Mostrando postagens com marcador Bush. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bush. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

TRUMP, PAGANDO AS "CONTAS" DA CAMPANHA OU INOVANDO NA GEOPOLÍTICA?



Quando Bush invadiu o Iraque apenas dois anos após sua posse, era mais do que evidente que estava pagando dívida de campanha. Você olhava para o mapa do Iraque e logo enxergava nele a sombra do pentágono e da indústria da guerra. Quando vemos Trump anunciando a retomada de uma corrida armamentista, é natural fazer a analogia - e talvez pagar dívida de campanha seja mesmo a verdadeira razão de seu anúncio tresloucado.
Mas esses dias me veio à cabeça, lendo o texto de uma palestra do professor de Economia da UFRJ, Ronaldo Fiani (que o Fernando Brito me passou), que talvez houvesse algum pensamento esperto em sua equipe e que sua motivação seria outra. Ou melhor, agregaria outra motivo forte. Tudo começou a fazer sentido a partir daquele telefonema de Taiwan, que teria custado a bagatela de 140 mil dólares ao governo taiwanês (pago ao amigo de Trump, que teria intermediado a ligação). Foi o primeiro punch de Trump na China, que reagiu imediatamente e com bastante vigor.
Depois teve a história do planador americano que a China capturou no Mar da China Meridional. Trump esbravejou que a China poderia ficar com ele. E Trump ainda coroou sua equipe de Relações Exteriores com um inimigo ferrenho dos chineses.  De lá pra cá, a China, através do Global Times (Diário do Povo), mistura vigor com ironia em suas respostas. Mas a ironia maior é que Trump foi eleito com ajuda essencial de Putin - um aliado estratégico da China. Aliás essa aliança está na essência do texto de Fiani.
"A parceria Rússia-China, ao contrário do que a imprensa tenta sugerir, não é uma aliança de conveniência, é uma parceria estratégica. (...) Com potencial de alavancar um projeto de integração 'Eurásia' que os norte-americanos - do seu ponto de vista corretamente - percebem como uma ameaça à situação dos EUA, porque uma vez integrada economicamente essas duas regiões, eles e o Japão, só para citar alguns, serão naturalmente jogados para a margem do sistema" (Em tempo: a principal linha ferroviária de alta velocidade da China, ligando leste-oeste começou a operar hoje, 28 de dezembro de 2016).  Mais adiante: "Como é que ficam a América Latina e Caribe nisso? Primeira questão: petróleo na América Latina e no Caribe. Aí tem-se o primeiro mandamento do ponto de vista geopolítico:  negar o acesso ao petróleo para projeção de poder em escala global. (...) Dado esse papel geopolítico crucial do petróleo, qual tem sido a estratégia chinesa na América latina e no Caribe? Empréstimos em troca de petróleo".

Fiani continua com muita precisão mostrando a estratégia geopolítica chinesa envolvendo a América do Sul e o Caribe. E tudo que ele diz só faz fortalecer a possibilidade de Trump estar tentando impedir o avanço chinês nessas bandas de cá. Incluindo tentando enfiar uma cunha na aliança sino-russa.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O Ocidente perdeu a autoconfiança

Bem interessante esse texto de Gideon Rachman (Financial Times). Dá uma boa discussão. Reproduzo, com tradução rápida.

O Ocidente perdeu a autoconfiança
(The west has lost intellectual self-confidence)
Gideon Rachman

Na primeira metade da minha vida, a política internacional foi definida pela Guerra Fria. A queda do Muro de Berlim encerrou aquela era e começou outra: a era da globalização. Agora, 25 anos depois, parece que estamos mais uma vez testemunhando o fim de uma era.
A sensação de que as coisas estão mudando é mais forte no campo das ideias. Nos últimos anos, o Ocidente perdeu a confiança na força dos três pilares em que o mundo pós-guerra fria foi construído: o mercado, a democracia e o poder americano.
Os sucessos dessas três ideias estavam, evidentemente, interligados. Terminada a guerra fria, era natural perguntar por que o sistema ocidental prevaleceu. A conclusão óbvia foi que os sistemas baseados no mercado e na democracia tinham simplesmente superado economias e  políticas sob comandos autoritários. Como dizia o ditado popular: "A liberdade funciona". Acontece que os EUA não eram apenas a única superpotência sobrevivente. Os Estados Unidos também gostavam de hegemonia intelectual.
Após a queda do Muro, houve um novo vigor a partir da expansão da economia de mercado e das políticas democráticas em todo o mundo. Era natural que o consenso de mercado livre defendido pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional viesse a ser conhecido como o "Consenso de Washington".
A política resultante do Consenso de Washington teve a crença de que a democracia acabaria por triunfar não apenas no leste da Europa, mas em todo o mundo. E nos anos 90, em países tão diversos como a África do Sul, o Chile e a Indonésia, de fato houve transições inteiramente bem sucedidas para a democracia. Por trás desses desenvolvimentos econômicos e políticos havia o fato de que os EUA eram incontestavelmente a superpotência global e o centro do sistema militar e estratégico em todo o mundo – da América Latina à Ásia Oriental, Oriente Médio e Europa.
De certo modo, esse é o mundo em que vivemos até hoje. No entanto, há dúvidas crescentes no Ocidente sobre a trindade de ideias em torno do qual o mundo pós-guerra fria foi construído: o mercado, a democracia e o poder americano. Em cada caso, houve fatos que minaram a certeza disso.
A fé nos mercados livres foi fortemente abalada pela crise financeira de 2008 e a subsequente Grande Recessão – e nunca se recuperou disso. Embora a depressão global que muitos temiam tenha sido evitada, a crença exuberante na capacidade dos mercados livres para elevar os padrões de vida em todo o mundo não voltou. Em grande parte do Ocidente, em vez disso, o debate econômico foi dominado pela discussão sobre a desigualdade de renda – com a Europa contribuindo com uma ansiedade extra em relação ao Euro e à alta taxa de desemprego. As estrelas dos mercados emergentes, como o Brasil e a Índia, perderam o charme, e até mesmo a China está reduzindo o ritmo. A crença de que existe uma fórmula baseada no mercado em que todos os formuladores de políticas sensatas podem se basear – um "consenso de Washington" – evaporou-se, para ser substituída por uma falta de consenso mundial.
Por sua vez, o “evangelismo democrático” foi abalado pelos horrores desencadeados pelas revoltas árabes. A onda de mudança revolucionária que atingiu o Oriente Médio em 2011, inicialmente, parecia o equivalente árabe da queda do Muro de Berlim. Sistemas autoritários foram caindo e novas democracias pareciam estar surgindo. Mas o fracasso da democracia em criar raízes em qualquer um dos países que sofreram revoluções – com a exceção da Tunísia – minou a fé no avanço inevitável da liberdade política.
Da mesma forma, é preocupante uma crescente descrença na capacidade das democracias tradicionais em garantir governos competentes. Nos EUA, o respeito pelo Congresso alcança seus níveis mais baixos. Em países europeus, como Itália e França, os sistemas políticos parecem incapazes de garantir reformas ou crescimento – e os eleitores estão flertando com partidos extremistas.
O terceiro pilar da globalização era o poder americano. Isso também parece menos confiável do que há uma década. Aqui, o fator principal foi a guerra do Iraque. Esse conflito, desencadeado pelo presidente George W. Bush, inicialmente parecia uma demonstração triunfante do poder americano com Saddam Hussein sendo varrido. Mas a incapacidade dos Estados Unidos para estabilizar o Iraque ou o Afeganistão, apesar de muitos anos de esforço, demonstraram que, apesar de os militares americanos poderem destruir um regime hostil em semanas, não podem garantir um pós-guerra estável. Mais de uma década depois da queda de Bagdá, os Estados Unidos estão de volta à guerra no Iraque – e no Oriente Médio inteiro há um violento estado de anarquia.
A ascensão da China também levantou questões sobre como é que o longo reinado dos Estados Unidos como "superpotência única" pode continuar. Em outubro, o FMI anunciou que – em termos de poder de compra – a China é hoje a maior economia do mundo. Ela ainda está a quilômetros de alcançar o nível americano na política internacional. Mas a capacidade e a vontade dos Estados Unidos de manter o seu papel de hegemonia global é uma questão em aberto.
Dito isso, vale lembrar que a queda do Muro de Berlim aconteceu num momento em que muitos nos EUA estavam obcecados pela ascensão do Japão. Isso serve como lembrete de quão rápido o mundo das ideias pode se transformar e as preocupações da moda podem desaparecer. Mas, enquanto esse início de ano mostra um renascimento da economia norte-americana, o renascimento da autoconfiança ocidental ainda parece bem distante.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ex-ministra americana acha que Suprema Corte errou na decisão sobre as eleições de 2000


Declaração da aposentada da Suprema Corte da Justiça Sandra Day O’Connor sobre a decisão tomada a favor da legalidade dos votos da Flórida que decidiram a eleição de Bush contra Al Gore, em 2000: “Talvez a gente devesse ter dito ‘Estamos fora, e tchau’. As autoridades da Flórida não fizeram um bom trabalho e meio que bagunçaram tudo” (“Maybe the court should have said, ‘We’re not going to take it, goodbye’. It turned out the election authorities in Florida hadn’t done a real good job there and kind of messed it up.”). Essa declaração foi feita ao Chicago Tribune e reproduzida pelo Washington Post. É bom lembrar que a decisão a favor de Bush no Supremo foi apertada, 5x4. Tudo girava em torno das recontagens de votos, que acabou sendo feita em uma parcela reduzida das cédulas. (Parece que o que é bom para os Estados Unidos não é bom para a Venezuela. Apesar disso, Chávez reconheceu o governo Bush...)
Talvez fosse o caso do nosso STF escutar Sandra Day O’Connor, antes de tomar suas decisões tão discutíveis.

domingo, 23 de outubro de 2011

Barbárie


Na quinta, estava dirigindo e – como faço sempre – ouvindo a CBN, quando me tornei testemunha de verdadeira barbárie relacionada à questão líbia. A âncora Lucia Hippolito chamou Sérgio Besserman e apresentou, como destaque do dia, a possível captura de Kadafi. Nada mais apropriado, já que era o que se discutia na mídia internacional. Infelizmente, o que se ouviu em seguida foi uma sucessão de barbaridades, despropósitos, mau gosto, algo difícil de acreditar que estivesse sendo perpetrado por duas figuras relevantes em nosso mundo informativo, político e cultural. Lucia Hippolito começou ridicularizando Kadafi por conta de suas roupas extravagantes (como se essa fosse a maior de suas extravagâncias!). Mas essa bobagem não foi nada, diante do que veio a seguir. Besserman mostrou-se indignado sabem com o quê? Não admitia que Kadafi (que, segundo ele, já deveria saber há meses que seria derrotado) não tivesse se entregado há mais tempo para evitar tantas mortes na Líbia!!! Dá pra acreditar? As cenas que correm o mundo revelando os detalhes da morte de Kadafi será que respondem a Besserman? Lucia Hippolito sugeriu que ele, Kadafi, deveria ter-se matado. Besserman concordou, lembrando o suicídio de Allende!!! Lucia Hippolito diz que Kadafi deveria ter-se queimado em praça pública, se lançado do alto de algum lugar – e isso tudo dito aos risos. Afinal de contas, segundo eles, Kadafi somente fez o mal...
Como pode a CBN permitir algo assim? Por mais que Kadafi tenha tido ações extremamente condenáveis (como ajudar os Estados Unidos na tortura de presos políticos), ele também teve papel positivo para seu povo. Evitou a sangria das riquezas do petróleo que, antes, jorravam para o exterior, combateu o analfabetismo, fortaleceu e projetou o seu país no continente e no mundo. Independente disso, não se combate a barbárie com mais barbárie. A dupla de jornalistas deveria mirar-se no exemplo de Dilma que, opondo-se ao oportunismo belicoso de Obama e outros dirigentes ocidentais, demonstrou serenidade e visão de estadista, ao afirmar que “não é possível comemorar a morte de qualquer líder” e concluir que “não se faz apedrejamento moral de ninguém”.
Acredito que Lucia Hippolito e Sérgio Besserman sejam bem intencionados, por isso sugiro lerem a coluna de hoje, no Globo e na Folha, de Elio Gaspari, que lembra cena semelhante ocorrida em 1961 com o líder congolês Patrice Lumumba "amarrado, apanhando antes de ser fuzilado por compatriotas rebelados”. Na verdade, mais uma barbárie patrocinada por “civilizados” ocidentais, orientados pelo onipresente CIA.

Abaixo, o trecho da coluna de Elio Gaspari e depois texto do jornal mexicano La Jornada do dia 21.
Muamar Al Clinton
O vídeo dos minutos finais de Muamar Kadafi, ensanguentado e cambaleante, ecoa o filme de 1961 que mostrou o primeiro- ministro congolês Patrice Lumumba amarrado, apanhando antes de ser fuzilado por compatriotas rebelados. Em 1975 uma comissão do Senado americano mostrou que a CIA trabalhava para matá-lo. Em 2002, o governo da Bélgica assumiu a “responsabilidade moral” pela sua participação no crime e pediu desculpas ao povo congolês. O comboio em que estava o Kadafi foi atacado por aviões americanos e franceses. Hillary Clinton disse, dias antes, que esperava a morte de Kadafi para “breve”. Os vídeos “Lumumba seized, returned to Leopoldville” e “L’assassinat de Patrice Lumumba” estão no YouTube.
Kadafi y la hipocresía de Occidente
El asesinato de Muammar Kadafi, perpetrado ayer en su natal Sirte, marca el triunfo definitivo de la revuelta que empezó en Libia hace ocho meses y que fue desvirtuada, poco después de su inicio, por una masiva intervención militar de las potencias occidentales en la nación norafricana. Lo que habría sido una insurrección popular democratizadora fue convertida en una incursión de saqueo neocolonial, alentada por la ambición de Estados Unidos y Europa ante los enormes recursos energéticos del territorio sirio, en un nuevo mercado de armamento y, presumiblemente, en una vasta oportunidad para los negocios de "reconstrucción", a la manera de los realizados tras la invasión y destrucción de Irak, cuyos contratos beneficiaron a las empresas y consultoras del entorno del ex presidente George W. Bush. Por otra parte, está por verse si el heterogéneo Consejo Nacional de Transición (CNT) es capaz de reconstruir Libia, de gobernar con moderación, legalidad y soberanía, así como de emprender cambios reales en el país. En otro sentido, la exhibición del cadáver del antiguo hombre fuerte de Libia en los medios occidentales, así como la omisión de que su muerte y la de muchos de sus hombres cercanos fueron homicidios injustificables, exhibe una vez más la doble moral de las democracias occidentales, las cuales siguen haciendo redituables negocios con sátrapas del mundo árabe no menos impresentables que Kadafi, como los monarcas de Marruecos, Arabia Saudita y los emiratos petroleros del Golfo Pérsico. Asimismo, al festejar el suceso, Estados Unidos y Europa omiten el hecho de que, hasta hace menos de un año, Kadafi era recibido con cordialidad extrema por Barack Obama, José Luis Rodríguez Zapatero, Nicolas Sarkozy y Silvio Berlusconi, y que hay señalamientos sobre el financiamiento de las campañas políticas de los dos últimos por parte del régimen depuesto. Con tales antecedentes, es claro que el fin de la era de Kadafi en la intervenida nación del Magreb no necesariamente representa un paso hacia la democracia, la paz y el desarrollo en Libia. Por lo pronto, el asesinato del gobernante es una expresión de barbarie y de hipocresía.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bin Laden decide a reeleição de Obama


Com a morte de Osama Bin Laden, ficou praticamente impossível derrotar Obama em 2012. A existência – contra tudo e contra todos – do líder da Al Qaeda simbolizava fraqueza dos Estados Unidos, a maior máquina de guerra do mundo. Encontrá-lo e matá-lo lavou a alma do povo americano – que comemora nas ruas como se fosse a vitória de uma grande guerra – e traz de volta o símbolo de poder ao país que andava meio combalido. Ainda afasta de Obama a imagem de vacilão que os Republicanos tentavam fixar.
Sua morte prova ainda duas coisas: 1) não se pode acreditar em tudo que se vê – todo mundo via um Bin Laden maltrapilho, carregando uma espingarda velha nas montanhas do Afeganistão, mas ele vivia em mansão perto de Islamabad, capital do Paquistão; 2) Obama sem dúvida sabe usar a inteligência bem melhor do que Bush.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Obama e a crise árabe: perdendo-se em miragens


Não tem herança maldita pior do que essa política para o Oriente Médio que Obama herdou de Bush. Desde a invasão do Iraque, a presença americana na região torna-se cada vez mais mal vista e tudo aponta para um terreno extremamente árido. Os Estados Unidos tentavam manter posição estreitando as relações com tradicionais aliados, como Egito, Arábia Saudita, Jordânia e outros – países dispostos a dialogar com Israel e que poderiam ajudar a isolar o “demoníaco” Irã. Obama ainda tentou acariciar o povo palestino na sua luta contra Israel. Chegou a apertar a mão do “monstruoso” Kadafi. E talvez tenha sonhado com o distanciamento entre Síria e Irã. Nada deu certo. O Oriente Médio, apesar de todos seus conflitos internos, inclusive religiosos, parece ter mais afinidade (e interesses) com Ahmadinejad do que com qualquer presidente americano. E as ações radicais (como a rejeição do acordo nuclear patrocinado por Brasil e Turquia) de Obama, pressionado pelo seu eleitorado judeu, só fizeram piorar a situação. Quando ele vivia a situação de que pior não poderia ficar, veio o pior, vieram os ventos “democratizantes” levando para mais distante a influência americana.
Os Estados Unidos passaram a percorrer um deserto sem camelo. Não poderiam ir contra os revoltosos, sob risco de perderem os votos progressistas internos e o papel de paladino do “mundo livre”. Mas não poderiam se esforçar pela queda de dirigentes palatáveis no Egito, Bahrein, Iêmen, etc. A mídia e a Administração Obama, como analisa o Foreign Policy (Obama Is Helping Iran), chegaram a pensar que “a onda de revolta popular que derruba um após o outro os aliados dos Estados Unidos acabaria por derrubar a República Islâmica do Irã e talvez o governo sírio de Assad – mas isso foi apenas o triunfo do pensamento sonhador (wishful thinking) sobre o pensamento analítico (thoughtful analysis)”. O bilionário George Soros arriscou calcular que o regime iraniano não duraria nem mesmo um ano. Apenas miragem. As pesquisas de opinião mostram que os principais líderes na resistência aos Estados Unidos (Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, Bashar Assad, da Síria, Hassan Nasrallah, do Hesbolá libanês, Khaled Mishaal, do Hamas palestino e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia) são imensamente mais populares do que os aliados americanos. Contra todas as preces de Obama, o Irã de Ahmadinejad está cada vez mais forte e ganhando trânsito mais livre com as “revoltas democráticas” – a travessia de seus navios de guerra pelo Canal de Suez é um bom exemplo disso. Mesmo a queda de Kadafi, o “mal absoluto” nos olhos do mundo ocidental, pode ser prejudicial aos propósitos americanos. Apesar dos pesares, ele sempre manteve elos com a Europa e bastante autonomia com relação aos outros países da região, chega a ser inimigo declarado da Al-Qaeda de Osama Bin Laden. Com a possível vitória dos revoltosos da Líbia, os Estados Unidos podem ficar a pão e água (ou nem isso...). Estão perdidos nesse deserto, vivendo o drama de “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come” - e esse bicho se chama Ahmadinejad. Todos nós, de todos os mundos, esperamos que logo, logo, surja um oásis de verdade.

sábado, 5 de junho de 2010

“It’s Lula, stupid!”, diria James Carville

Há um ano atrás, em debate na PUC do Rio, o marqueteiro Chico Santarrita em certo momento especulou (mais ou menos) sobre o futuro tema da campanha de Dilma, como se fosse uma questão ainda a ser pesquisada. Não me contive e disse: “O tema já existe – é Lula”. Hoje, na Folha, Cesar Maia escreve bom artigo sobre marketing político, “Razões do voto e medo”, onde basicamente fala sobre a necessidade de as pesquisas qualitativas determinarem as associações entre atributos e razões de voto. Bom artigo. Ele critica a “visão quantitativa” que predomina na maioria das pesquisas qualitativas, expõe, com clareza, que não basta identificar as boas qualidades atribuídas a um candidato, mas também se essas qualidades são suficientes para motivar o voto. Lembra a frase famosa do estrategista James Carville, durante a campanha de Clinton contra Bush Pai, em 92, quando identificou o que realmente estava motivando o voto: “It´s the economy, stupid!” A falha de Cesar Maia (compreensível) está na sua conclusão de que esse estudo sobre a razão do voto “já deveria ter sido feito pelas campanhas”. A campanha de Dilma já fez o estudo: “É Lula, Oposição!”
Veja o texto completo:
Razões do voto e medo
As pesquisas eleitorais são reiterativas sobre intenção de voto e deveriam servir para que as equipes de campanha avaliassem as razões - positivas e negativas - que levam os eleitores a decidir votar. Não é um processo simples. Essas perguntas não são óbvias. A pesquisa qualitativa - de muito difícil avaliação - é quase sempre tratada com a mesma ótica da pesquisa quantitativa. Os institutos que as fazem querem tirar conclusões sobre probabilidade de voto e destacar uma ou outra expressão a ser usada pela campanha ou respondida. Uma utilidade seria preparar perguntas para as pesquisas quantitativas e, com esta combinação, tirar conclusões. Mas há outra questão ainda mais complexa. Se o eleitor atribui a um candidato qualidades maiores que as do outro, deve-se perguntar se é esta uma razão de voto. O Datafolha listou atributos e pediu que o eleitor indicasse o candidato que mais se aproxima deles. Destacou o candidato da oposição como o mais experiente, inteligente, realizador, preparado para ser presidente, próximo aos ricos... Já na candidata do governo, destacou ajudar os pobres e as mulheres, embora entre as mulheres ela perca na intenção de voto. E 18% dizem que a candidata verde defenderá os pobres, embora tenha quase a metade disso em intenção de voto. O eleitor tende a fazer o voto útil e, mesmo que priorize esse atributo, tende a não transformar isso em voto se ela não tiver chance. Esses pontos são importantes, mas não necessariamente decidem o voto. As equipes de campanha devem analisar qual é a agenda vencedora no imaginário do eleitor. Um caso clássico é o da primeira eleição de Clinton a presidente. Numa lista de 40 questões, Clinton só vencia em uma: a economia. Sua equipe de campanha a testou como razão de voto e surpreendeu-se com a correlação. A partir daí, nas reuniões com os multiplicadores de campanha, Carville (coordenador de comunicação) gritava: "É a economia, estúpido!". E foi. A razão de voto pode ser positiva ou negativa. As ruas funcionam como uma pesquisa qualitativa. Uma mesma expressão usada em três pontos completamente diferentes de uma cidade quase sempre significa que dezenas de milhares de pessoas pensam da mesma maneira. Em seguida, deve-se avaliar se é razão de voto e então incluir em uma pesquisa quantitativa. É esse estudo (que já deveria ter sido feito pelas campanhas) de investigação das duas ou três razões de voto que construirá a agenda a ser priorizada na comunicação via mídia e, principalmente, na comunicação direta, nas ruas e reuniões, de forma a acelerar os fluxos de "opinamento" - a favor de si e contra o adversário.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Obama, fale agora ou cale-se para sempre!

Essa matança que (mais uma vez...) Israel acaba de executar não pode ser respondida com silêncio. A nação mais poderosa do mundo (e principal apoiadora de Israel) tem condições de dar um basta! a essa crise interminável no Oriente Médio. A região clama por paz, e o povo palestino - tanto quanto o povo de Israel - merece sobreviver. Não dá mais para manter essa política de satanizar Ahmadinejad e fechar os olhos para as atrocidades israelenses.
O Presidente Obama tem a responsabilidade (não apenas diante do povo americano, mas de todo o mundo) de pôr freio nesses desmandos. É sua oportunidade de entrar para a história - ou ficar lembrado apenas como mais um embushte.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos: Obama e o resto do mundo


Alguma coisa razoavelmente boa Obama precisava voltar a anunciar em sua política externa. Nos últimos tempos só se via o rancor de Hillary Clinton dominando a cena, e Obama encolhido. A questão do Irã é o melhor exemplo, com a turma de Hillary forçando Obama a voltar atrás na palavra que deu a Lula (há quem acredite até que ele teria estimulado a divulgação de sua carta, para enfraquecer Hillary – será?). Stephen Walt, professor de relações internacionais de Harvard, chegou a declarar, em artigo para Foreign Policy, que não "compreende quem está realmente dirigindo a política dos EUA para o Irã", que "não faz qualquer sentido", pois se sabe que as sanções não teriam efeito. O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, já se declarou favorável ao Acordo Brasil-Turquia-Irã e mesmo o Governo Russo, que andava mais pra lá do que pra cá, depois que levou um pito de Ahmadinejad, resolveu também apoiar o Acordo.
Com o anúncio da Estratégia de Segurança Nacional Obama parece retomar as rédeas. Afasta-se profundamente da política Bush, ao dizer que nenhum país pode encarar desafios mundiais sozinho e ao tratar o combate ao terrorismo como "apenas um elemento", que não pode definir a relação dos EUA com o mundo. Eleva o déficit público ao status de ameaça e reconhece que o poder global está cada vez mais difuso. Obama reconhece também, através do assessor Ben Rhodes, a importância de “ceder mais poder ao G-20, que inclui potências emergentes como China, Índia e Brasil”. Isso mostra que Obama Presidente começa a se aproximar do Obama Candidato. E começam a surgir sinais de que o mundo – que tinha trocado o bipolarismo da Guerra Fria por uma espécie de uni/oligopolarismo – dá os primeiros passos mais ousados, mais próximos de um multipolarismo mais amplo (algo além da simples seleção de alguns parceiros predispostos a apoiar o líder).

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O discurso de Obama fez mais pela segurança americana do que todos os exércitos de Bush

Em vinte e quatro horas, dois fatos históricos, que revogam erros americanos. Anteontem, a OEA abriu as portas – que nunca deveriam ter sido fechadas – para Cuba. Ontem, em discurso na Universidade do Cairo, Barack Obama reconheceu os inúmeros erros praticados pelos Estados Unidos (e seus aliados) na política para o Oriente Médio (e outros “orientes”). É natural que a direita americana proteste. Acostumada a discursar usando canhões, considera qualquer coisa diferente como manifestação de fraqueza. Não percebe que o uso indiscriminado da força foi o que enfraqueceu os Estado Unidos. Obama reergueu a imagem americana junto ao mundo árabe e, principalmente, dificultou o discurso de Bin Laden e do Hamas. Enquadrou o governo israelense (“O presidente dos EUA entende os interesses de Israel melhor do que o governo de Israel”, disse o líder pacifista Uri Avnery), e aumentou a esperança da criação do Estado Palestino e de uma era de paz na região. Isso tudo reduz as possibilidades das ações terroristas, protege muito mais o povo americano do que as torturas bushianas. Não podemos achar que foram apenas palavras, sem ações concretas. Um discurso desses vale mais do que mil canhões. Ler também “O discurso do Cairo”, de Mauro Santayana, no JB.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sobre a (quase?) viagem de Ahmadinejad

A notícia, ainda não confirmada oficialmente, de Ahmadinejad à América Latina, incluindo o Brasil, vai acalmar os ânimos de manifestantes contrários à sua presença por essas bandas. Particularmente sou contra atrelamento do Estado à religião, qualquer que seja ela, como ocorre no Irã e em vários outros países. Também sou contra preconceitos, seja preconceito racial, preconceito social, preconceito religioso, preconceito sexual, homofobia, ou o que seja. Como também sou contra tortura e terrorismo. Dito isso, fica a pergunta: por que ninguém se manifestou contra a viagem de Bush ao Brasil?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Novos documentos comprovam: Bush era um terror

Google Novos documentos divulgados ontem pelo Departamento de Justiça americano detalham ainda mais as táticas de interrogatório da administração Bush, "incluindo estratégias de bater o prisioneiro contra a parede ou de colocar detentos junto a insetos de que tivessem terror", bem no estilo "1984". Nessa linha, os interrogadores teriam confinado por breves períodos Abu Zubaida (suposto membro da al-Qaeda) em uma caixa pequena com insetos que eles diziam que picavam - sabendo que Abu Zubaida tinha verdadeiro pânico de insetos. O objetivo era esse mesmo, torturar, aterrorizar - sempre com aprovação de "altas autoridades". Nem a al-Qaeda conseguiu fazer tanto contra os ideais apregoados pelos Estados Unidos quanto Bush conseguiu. Leia mais no New York Times.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Lula-Obama: a sorte do Brasil é que a mídia de lá não é da nossa Oposição

A nossa mídia trata o encontro Lula-Obama como um encontro vazio, sem resultados práticos, semelhante aos encontros com Bush. “Lula-Obama é remake sem novidades de Lula-Bush”, diz o título da análise da Folha, sintetizando as análises de nossa mídia. Claro que não se poderia esperar do encontro venda monumental de etanol e petróleo para os Estados Únicos, nem que fosse suspenso o bloqueio a Cuba graças a Lula. Nada bombástico assim estava realmente em pauta. O que mudou foi o modo de ver o Brasil, e podemos comprovar isso por parte do noticiário internacional. “Os líderes estrangeiros que quiserem ter uma boa química com o Presidente Barack Obama devem tomar lições com o Pesidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva”, mancheta a Reuters. “Maravilhoso encontro de mentes”, destaca o importante site Político, referindo-se à definição do encontro feita por Obama. “Nasce a aliança Obama-Lula – os presidentes criam um novo modelo de relações no continente americano”, diz El País, saudando o encontro. “Bye, bye, México”, declara o Miami Herald, elegendo Lula como novo porta-voz da América Latina. O Washington Post publica reportagem (Brazil's President to Seek a Change in U.S. Approach) com Thomas Shannon, secretário-assistente de Estado para a região, que descreve o Brasil como "o tipo de parceiro que nós queremos". Ficou mais do que evidente o salto de qualidade nas relações do Brasil com os Estados Unidos, assim como tem acontecido em outras partes do mundo. A nossa mídia oposicionista sabe disso. Mas por questões políticas não quer admitir. Felizmente ela não representa o governo americano...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Boal e o mundo

Discurso de Augusto Boal, diretor artístico do Centro de Teatro do Oprimido, para o Fórum Social Mundial 2009.
A mídia costuma publicar só o que é espetacular, sensacional, mesmo que tenha que esconder a verdade. Hoje, fala-se mais da cor da pele de Barack Obama do que do seu projeto político, como ontem falou-se mais dos seios da Carla Bruni do que das idéias direitistas do seu marido Sarkozy.
A mídia tem dono, e reflete as opiniões do seu proprietário: o Fórum Social Mundial não tem dono, e deve refletir as nossas.
Foro, Fórum, significa etimologicamente a praça pública, onde se pode discutir livremente. Este nosso Foro é mundial e deve, portanto, discutir os assuntos do mundo.
Temos que saudar o fim da era Bush e seus parceiros, mas ficar atentos à nova era que começa. Aplaudir os primeiros atos de Barack Obama, mas analisá-los com cuidado. Aplaudir sua decisão de fechar Guantânamo, mas lembrar que isso não basta: é necessário restituir Guantânamo ao seu legítimo dono, que é o povo cubano. Aplaudir a ordem de acabar com a tortura, mas lamentar que os torturadores não sejam punidos por esse crime de lesa-humanidade e continuem nos seus postos de comando. Aplaudir o desejo do novo presidente em dialogar com todos os países, mas explicar que não queremos, como ele promete ou ameaça, não queremos ver o seu país liderando o mundo - essa tarefa não compete nem aos Estados Unidos nem ao Paraguai, mas sim à Organização das Nações Unidas que para isso foi criada e tantas vezes tem sido desrespeitada pelo país de Barack Obama.
O Fórum é social, e temos que falar do genocídio dos palestinos. Temos que separar, de um lado, o cruel governo de Israel e, de outro, as centenas de milhares de judeus que com ele não concordam. Não devemos cometer a injustiça que se fez com os alemães, pensando que todos fossem nazistas, quando muitos morreram lutando contra Hitler e seus asseclas.
Milhares de judeus, dentro e fora de Israel, condenam e se envergonham do que fez e faz o seu governo, que representa tão somente aqueles que o elegeram, mas não o judaísmo. Dentro de Israel existem organizações como a dos Combatentes Pela Paz, de Chen Allon, que condenam a invasão e denunciam seus crimes. Tenho orgulho em dizer que, para isso, usam o Teatro do Oprimido entre outras formas de combate.
No Oriente Médio já se inverteu a distribuição de papéis: se, ontem, Israel foi o pequenino David, hoje é o gigante Golias, filisteu. O novo Golias, apoiado pelos Estados Unidos, em 22 dias matou mais de 300 crianças e centenas de mulheres e homens, civis ou combatentes. Eu chorei vendo a fotografia de um menino, um pequenino David palestino, jogando pedras contra um tanque de guerra. Se a lenda de David e Golias, ontem, foi apenas lenda, a história de Golias e David, hoje, é triste realidade: os 1.300 mortos ainda estão sendo retirados dos escombros, sem as solenes pompas fúnebres dos 13 soldados israelenses. O Fórum e o mundo não podem esquecer esse crime antes mesmo que sejam enterradas suas vítimas.
Nosso Fórum é pluralista, e deve se manifestar contra o colonialismo italiano que ofende a nossa soberania, que tenta interferir nas decisões da nossa Justiça, como está sendo o caso da concessão de asilo a Cesare Battisti. Existe uma lei brasileira que proíbe a extradição de pessoas condenadas em seus países à pena de morte ou à prisão perpétua. É este o caso, é esta a lei! O ministro Tarso Genro apenas cumpriu a lei – a lei brasileira. O presidente Lula foi claro explicando aos italianos as sólidas bases da nossa decisão, mas parece que eles não entenderam, nem disso são capazes. Por quê?
A Itália, que foi o berço do fascismo e deveria ser também a sua sepultura, mostra agora que a ideologia colonialista ainda está viva e pretende anular decisões soberanas do Brasil, invadindo o nosso Judiciário e querendo nos ensinar a diplomacia da obediência e da submissão. Temos que repudiar essa ofensa e libertar o prisioneiro!
Nosso Fórum é social, e a economia também. A maioria dos países que estão em crise, ou dela se aproximam, sempre disse não ter dinheiro para melhorar a Educação, a Saúde, a Previdência Social. De repente, para socorrer seguradoras, bancos e montadoras, esses governos descobriram que tinham bilhões e trilhões de dólares, euros, iens e libras. Nosso Fórum tem a obrigação moral de interrogar os senhores da Davos: de onde veio esse dinheiro? Quem os escondia? Quanto sobrou? Onde estão?
O nosso Fórum Social também é brasileiro e é camponês: devemos saudar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, que é o mais democrático e bem organizado movimento de massas que o Brasil já teve, e que completa agora 25 anos de luta pela terra, luta que continua.
O Fórum Social Mundial não é daqueles que dizem Hay Gobierno? Soy Contra, e, porque assim não é, deve se alegrar em receber tantos presidentes de tantas Repúblicas sulamericanas juntos neste evento: Evo, Correa, Kirchner, Chavez, Lugo e Lula. Nunca se viu fraternidade igual. Queremos agora ver os resultados concretos dessa irmandade.
Devemos, muito cordialmente, lembrar aos nossos presidentes que a Política não é a arte de fazer o que é possível fazer, mas sim a arte de tornar possível o que é necessário fazer!
Caminhar não é fácil! As sociedades se movem pelo confronto de forças, não pelo bom senso e justiça. Temos que avançar e, a cada avanço, avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe porto seguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto mar e o nosso navio tem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é, porque navegar é viver, viver é navegar!
Eu sou homem de teatro e não posso deixar de falar de Arte e Cultura quando falo de Política, porque a Política é uma Arte que a Cultura produz.
Temo que, mesmo entre nós, muita gente ainda pense em arte como adorno, e nós dizemos: não é! A Palavra não é absoluta, Som não é ruído, e as Imagens falam. São esses os três caminhos reais da Estética para o entendimento: a palavra, o som e a imagem. São também os canais de dominação, pois estão os três nas mãos dos opressores, não dos oprimidos: a Palavra dos jornais, o Som das rádios, as Imagens da TV e do cinema estadunidense, dominam nossos meios de comunicação e invadem nossos cérebros com seu pensamente único, seus projetos imperiais e suas mercadorias.
Acabou-se o tempo da inocência... o tempo da contemplação já não é mais. Temos que agir!
Palavra, imagem e som, que hoje são canais de opressão, devem ser conquistados pelos oprimidos como formas de libertação. Não basta consumir Cultura: é necessário produzi-la. Não basta gozar arte: necessário é ser artista! Não basta produzir idéias: necessário é transformá-las em atos sociais, concretos e continuados.
A Estética é um instrumento de libertação.
Eu felicito o nosso Ministério da Cultura pela criação de mais de mil Pontos de Cultura no Brasil inteiro, onde o povo tem acesso não só à Cultura alheia, mas aos meios de produzir sua própria Cultura sem servilismos, sua Arte sem modismos, porque entendemos que Arte e Cultura são formas de combate tão importantes como a ocupação de terras improdutivas e a organização política solidária.
Sonho com o dia em que no Brasil inteiro, e no inteiro mundo, haverá em cada cidade, em cada povoado ou vilarejo, um Ponto de Cultura onde a cidadania possa criar e se expressar pela arte, a fim de compreender melhor a realidade que deve transformar. Nesse dia, finalmente, terá nascido a Democracia que, hoje, só existe em Fóruns como este!
Ser cidadão, meus companheiros, não é viver em sociedade: é transformar a sociedade em que se vive!
Com a cabeça nas alturas, os pés no chão, e mãos à obra!
Muito obrigado.