Ninguém se iluda: Eduardo Campos não tem duas caras. Tem uma cara só – da oposição, cada vez mais conservadora. Esse papo de “base aliada crítica” é puro oportunismo. Oportunismo bem feito, diga-se de passagem. Quer fazer oposição sem perder as benesses do poder. Quer mostrar para o “mercado” e para a classe média conservadora do “sul maravilha” que bate no governo Dilma, ao mesmo tempo em que tenta vender ao povo nordestino a imagem de que sempre esteve ao lado de Lula. Tentar mostrar duas caras é o melhor que pode fazer para crescer nas pesquisas. Mas a verdade é que essa moeda tem uma face só – e isso o povo inteiro já sabe.
Mais um bom artigo de Janio de Freitas, hoje, na Folha.
ALIADO E OPOSITOR
Janio de Freitas
Aspirante à sucessão presidencial e governador pernambucano, Eduardo Campos apresentará hoje na TV, se não mudar na última hora o programa gravado, sua lista do que considera os erros desastrosos de Dilma Rousseff. Pelos quais, no entanto, ele é corresponsável.
Se o PSB, conduzido por Eduardo Campos, se fez sócio dos êxitos do governo federal, não tem como fugir da condição de sócio do que sejam os erros e insucessos do governo em que tem até ministério e integra a "base aliada" no Congresso. Não há conversa farsesca que anule essa obviedade.
Eduardo Campos não faz crítica, como diz. Poderia e talvez devesse fazê-la se, como caberia mesmo a um aliado, examinasse a natureza do erro, como e por que ocorre. A mera atribuição de erro ou insucesso não é crítica, é oposição. "O Brasil caminha para a crise", como já disse Eduardo Campos a empresários do Sul, é uma advertência grave demais, sobretudo partindo do governador de Estado com a importância de Pernambuco, para que passe sem a exposição de embasamento sério, seja convincente ou não.
Do joguinho de aliado e opositor, de sugar proveito dos dois lados, o que resulta é simples: embuste como aliado e embuste como oposição, ou, vá lá, "crítico".
A mesma evidência ressalta deste ridículo: "Nós não temos um projeto de poder, nós temos um projeto de país". Até em nome do pudor alheio, se não puder ser do próprio, quem deixa lá o seu governo e sai pelo país em óbvia pré-campanha pelo poder - na qual ainda não ofereceu nem uma só ideia nova para o país - deve apresentar um engodo melhorzinho.