segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Intelectual egípicio Alla El-Aswany: falta partido para uma revolução no Egito


Não tinha lido a entrevista dada por Alla El-Aswany e publicada dia 30 no Le Monde. Li hoje trechos traduzidos do El Clarin no Ex-Blog de Cesar Maia, que reproduzo:
PARTIDO EGÍPCIO "IRMÃOS MUÇULMANOS" - O MAIS ORGANIZADO, MAS...!

Le Monde entrevista  Alla El-Aswany, um dos mais brilhantes intelectuais do Egito. Seus livros estão traduzidos em 30 idiomas e são os mais vendidos.  Alla El-Aswany é também um apaixonado pela política. (trechos da tradução de Clarín, 30).
1. Onde está a oposição? - Em amplos estratos da população. É um corpo imenso, mas que não tem cabeça para organizar-se. Não há ninguém que lhe dê um sentido e canalize a ira. As pessoas buscam um partido capaz de falar em seu nome.
2. O que pensa do grupo islâmico "Irmãos Muçulmanos"? - Repetem os mesmos erros desde 1928. Demonstram uma grande entrega, mas sua sensibilidade não é realmente democrática. Sempre estiveram do lado da tirania e contra a vontade do povo. Estavam com o rei Faruk; depois, apoiaram Nasser quando extinguiu os partidos políticos. Hoje, alguns enviam sinais que estariam dispostos a aceitar que o filho de Mubarak herde o poder se eles obtiverem, como contrapartida, a legalização de seu partido.
Na minha postagem (Protestos no Egito: o Facebook pode substituir o Partido?) escrevi :
As condições econômicas egípcias parecem fortalecer a ideia de grande transformação, mas o movimento parece bem voluntarista (para usar a terminologia leninista). Apesar de muitos falarem em revolução (...), é difícil imaginar uma organização determinada e capaz disso. O momento egípcio, ao contrário, pode facilitar um golpe militar. A grande capacidade da web de interligar e mobilizar as pessoas é algo excelente e indispensável, mas ainda não substitui o tal do partido revolucionário...

Wikileaks revela que nossos políticos e jornalistas de oposição fizeram papel de bobo na questão de Honduras

O governo brasileiro opôs-se ao golpe militar realizado em Honduras em 2009, e chegou a asilar na Embaixada em Tegucigalpa o presidente deposto, Manuel Zelaya. A oposição a Lula, conservadora e subserviente aos Estados Unidos, apoiada pela mídia-idem, subiu nas tamancas e tomou o partido dos golpistas, tratando nossos diplomatas como inimigos. Wikileaks revela que a oposição brasileira, ingênua (ou não?), na verdade fez um papelão. Os documentos secretos divulgados mostram, em primeiro lugar, que Zelaya chegou a enganar Chávez, Fidel e Ortega para atender os planos americanos, durante a Assembleia Geral da OEA – realizada no mesmo mês (junho) do golpe! Fez com que concordassem com um texto americano sem que eles soubessem quem era o verdadeiro autor, agiu como autêntico agente duplo. Além disso, os documentos secretos deixam claro que há muito tempo os Estados Unidos acompanhavam de perto os movimentos golpistas hondurenhos.
Quer saber mais sobre o ridículo oposicionista na questão de Honduras? Clique aqui.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Protestos no Egito: o Facebook pode substituir o Partido?



É interessante ver toda essa agitação das massas egípcias, arregimentadas pela internet, aparentemente sem grande organização por trás. Como veriam tudo isso os velhos compêndios leninistas? Com certeza veriam a confirmação dos seus ensinamentos, quando dizem que a Revolução exige a combinação de condições objetivas com as condições subjetivas (o Partido revolucionário forte, com uma direção centralizada, revolucionária). As condições econômicas egípcias parecem fortalecer a ideia de grande transformação, mas o movimento parece bem voluntarista (para usar a terminologia leninista). Apesar de muitos falarem em revolução (como o músico de 41 anos, Sabri Amin, que declarou ao jornal israelense Haaretz: “isto não é uma demonstração, é uma revolução”), é difícil imaginar uma organização determinada e capaz disso. O momento egípcio, ao contrário, pode facilitar um golpe militar. A grande capacidade da web de interligar e mobilizar as pessoas é algo excelente e indispensável, mas ainda não substitui o tal do partido revolucionário...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Prêmio Nobel de Economia critica nossa alta de juros: agora me sinto menos maluco


Terça-feira passada fiz uma postagem (Enigma do Copom: decifra-me ou aumento os juros) criticando a provável alta de juros. No dia seguinte, o Banco Central, seguindo o seu dever de casa, aumentou a taxa Selic em 0,5 ponto. O que me surpreendeu foi ver pouca repercussão contrária à elevação, em comparação com o que acontecia no passado. O Globo chegou a colocar em sua primeira página manchete ridícula: "BC de Dilma aumenta juros para conter inflação de Lula". Nas páginas internas, reações contrárias de empresários e sindicalistas sem qualquer destaque. A Folha deu a notícia em segundo plano, na primeira página: "Pressão inflacionária faz BC de Dilma estrear com alta de juro". Nas páginas internas, a Folha valorizou a opinião do mercado financeiro, que exigia aumento ainda maior(!) e meio que desprezou opinião do setor produtivo, colocando apenas a voz contra do Presidente da Firjan, que lembrava que "a alta de juros impõe perda de competitividade à indústria nacional".
Na minha postagem, escrevi: "Os motivos inflacionários do final do ano passado já não parecem os mesmos e Guido Mantega está claramente empenhado em cortar gastos - mesmo mantendo a política de desenvolvimento. Os juros altos agora prejudicariam fortemente nossa moeda e nossa posição no mercado internacional, acabaria sendo ruim para nosso mercado interno". Mas fiquei me sentindo um peixe fora d'água. As medidas corretas tomadas nos últimos anos pelo Banco Central pareciam justificar qualquer coisa. Por isso foi com prazer que li a entrevista publicada ontem no Globo Online, dada à correspondente Déborah Berlinck, com o prêmio Nobel  de Economia, Joseph Stiglitz. Disse ele: "As pessoas têm que tomar cuidado para distinguir as fontes de inflação.Tem inflação importada, por exemplo, devido ao aumento dos preços dos alimentos ou energia. Isso tem que ser levado em consideração, mas não pense que se pode lidar com isso simplesmente através da elevação da taxa de juros. O pobre vai sofrer com o aumento dos preços (dos alimentos). Fazê-lo perder o emprego (como consequência do aumento de juros) não vai resolver o problema da sociedade". Ufa! Que bom saber que eu não tinha perdido o juízo. Leia a entrevista completa aqui.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tsunami em 2050: Brasil será a 4ª economia do mundo


(clique nas imagens para ampliar)

A PwC, empresa inglesa da área de consultoria econômica, acaba de divulgar projeções dos cenários da economia mundial, a partir dos PIBs (Banco Mundial) de 2009, até 2050. “The World in 2050 The accelerating shift of global economic power: challenges and opportunities” é o nome do trabalho que você tem acesso aqui. A principal conclusão é que “a recente crise financeira acelerou a passagem do poder econômico global para as economias emergentes”. Essa mudança na ordem mundial, diz o estudo, “traz novos desafios e oportunidades para as atuais economias avançadas. (...) o rápido crescimento nos mercados de consumo associado a um rápido crescimento da classe média possibilitará grandes oportunidades para as empresas ocidentais, que poderão se estabelecer nesses mercados”. Bem diferente do que faz, no momento, a Grã-Bretanha, que tem apenas 7% de suas exportações para os BRICs – o mesmo índice de suas exportações para a Irlanda. No estudo, obviamente, há várias curiosidades.
  • Em 2050, China, Índia, Estados Unidos, Brasil e Japão serão as cinco maiores economias.
  • Ainda em 2011 a Índia deve ultrapassar o Japão e o Brasil deve ultrapassar a França.
  • O Brasil deve ultrapassar a Alemanha em 2024, a Rússia em 2035 e o Japão em 2038.
  • A China deve ultrapassar os Estados Unidos em 2019.
  • Em 2020, a economia dos 7 países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia, México e Turquia) atuais (2009) deverá superar a economia dos atuais (2009) 7 países mais ricos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).
  • Em 2050, Vietnam e Nigéria deverão estar entre os G20 e Austrália e África do Sul deverão estar fora.
Leia matéria na última The Economist ("Guarde bem essa data").

Obama, Blue State Digital e o marketing viral


Obama mudou. Depois de quase dois anos, voltei a receber seus e-mails. Não apenas dele, aliás. Da Michelle Obama, do Vice Joe Biden e de outros obamistas. Esse novo esforço é resultado evidente do avanço devastador dos Republicanos. No seu último e-mail, do dia 22 e com o (bom) título de Winning the future, Obama antecipa o seu Discurso sobre o estado da União (State of the Union). “Está claro que o nosso momento exige uma proposta sobre como nós, como povo, ganharemos o futuro (will win the future). E é essa agenda que será o centro do meu discurso dia 25 (hoje)". Obama chega a oferecer link para um vídeo-síntese do discurso. Seu marketing parece estar fazendo efeito. No e-mail do dia 21 enviado por um de seus adversários ferrenhos, o marqueteiro Republicano Dick Morris, a questão principal é “Será que o ‘centrista’ Obama vencerá?” Na verdade é um alerta para que os Republicanos não tentem fazer também um discurso ‘centrista’ – “se tentarem, Obama ficará mais 6 anos”. “Ao contrário”, continua Dick Morris, “se os Republicanos realçarem o seu contraste e se empenharem nas políticas conservadoras, nós vamos vencê-lo”.
*****


Um nome de destaque no marketing viral de Obama na sua campanha eleitoral foi a Blue State Digital, um nome importante nessa área. A BSD também foi contratada pelo PT para trabalho semelhante na campanha de Dilma 2010. Mas a empresa, que publicou em seu site notícia com o título “Em 2010, BSD ajudou a candidata Dilma Roussef a conectar-se com milhões de eleitores, consolidar a opinião pública e tornar-se a primeira presidente mulher do país” (In 2010, Blue State Digital helped Brazilian presidential candidate Dilma Rousseff to connect with millions of voters, solidify public opinion, and become the country’s first female president), acabou provocando, indiretamente, grande confusão no meio petista. A campanha virou finalista na categoria “criação de página de internet” em concurso internacional (a premiação é da revista americana ‘Campanhas e Eleições’, cujos vencedores serão conhecidos dia 4 de fevereiro) e a página oficial do PT deu essa notícia com destaque para a Blue State Digital. Acontece que nem tudo foi um mar de rosas entre os representantes da empresa americana e os marqueteiros virais brasileiros. Houve protesto junto à direção petista. Há quem diga até que Dilma sequer encontrou os gringos. Os profissionais brasileiros reclamam porque alguns dirigentes estariam valorizando demais os americanos (que realmente tiveram participação, mas que seria bem menor do que se imagina) sem reconhecer o amplo e excelente trabalho feito pela “prata da casa”. Certamente muitos terabytes ainda se chocarão na web por causa desse assunto. Mas no final os marines e nossos peles-vermelhas fumarão um cachimbo da paz virtual.

No aniversário de São Paulo, José Simão lança o Hynundai

É triste, mas é engraçado. Nos 457 anos de São Paulo, a coluna de José  Simão na Folha transborda inspiração.
Sampa urgente! Relaxa e boia!
José Simão

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Feriadão da Afundação de São Paulo! AQUASSAB URGENTE! São Paulo foi fundada há 457 anos. E afundada na enchente de cinco minutos atrás! Afundação de Sampa!
E o Kassab já lançou uma montadora especial pra cidade: a HYNUNDAI! E programa de paulista é convidar os amigos pra ver a chuva: "Ah, vem ver a chuva aqui em casa que a gente chama uma pizza".
E quem vai entregar a pizza? O comandante Hamilton do Datena? Rarará! E São Paulo é a capital da gastronomia: todo mundo come todo mundo. E São Paulo tem tanto gay que devia se chamar SÃO PAULA!
E São Paulo é tão "workaholic" que tem carteiro na segunda-feira de Carnaval. É verdade. Uma vez eu passei o Carnaval em São Paulo na segunda-feira cedo e ouvi um grito: "Caaaarteiro!". E aí apareceu um outro e ligou a britadeira.
E eu sempre digo que paulista é o único povo que leva macarrão a sério. Eu sempre repito isso porque macarrão em São Paulo tem nome, sobrenome e recheio: torteli angolini al mascaporne com recheio de shiitake e shimeji!
Em São Paulo tem japonesa loira e bunduda! E outra instituição tipicamente paulista: a padoca! Padaria! Padoca e desmanche. Nunca vi cidade pra ter tanto desmanche. Toda rua em São Paulo é assim: uma padoca, um desmanche e uma agência do Bradesco!
São Paulo tem tanto buraco que você não consegue nem tomar uma Coca-Cola dentro do carro. Quando a lata tá chegando na boca, catapumba, engasga! Já tem buraco com carro dentro.
E já tem uma versão de "Sampa", do Caetano: "Alguma coisa acontece no meu piscinão/ que só quando eu fico ilhado na avenida São João/ É que quando eu cheguei por aqui/ comprei logo um jet ski". É o SAMPISCINÃO! E o Kassab disse que as obras antienchente estão surtindo efeito. Efeito Cascata. Rarará!
E desde menino que escuto esse slogan: "São Paulo não pode parar". São Paulo não pode parar porque não tem estacionamento. Carro em São Paulo tem que pagar IPTU. Bem imóvel.
São Paulo tem Capão Redondo, sendo que eu não sei o que é capão e muito menos por que é redondo. Em São Paulo ainda se come esfiha com Fanta! São Paulo tem tanto dinheiro que você só é rico na cidade dos outros. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Fernando Henrique tá doidão


Depois de passar 2.922 dias sendo derrotado diariamente e impiedosamente por Lula, Fernando Henrique resolveu botar os caninos de fora. Aparece em tudo que é lugar para falar de qualquer coisa. De certa forma, ele está certo, já que o partido que inventou está em processo de extinção e ele se agarra com unhas e dentes na tentativa de salvá-lo. O seu alvo principal, claro, é Lula (que no momento tira merecidas férias, longe do fel efehenriqueano), chegando a (re)afirmar, em entrevista que saiu hoje no Globo, que o que houve de errado no final do seu governo foi fruto do pânico que o mercado tinha com a chegada de Lula. Se seu governo era tão bom assim, por que não conseguiu eleger seu sucessor? E por que será que era tão mal avaliado, bem antes de Lula transformar-se em ameaça? Mas FHC também procura dar pitaco no novo Governo Dilma. Tenta desacreditar exatamente aquilo que serviu de lição para ele, a economia estabelecida por Lula. Tenta criticar Mantega e fala obviedades sobre a equação commodities/manufaturados. Em política externa, o defensor dos pés descalços e cabeça baixa diante dos Estados Unidos é um fiasco completo nas opiniões, apesar (ou será por isso mesmo?) de ter sido Ministro das Relações Exteriores de Itamar. Mostra-se amuado com a postura cabeça erguida que o Brasil tomou nos últimos anos e repete a ladainha americana de que o Brasil não deveria ter buscado (brilhantemente, diga-se de passagem) um acordo entre Irã e Ocidente. No seu afã de ocupar espaço a qualquer custo, começou a discutir o mercado da droga. Chose de loque! Mas, pensando bem, até que não está sendo incoerente – afinal o seu governo acabou sendo uma grande droga.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Cool, man, cool


Bem legal essa lista feita pela CNN dos seis países mais legais (cool) do mundo. Principalmente porque o Brasil ocupa o topo da lista. Mas, além disso, tem comentários bem-humorados. Por exemplo: a referência cool dos Estados Unidos é o ator Johnny Depp – tão legal que deixou o país... Ou a referência de não-legal em Cingapura: com tanta gente colada nos computadores, o governo tem que estimular a população a fazer sexo... Ou o não-legal da Mongólia: laticínios de origem iaque... em todas as refeições!
Classificação cool: 1º) Brasil 2º) Cingapura 3º) Jamaica 4º) Mongólia 5º) Estados Unidos 6º) Espanha.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Com o Pezão na lama


No início da semana passada, o Vice-Governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que estava como Governador em Exercício, disse assim, agendando uma reunião: “Vamos fazer na quarta-feira, que minha agenda vai estar mais tranquila”. Na quarta, a agenda do Pezão literalmente inundou. Partiu para a região da calamidade e não saiu mais de lá. Como ex-Prefeito do Interior (Piraí), ele já está acostumado a enfrentar esses descalabros, como o que tomou conta da Região Serrana do Rio.
No Globo Online de hoje (“Vice-governador Luiz Fernando Pezão, que também é secretário de Obras, vai para a linha de frente da tragédia”) uma reportagem relata (com data errada) o que têm sido esses dias de Pezão. Trechos:
Como no temporal do ano passado em Angra dos Reis, que matou 53 moradores, Pezão tem chamado a atenção pela rapidez com que vai para a linha de frente das tragédias, e assume os trabalhos de coordenação das equipes de governo.

Com 1,90m de altura e sapato tamanho 48, o vice-governador passa horas em reuniões com secretários de municípios e técnicos para traçar estratégias que possam ajudar as cidades a se recuperar da destruição das chuvas.

 A rotina de trabalho do vice chega a durar 17 horas por dia. Depois de viajar para a Serra na semana passada, ele só voltará a ver sua mulher, Maria Lúcia, amanhã ou na sexta-feira. 
O vice-governador conta que, nos últimos dias, chorou ao ouvir relatos dos dramas dos moradores. Um dos momentos mais tristes foi ao entrar no Instituto Médico Legal de Friburgo e ver que vários corpos eram de crianças.

(...) rendeu também elogios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em várias ocasiões, afirmou que Cabral tinha o melhor vice do Brasil.
Seu amigo (e Governador) Sérgio Cabral tem dito que Pezão será o seu candidato para a sucessão em 2014. Pode ser que ainda esteja cedo para afirmar isso. Mas é certo que Pezão tem avançado muitos passos demonstrando que está habilitado para o cargo.

NOTA: Recebi comentário do Pezão: "Tava com lama em cima da cabeca agora já tá na barriga!"

Elis, 29 anos


Conheci a Elis em 71, ela já tinha 26 anos. Acho que era uma sexta-feira à noite, eu tinha ido de carro de São Paulo para o Rio, com amigos (Marly, Laerth e Rita Ruschel), e fomos encontrá-la no Santos Dumont, porque ela ia de jatinho para Vitória fazer um show. Ali no saguão do aeroporto foi logo dizendo "Olha a música que vou gravar", e cantou "Casa no Campo", do Zé Rodrix e do Tavito. Chovia à bessa. Mas acabei largando o carro por lá e viajamos todos para Vitória. Hoje faz 29 anos que Elis morreu.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Enigma do Copom: decifra-me ou aumento os juros

Faço minhas as palavras do Senador Francisco Dornelles (PP, RJ), "O Copom vai cometer um grande erro se aumentar a taxa Selic", e acho que a taxa dessa vez não deveria ser aumentada. Mas ninguém acredita na possibilidade do Copom agir diferente. A justificativa para o provável aumento é a inflação alta dos últimos meses, acima da meta do Governo. Mas, por mais que digam, essa postura não pode ser tão automática. Os motivos inflacionários do final do ano passado já não parecem os mesmos e Guido Mantega está claramente empenhado em cortar gastos - mesmo mantendo a política de desenvolvimento. Os juros altos agora prejudicariam fortemente nossa moeda e nossa posição no mercado internacional, acabaria sendo ruim para nosso mercado interno. Os únicos beneficiados seriam aqueles que se utilizam do dólar especulativo - inclusive brasileiros, como aponta reportagem de hoje da Folha ("Exportador especula com dólar deixado fora do país"): nossos exportadores depositam seus ganhos em dólares em bancos no exterior, que trazem esses dólares para vender no Brasil (geralmente ao Banco Central) e dividem os lucros com os exportadores. A denúncia é do próprio vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. Enquanto isso, o Copom mantém-se como aquela esfinge que a apenas o mercado financeiro é capaz de decifrar.

Tucson, 8 de janeiro: oposição raivosa americana deu um tiro no pé


Graças às heranças malditas deixadas por Bush e certa fragilidade do próprio Obama, a oposição Republicana, tendo à frente os ultraconservadores do Tea Party, vinha crescendo assustadoramente. Claro que Obama ainda poderia se recuperar até as próximas eleições, mas estava cada vez mais difícil. Foi aí que, tcham-tcham-tcham!, os trogloditas da política americana mais uma vez agiram do único modo que eles sabem agir: como trogloditas. Partiram para o atentado a bala, mataram 6 pessoas e feriram 13 (inclusive, gravemente, seu alvo principal, a Deputada Democrata Gabrielle Giffords). Mas acabaram se dando mal. Reportagem de hoje do Washington Post (Poll shows high marks for Obama on Tucson, low regard for political dialogue) mostra que o povo americano repudiou o estilo truculento, conforme pesquisa realizada imediatamente após o bang-bang. Obama passou a ter o maior índice de aprovação (54%) desde abril do ano passado (Fully 54 percent of all Americans now approve of the way he is handling his job as president, while 43 percent disapprove). 80% apoiaram a sua reação ao incidente, sendo que mesmo entre os Republicanos o índice foi alto, 71%. E tem mais: 55% dos americanos mostraram-se otimistas com a possibilidade de Democratas e Rebublicanos se entenderem na condução de assuntos relevantes, 7% a mais do que em uma pesquisa da ABC News-Yahoo News feita um pouco antes do massacre. É o caso de se dizer que há males que vêm para bem.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tragédia das águas: a dor, quem sabe, esvai-se com o tempo - mas o que fazer para evitar mais dor?


Não há palavras que descrevam a tragédia dessas águas de janeiro sobre o Sudeste brasileiro, particularmente no Estado do Rio. As imagens detalham muito mais, dão mais clareza, causam impacto vertiginoso. Os números também falam mais alto: talvez 1.000 pessoas tenham morrido, a maioria nos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis!
As causas da tragédia – além das forças da natureza – são diversas. Ocupação irregular, falta de obra de infraestrutura, equipamento meteorológico insuficiente, agressão ao meio ambiente, falha de comunicação, e por aí vai. Não adianta agora culpar ninguém nem ficar batendo cabeça diante de tanto desespero. Além das tarefas imediatas de atendimento à população atingida, esse é o melhor momento para começar a prevenir futuros tsunamis. Tudo tem que ser feito, e pode ser que até a renovação dos contratos com a Fundação Cacique Cobra Coral ajude (No creo en brujas, pero que las hay, las hay). Mesmo de longe, sofri muito com esse drama. Vários amigos e conhecidos vivem na região (felizmente, todos bem) e eu mesmo já tive casa por lá. Isso me motivou ainda mais a tentar colaborar para as soluções e faço a sugestão de formação de algo como Comitês de Defesa do Ambiente, impulsionados pelo estado, mas que consistissem basicamente de organização popular em ruas, bairros, regiões. Teriam papel educativo, de conscientização, mas também poderiam formar brigadas contra o descontrole do lixo, de apoio ao plantio em encostas, ajuda em desassoreamentos de rios, etc. A própria população teria papel fiscalizador e daria capilaridade às ações do poder público. Não diria que isso é o mais importante a ser feito (tudo é igualmente importante), mas considero fundamental. A população diretamente afetada não pode viver passivamente à espera de um estado milagroso. Tem que se conscientizar, se organizar e participar da solução. Com certeza a dor – se houver – será bem menor.

Aproveito para mostrar esse vídeo que foi enviado pelo José Augusto Valente sobre o trabalho da suíça Geobrugg com suas redes de anéis que procuram, digamos, separar o joio do trigo. Parece boa técnica. Talvez haja outras.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Governo Dilma: o silêncio é de ouro?


O que a grande mídia mais fez nos últimos 8 anos foi tentar derrubar o Governo Lula. Não conseguiu, tornou-se a grande derrotada. Pior: viu as verbas polpudas da propaganda governamental distribuídas também por centenas de veículos de comunicação menores e pulverizados por todo o país. Mas Lula só pôde enfrentar e vencer a poderosa mídia graças ao seu carisma, seu trânsito livre na máquina petista, sua habilidade política e seu acerto na economia. Isso lhe garantiu a sustentação popular que o tornou irremovível.
Dilma vive situação diferente. Não tem o mesmo carisma nem o trânsito livre na máquina petista. Sua habilidade política ainda está sendo testada. E a economia precisa de pequenos ajustes, diante do cenário internacional (cujas relações também merecem enfoque ligeiramente diferente). A mídia e toda a oposição percebem isso e procuram dar o bote. O primeiro passo é tentar cavar conflitos entre o Governo Dilma e o Governo Lula, entre o PT e o PMDB. A coluna de hoje de Merval Pereira no Globo (“Silêncio de ouro”) destaca que o silêncio de Dilma adotado até agora “não lhe foi imposto, mas adotado por ela como maneira de não entrar em choque com o hiperativo Lula quando ele ainda estava em pleno gozo de suas prerrogativas presidenciais e dava mostras diárias de que lhe custaria muito abandonar o poder. Depois da posse, Dilma continua em silêncio, o que parece ser uma estratégia para impor um ritmo diferente ao governo sob nova administração”. Mais adiante: “(...) a presidente Dilma, que quando ministra parecia estar ligada à ala mais radical do petismo, mostra-se nesses primeiros dias de governo de uma sensatez à prova de má vontades políticas, e começa mesmo a corrigir distorções do governo anterior”. Ledo engano oposicionista.
Entre o PT e todos os aliados é natural que haja diferenças, senão eles seriam um partido único. Na verdade, há mais proximidade do que afastamento. A mudança que ocorre agora no relacionamento (principalmente entre PT e PMDB) também é natural – afinal, antes Lula substituía o seu partido, mas agora o PT tem que andar com as próprias pernas. E o silêncio de Dilma está longe de tentar demonstrar diferenças com relação a Lula. Ao contrário, com o seu "silêncio" ela procura ao mesmo tempo neutralizar a mídia e as oposições e apaziguar um ou outro partido da base. O seu silêncio, ao invés de ser uma “maneira de não entrar em choque com o hiperativo Lula”, é uma forma de capitalizar os ecos do discurso lulista junto à opinião pública, tão importante nesse início de governo. Dilma não fala, porque precisa que a voz de Lula continue no ar nessa fase de transição. Não há razão para atrair desde já todas as iras oposicionistas contra o seu governo. Dilma vai deixar sua marca, sim. Mas no momento o seu silêncio, de fato, é de ouro. E ela não vai entregar esse ouro a ninguém.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Caso Battisti: penso, logo desisto


Passados 11 dias desde que Lula decidiu negar a extradição de Cesare Battisti, ninguém ainda está feliz.
Battisti está infeliz, porque ainda não conseguiu a liberdade, apesar da determinação de Lula.
O STF, perdido nas suas tertúlias jurídicas, está infeliz, porque não consegue provar que é mais poderoso do que o Poder Executivo.
O Executivo está infeliz, porque não consegue entender o que se passa na cabeça dos ministros do STF.
Talvez o único feliz da vida seja Silvio Berlusconi, empresário e primeiro-ministro italiano. Berlusconi, que vive com a cabeça a prêmio graças a escândalos constantes, encontrou na não-extradição de Battisti uma excelente bandeira para reabilitar sua própria imagem. Como é dono de um verdadeiro império da comunicação, conseguiu por alguns dias mobilizar a opinião pública italiana (e até mesmo boa parte da nossa mídia), apoiando o seu governo e pedindo a extradição de Battisti. O governo Berlusconi chegou a divulgar ameaças contra o Brasil. Pura bravata espertalhona, já que existem muitos outros interesses entre os dois países.
Não há porque perpetuar esse cazzo, perdão, esse caso. Não tenho a menor simpatia ou antipatia por Cesare Battisti, mas é evidente que se trata de uma questão política. Uma idiotice dos tempos obscuros na Itália, mas ainda assim política. Vamos dar uma basta a essas questiúnculas e tratar de tocar o barco. Não aguento mais esse ramerrame jurídico, desisto de entender o STF.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Boa notícia: Brasil reconhecido como dor de cabeça para Estados Unidos e Europa

Com o título de “Brasil tornou-se uma dor de cabeça para EUA e UE!”, Cesar Maia reproduz hoje, no seu Ex-Blog, texto de Andrés Oppenheimer para Miami Herald / La Nación. Na essência, diz que, “não satisfeito com seu papel de líder na América Latina, o Brasil buscou alcançar destaque mundial em 2010 desafiando os EUA e a Europa em quase todas as frentes, mas com uma linguagem suave e um sorriso diplomático”. Cesar Maia, obviamente, reproduz isso como crítica. Mas tem notícia melhor do que essa? 1) o Brasil buscou destaque mundial; 2) o Brasil não se curvou diante dos Estados Unidos e da Europa; 3) o Brasil, para isso, usou linguagem apropriada, diplomática. O artigo conclui que “o Brasil, ainda mais que a Venezuela, tornou-se uma nova dor de cabeça para a diplomacia norte americana e europeia”. Só não é dor de cabeça o país que se curva – logo, ponto para o Brasil. E só se transforma em dor de cabeça intolerável o país que recusa a linguagem diplomática – logo, outro ponto para o Brasil. Cada vez mais, dá orgulho ser brasileiro.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

En garde: o Governo Dilma entra em campo para vencer


O objetivo maior de Dilma Roussef é dar continuidade ao Novo Brasil iniciado pelo Governo Lula. Um Brasil que não se conformou com a democracia formal e abriu caminho para uma democracia social, com participação popular e com direitos econômicos e sociais para a grande maioria “esquecida” da população. Dilma Roussef com certeza estará empenhada nessa continuidade – e terá consciência de que o seu maior desafio será ter que enfrentar a oposição elitista sem ter o mesmo carisma de Lula. Entre os desafios imediatos, vejo a política de juros e a política externa como os mais complexos e que exigem movimentos feitos com muita precisão.
Não há quem discorde de que não podemos manter o real supervalorizado, sob pena de naufragarmos no mercado internacional. Com os Estados Unidos e a Europa em crise, fazendo de tudo para conquistar mercados, e com a China forçando a desvalorização do yuan, ficaremos extremamente fragilizados com essa taxa de juros alta que traz mais e mais dólares para sobrevalorizar o nosso real. Mas como fazer para baixar juros com a economia aquecida e a inflação aproximando-se ameaçadoramente? Fala-se em redução do gasto público, aplicação de tarifas e outras medidas, algumas talvez necessárias, mas nenhuma milagrosa. A necessidade de competitividade internacional e a necessidade de conter a ameaça inflacionária continuarão juntas, em oposição, pondo à prova a nova equipe econômica. Mas não se pode, de forma alguma, tirar de perspectiva desenvolvimento com investimento social.
Na política externa, os desafios imediatos não são menores, exigindo mais e mais do tradicional pragmatismo do Itamaraty. Estados Unidos e Europa, envolvidos até a alma com a crise iniciada em 2008, tendem a se tornarem cada vez mais agressivos internacionalmente, em busca de saídas para a estagnação e o desemprego. É necessário que o Itamaraty saiba neutralizar a fúria dos desenvolvidos. Deve buscar entre eles aliados e parcerias, sem que isso signifique conter os avanços e a opção preferencial que fizemos junto à América Latina, África, Oriente Médio e a outros países emergentes. Além disso, esse tom de voz (necessário, e que só foi possível graças à política dos últimos 8 anos) mais afinado com os Estados Unidos não pode desafinar em defesa de nossos interesses geopolíticos. Nossas riquezas amazônicas e o pré-sal são intocáveis. Nossa política de apoio à América Latina e à África, a todos os povos em desenvolvimento, não pode esmorecer. Nossa altivez não está em jogo. Continuaremos altivo e ativos, como disse Celso Amorim. É só uma questão de saber movimentar com firmeza as peças do tabuleiro internacional, sem jamais abrir mão do que já conquistamos.
Dilma já demonstrou sua capacidade de luta e de gerenciamento e obviamente assimilou muito do jogo político de Lula. Tenho certeza que sairá vitoriosa. Touché!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Habemus Presidenta!


Dilma torna-se a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil. Representa o tapa na cara na ideologia de 64 que aterrorizou nosso país. E mais do que isso: assume o compromisso de traçar os novos contornos do Novo Brasil construído por Lula, principalmente na economia e na política externa. É o Novíssimo Brasil que vem aí. Salve, Dilma!

Lula e a democracia: 80 anos em 8

Há 50 anos, em sua última mensagem como Presidente da República, JK disse que "em matéria de meta democrática, o Brasil avançou cinqüenta anos em cinco". No Governo Lula, portanto, terá no mínimo avançado oitenta anos em oito.

La otra mujer de Brasil

Foi um amigo que me falou e fui lá conferir. Duas semanas atrás, a revista do jornal argentino La Nación fez longa reportagem com Benedita da Silva, que é tratada como "a outra mulher do Brasil". Busquei o motivo da reportagem e descobri que Benedita da Silva, Deputada Federal eleita pelo PT-RJ, tem promovido o carnaval carioca na província de San Luis, com "una propuesta para considerar esta fiesta como una forma de inclusión social". Sei que ontem "la otra mujer" escolhia a roupa para assistir, hoje, a posse "de la Primera Mujer".