu primeiro nome.
No Centro de Caetés, a lavradora Maria da Silva, de 50 anos, que almoça sobras num restaurante, acha bonita a mulher da foto, mas não sabe quem é ela. Luiz Gomes, o Luiz Gordo, que bebe com amigos no estabelecimento, dá seu veredicto: — É a mãe do governador Eduardo Campos (PSB).
Ele se refere a Ana Arraes (PSB-PE), deputada federal. A mesma referência faz Diva Alves Cordeiro, de 43, proprietária de um mercadinho: — É Ana Arraes? — indaga, para completar ao receber a informação certa: — Ah, sei, é aquela menina que quer ser candidata a presidente.
Servidora pública, Lúcia Wanderley, de 52, aproxima-se curiosa. Ao ver a fotografia, afirma: — É a Dilma. Vejo sempre na TV. Onde Lula está, ela está.
No restaurante São José, José Josimário Wanderley, de 34 anos, identifica a ministra: — Dilma é antipática, não debate.
Votei em Lula quatro vezes, mas não voto nesta mulher.
Josimário e Lúcia estão entre os oito dos 45 entrevistados que disseram saber quem é Dilma Rousseff.
Ou melhor, Dilma, porque Rousseff é um nome que ninguém pronuncia no agreste pernambucano.
Mas o fato de José Serra ser mais conhecido não significa que as coisas estejam fáceis para ele na terra de Lula. De desconhecida, a ministra ganha a simpatia dos moradores quando é associada à figura do filho famoso de Caetés. Todos que a desconheciam, sem exceção, disseram que votam nela se Lula pedir.
— Aqui só dá Lula. Ele é de Deus, a vida melhorou depois dele. Tivemos educação, saúde, cisternas, luz — afirma Maria Aparecida Bezerra.
— Em quem Lula mandar, voto — completa Raimundo da Silva.
Ativista política desde os 13 anos, filiada ao PSB, Maria Emília Pessoa da Silva organizou a caravana de Caetés para prestigiar a primeira posse de Lula.
Para ela, apesar de Dilma ser desconhecida na terra do presidente, não será difícil votar nela: — O povo tem tanta confiança em Lula que não está preocupado em conhecer a ministra, porque acredita que, se ele indica, é porque ela é gente boa — diz Emília, secretária de Saúde de Caetés.
Há seis eleições em mãos de aliados de Lula, Caetés mudou muito. Antes, só tinha duas ruas calçadas. Agora quase todo o perímetro urbano é calçado.
A educação, que ficava entre as três piores de Pernambuco, está entre as dez primeiras. Na área rural não havia luz. Agora todo o município é eletrificado.
Hoje grande parte das famílias não precisa recorrer à água de barreiros em épocas de seca porque possui cisternas. Até a década passada, o município só tinha três médicos e uma parteira. Hoje o hospital de Caetés tem 26 especialistas e serviços de endoscopia e ultrassonografia. A cidade tem oito postos de saúde da família.
Caetés tem 26 mil habitantes, com 3.529 benefícios do Bolsa Família.
O desconhecimento sobre Dilma se repete em Alto Santo, no Ceará, município a 240 quilômetros de Fortaleza onde Lula teve 86,22% dos 7.937 votos válidos em 2006 (o maior percentual entre os 184 municípios cearenses).
Poucos reconhecem a ministra por foto.
Outros sabem que “ela está sempre ao lado de Lula”, mas não o seu cargo.
Quase ninguém sabe que disputa o Planalto. E, a sete meses da eleição, a fisionomia e o nome de Serra também são pouco reconhecidos. Alguns sabem que ele é governador de São Paulo, mais até que candidato a presidente.
Alguns também sabem que Dilma enfrentou batalha contra o câncer.
As enchentes que devastaram São Paulo nos primeiros meses do ano, os atrasos na conclusão de obras federais e os adjetivos como “pai dos genéricos” e “mãe do PAC”, com os quais já foram batizados Serra e Dilma não fazem a menor diferença em Alto Santo por enquanto. A maioria não sabe que eles serão candidatos. Nenhuma das pessoas ouvidas declarou-se eleitora de Serra nem apresentou motivação para isso. Já a disposição de votar na pré-candidata do PT é maior quando sabem que ela terá apoio de Lula.
— Se Serra fosse o candidato de Lula, eu votaria nele — disse o aposentado Francisco Felício dos Reis, de 76 anos, um dos poucos que reconheceram o governador. — Se eu for vivo (em outubro), voto em quem Lula apoiar.
Fanático pelo presidente, o agricultor Manoel Silva, de 57 anos, morador do Sítio Tibolo, na periferia da cidade, mantém na fachada da casa uma foto de Lula da última campanha.
— Sempre votei em Lula. Era ele perdendo e eu votando.
Se ele candidatar até um jumento, voto nele. Imagine numa mulher. Por mim o voto já está ganho. É Vilma? — pergunta.
— O nome é muito bonito.
Alto Santo, no Baixo Jaguaribe, tem economia movimentada pela agricultura, pesca, fábricas de cerâmica e confecção.
Com investimento de R$ 120,8 milhões, o governo federal está financiando uma imensa obra do PAC na cidade: a barragem do Figueiredo, que vai irrigar oito mil hectares.
A entrega está prevista para outubro.
— Nunca ouvi falar em PAC — disse o agricultor Benedito Moura da Silva, de 57 anos, enquanto apontava para o local da barragem. Eleitor de Lula, não conhecia Dilma nem sabia que ela é chamada de “mãe do PAC”. Mas, ao saber que ela é a candidata de Lula, declarou seu voto.
— Voto no candidato de Lula. Seja homem, seja mulher.

Afinal, Serra e Dilma estão ou não estão tecnicamente empatados?


Até hoje os institutos de pesquisa não sabem explicar o que é “margem de erro” e muito menos o que é “tecnicamente empatados”. Chegam a ser bisonhas as declarações atribuídas ao Datafolha de que não seria correto falar em empate técnico por que isso só ocorreria nos limites máximo (Dilma) e mínimo (Serra). Ora, há ou não há empate técnico, não importa se são ou não nos extremos. A questão é outra. Com 2.623 entrevistas, a margem de erro, com uma casa decimal, é de 1,9%, não 2,0%, como foi divulgado. E isso ocorre na faixa dos 50%. Na faixa dos 32% de Serra, a margem é 1,8% e na faixa de Dilma a margem é de 1,7%. Assim teríamos a variação de Dilma entre 26,3% e 29,7% e a variação de Serra entre 30,2% e 33,8%. Portanto, tecnicamente falando, não haveria empate dentro dessa pesquisa. Mas isso refere-se a pesquisa realizada entre os dias 25 e 26 de fevereiro, com intervalo de confiança de 95%. Hoje, arrisco dizer que já há empate técnico e que breve Dilma estará ultrapassando Serra. Até lá esperamos que os institutos não estejam tecnicamente empacados no item informação.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O terremoto, desde Valdivia

Abel Lagos, na década de 70, teve que sair do Chile por causa da ditadura, refugiou-se na Inglaterra. Foi lá que nos conhecemos, na Universidade de Essex. Apesar das ciências sociais, começava a se apaixonar por fotografia. Voltou pro Chile. Hoje, com o terremoto, procurei notícias. Ele mandou o e-mail abaixo para os amigos. Ironicamente, ele tem uma exposição agendada para o próximo dia 3 intitulada "Doce Pueblos", em sua cidade, Valdivia. Eis seu relato:
Mis queridos,
Ahora que volvió la electricidad puedo escribir, en caso que se estén preguntando por nosotros aquí en Valdivia. Desperté como a las cuatro cuando comenzaron a caer las cosas de las estanterías. El remezón era bastante fuerte y con la experiencia que conseguí en el 60 ya sabía que esperar. Me levanté y comencé a despertar a todos, especialmente a mis viejos. A penas se podía caminar de una pieza a otra. Comprobé que no había electricidad de manera que había que echar mano a las linternas. Nos juntamos en la pieza de los viejos y tratar de calmarlos. Miramos por la ventana y había un luminosa luna llena que alumbraba la noche. Era hermosa. Pensé que me habría gustado estar en la playa con mi cámara pero había un caos apacible en la sombras  que no,podíamos ver. El casino brillaba con sus luce de emergencia. La ciudad estaba llena de gente pasando la bien. Deben haber pasado un gran susto. Como hoy es la noche Valdiviana  que marca el fin del verano me preparaba para asistir al paseo fluvial con fuegos artificiales;  y yo que había sido invitado por la Municipalidad a un lugar donde están  los que tienen más privilegios para ver la fiesta.  Hoy anunció el alcalde que se suspendería la fiesta , la culminación de la semana de aniversario de los 458 años de la fundación de la ciudad. Toda la gente estaba en la calle en la sombra de la luna y solo se escuchaban las sirenas de emergencia. A las 5 am escuchábamos y nos enterábamos de lo que pasaba en el país a través de  la radio.
Se movió fuerte pero es una ciudad acostumbrada a estas cosas. Acaban de reportar que solo un apersona murió en nuestra región de un infarto. El epicentro esta ubicado a 30m km de profundidad.
Lo peor esta en la región del Bío Bio, Concepción  que esta cerca del epicentro hasta Talca. La Causa son sus construcciones antiguas especialmente en adobe.
De todas maneras estoy cargando mis pilas para mis equipos. No vaya a ser cosa que se repita la situación del 60 en donde un día fue en Concepción y al día siguiente fue en Valdivia y tenemos el abandono del cual estamos saliendo. El tsunami está viajando a Japón
Agradezco a quienes escribieron preguntando por nosotros de manera que aprovecho de enviar esta nota a los que corresponda.
Yo espero Inaugurar mi Exposición el 3 de marzo  a la cual están invitados.
Un abrazo grande a todos

Abel

Eleições 2010: evolução Datafolha

Esta pesquisa Datafolha divulgada hoje à tarde, como se esperava, aponta a derrocada da campanha da Oposição. Cada vez que um tucano sobrevoa os gráficos de intenções de voto vislumbra verdadeiro tsunami. A pesquisa foi feita nos dias 24 e 25 de fevereiro, com 2.623 entrevistas - o que dá margem de erro com variação máxima de 1,9 ponto percentual. Os índices máximo (de Dilma) e mínimo (de Serra) são quase os mesmos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Acordo Brasil-Estados Unidos-Irã


Os Estados Unidos sabem que não há como impedir o avanço do Irã no campo da energia nuclear. O Irã não é Iraque, portanto não dá para resolver a questão na base dos velhos "marines" de mãos dadas com os "Tony boys". Nem dá para investir muito nas sanções da ONU, de eficácia relativa, já que China e Rússia não permitirão unanimidade no Conselho de Segurança apoiando sanções mais rigorosas.
O que os Estados Unidos querem, acima de tudo, é garantia de paz e bons negócios na região (para poderem se dedicar ao Afeganistão). Para isso, procuram ter certeza absoluta de que o Irã não produzirá arma nuclear. Uma das formas de controle seria que o enriquecimento de urânio iraniano fosse feito através de outro país. Claro que China e Rússia não seriam confiáveis. Por razões opostas, Japão (que já se ofereceu) também não. O Brasil se encaixa feito luva no papel. O Brasil tem permissão da AIEA para enriquecimento de urânio a 20%, é um dos países a dominar a técnica, com tecnologia própria, e tem interesse no acordo – por questões comerciais e estratégicas. É natural que Israel chie um pouco, mas todos sabem que, hoje, o acordo via Brasil é a melhor solução. A mídia oposicionista também não aceita, chia sem parar. Mas é apenas uma mídia boba... (Embora não concorde inteiramente com seu teor, sugiro a leitura da coluna de Merval Pereira, publicada hoje no Globo, que reproduzo no post abaixo)

Merval Pereira fala sobre acordo Brasil-Irã


Merval Pereira

O Gabinete de Segurança Institucional, subordinado diretamente à Presidência da República, começou uma série de consultas a órgãos ligados ao programa nuclear brasileiro para receber informações sobre que pontos poderiam servir de base para um eventual acordo com o Irã, a ser assinado na próxima visita do presidente Lula àquele país, em maio.
Se confirmado, esse acordo será mais um passo do governo brasileiro no sentido de blindar o governo iraniano, que vem sendo pressionado para submeter seu programa nuclear, que alegadamente existe para fins pacífico mas tem partes clandestinas, à supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica.
O anúncio de que o país já estaria enriquecendo urânio a 20%, o que o torna potencialmente capaz de atingir os níveis necessários para a fabricação da bomba atômica, não foi suficiente para que o governo brasileiro participasse da pressão internacional, insistindo em que está conversando com o Irã para tentar uma saída negociada.
Mas o apoio ao governo de Ahmadinejad retira o Irã do isolamento internacional.
A aceitação de um fato consumado como o enriquecimento de urânio a 20% é explicada nos bastidores pelas autoridades brasileiras como sendo uma posição de autodefesa.
O Brasil já tem permissão de enriquecer urânio a até 20%. Aparentemente, o governo brasileiro não dá relevância ao fato de que o país tem autorização negociada com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para esse nível de enriquecimento, enquanto o Irã está fazendo de maneira clandestina.
Nas instalações de Aramar, em São Paulo, se utiliza uma centrífuga especial para enriquecimento de urânio, que o governo brasileiro protege por ser uma técnica pioneira.
Desenvolvida pela Marinha, é chamada de “levitação magnética”, realizada em uma centrífuga fabricada com tecnologia nacional, que tem velocidade e produtividade maiores.
A inspeção internacional é feita através de amostragem, sem que os inspetores possam ver a centrífuga. É lá em São Paulo que será construído um reator de propulsão naval para o submarino nuclear, mas dificilmente o enriquecimento chegará ao limite de 20%.
Deverá ficar entre 7% e 10%, sendo que os estudos ainda estão em processo.
Em Resende, uma fábrica semi-industrial que deve produzir o urânio necessário para o funcionamento das três usinas nucleares de Angra, o nível de enriquecimento pode chegar a 5%, mas o prazo de licenciamento está chegando ao fim e terá que ser renegociado com a AIEA nos próximos meses.
Também em maio há a reunião internacional para a revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), e a posição brasileira é de não assinar o protocolo adicional que está proposto.
Ele prevê inspeção sobre toda a área, e não apenas pontual, o que vai além das salvaguardas atuais, que são meramente contábeis: um inspetor da AIEA, em visitas sem aviso prévio, conta o urânio que entrou, e depois o que foi enriquecido, e sabe exatamente qual foi o grau de enriquecimento que houve.
O argumento brasileiro é que as salvaguardas existentes hoje são suficientes para estabelecer se o urânio está ou não sendo usado para fins pacíficos. Além do mais, temos dois regimes de salvaguardas, um com a Argentina e outro com a AIEA.
Há também uma proposta de um banco internacional de urânio enriquecido que seria usado por países com questões tão distintas quanto Brasil e Irã, o que não é aceito pelo governo brasileiro.
O fato é que o Brasil, além de ter assinado o TNP, incluiu na Constituição de 1988 a proibição de fabricação e uso de armas nucleares, e o governo, com toda razão, considera que essas evidências, e mais as inspeções contábeis, são suficientes para garantir que o programa brasileiro tem fins exclusivamente pacíficos.
Poucos países dominam a técnica de enriquecer urânio — EUA, Rússia, China, França, Alemanha, Holanda e Inglaterra —, e o Brasil está entre eles. Além do mais, temos hoje a sexta reserva de urânio do mundo com apenas 30% do solo brasileiro pesquisado. A potencialidade é de termos a segundo maior reser va de urânio em poucos anos, só atrás da Austrália.
O problema é que, depois da descoberta do programa nuclear secreto do Irã, a AIEA passou a ser mais rigorosa, exigindo que os países abram cada vez mais seus programas nucleares, especialmente instalações de enriquecimento nuclear com potencial de produzir material utilizável em artefatos nucleares.
Recentemente, já no governo Lula, houve um desentendimento sério entre as autoridades brasileiras e as da AIEA em relação à inspeção de Resende, na tentativa dos inspetores de ver as centrífugas, o que acabou sendo contornado sem que o Brasil precisasse se expor a uma espionagem industrial.
Houve também um quase incidente diplomático por causa de uma tese de doutorado de um aluno do Instituto Militar de Engenharia do Exército (IME), o físico Dalton Ellery Girão Barroso, que destrinchou com cálculos e equações informações consideradas sigilosas sobre uma ogiva nuclear americana.
A agência internacional sugeriu que esse estudo indicava que o país estaria fazendo pesquisas que levariam à bomba atômica, além de revelar segredos que poderiam ser usados por terroristas. O Ministério da Defesa teve que entrar no circuito diplomático para impedir que o livro fosse censurado, como queria a AIEA.
Todo esse cenário indica que uma aproximação cada vez maior do Brasil com o Irã pode trazer problemas para nossas pesquisas no campo nuclear, sem nenhuma vantagem em troca, a não ser uma discutível afirmação política internacional.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eleições 2010: prévias no PT do Rio


A Secretária Benedita da Silva falou comigo ao telefone muito entusiasmada sobre o 4º Congresso do PT. Não apenas pela emoção do lançamento de Dilma, mas também pelas conversas que teve em defesa de sua candidatura ao Senado pelo Rio de Janeiro. A conversa com seu adversário Lindberg, inclusive, teria sido muito boa. Apesar disso, a indicação do(s) nome(s) para o Senado está longe de um entendimento. Nenhum dos dois abre mão da indicação para compor uma aliança com o PMDB de Picciani. Resistem também a uma chapa independente com os dois nomes. E quando tudo parecia indicar que um Encontro Estadual do partido iria decidir, recebo nova informação: o Estatuto do PT determina que nesse caso a decisão deve ser feita por prévia. Fui checar e realmente está lá: “CAPÍTULO II, DAS PRÉVIAS ELEITORAIS, Art. 135. Havendo mais de um pré-candidato às eleições majoritárias, será realizada Prévia Eleitoral”. Ou seja: ou vão os dois juntos para uma chapa independente ou vão ter que disputar prévias. Pode ser também que um abra a mão para o outro...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desespero global


Não quero nem entrar no mérito dessa história da Folha sobre as fibras óticas e o Zé Dirceu. O Azenha já fez isso muito bem. O que me impressiona (é verdade, sou ingênuo, ainda fico impressionado...) é ver manchetes como essas do Globo de hoje tentando tirar proveito de uma história mal contada.
Na capa, “Governo corre para esvaziar denúncia de lobby de Dirceu” e, dentro, “Operação abafa no governo”. Na primeira página, ainda lemos “O governo agiu rápido diante das denúncias...” e nas páginas internas “... o governo evitou politizar o tema e acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para rebater juridicamente a suspeita ...”. Perguntamos: o governo tinha que correr, agir rápido? (Sim, claro que tinha.) O governo fez certo ao evitar politizar o tema? (Sem dúvida alguma.) O governo foi correto ao acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para rebater juridicamente a suspeita? (Corretíssimo.) Então, por que esses truques jornalísticos com “esvaziar denúncias” ou “operação abafa”?
É uma pobreza jornalística tão imensa que até me pergunto por que perco tempo e espaço no meu Blog com isso. Só há uma justificativa para essa bobagem global: o desespero causado pela aproximação de mais uma derrota tucana está cada vez mais incontrolável. Ou seja, esse tipo de jornalismo tende a proliferar.

Congresso do PT derrota BBB


Fiquei impressionado com os dados dessa notícia no MobilizaçãoBr comunicando que “a hashtag #congressopt foi a mais digitada no Twitter brasileiro (...) desbancando o Big Brother que se mantinha no topo nos dias anteriores”. Isso foi durante a fala de Dilma durante o 4º Congresso do PT. Pelo jeito, o PT vai mesmo ocupar o espaço cibernético. E qualquer coisa que desbanque o lixo BBB é bem-vindo. Vejam a notícia completa:

CONGRESSOPT GANHA DA GLOBO

“O sucesso da primeira transmissão ao vivo da TVPT, no ato de lançamento da candidatura da Ministra Dilma, comprova a importância das novas tecnologias para a democratização da informação”. É o que ressalta o jornalista João Paulo da assessoria de imprensa do PT Nacional ao comemorar a audiência de 31.051 internautas de 41 países além do Brasil.
Durante a transmissão, que durou três horas e 15 minutos, a média de permanência foi de 14 minutos, tempo considerável até mesmo para TVs convencionais, em se tratando de eventos políticos. Muitos internautas acompanharam a transmissão na íntegra. O acesso chegou a alcançar picos acima de dois mil usuários simultâneos.
A transmissão não foi divulgada pela mídia convencional (jornais, TVs e rádios), somente pela newsletter do PT Nacional. Cerca de 15 horas antes do evento, a notícia se espalhou pelo Twitter.
Os twitteiros e twitteiras delegados ao 4º Congresso e os membros da rede social MOBILIZAÇÃOBR retuitaram “#congressopt” e por volta do meio dia de sábado, quando Dilma falava, a hashtag #congressopt foi a mais digitada no Twitter brasileiro, atingiu o primeiro lugar, desbancando o Big Brother que se mantinha no topo nos dias anteriores.
“Com o investimento em novas tecnologias, hoje o PT está preparado para se contrapor à mídia hegemônica, para fazer a disputa de opinião na sociedade com suas próprias armas. O sucesso da primeira transmissão ao vivo da TVPT mostra o acerto da estratégia adotada pela Direção Nacional do partido nessa área”, afirma Gleber Naime, ex-secretário de Comunicação do PT e responsável pela implantação do projeto da TVPT.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cesar Maia entrega os pontos, mas disfarça com uma canja de galinha


Está cada vez mais difícil a situação para a Oposição. Arruda, o único Governador que era do DEM, foi cassado e está em situação deplorável. Kassab, Prefeito da maior cidade do país, também vive a situação de “cassação em suspense”. E a situação da Oposição nas pesquisas é a pior possível, vendo Dilma subir a ladeira a todo vapor. Por essas e outras é que Cesar Maia faz tempo tem apostado tudo no fortalecimento da base parlamentar do Democratas e de seus aliados. Ontem, no Ex-Blog, a pretexto de um pretenso programa “chavista” do PT que poderia ser aplicado com a vitória de Dilma, Cesar Maia escreveu que é “fundamental que aqueles comprometidos com as instituições democráticas, a liberdade de expressão, a estabilidade política, a defesa do contribuinte, do direito de propriedade, dos valores da família componham mais de 60% do Congresso”. Nas entrelinhas, no entanto, está escrito: “a vaca foi pro brejo, Dilma vai ser eleita e temos que investir em bancadas fortes para tentar controlar o Governo”. Claro que ele percebe o perigo da argumentação e acrescenta que “é pouco provável” Dilma vencer, mas “precaução e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. Na verdade, eles ainda vão ter que tomar muita canja...

Inferno astral pra quem, cara pálida?

Não entendo esse inferno astral que Serra estaria vivendo por causa da proximidade do seu aniversário, parece que é 19 de março. Tem chuva sem parar no estado – quem sofre? O povo de São Paulo. Tem enchentes, desabamentos, mortes – quem sofre? O povo de São Paulo. Tem escândalo, Prefeito da Capital cassado – quem sofre? O povo de São Paulo. Tem guerra de torcidas, violência nas ruas – quem sofre? O povo de São Paulo. Então me diga, que diabo de inferno astral é esse? Serra vive o inferno, mas quem se queima é o povo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Eleições 2010: quantos palanques o Rio precisa para ter um bom resultado?


Não é na base da matemática que vão ser decididos os números de palanques para Dilma. Às vezes serão necessários mais de um, às vezes não dá para ter dois por hipótese alguma. Em Minas, por exemplo, o bom senso político deixa claro que o palanque tem que ser um só. Minas é importante não apenas para a eleição de Dilma, mas também para o pós-Dilma. PTs e PMDB que tratem de dar um jeito nisso. Acredito (mas não estou inteiramente seguro) que na Bahia e no Rio Grande do Sul os problemas serão mais facilmente superados, com um ou dois palanques.
No Rio de Janeiro é que o “dois pra lá, dois pra cá” dos palanques me parece mais complicado. Começa pelos palanques dos candidatos ao Senado. São pelo menos 5 candidatos de partidos da base do Governo disputando duas vagas: Marcelo Crivella (PRB), Benedita da Silva (PT), Lindberg Farias (PT), Jorge Picciani (PMDB) e Manoel Ferreira (PR). Crivella (talvez o que exige mais atenção de Lula) lidera tranquilamente em todas as pesquisas, mas tem contra ele o tempo na TV (provavelmente menos de 1 minuto) e a rejeição junto à classe média (por ser da Universal) e junto à Globo (por ser ligado à Record). Lula está empenhado em apoiá-lo, mas está difícil. Busca-se uma solução do tipo aliança para o Senado entre PRB e PMDB e chapa independente do PT com Benedita e Lindberg (que no momento travam luta ferrenha pela indicação única do PT, visando aliança com o PMDB) – o que também está difícil. Picciani teme a concorrência de Crivella (o que é uma bobagem: na rabeira das pesquisas, ele só teria a ganhar) e Sérgio Cabral – embora não declare – talvez também tenha resistência, já que poderiam respingar em sua própria candidatura as rejeições a Crivella. Também Benedita e Lindberg não aceitam essa solução, temendo serem os mais prejudicados. E Manoel Ferreira, o fenômeno de 2002, não tem nada a dizer – depende basicamente de Garotinho.
Esse imbróglio de palanques para o Senado salpica nos palanques para o Governo. Sérgio Cabral, que tem chance de ser re-eleito no primeiro turno, poderia, quem sabe, concordar com a aliança do PMDB com Crivella, se Garotinho retirasse sua candidatura, o que lhe daria certeza de re-eleição imediata. Essa solução agradaria ao Planalto, desde que ela não signifique re-aproximação entre Garotinho e tucanos. E aí surge outra questão: em um cenário de segundo turno tanto entre Dilma e Serra quanto entre Sérgio Cabral e Gabeira (embora difícil), em qual palanque Garotinho (que odeia Sérgio Cabral) pisaria? Enquanto essa discussão sobre os palanques aliados se estende eternamente, a candidatura ao Senado de Cesar Maia tende a crescer, como único nome da oposição. Da mesma forma, a dubiedade do palanque de Garotinho prejudica a campanha do super-aliado Cabral e pode ajudar a campanha (ainda bem fraca) do adversário Gabeira. Enfim, as contas dos palanques por enquanto não batem – e o pior é que em política a prova dos nove só acontece depois da eleição...

O que é (ou era...) o "serrismo"

Excelente esse artigo de Luis Nassif sobre José Serra. Esclarecedor e bem oportuno. Ele fala ainda do "fim da era paulista na política nacional" - que, de certo modo, também tratei na postagem de sexta feira, "Ciro e o pós-Dilma".

Serra e o fim da era paulista na política
Luis Nassif

Por que José Serra vacila tanto em anunciar-se candidato?
Para quem acompanha a política paulista com olhos de observador e tem contatos com aliados atuais e ex-aliados de Serra, a razão é simples.
Seu cálculo político era o seguinte: se perde as eleições para presidente, acaba sua carreira política; se se lança candidato a governador, mas o PSDB consegue emplacar o candidato a presidente, perde o partido para o aliado. Em qualquer hipótese, iria para o aposentadoria ou para segundo plano. Para ele só interessava uma das seguintes alternativas: ele presidente ou; ele governador e alguém do PT presidente. Ou o PSDB dava certo com ele; ou que explodisse, sem ele.
Esta foi a lógica que (des)orientou sua (in)decisão e que levou o partido a esse abraço de afogado. A ideia era enrolar até a convenção, lá analisar o que lhe fosse melhor.
De lá para cá, muita água rolou. Agora, as alternativas são as seguintes:
1. O xeque que recebeu de Aécio Neves (anunciando a saída da disputa para candidato a presidente) demoliu a estratégia inicial de Serra. Agora, se desiste da presidência e sai candidato a governador, leva a pecha de medroso e de sujeito que sacrificou o partido em nome de seus interesses pessoais.
2. Se sai candidato a presidente, no dia seguinte o serrismo acaba.
O balanço que virá
O clima eleitoral de hoje, mais o poder remanescente de Serra, dificulta a avaliação isenta do seu governo. Esse quadro – que vou traçar agora – será de consenso no ano que vem, quando começar o balanço isento do seu governo, sem as paixões eleitorais e sem a obrigatoriedade da velha mídia de criar o seu campeão a fórceps. Aí se verá com mais clareza a falta de gestão, a ausência total do governador do dia-a-dia da administração (a não ser para inaugurações), a perda de controle sobre os esquemas de caixinha política.
Hoje em dia, a liderança de Serra sobre seu governo é próxima a zero. Ele mantém o partido unido pelo medo, não pelas ideias ou pela liderança.
Há mágoas profundas do covismo, mágoas dos aliados do DEM – pela maneira como deserdou Kassab -, afastamento daqueles que poderiam ser chamados de serristas históricos – um grupo de técnicos de alto nível que, quando sobreveio a inércia do período FHC-Malan, julgou que Serra poderia ser o receptador de ideias modernizantes.
Outro dia almocei com um grande empresário, aliado de primeira hora de Serra. Cauteloso, leal, não avançou em críticas contra Serra. Ouviu as minhas e ponderou uma explicação que vale para todos, políticos, homens de negócio e pensadores: “As ideias têm que levar em conta a mudança das circunstâncias e do país”. Serra foi moderno quando parlamentar porque, em um período de desastre fiscal focou seu trabalho na responsabilidade fiscal.
No governo paulista, não conseguiu levantar uma bandeira modernizadora sequer. Pior: não percebeu que os novos tempos exigiam um compromisso férreo com o bom estar do cidadão e a inclusão social. Mas continuou preso ao modelito do administrador frio e do sujeito que comprometeu o aparato regulatório do Estado com concessões descabidas a concessionárias.
 castigo veio a cavalo. A decisão de desviar todos os recursos para o Rodoanel provocou o segundo maior desastre coletivo da moderna história do país, produzido por erros de gestão: o alagamento de São Paulo devido à interrupção das obras de desassoreamento do rio Tietê. O primeiro foi o “apagão” do governo FHC.
O fim das ideias
O Serra que emergiu governador decepcionou aliados históricos. Mostrou-se ausente da administração estadual, sem escrúpulos quando tornou-se o principal alimentador do macartismo virulento da velha mídia – usando a Veja e a Folha – e dos barra-pesadas do Congresso. Quando abriu mão dos quadros técnicos, perdeu o pé das ideias. Havia meia dúzia de intelectuais que o abastecia com ideias modernizantes. Sem eles, sua única manifestação intelectual foi o artigo para a Folha criticando a posição do Brasil em relação ao Irã – repetindo argumentos do seu blogueiro.
É bobagem taxar o PSDB histórico de golpista. Na origem, o partido conseguiu aglutinar quadros técnicos de alto nível, de pensamento de centro-esquerda e legalistas por excelência. E uma classe média que também combateu a ditadura, mas avessa a radicalizações ideológicas.
Ao encampar o estilo Maluf – virulência ideológica (através de seus comandados na mídia), insensibilidade social, (falsa) imagem de administrador frio e insensível, ênfase apenas nas obras de grande visibilidade, desinteresse em relação a temas centrais, como educação e segurança – Serra destruiu a solidariedade partidária criada duramente por lideranças como Mário Covas, Franco Montoro e Sérgio Motta.
Quadros acadêmicos do PSDB, de alto nível, praticamente abandonaram o sonho de modernizar a política e ou voltaram para a Universidade ou para organizações civis que lhe abriram espaço.
O personalismo exacerbado
Principalmente, chamaram a atenção dois vícios seus, ambos frutos de um personalismo exacerbado – para o qual tantas e tantas vezes FHC tinha alertado.
O primeiro, a tendência de chamar a si todos os méritos, não admitir críticas e tratar todos subordinados com desprezo, inclusive proibindo a qualquer secretário sequer mostrar seu trabalho. Principalmente, a de exigir a cabeça de jornalistas que o criticavam.
O mal-estar na administração é geral. Em vez de um Estadista, passaram a ser comandados por um chefe de repartição que não admite o brilho de ninguém, nem lhes dá reconhecimento, não é eficiente e só joga para a torcida.
O segundo, a deslealdade. Duvido que exista no governo Serra qualquer estrela com luz própria que lhe deva lealdade. A estratégia política de FHC e Lula sempre foi a de agregar, aparar resistências, afagar o ego de aliados. A de Serra foi a do conflito maximizado não por posições políticas, mas pelo ego transtornado.
O uso do blogueiro terceirizado da Veja para ataques descabidos (pela virulência) contra Geraldo Alckmin, Chalita, Aécio, deixou marcas profundas no próprio partido.
Alckmin não lhe deve lealdade, assim como Aloizio Nunes – que está sendo rifado por Serra. Alberto Goldmann deve? Praticamente desapareceu sob o personalismo de Serra, assim como Guilherme Afif e Lair Krähenbühl – sujeito de tão bom nível que conseguiu produzir das poucas coisas decentes do malufismo e não se sujar.
No interior, há uma leva enorme de prefeitos esperando o último sopro de Serra para desvencilhar-se da presença incômoda do governador.
O que segura o serrismo, hoje em dia, é apenas o temor do espírito vingativo de Serra. E um grupo de pessoas que será varrida da vida pública com sua derrota por absoluta falta de opção. Mas que chora amargamente a aposta na pessoa errada.
Aliás, se Aécio Neves foi esperto (e é), tratará de reasgatar esses quadros para o partido.
Saindo candidato a presidente e ficando claro que não terá chance de vitória, o PSDB paulista se bandeará na hora para o novo rei. Pelas possibilidades eleitorais, será Alckmin, político limitado, sem fôlego para inaugurar uma nova era. Por outro lado, o PT paulista também não logrou se renovar, abrir espaço para novos quadros, para novas propostas. Continua prisioneiro da polarização virulenta com o PSDB, sem ter conseguido desenvolver um discurso novo ou arregimentado novas alianças.
O resultado final será o fim da era paulista na política nacional, um modelo que se sustentou décadas graças ao movimento das diretas e à aliança com a velha mídia.
Acaba em um momento histórico, em que o desenvolvimento se interioriza e o monopólio da opinião começa a cair.
A história explica grande parte desse fim de período. Mas o desmonte teria sido menos traumático se conduzido por uma liderança menos deletéria que a de Serra.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Zé Dirceu fala sobre "Lulismo e PT"

Reproduzo o artigo de Zé Dirceu que li no Blog do Noblat:
Lulismo e PT

A partir dos estudos e de um artigo do jornalista e professor da USP André Singer, ex-porta voz do primeiro governo de Lula e seu secretário de Imprensa durante três anos, abriu-se um debate sobre o Lulismo e, para alguns, sobre o pós-Lula, como se isso fosse algo próximo.
O Lulismo, sim, é uma realidade que já faz parte de nosso cotidiano, devido a sua liderança e a sua força política, eleitoral e social, devido também às obras de seus dois governos e, principalmente, ao seu partido, o PT.
Já que não podemos falar em Lulismo sem o PT e vice-versa, não vejo como possam sobreviver separados. Ainda que Lula e seu peso político e eleitoral possam ser maiores que o PT, foi e ainda é o PT sua principal força e seu principal apoio, não apenas no parlamento e na militância, mas também na sociedade. O núcleo duro de sua base social e eleitoral é o PT.
Desconsiderar o PT como partido, sua origem, trajetória, história e memória, sua contribuição para a construção de políticas publicas, suas lutas sociais, seus governos municipais e estaduais, seus parlamentares e seus 20 milhões de votos, é exatamente não compreender o Lulismo e sua transcendência aos seus dois governos, as mudanças realizadas nos país, cujo depositário é o PT ou deveria ser o PT.
O futuro do Lulismo e do PT estão assim interligados e dependem do PT. Somente com a reintegração de Lula ao partido, com sua volta à construção do PT, é que poderemos falar na continuidade do Lulismo. Que não sobreviverá sem o PT, apesar das mudanças que Lula e seus governos realizaram no Brasil, com o apoio do PT, principalmente.
A questão é se o PT compreendeu o caráter das mudanças que o país viveu nos últimos anos e da mudança de sua base social, como bem demonstra André Singer, deslocada das classes médias para as classes populares mais pobres do país.
Se voltarmos à fundação do PT, à sua origem, um partido das classes trabalhadoras – e não apenas da classe média – fundado nas lutas da periferia das grandes cidades e nas fábricas da nova indústria pós-milagre brasileiro, dos movimentos populares das periferias, das comunidades de base e dos sindicatos, veremos que lá já tínhamos a semente de um partido de operários e de pobres.
Mas sua construção foi desigual e, em muitas regiões, predominou a militância e a relação social com as classes médias.
Agora o desafio é deslocar não apenas a política do partido, de seus parlamentares e governos, como fez Lula, para as camadas pobres da sociedade, mas disputar as novas classes médias que as mudanças realizadas pelo próprio governo Lula desencadearam no Brasil.
É esse desafio que, ainda segundo André Singer, garantiria um Lulismo sem Lula, desaguando no PT o apoio que os pobres deram e dão a Lula e a seu governo.
Tal desafio, reafirmo, somente será vencido se Lula o assumir depois das eleições de 2010, depois da eleição de sua sucessora, garantida a continuidade do projeto político que ele encarna e que o PT construiu nesses 30 anos. Aliás, sem essa compreensão, as mudanças realizadas no Brasil não teriam explicação.
Não podemos falar no Lulismo ou mesmo no Petismo sem o projeto de desenvolvimento nacional, de reconstrução do Estado, de reafirmação do Brasil no mundo, de resgate de nossas riquezas naturais e da retomada do nosso crescimento econômico com distribuição de renda e combate à pobreza.
Um projeto que apenas começou e que exige uma reforma política e institucional, para aprofundar a democracia e dar um salto educacional e tecnológico, de forma a consolidar nosso desenvolvimento.
Tarefas que o Lulismo e o PT assumem ao apresentar a candidatura de Dilma Rousseff.
José Dirceu, 63, é advogado e ex-ministro da Casa Civil

Ciro e o pós-Dilma


Aparentemente Ciro já assumiu que Dilma será vitoriosa para Presidenta, é ela que é o pós-Lula. O que ele quer agora é dar maior precisão a seu papel no pós-Dilma, e para isso precisa saber qual será o próximo passo de Serra. Se o tucano paulista insistir na candidatura presidencial, pode até ser que Ciro se sinta obrigado a disputar São Paulo, mas acho difícil. O mais provável será buscar firmar sua própria candidatura para ajudar a derrotar Serra e, com isso, projetar o seu nome em um futuro de oposição a Dilma. Junto com Aécio, estabelecerá um novo eixo Nordeste-Sudeste, que passará a ser a espinha da nova oposição de centro-direita. Se Serra desistir (parece que esse é o caminho) e Aécio for para o “sacrifício”, Ciro poderá até mesmo ser o seu vice para construir a nova oposição desde já. De qualquer forma, o grande derrotado será o tucanato paulista, mesmo com uma eventual re-eleição de Serra ou uma vitória de Alckmin com sabor de fim de festa. Talvez por isso tenha surgido o (cômico) boato da candidatura FHC. Mas não existe mais lugar de pouso para essa alta plumagem no pós-Dilma.

O âncora Ciro Gomes passou bem no teste do Programa Partidário


Bom o programa de Ciro Gomes, e sua performance como âncora foi aprovada. Falou bem, passou alegria, disposição e ainda teve alguma dose de emoção. Muito boa a apresentação dos estados administrados pelo PSB. Interessante as mensagens dos nordestinos de várias partes do Brasil, tudo a ver com Ciro. Curiosamente, Ciro em uma de suas falas usa o Pão de Açúcar como fundo. Talvez por que, se usasse São Paulo, o simbolismo ficaria limitado a uma eventual disputa pelo governo estadual. O que notei de fraco foi o uso de um ator para bater, sutilmente, no passado tucano. E também o balançar de corpo meio exagerado de Ciro logo no começo. O ponto mais positivo foi partir, logo de início, para uma defesa ampla, geral e irrestrita de Lula. Voltou a comparar os tucanos com o passado, o PT com o presente e a si mesmo como o futuro. Essa pode ser a luz para o que se propõe Ciro, sobre a forma como pretende atuar no pós-Dilma.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pesquisas Ibope e Mapear: Lavareda não pode mais dizer que Dilma cresceu em cima de Ciro.


No mês passado, ao comentar a pesquisa CNT/Sensus, o estrategista tucano Antonio Lavareda procurou minimizar o crescimento de Dilma declarando que “o que houve, efetivamente, foi uma transferência de votos de Ciro Gomes pra Dilma Rousseff”. Procurava dizer que a soma dos votos dos dois, entre novembro e janeiro, não tinha alterado, porque, de fato, o eleitor apenas tinha percebido que Dilma era a candidata de Lula, não Ciro. Isso não estaria errado, se não houvesse a intenção de dar limite baixo à capacidade de transferência de votos de Lula.
Tomando como exemplo as pesquisas Ibope de setembro, novembro e janeiro, temos o seguinte quadro (clique para ampliar):


Prova que Dilma não se beneficia unicamente da queda de Ciro. Ela cresce significativamente com a queda do campo dos “indecisos”, dos “não-votos” (Brancos, Nulos, Não Sabe, Não Responde). O correto, portanto, é dizer simplesmente que Dilma cresce com o reconhecimento de que é a candidata de Lula. Isso lhe traz votos de Ciro e também dos “indecisos”. E certamente vai lhe trazer até mesmo votos que hoje estão com Serra e Marina.
Não dá para insinuar um limite de transferência usando como referência os limites de Ciro. Na pesquisa Mapear feita em parte da Região Metropolitana do Rio (Baixada), divulgada aqui na semana passada, temos isso bem claro. Dilma tem inicialmente 26,9%, contra 26,3% de Serra, 16,4% de Ciro e 8,1% de Marina. Quando é revelado que é a candidata de Lula, Dilma passa para 43,4% – um salto de 16,5 pontos percentuais! Ciro só perde 3,1. Por sua vez, Serra perde 5,4, enquanto Marina perde 0,9. A soma das perdas dos três é 9,4 pontos – pouco mais da metade do que Dilma cresce. O problema da Oposição chama-se Lula, que já tem mais de 80% de aprovação pessoal. Se a associação de Dilma com Lula funcionar, voto é que não vai faltar...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nova Pesquisa IBOPE: Serra patina, cai... enquanto Dilma dispara na subida

Está explicada a tensão pré-pesquisal da Oposição. A nova pesquisa IBOPE, que foi finalmente divulgada, revela que, de setembro pra cá, o candidato tucano patinou e está em queda. Dilma só faz subir. Ciro cai. E Marina está ali meio parada, tentando entender que bicho é esse. A pesquisa, divulgada pelo Diário do Comércio, foi realizada com 2.002 eleitores em 144 municípios de todo o Brasil, dos dias 6 a 9 de fevereiro, com variação máxima da margem de erro de 2 pontos percentuais. (Clique para ampliar)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Eleições 2010, Baixada Fluminense – PARTE 4: eleitor não apoia prefeitos que pretendem trocar seus mandatos por disputa de outros cargos


Foi feita uma pergunta interessante: “É possível que prefeitos de algumas cidades deixem o cargo de prefeito para se candidatarem a outros cargos já na próxima eleição. Quem fizer isso, vai deixar de ser prefeito ainda faltando quase 3 anos para completar o mandato. O(a) sr(a) diria que é contra ou a favor que na sua cidade o prefeito deixe o cargo este ano para se candidatar a outro cargo político?” A maioria, 67%, é contra. A avaliação das administrações municipais – com exceção de Magé, entre os municípios avaliados especificamente – não está nada boa.

Eleições 2010, Baixada Fluminense – PARTE 3: Crivella, Cesar Maia e Benedita lideram


Crivella repete na Baixada o que tem obtido em todas as pesquisas no cenário estadual – liderança destacada. A surpresa foi Cesar Maia estar à frente de Benedita (o que não tem se repetido nas pesquisas considerando o estado inteiro). Mas por outro lado é Cesar Maia que lidera nos índices de rejeição, seguido de perto por Lindberg e Gabeira.

Eleições 2010, Baixada Fluminense – PARTE 2: Sérgio Cabral lidera e tem mais de 60% de aprovação de seu governo


Sérgio Cabral tomou dianteira significativa em uma região onde a influência de Garotinho é maior. A aprovação de seu governo também foi bem alto:


Eleições 2010, Baixada Fluminense – PARTE 1: Dilma tem o dobro das intenções de voto de Serra





Hoje vi essa nota no Informe do Dia. E peguei mais informações da pesquisa com Cláudio Gama, do Instituto Mapear. Os números que obtive são ainda mais surpreendentes, em todos os níveis (intenções de voto para Presidente, Governador e Senador, além das avaliações dos governos).
A pesquisa foi feita em 12 municípios da Baixada Fluminense, parte da Região Metropolitana. Essa área (Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Belford Roxo, Magé, Mesquita, Nilópolis, Queimados, Japeri, Guapimirim e Paracambi) conta com quase 2.500.000 eleitores, com perfil predominantemente popular. Foram realizadas 1.400 entrevistas (o que dá margem de erro máxima de 2,6%) entre os dias 23 e 29 de janeiro.
O dado de maior impacto é o desconhecimento ainda muito alto (49%) de que Dilma é a candidata de Lula. E isso faz toda a diferença em uma região de eleitorado mais alheio ao noticiário dos jornais. Quando o eleitor é informado de que Dilma é a candidata de Lula, as intenções de voto na candidata petista crescem 58%, fazendo que ela pule de um empate técnico com José Serra para ter o dobro do índice do candidato tucano. Vejam os gráficos, mostrando primeiro a resposta sem a indicação do apoio de Lula, depois o detalhamento por município e finalmente a resposta com os apoios de Lula, FHC e Gabeira (CLIQUE PARA AMPLIAR):

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Eliane Cantanhêde: Lula jogou a isca, e FHC, cansado de engolir sapos, comeu


Leia o artigo publicado hoje na Folha, de Eliane Cantanhêde.

Gênios incompreendidos
Lula jogou a isca, e FHC, cansado de engolir sapos, comeu. A vaidade falou mais alto do que o pragmatismo, e o ex-presidente entrou na campanha de 2010 comparando o seu governo ao do sucessor e deflagrando o que Lula mais queria: uma campanha plebiscitária. Só falta saber o que Serra acha disso.
No domingo, FHC usou um artigo para mostrar as vantagens das privatizações da Vale e das teles e os avanços na área social, além do sucesso da estabilidade econômica.
No final, se disse pronto para o confronto de resultados: "A briga é boa, nada a temer".
Ontem, os jornais publicavam versões de que FHC teria dito que Dilma não passa de um boneco manipulado por Lula. O Planalto e o PT adoraram. Preferem o choque Lula-FHC ao Dilma-Serra. Ainda por cima, acham que FHC ajuda a divulgar a candidata deles.
Já que é hora de comparações: enquanto a campanha de Dilma fala a mesma língua, a da oposição é uma salada de posicionamentos, provocações, táticas e estratégias.
Cada um por si.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, avisou que, se eleito, Serra vai botar a economia de ponta-cabeça. Agora, FHC cede à estratégia dos adversários. E, no meio tempo, o próprio Serra quer trocar "Polícia Militar" por "Força Pública", só para irritar os milicos.
O "andar de cima" (com licença, Elio Gaspari) se assustou com Guerra, o "andar do meio" foi liberado para a batalha marqueteira de números, e os militares, que têm capacidade de multiplicação de votos no "andar de baixo" pelo país afora, passam a ter tanto medo de Serra quanto já tinham de Dilma.
Tem alguma coisa errada com esses tucanos ou eles são uns gênios de eleição. Tão geniais que só eles mesmos conseguem entender.
Mesmo sem se entenderem.

Quer comparar? Então toma!



Não adianta esse blablablá nas páginas dos jornais. A comparação que realmente interessa é a que está sendo feita por toda a população. Vamos comparar, por exemplo, os índices de aprovação e desaprovação de Lula e os de Fernando Henrique em períodos correspondentes dos mandatos. Notem que a desaprovação de Fernando Henrique chega a ser maior do que a aprovação. Para o bem dos tucanos, é melhor nem tentar comparar. As diferenças tendem a aumentar - adivinha a favor de quem?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Quem será o Vice de Aécio?


Fala sério, todo esse diz-que-me-diz da Oposição tentando fazer de Aécio Vice de Serra é pura cortina de fumaça. Estão se preparando para o fracasso de Serra e sua substituição por Aécio. Essa foi a forma de manter o governador mineiro ainda ligado à corrida presidencial. Em julho do ano passado, escrevi aqui (Por que a Oposição tirou o olho do Nordeste e passou a ver Minas com bons olhos): “A Oposição, no meu modo de ver, desistiu de acreditar em sucesso no Nordeste e passou a investir onde poderia alterar resultados significativamente. Assim, a tradicional escolha de Sudeste-Nordeste para a Presidência e Vice ficaria em segundo plano. Seria lógico, por exemplo, dois nomes do Sudeste (Serra-Aécio) ou mesmo Aécio Presidente (garantindo vantagens no segundo maior colégio eleitoral) e Serra na reeleição para São Paulo (tentando ampliar vantagens no maior colégio eleitoral). Ainda assim, é difícil dar certo. Mas é bom que a candidatura Dilma abra o olho”. O texto continua atual. A dúvida passaria a ser o Vice de Aécio. Ciro Gomes? Não é tão simples assim.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Quadro eleitoral do Rio: qual a tendência?


Como se sabe, as nuvens são como os quadros políticos: você olha, é surrealismo; olha de novo, é construtivismo... As eleições 2010 no Rio de Janeiro (como em boa parte do país) são uma obra em processo. Até outro dia estava tudo definido. Para Governador, seriam candidatos Sérgio Cabral (PMDB), Garotinho (PR) e um ou outro, talvez Gabeira (PV) – que acabou se firmando. Para o Senado, Crivella (PRB), Benedita (e/ou Lindberg, ambos do PT), Cesar Maia, (do DEM, e/ou Gabeira e/ou Aspásia, do PV), Picciani (PMDB), além de Manoel Ferreira (PR), Waguinho (PSC), ou Miro Teixeira (PDT). Quando parecia que o toque final seria a definição de Benedita ou Lindberg na indicação petista para o Senado, percebemos que o quadro estava longe de ser concluído. Para Governador, articula-se agora a saída de Garotinho da exposição, o que praticamente garantiria a vitória de Sérgio Cabral já no primeiro turno (Cesar Maia já chiou no twitter). A questão ficaria por conta da disputa entre o PR e o PMDB no Amazonas, que talvez não seja difícil de equacionar. Dilma só teria a crescer com isso. Mas o problema maior passou a ser o Senado: onde colocar Crivella, que lidera todas as pesquisas e é aliadíssimo de Lula, mas que ficaria isolado, com pouco tempo na TV? A chapa principal de apoio a Dilma para o Senado já estava fechada com PT e PMDB. Picciani não abre mão da candidatura de forma alguma; Benedita e Lindberg, também não. Grupos petistas aproveitam a situação e já pincelam chapa independente, sem aliança formal com o PMDB, com Benedita e Lindberg unidos. Será? Ou tudo não passa de um quadro impressionista? Não há crítico da arte política que tenha resposta.

Henfil, 5 de fevereiro

Vi a homenagem pelo aniversário de Henfil (que foi ontem) somente hoje no Nassif. Não poderia ter esquecido. O dia é o mesmo do aniversário da minha filha, Maíra, e ele até fez um desenho especial da Graúna, quando ela nasceu. Reproduzo a homenagem que o Nassif fez, com esse vídeo do Blog Passeando Pelo Cotidiano.

 

Paz no Oriente Médio


Apesar de ser antigo, vale a pena ver de novo esse ótimo comercial isaraelense promovendo a paz no Oriente Médio.

Ciro usa Dirceu como pretexto


Não existe “rompante” nenhum nas recentes declarações “anti-petistas” de Ciro Gomes, nada foi feito de “cabeça quente”. Tratou-se apenas do “ou dá ou desce” de sua candidatura (ou candidaturas...). Do jeito que estava, seus índices de intenções de voto secariam. Percebeu que pelo lado do “sim a Lula” o nome Dilma ganhava corpo em ritmo acelerado, sem que ele pudesse fazer nada. Ciro precisava diferenciar-se. Partiu para a conquista dos votos da classe média do Sul-Sudeste, aquele eleitor refratário ao PT, que está do lado do “não a Lula”, mas que não se sente confortável com a plumagem tucana. Foi pra cima dos votos de Serra e vai sobrar também para Marina (principalmente depois desse programa “xéu com fréu” do PV). Vai ganhar pontos nas pesquisas, sem mexer com Dilma. Ganha cacife para manter-se na disputa, seja a presidencial, seja a disputa em São Paulo. Zé Dirceu entrou na história como trampolim. Acho difícil que tenha combinado tudo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Com a palavra, os chefões das pesquisas


Esses dias, pelo menos três representantes de grandes institutos de pesquisa escreveram artigos ou deram entrevistas sobre o quadro eleitoral presidencial. Temos entrevista de Mauro Paulino (Datafolha) para o Terra Magazine, que também traz entrevista de Antonio Lavareda (MCI). Marcos Coimbra (Vox Populi) escreveu para o Correio Brasiliense. E Carlos Montenegro (Ibope) deu entrevista para o Balaio do Kotscho.
Achei muito consistente a entrevista de Mauro Paulino, onde destaca a imensa transferência de votos de Lula para Dilma: “Ele (Lula) tem um governo com uma taxa de aprovação inédita e o peso que isso terá nesse pleito já está sendo demonstrado. Comprovadamente ele já está transferindo muitos votos para Dilma”.
Lavareda, sabidamente tucano, prefere atribuir a recente subida de Dilma aos votos transferidos por Ciro. Isso poderia valorizar a presença de Ciro na garantia de segundo turno (como pensa Cesar Maia). Mas Marcos Coimbra observa: “É fácil se confundir na interpretação desses resultados, deles deduzindo que ‘Dilma precisa de Ciro’. Trata-se, no entanto, de um equívoco, que decorre de não se considerar o nível de conhecimento muito desigual que ainda há entre os candidatos”. Para Marcos Coimbra, “nessas pesquisas, mesmo no cenário sem Ciro, a possibilidade (de não haver segundo turno) parece remota”.
Montenegro dá a impressão de ser o menos preparado, nem parece representar um instituto de nome, como o Ibope. Poucos meses atrás, ele era categórico na afirmação da vitória de Serra (Fabio Gomes, do Informa, por causa de afirmações esdrúxulas, chegou a associá-lo à prática de “pesquisomancia”). Agora, já declara “se Dilma ganhar, não me surpreenderia”. E diz também que “o PT não ganha” – parecendo querer separar “PT” de “Lula”.
O que dá para perceber nas declarações de todos é o espanto com a ascensão de Dilma nas últimas avaliações. Por mais que tenham participado de milhares de pesquisas eleitorais, ainda se assustam com o poder de transferência de votos que Lula demonstra. O susto não seria tão grande se eles percebessem de uma vez por todas que essa é uma eleição plebiscitária, onde o caráter principal do voto será dizer “sim” ou “não” a Lula.

Marina, seca

A fala de Marina, que ocupou quase o tempo inteiro do Programa do PV exibido ontem, foi plana, seca, dificilmente terá conquistado um único voto. Cesar Maia, no seu Ex-Blog de hoje, comenta: “O que faltou no programa de ontem da Marina? Emoção. Fala de momentos significativos de sua vida, como se estivesse contando um filme. Mas o programa acerta no alvo ao buscar contatos imediatos de primeiro grau com a juventude". Concordamos bastante. Ontem mesmo twittei: "Programa do PV, Marina: uma vida tão emocionante apresentada sem um pingo de emoção. Que pena".

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os disparates numéricos de Cesar Maia


O Ex-Blog de hoje de Cesar Maia me deu a certeza do total desespero da oposição. Citando “as pesquisas de final de dezembro e os recortes das pesquisas nacionais de janeiro publicadas”, ele traça um quadro pré-eleitoral no Rio de Janeiro recheado de fantasias. O objetivo, evidente, é procurar despertar alguma esperança entre seus aliados atônitos. Vamos ver o que ele diz, com alguns comentários que faço em negrito:

2. Para presidente, Serra continua bem na frente, no patamar de 40%, Dilma no de 25% e Marina no de 15%. Serra cai um pouco na periferia metropolitana e dispara no interior. Num mano a mano daria Serra no nível de 50% e Dilma 30%. O voto de Marina é distribuído em porcentagens iguais.
LOUCURA TOTAL. Se nacionalmente Serra patina e Dilma sobe, mantendo diferença de apenas 5% (com Ciro) e de 12% (sem Ciro), como é que o tucano pode estar 15% à frente de Dilma no RIO DE JANEIRO?!?!?! Certo perdeste o senso – e o censo... Pode escrever: Dilma já está à frente, principalmente quando é identificada com Lula.


3. Para governador, Cabral está no patamar de 35% e Garotinho e Gabeira empatados em 20%. Cabral tem certa estabilidade na capital, periferia e interior. Garotinho parte do interior com 30%, na periferia está no nível de 25% e na capital um pouco acima de 10%. Gabeira faz caminho inverso. Uns 30% na capital, uns 15% na periferia e um pouco acima de 10% no interior.
Aqui ele exagera menos. Mas o mais natural seria dizer que Sérgio Cabral tem 40% e a soma de Garotinho e Gabeira também seja 40% (ou algo próximo). Não dá para afirmar categoricamente que não haverá segundo turno – mas a vitória de Cabral no primeiro turno é bastante possível.


4. Para senador em 2 votos, Crivella está quase no patamar de 40%, Cesar Maia no de 35%, Benedita no de 30%, Manoel Ferreira e Picciani no de 10% e os demais de 5% para baixo. Cesar Maia se mantém neste patamar nas 3 grandes regiões. Crivella fica acima de seu patamar na periferia e um pouco abaixo na capital e interior. Benedita apenas oscila em seu patamar dos 30%.
Aqui Cesar Maia ficou mais perto do real, mas, como ele é candidato, tratou de puxar umas sardinhas para a sua brasa. Está correto quanto a Crivella, mas exagerou no segundo lugar em que se colocou. Cesar e Benedita estão praticamente empatados, ela um pouco à frente. Em algumas regiões ele estará à frente, em outras será ela. Tem contra ele rejeição altíssima. O resto é isso mesmo, lá atrás. Picciani... Manoel Ferreira... talvez Waguinho...

5. Uma garantia: teremos segundo turno no Estado do Rio. Como há um só ator na imprensa nessa pré-campanha, Cabral, seu patamar hoje deve ser também seu teto. Com outros times em campo, deve apontar para baixo, quem sabe perto de 30%, ou menos. Gabeira e Garotinho vão crescer, talvez para um nível de 25%. O segundo turno fica indefinido com leve vantagem para Cabral. Em 2006, Cabral entrou no segundo turno com a vantagem de 37% a 22% (Denise Frossard). Agora, mesmo que possa vencer o primeiro turno, a vantagem neste será estreita, ficando indefinido o segundo turno.
Cesar Maia não pode garantir nada. Pode ser que haja segundo turno, mas isso está longe de ser garantido. Com outros times em campo, deve apontar para cima – principalmente com o time de Lula a seu lado. Pode até acontecer um efeito gangorra entre Gabeira e Garotinho, apesar de parecerem tão diferentes.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ou Ciro seca Serra, ou seca sozinho


Na entrevista que deu ao Terra Magazine, ontem, o estrategista tucano Antonio Lavareda, analisando a pesquisa Sensus, declarou: "O que houve efetivamente foi uma transferência de votos de Ciro Gomes para Dilma", pois "as pessoas tomaram conhecimento de que é a candidata do presidente Lula". Claro que não foi só isso, mas ele tem certa razão, confirmando o que tenho dito no Blog. À medida que Ciro sai de cena, os seus votos migram para os outros adversários. Como ele faz parte do grupo “sim a Lula”, ele tende a perder votos para a ala mais forte do grupo, Dilma. Se ficar parado nisso, seus votos vão secar, ele se tornará inviável e desnecessário. Para crescer de forma consistente, terá que partir para cima dos votos do Serra. Ciro tem pelo menos três campos importantes para explorar: o nordestino paulista (mais próximo de Serra), a classe média do Sul-Sudeste (aquela parte que reage a Dilma, mas que não se sente inteiramente à vontade sob as asas tucanas) e o voto tucano mineiro (disposto a vingar Aécio). Não é uma tarefa fácil para Ciro diferenciar-se nesse clima plebiscitário e com poucos recursos, mas pode dar certo. Ele já lançou a ideia de que “um é passado (Serra), o outro é presente (Dilma) e eu sou o futuro”, que agrada principalmente à classe média. Se Ciro seguir firme, Serra talvez seque ainda mais do que já está secando.

Libertas quæ sera Zé


O Vice José Alencar já declarou (ao colunista Leandro Mazzini, do JB) que não aguenta mais “campanha pro executivo”. Mas parece que “Deus” designou mais essa tarefa pra ele. José Alencar é o nome capaz de unir o PT de Minas, dividido entre os nomes de Patrus Ananias (PT), Fernando Pimentel (PT) e Hélio Costa (PMDB) para candidato a Governador. Como divulguei ontem no meu twitter, o que se articula é que Zé Alencar seja o Governador, Patrus seja seu Vice, Hélio Costa seja o Senador e Pimentel seja o Coordenador Geral da campanha de Dilma. Essa fórmula talvez agrade até mesmo a Aécio, que provaria que, sem ele, o tucanato paulista não tem espaço em Minas. Seria mais uma “Inconfidência Mineira”...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Eleição 2010: eleição plebiscitária, Ciro e margem de erro


Eleição plebiscitária. A rigor, não existiria eleição plebiscitária com mais de um candidato. É uma eleição do sim/não. Como houve na questão das armas, quando se mobilizou a população para aprovar ou não a lei proibindo o comércio de armas e munição (aliás, nesse caso, é um plebiscito chamado de referendo). Em 2010, diz-se que a eleição é plebiscitária para mostrar que os eleitores, de fato, vão dar um sim ou um não ao Projeto Lula. Vão eleger um “Lula” ou um “anti-Lula”. Não importa (a não ser por motivos táticos) se existem dois, três ou mil candidatos. Com Ciro ou sem Ciro, a eleição será plebiscitária.
Ciro. Já escrevi aqui, citando a pesquisa Datafolha, que, no primeiro turno, Ciro tira mais votos de Serra do que de Dilma. E foi isso, alguns Ex-Blogs atrás, que fez o Cesar Maia declarar que a eleição plebiscitária favorece o Serra. Visto assim, ele teria razão. Acontece que o perfil Ciro ainda não está inteiramente definido. Digamos (apenas como exemplo) que alguém vota em Ciro porque veio do Nordeste para morar em São Paulo. Sem o Ciro, só conhece bem Lula e Serra. Lula não é candidato, logo escolhe Serra. À medida que os “ciristas” forem percebendo que Ciro – assim como Dilma – é “sim a Lula”, deixarão de ter Serra como alternativa. Tudo depende da comunicação articulada do Planalto com o PSB.
Margem de erro. Nunca vi errar tanto em pesquisa como acontece com a mídia no quesito “margem de erro”. Do Jornal Nacional ao tablóide distribuído na esquina, todos dizem barbaridades sobre as variações dos índices em função da margem de erro. Nessa pesquisa CNT/SENSUS, o próprio instituto deu uma informação estranha. Para uma pesquisa de 2.000 entrevistas, deu como margem de erro “+/- 3%”. Pelo que sei, essa seria a margem máxima para 1.070 entrevistas. Para 2.000 entrevistas, a variação máxima seria de +/- 2,2%. Na faixa dos índices de Dilma (27,8%) e Serra (33,2%), a margem é de +/- 2%. Não há empate técnico, já que a variação de Dilma fica entre 25,8% e 29,8%, enquanto a variação de Serra fica entre 31,1% e 35,3%. Mas acredito que isso é só uma questão de tempo... com ou sem Ciro.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Flagrante da Oposição lendo as novas pesquisas Vox e Sensus

A Oposição estava tentando desviar a atenção da pesquisa Vox-Band que mostrava Dilma chegando junto, quando saiu essa CNT-SENSUS mostrando Dilma apenas 5,4% pontos atrás de Serra (em novembro a diferença era de 10,1%...). Mais: na espontânea, Dilma agora só perde para Lula.

Soube de outras pesquisas em andamento com dados ainda mais fortes. O desespero vai aumentar. Quem será o o candidato da Oposição?