Em 20 de maio de 2007, postei aqui neste Blog (que retomo
hoje, depois de 6 meses) que os Estados Unidos tinham dobrado a participação de
mercenários em sua invasão do Iraque. E usei principalmente dados de uma
reportagem, na Folha, de Sérgio Dávila ("Mercenários no Iraque se igualam a
EUA"). Mostrava que o número de mercenários (eufemisticamente tratados
como "soldados privados") americanos já tinha quase se igualado ao
número de soldados oficiais (algo entre 100 mil e 130 mil para mercenários e 145
mil para "soldados oficiais"). Com uma diferença bem importante: os
mercenários eram melhor equipados e recebiam salário maior do que o da tropa
oficial. Segundo a Democrata Jan Schakowsky, da Comissão de Inteligência da
Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, 40% da verba destinada ao Iraque
pelo contribuinte americano ia parar nas mãos de empresas de segurança privada.
O soldado mercenário trabalhando numa área perigosa ganhava por dia o mesmo que
um soldado de faixa média do exército americano ganhava em um ano. E por que
tudo isso? Por que terceirizar a política externa dessa forma, como alertava o
documentarista Nick Bicanic, autor de "Shadow Company" (A companhia
fantasma)? Sem dúvida alguma, havia a necessidade de "pagar a dívida de
campanha". A empresa de segurança privada Blackwater (a maior de todas,
criada pelo religioso Erik Prince e ligada a Republicanos), por exemplo, foi um
dos maiores doadores da campanha de Bush.
Quando leio hoje as notícias alucinadas de Trump defendendo
a retomada de uma corrida armamentista, não posso pensar em outra coisa: está
tratando de pagar dívida de campanha.
Alguém talvez ainda pense que nos Estados
Unidos não tem disso - mas, na minha opinião, trata-se de um dos esquemas mais
corruptos que existem. E isso torna-se cada vez mais evidente quando o financiamento
das campanhas é privado, e não público. Acho que falei em algum momento que, quando
entrevistei o consultor político Jeff Greenfield, em 1974 (Nova York),
perguntei o que ele mudaria no sistema eleitoral, ele respondeu: o dinheiro. Já
naquela época, defendia tempo eleitoral gratuito na TV (pelo menos isso, nós
temos), financiamento público geral e campanhas menores. Essas contribuições
privadas monumentais nunca são de graça. Ficam cada vez maiores e os "contribuintes"
buscam retorno imediato (embora de forma velada). Trump foi muito rápido em
inventar tensões internacionais. Aparentemente, ele não busca uma guerra real,
como fez Bush. Seria apenas uma gigantesca corrida armamentista que daria
tranquilamente para pagar as contribuições. Mas o risco é muito grande. Como
também contribui fortemente para aumentar o risco que corre a democracia
americana, como bem alertou Paul Krugman.
Hoje, li o texto de uma palestra de Ronaldo Fiani que traz
uma visão geopolítica bem interessante que poderia justificar esses movimentos
trumpianos. Trarei para cá amanhã.