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domingo, 23 de outubro de 2011

Barbárie


Na quinta, estava dirigindo e – como faço sempre – ouvindo a CBN, quando me tornei testemunha de verdadeira barbárie relacionada à questão líbia. A âncora Lucia Hippolito chamou Sérgio Besserman e apresentou, como destaque do dia, a possível captura de Kadafi. Nada mais apropriado, já que era o que se discutia na mídia internacional. Infelizmente, o que se ouviu em seguida foi uma sucessão de barbaridades, despropósitos, mau gosto, algo difícil de acreditar que estivesse sendo perpetrado por duas figuras relevantes em nosso mundo informativo, político e cultural. Lucia Hippolito começou ridicularizando Kadafi por conta de suas roupas extravagantes (como se essa fosse a maior de suas extravagâncias!). Mas essa bobagem não foi nada, diante do que veio a seguir. Besserman mostrou-se indignado sabem com o quê? Não admitia que Kadafi (que, segundo ele, já deveria saber há meses que seria derrotado) não tivesse se entregado há mais tempo para evitar tantas mortes na Líbia!!! Dá pra acreditar? As cenas que correm o mundo revelando os detalhes da morte de Kadafi será que respondem a Besserman? Lucia Hippolito sugeriu que ele, Kadafi, deveria ter-se matado. Besserman concordou, lembrando o suicídio de Allende!!! Lucia Hippolito diz que Kadafi deveria ter-se queimado em praça pública, se lançado do alto de algum lugar – e isso tudo dito aos risos. Afinal de contas, segundo eles, Kadafi somente fez o mal...
Como pode a CBN permitir algo assim? Por mais que Kadafi tenha tido ações extremamente condenáveis (como ajudar os Estados Unidos na tortura de presos políticos), ele também teve papel positivo para seu povo. Evitou a sangria das riquezas do petróleo que, antes, jorravam para o exterior, combateu o analfabetismo, fortaleceu e projetou o seu país no continente e no mundo. Independente disso, não se combate a barbárie com mais barbárie. A dupla de jornalistas deveria mirar-se no exemplo de Dilma que, opondo-se ao oportunismo belicoso de Obama e outros dirigentes ocidentais, demonstrou serenidade e visão de estadista, ao afirmar que “não é possível comemorar a morte de qualquer líder” e concluir que “não se faz apedrejamento moral de ninguém”.
Acredito que Lucia Hippolito e Sérgio Besserman sejam bem intencionados, por isso sugiro lerem a coluna de hoje, no Globo e na Folha, de Elio Gaspari, que lembra cena semelhante ocorrida em 1961 com o líder congolês Patrice Lumumba "amarrado, apanhando antes de ser fuzilado por compatriotas rebelados”. Na verdade, mais uma barbárie patrocinada por “civilizados” ocidentais, orientados pelo onipresente CIA.

Abaixo, o trecho da coluna de Elio Gaspari e depois texto do jornal mexicano La Jornada do dia 21.
Muamar Al Clinton
O vídeo dos minutos finais de Muamar Kadafi, ensanguentado e cambaleante, ecoa o filme de 1961 que mostrou o primeiro- ministro congolês Patrice Lumumba amarrado, apanhando antes de ser fuzilado por compatriotas rebelados. Em 1975 uma comissão do Senado americano mostrou que a CIA trabalhava para matá-lo. Em 2002, o governo da Bélgica assumiu a “responsabilidade moral” pela sua participação no crime e pediu desculpas ao povo congolês. O comboio em que estava o Kadafi foi atacado por aviões americanos e franceses. Hillary Clinton disse, dias antes, que esperava a morte de Kadafi para “breve”. Os vídeos “Lumumba seized, returned to Leopoldville” e “L’assassinat de Patrice Lumumba” estão no YouTube.
Kadafi y la hipocresía de Occidente
El asesinato de Muammar Kadafi, perpetrado ayer en su natal Sirte, marca el triunfo definitivo de la revuelta que empezó en Libia hace ocho meses y que fue desvirtuada, poco después de su inicio, por una masiva intervención militar de las potencias occidentales en la nación norafricana. Lo que habría sido una insurrección popular democratizadora fue convertida en una incursión de saqueo neocolonial, alentada por la ambición de Estados Unidos y Europa ante los enormes recursos energéticos del territorio sirio, en un nuevo mercado de armamento y, presumiblemente, en una vasta oportunidad para los negocios de "reconstrucción", a la manera de los realizados tras la invasión y destrucción de Irak, cuyos contratos beneficiaron a las empresas y consultoras del entorno del ex presidente George W. Bush. Por otra parte, está por verse si el heterogéneo Consejo Nacional de Transición (CNT) es capaz de reconstruir Libia, de gobernar con moderación, legalidad y soberanía, así como de emprender cambios reales en el país. En otro sentido, la exhibición del cadáver del antiguo hombre fuerte de Libia en los medios occidentales, así como la omisión de que su muerte y la de muchos de sus hombres cercanos fueron homicidios injustificables, exhibe una vez más la doble moral de las democracias occidentales, las cuales siguen haciendo redituables negocios con sátrapas del mundo árabe no menos impresentables que Kadafi, como los monarcas de Marruecos, Arabia Saudita y los emiratos petroleros del Golfo Pérsico. Asimismo, al festejar el suceso, Estados Unidos y Europa omiten el hecho de que, hasta hace menos de un año, Kadafi era recibido con cordialidad extrema por Barack Obama, José Luis Rodríguez Zapatero, Nicolas Sarkozy y Silvio Berlusconi, y que hay señalamientos sobre el financiamiento de las campañas políticas de los dos últimos por parte del régimen depuesto. Con tales antecedentes, es claro que el fin de la era de Kadafi en la intervenida nación del Magreb no necesariamente representa un paso hacia la democracia, la paz y el desarrollo en Libia. Por lo pronto, el asesinato del gobernante es una expresión de barbarie y de hipocresía.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hipocrisias nos céus da Líbia


Que essas decisões das potências ocidentais via-Conselho de Segurança da ONU estão repletas de hipocrisia ninguém tem mais dúvidas – exceto a grande mídia brasileira... Mas quem também afirma isso é Leslie H. Belb, ex-colunista do New York Times e presidente emérito do Council on Foreign Relations. Essa semana Leslie H. Belb escreveu um artigo no site The Daily Beast, “The Horrible Libya Hypocrisies”, onde começa dizendo que “não há nada como uma crise da política externa, real ou imaginada, para inflamar o pior entre os líderes mundiais e entre os especialistas em política externa”.
Outros trechos:
  • A crise fabricada na Líbia é um primeiro exemplo. Nenhum estado estrangeiro tem interesses vitais em jogo na Líbia. Os acontecimentos nesse lugar estranho e isolado têm pouca influência sobre o resto do tumultuado Oriente Médio. Também não pode ser descartado que há horrores humanitários muito, muito piores em outros lugares. No entanto, os intervencionistas humanitários neoconservadores e liberais dos EUA forçaram mais um presidente dos EUA a agir como se fosse o contrário.
  • Quando essa dupla terrível começa a cuspir palavras como "massacre" e "genocídio", a mídia fica louca.
  • O motivo pela qual nem o presidente Obama nem seus parceiros da Grã-Bretanha e da França podem apresentar um objetivo coerente para a Líbia é que nenhum deles tem qualquer interesse central no que vai acontecer lá. (...) Todos eles foram simplesmente levados por sua própria retórica.
  • O drama começa quando os líderes e pensadores são seduzidos pela sensação de que devem fazer o bem. Às vezes, eles ignoram os assassinatos, mesmo quando as mortes chegam a centenas de milhares (como em Ruanda) ou milhões (como no Congo). Outras vezes, o número de mortes está em centenas ou algo assim, como na Líbia – mas o cara que está fazendo a matança é alguém que eles têm boas razões para não gostar, e aí decidem fazer o bem e detê-lo. (Texto completo aqui.)

Paricularmente, mesmo concordando inteiramente com a hipocrisia das declarações dos líderes ocidentais e do noticiário, acredito que eles tiveram motivos mais fortes do que o amor à própria retórica. Sarkozy tem óbvios interesses eleitorais, louco para um fato grandioso capaz de levantá-lo nas pesquisas. Obama idem, e pior: tem que lutar contra o lobby da guerra, contra os Republicanos e contras os gaviões da infiel Hillary Clinton empoleirados dentro do próprio partido Democrata.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Crise árabe: conflito entre o Departamento de Estado e a Defesa dos Estados Unidos


O Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, considerou que a história de “zona de exclusão aérea” na Líbia, sugerida pela Secretária de Estado Hillary Clinton, é papo furado. "Vamos falar claro", disse Gates, "uma zona de exclusão aérea começaria com um ataque à Líbia". E ele observou que a ONU não autorizou o uso da força. Essa autorização seria necessária antes que os EUA atacassem, e a Rússia, membro do Conselho de Segurança, já se opôs. Representantes da OTAN também estariam preocupados com o risco, o custo e a eficácia da criação de uma zona de exclusão aérea.
Antes, na terça-feira, em audiência no Senado, o comandante das forças dos EUA no Oriente Médio, almirante James Mattis, declarou: "Minha opinião militar é de que seria um desafio. Teríamos que eliminar a capacidade de defesa aérea a fim de estabelecer a zona de exclusão aérea – e isso, sem ilusões aqui, seria uma operação militar. Não seria simplesmente dizer às pessoas para não utilizar aviões”.
Como podemos perceber, antes de se “desentender” com a Líbia, os Estados Unidos têm que se entender internamente.
Leia a reportagem "U.S. Cools 'Loose Talk' Over No-Fly Zone" do The Wall Street Journal.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crise árabe: um deserto de ideias


O que me parecia quase impossível tornou-se possível rapidamente. Mubarak saiu – o que fez reduzir a pressão na Praça Tahrir. Ainda não dá para prever exatamente o que vai acontecer no Egito, muito menos no resto do mundo árabe revolto. Estão todos sem saber o que dizer ou fazer e eu diria que o pessoal da Hillary consegue estar mais perdido do que o Blog do Gadelha. Isso vale também para a Europa, China, Israel, Irã e até para a Liga Árabe. Certo faz o Itamaraty que mal abre a boca, prefere olhar pro outro lado. Talvez o único que aparentemente não tem dúvidas sobre o que falar é Kadafi, que resolveu responder com chumbo. “Vocês querem briga? Então toma!”
Mas a Líbia é outra história. Formou-se através dos séculos a partir de ocupações estrangeiras. O nome é de origem grega, e também foi assentamento de fenícios, romanos e turcos. Foi povoada por tribos de nômades berberes e fez parte do Império Otomano. Em 1911, virou conquista da Itália, que usou e abusou do seu território durante a Segunda Guerra. Com a paz, o território foi colocado sob administração franco-britânica. Em 1951, tornou-se a segunda colônia africana, depois da África do Sul, a obter a “independência”, com a monarquia constitucional do Rei Idris I, líder do grupo religioso Senousi. O novo país, então entre os mais pobres do mundo, passou a depender da ajuda financeira dos EUA e da Inglaterra, que instalaram bases militares em  seu território. A descoberta do petróleo ocorreu no final dos anos 50 e, já em 1959, todas as principais empresas petrolíferas atuavam no país. Em 1968, a Líbia era o segundo maior produtor de petróleo no mundo árabe, atrás apenas da Arábia Saudita. Quando Kadafi tomou o poder em 1969, a Líbia tinha algo como 98% de analfabetos e uns 90% da população vivendo em tendas. O dinheiro do petróleo foi amplamente usado para conquistas sociais. Hoje (ano 2000), o analfabetismo está em 20,2%. Seu Índice de Desenvolvimento Humano-IDH (índice de 2010: 0,755) é considerado alto, ocupa o 53º lugar, à frente de países como Arábia Saudita (55%), Rússia (65%), Brasil (73%), Egito (101%), África do Sul (110%) ou Índia (119%). O povo é fundamentalmente muçulmano (sunitas, 97%) e o controle político de Kadafi é quase absoluto. Os Estados Unidos em outras épocas certamente estariam jogando tudo para derrubar Kadafi, mas hoje não devem estar tão certos de que isso seria bom para seus interesses. Se a guerra civil se ampliar e Kadafi cair, provavelmente nada mais terá controle. O deserto não vai virar mar, mas o mar pode virar deserto.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mubarak sem Mubarak: isso que Obama quer para o Egito é praticamente impossível


Mubarak deu uma chance única a Obama de ajudar na crise egípcia. Bastava convencer a multidão enfurecida de que a chamada “transição ordeira para a democracia”, mesmo com Mubarak no poder, seria viável. O povo disse não. Aí, a equipe Clinton tentou uma jogada de última hora: deixar tudo como está, sem que Mubarak marcasse presença no governo – ou seja, renunciasse. Dessa vez quem disse não foi Mubarak. Ele percebeu que essa fórmula teria efeito dominó: todos que estão no poder perderiam o poder, o caos absoluto se instalaria e só Deus (ou Alá) sabe o que aconteceria – principalmente na relação com Israel.
A equipe Clinton tem que entender que Mubarak detém o poder absoluto, inclusive sobre as forças armadas. O “bom-mocismo” americano é necessário para todos os públicos, mas não vai funcionar para os moços da Praça Tahrir. O New York Times de hoje reconhece que ou Obama rompe pra valer com Mubarak ou mantém-se firme na tese da “transição ordeira” que, aparentemente, não é mais viável. O NYT também diz uma coisa engraçada, que alguns revoltosos estão se sentindo traídos por Obama, que estaria colocando os interesses estratégicos à frente dos valores democráticos!!! Alguma vez isso foi diferente? Em que país? Em que época? Em que planeta? Os Estados Unidos estão num deserto sem camelo e foram eles os únicos culpados. Paparicaram a ditadura Mubarak durante décadas e agora não podem ficar sem ela. Se Mubarak sai, os Estados Unidos possivelmente também terão que sair. Mubarak sem Mubarak, pelo jeito, não existe.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks X US-leaks: quem espionou quem?



Acho que já está mais do que claro que o Wikileaks (o wikileaks.com está fora do ar por imposição americana, mas pode ser acessado o site brasileiro ou o Twitter) não roubou segredos americanos. O que realmente fez foi divulgar informações sigilosas que recebeu de um cracker. Exatamente o que, indiretamente, fizeram e continuam fazendo The Guardian, The New York Times, Folha de São Paulo, O Globo, e muitos órgãos de comunicação em todo o mundo. Claro que é grave a divulgação de informações que comprometem toda a diplomacia internacional – mesmo considerando a luta pela transparência. Mas o mais grave é a arrogância americana em toda essa questão. Arrogância que transparece no conteúdo do que foi divulgado e arrogância pela displicência na sua segurança. Mas existe mais uma questão: segundo informa o site do Council on Foreign Relations (Foreign Affairs), o Departamento de Estado americano pensa em usar todos os argumentos e toda sua força para processar o responsável pelo Wikileaks, Julian Assange, por espionagem. Pretende enquadrá-lo no Ato de Espionagem e obter extradição junto à Inglaterra ou à Suécia. Mas o que fazer então com a Secretária de Estado Hillary Clinton, que teria mandado espionar diplomatas da ONU? Ela – ou o governo que representa – não se enquadra no Ato de Espionagem americano? Vai sair dessa impunemente? Não pode haver extradição? Claro que o governo americano não pode se considerar espião. Mas e o resto do mundo, como fica? A minha sugestão é que o Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas) pronuncie-se a respeito. E que o governo americano pare de jogar na conta do Wikileaks todo o peso da sua incompetência.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos: Obama e o resto do mundo


Alguma coisa razoavelmente boa Obama precisava voltar a anunciar em sua política externa. Nos últimos tempos só se via o rancor de Hillary Clinton dominando a cena, e Obama encolhido. A questão do Irã é o melhor exemplo, com a turma de Hillary forçando Obama a voltar atrás na palavra que deu a Lula (há quem acredite até que ele teria estimulado a divulgação de sua carta, para enfraquecer Hillary – será?). Stephen Walt, professor de relações internacionais de Harvard, chegou a declarar, em artigo para Foreign Policy, que não "compreende quem está realmente dirigindo a política dos EUA para o Irã", que "não faz qualquer sentido", pois se sabe que as sanções não teriam efeito. O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, já se declarou favorável ao Acordo Brasil-Turquia-Irã e mesmo o Governo Russo, que andava mais pra lá do que pra cá, depois que levou um pito de Ahmadinejad, resolveu também apoiar o Acordo.
Com o anúncio da Estratégia de Segurança Nacional Obama parece retomar as rédeas. Afasta-se profundamente da política Bush, ao dizer que nenhum país pode encarar desafios mundiais sozinho e ao tratar o combate ao terrorismo como "apenas um elemento", que não pode definir a relação dos EUA com o mundo. Eleva o déficit público ao status de ameaça e reconhece que o poder global está cada vez mais difuso. Obama reconhece também, através do assessor Ben Rhodes, a importância de “ceder mais poder ao G-20, que inclui potências emergentes como China, Índia e Brasil”. Isso mostra que Obama Presidente começa a se aproximar do Obama Candidato. E começam a surgir sinais de que o mundo – que tinha trocado o bipolarismo da Guerra Fria por uma espécie de uni/oligopolarismo – dá os primeiros passos mais ousados, mais próximos de um multipolarismo mais amplo (algo além da simples seleção de alguns parceiros predispostos a apoiar o líder).

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ex-Diretor Geral da AIEA e Nobel da Paz apoia acordo Brasil-Turquia-Irã



Cada vez mais, o acordo promovido pela diplomacia brasileira, que trouxe a possibilidade de um entendimento mundial na questão nuclear iraniana, ganha reconhecimento positivo em todas as esferas da política internacional.
Um apoio importantíssimo acaba de ser divulgado através de entrevista feita pelo Canal France 24 com Mohamed El Baradei, ex- Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU e ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2005. Ele inclusive fala de 50% de transferência do urânio iraniano como muito positivo, ao contrário das alegações americanas, que agora exigiriam um mínimo de 70%.
“Acho que é um acordo muito bom. Sempre disse que o único meio de resolver a questão iraniana é pela construção da confiança. Transferir 50% ou mais dá a medida de confiança necessária para neutralizar a crise e dar aos Estados Unidos e o Ocidente espaço para negociação”, declarou Baradei.
Hoje a coluna “Toda Mídia”, além dessa notícia, tem outras sobre o tema:
  • Cita a declaração da ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright ao canal C-Span de que "estamos vendo um mundo muito diferente", em que "outros países tentam mostrar que têm um papel a interpretar. O Brasil claramente tem".
  • Em análise, a CNN avaliou que o país expõe "a crescente insatisfação com a ordem mundial datada e injusta".
  • O canadense "Globe and Mail", em coluna, disse que Brasil e Turquia estão "redesenhando as linhas que dividem as nações do mundo" e cobrou o Canadá por ficar para trás nesta "corrida ao centro".
  • O "Guardian" revela a primeira prova da bomba atômica israelense, publicando documentos sul-africanos de 1975, com a oferta feita por Israel para venda de armas nucleares ao regime do apartheid.
Todos esses fatos revelam o acerto da diplomacia brasileira (apesar das ofensas intermináveis que recebe da oposição fernandohenriqueana). Devemos destacar ainda a carta enviada por Obama a Lula, apoiando a iniciativa brasileira. Por que os Estados Unidos voltaram atrás? Qual a disputa interna que está por trás disso tudo? Qual o verdadeiro papel de Hillary Clinton na Secretaria de Estado? Quem divulgou a carta – terá sido o próprio Obama?
São questões vitais para nosso mundo – e que a Oposição parece desconhecer.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Diplomacia brasileira expõe a arrogância e o despreparo da diplomacia Hillary


O que o Brasil fez com o acordo nuclear do Irã foi um verdadeiro gol de placa. E isso nem mesmo nossa Oposição pode negar. É verdade que Fernando Henrique andou fazendo gracinha, declarando que era preciso aguardar para ver se o juiz vai ou não vai validar o gol. Coisa de pessoa rancorosa, que se corroi de ciúme. O mundo de hoje não pode mais curvar-se automaticamente às “verdades” das grandes potências. Não dá mais para engolir coisas do tipo “armas de destruição em massa no poder do Iraque” da era Bush. O mundo inteiro fica mais perigoso depois que eles lançam uma “verdade” assim.
O Brasil, como emergente de peso, teve que se posicionar na questão do Irã e fez mais do que isso – apresentou um trabalho brilhante, positivíssimo e reconhecido internacionalmente. Pegou Hillary Clinton de calça curta, mas isso é problema dela. Sem alternativa diplomática (coisa que nunca precisaram ter), os Estados Unidos estão apelando para a ignorância, achando que ainda podem resolver tudo na base do porrete. Estão apenas se mostrando derrotados, quando poderiam muito bem apoiarem a atitude brasileira e se mostrarem igualmente vitoriosos com a defesa da paz no mundo – que é o que todos desejam. Ainda há tempo de voltar atrás – mas será que sabem fazer isso?
Leiam a entrevista que saiu no Globo de hoje, feita por Fernando Eichenberg  com Flyn Leverett, diretor do Projeto Irã da New America Foundation, ex-responsável pelo Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, ex-analista da CIA e professor da Universidade da Pensilvânia. Leverett acredita que Washington entrou em um “jogo arriscado” e vê como crucial a atitude da China para determinar o futuro da aplicação de sanções.

'Os EUA nunca tiveram controle'
O GLOBO: Como o senhor avalia o acordo costurado por Brasil e Turquia com o governo iraniano?
FLYN LEVERETT: Brasil e Turquia são potências em ascensão e assumem significativa influência numa importante questão de paz e segurança internacional.
Mostraram de forma polida, mas clara, que Washington não tem controle unilateral na discussão do programa nuclear iraniano. Isso põe Obama numa posição difícil.
De um lado, os EUA não querem ser vistos dizendo “não” a progressos diplomáticos. Por outro, pararam na posição de George W. Bush sobre o enriquecimento e não querem ser vistos como se tivessem que se render.
O GLOBO: A secretária Hillary Clinton insiste em sanções econômicas...
LEVERETT: Essa abordagem vai se voltar contra o governo. A China pode concordar com o esboço de resolução, mas não acredito que vá concordar com que ela seja rapidamente adotada. Os chineses dirão que é preciso dar uma chance a esse acordo. A secretária Clinton está apostando num jogo bastante arriscado.
O GLOBO: Como vê as posições de China e Rússia nesse novo contexto?
LEVERETT: Acredito que China e Rússia concordaram com o que seria a linguagem do texto de uma nova resolução. A única ação concreta disso tudo é que o esboço aceito pelos membros permanentes do Conselho de Segurança agora será apresentado aos demais dez integrantes, incluindo Brasil e Turquia. A secretária Clinton está sob pressão, porque é como se o governo Obama tivesse perdido o controle da situação e que Brasil e Turquia passaram a liderar a via diplomática.
O GLOBO: Para os EUA, o acordo é insuficiente e não responde questões da comunidade internacional.
LEVERETT: O que governo americano está dizendo é um tanto desonesto. Verdade que, segundo as resoluções do conselho, o Irã deve suspender todo o enriquecimento de urânio. Mas desde as negociações de outubro isso não foi mais colocado. É uma mudança de posição que pode ser vista como sinal de desespero. Os EUA nunca tiveram controle unilateral na discussão das sanções. O governo insistiu em mostrar mais controle do que realmente tem, e está pagando um preço por isso.
O GLOBO: O senhor não acredita na votação de sanções em curto prazo?
LEVERETT: O próximo passo será a reação ao esboço da resolução.
Será crucial acompanhar a posição da China. Os chineses concordaram com o esboço, mas será preciso ver o que farão quando o texto for colocado realmente em votação. Realisticamente falando, a resolução não entrará no calendário de votações antes de junho, na melhor das hipóteses.

Flagrante da diplomacia americana


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã: "vitória da diplomacia brasileira cala a boca dos EUA"

O acordo assinado pelo Irã nesta segunda-feira em torno de seu programa nuclear foi uma vitória da diplomacia brasileira e uma resposta aos Estados Unidos, na avaliação do analista iraniano Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã.
"Apesar das dificuldades em conseguir o acordo, o presidente Lula arriscou sua fama internacional para conseguir intermediar uma proposta que trouxesse o governo iraniano de volta à mesa de negociações", disse Marandi à BBC Brasil.
Para o analista, o Brasil responde às críticas de outros países ocidentais, como os EUA e seus aliados, que não acreditavam que Lula e seu corpo diplomático pudessem fazer algo diferente do que já havia sido tentado.
"Lula calou a boca dos EUA e da secretária de Estado (dos EUA), Hillary Clinton, que mais de uma vez menosprezou os esforços turcos e brasileiros."
Para Marandi o Brasil teve o maior crédito, pois a Turquia não estava com o mesmo grau de otimismo em relação a um possível acordo.
"O mérito foi do Brasil, pois o país arriscou sua reputação e sofreu as maiores críticas ao se aproximar do Irã. E ainda conseguiu dar mais ânimo aos turcos em acreditar na possibilidade de se chegar a um acordo", enfatizou ele.
Proposta. O porta-voz do Ministério do Exterior do Irã, Ramin Mehmanparast, disse que o país vai enviar 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento (3,5%) para a Turquia em troca de combustível para um reator nuclear a ser usado em pesquisas médicas em Teerã.
O entendimento anunciado nesta segunda-feira e assinado em frente a jornalistas em Teerã tem como base a proposta da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU), do final do ano passado, que previa o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar.
Marandi salientou que ainda precisam ser conhecidos detalhes do acordo, como, por exemplo, a questão de como se dará a supervisão do transporte do urânio à Turquia e o papel da AIEA em colocar observadores.
"Sem contar que o grupo dos EUA e aliados que pressionavam por mais sanções devem ratificar o acordo para que tenha maior peso."
Israel. Poucos minutos após o anúncio do acordo, Israel criticou o Irã, afirmando que Teerã está "manipulando" o Brasil e a Turquia.
Os dois países, potências não-nucleares e membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, querem evitar as sanções.
Alguns integrantes do Conselho – principalmente os Estados Unidos - desconfiam das intenções do programa nuclear iraniano.
O Irã afirma que ele tem fins pacíficos, e que o país não pretende desenvolver armas nucleares.
Para o professor Mohammad Marandi, a vitória turca e brasileira se deu também à visão do Irã de que estes dois países são mais confiáveis que os outros do Conselho de Segurança da ONU.
"O acordo assinado hoje aconteceu porque o governo iraniano enxerga no Brasil e Turquia como dois países amigos."
Reportagem de Tariq Saleh, BBC

Acordo com Irã: a imagem abaixo é sugestão para o porta-retrato de Hillary Clinton



A todos que não acreditavam na diplomacia brasileira, que trataram Lula como ingênuo e até riram, como o diretor da Newsweek, Fareed Zakaria (quando perguntado se o Brasil poderia "assumir um papel sério na questão nuclear iraniana"), a todos os tucanos rancorosos e a todos os que têm complexo de vira-lata, dedico o noticiário de hoje. Claro que ainda teremos aqueles que tentarão minimizar o feito - para esses, compeensão, porque já perderam o bonde da História.
  • Leia a reportagem no Tehran Times. 
  • Trecho da entrevista de Fareed Zakaria, feita por Renata Malkes, publicada ontem no Globo: "O Brasil pode assumir um papel sério na questão nuclear iraniana ou no Oriente Médio? ZAKARIA: (risos) A resposta curta para sua pergunta é... não! (risos)"    

sábado, 15 de maio de 2010

Ahmadinejad: “Irã pode ajudar Estados Unidos a sair da lama”


É engraçado ver o líder iraniano dizendo que pode ajudar os americanos. Ou, como está no Tehran Times, ou que “Iran is ready to help the U.S. and its allies extricate themselves from the quagmire in the region”.
A declaração foi feita na quarta-feira em um comício na cidade de Yasuj e é claro que é pura provocação – mas se a Hillary pode dizer o que bem entende, por que ele não poderia? Chafurda na lama quem quer.

terça-feira, 13 de abril de 2010

A diplomacia americana ainda não sabe falar chinês


Que será que deu na Casa Branca para espalhar que a China estava a seu lado contra o Irã? O assessor do Conselho de Segurança Nacional americano, Jeff Bader, chegou a declarar que os chineses “estão preparados para trabalhar conosco”!
O Diário do Povo de hoje coloca a notícia nos eixos com a manchete “China declara que sanções não resolvem a questão nuclear iraniana”. E na manchete principal, sintomaticamente, o jornal informa que o “Presidente Hu participa do Encontro sobre Segurança Nuclear, tem encontros dos BRICs e visita Brasil, Venezuela e Chile”. Claro que não seria diferente. O Irã é uma fonte de energia estratégica e não pode ser jogada pra escanteio assim sem mais nem menos. Precisa ser estimulado para negociações mais amplas, não forçado a uma rendição inexplicável.
Como explicar mais essa trapalhada da diplomacia americana – falta de cursos de chinês? Aliás, como explicar todo esse Encontro? Qual será o proveito de tudo isso? Como explicar que Israel tenha decidido não participar? Se o objetivo fosse realmente o de garantir mais segurança para o mundo contra a ameaça nuclear, mereceria todo o nosso aplauso. Mas com o objetivo de obter unanimidade contra o Irã mostrou-se um grande fiasco. A nossa imprensa adora chamar Lula de “ingênuo” (ontem chegou a dizer que ele estava isolado entre os líderes), mas fecha bem os olhinhos para as barbaridades da “tucana” Hillary Clinton.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Você viu a Hillary por aí?

A passagem de Hillary pelo Brasil praticamente passou em branco. Apesar de toda a programação de entrevistas, encontro que teve com parlamentares e do esforço especial de nossa mídia, que torcia para que ela desse um puxão de orelha no governo brasileiro. Bem ao contrário, a Secretária de Estado americana ouviu o que não gostaria de ouvir. A firmeza brasileira não apenas na questão iraniana como também no caso Honduras e na questão da retaliação comercial. Os Estados Unidos começam a entender que a América Latina não é mais seu quintal.

sábado, 31 de outubro de 2009

Honduras: os Estados Unidos pressionaram Michelleti, mas foi o Brasil que pressionou os Estados Unidos

Vamos colocar claro uma coisa: sem a presença decisiva do Brasil em defesa da restauração da democracia em Honduras, os golpistas nunca mais sairiam do poder. Os Estados Unidos - que certamente apoiaram o golpe por baixo dos panos - fariam vista grossa e aproveitariam para ampliar seus domínios na região. Mas não tiveram como se contrapor à oposião séria e carregada de prestígio do Brasil. Chávez também foi muito importante dando sustentação operacional ao retorno de Zelaya. E o próprio Zelaya, com sua atitude firme, decidido a lutar pelos direitos democráticos, tornou-se uma rocha no caminho dos golpistas. Há ainda que parabenizar Obama, que conseguiu perceber a tempo que os "conselheiros" de Hillary estavam forçando a barra na contramão da História. Obama tratou de ordenar que Michelleti parasse de gracinha. Quem ficou completamente sem argumentos foi a Mídia de Bananas. Perdeu a chance de louvar o papel de destaque do governo brasileiro no cenário internacional criando condições para o retorno de Honduras à democracia.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

The Independent: Obama e Hillary divergem sobre Honduras

Em longa reportagem sobre o Brasil, onde exalta o papel do Brasil como cada vez mais protagonista no cenário mundial, o jornal inglês The Independent fala das divergências entre Obama e Hillary. Diz o jornal: “Brazilian action, closely backed by the Venezuelan government, has wrong-footed Washington, exposing a clear gulf on the Honduran mess between Obama, who wants decisive action to restore Zelaya, and a shilly-shallying Hillary Clinton, whose right-wing advisers have other ideas”. Mais ou menos isso: “A ação brasileira, fortemente apoiada pelo governo venezuelano, pegou Washington no contrapé e expôs um claro abismo na confusão hondurenha entre Obama – que quer uma ação decisiva para repor Zelaya no poder – e uma vacilante Hillary Clinton, cujos assessores direitistas têm outras idéias”. Enquanto isso, a Mídia de Bananas... deixa pra lá.

domingo, 5 de abril de 2009

Lula, afinal?

A coluna de Fernando Henrique neste domingo é bem interessante. Trata da reunião do G-20 que está “sendo saudada com alívio”. Diz ele que foi preciso “uma crise dessa gravidade para despertá-los para a natureza da questão: há um descompasso no plano mundial entre as formas institucionais e o mercado”. Fernando Henrique diz em seguida: “Disso há muito se sabia”. E completa a abertura do texto com “não faltaram vozes isoladas a clamar por uma reordenação global, não só do mercado, mas das instituições financeiras e da sua regulação”. Apesar da clara tentativa de se inserir de qualquer maneira nesse novo momento de superação da crise, o texto é bom e até bem humorado, quando ele acrescenta um “sic” após a expressão “talibãs moderados” de Hillary Clinton – ironia de quem sabe muito bem que é contraditório associar “moderação” com “talibãs” (fundamentalistas islamitas). O problema do texto é que ele não se refere em momento algum ao grande vitorioso desse encontro do G-20 em Londres. Mas, pelo título que ele escolheu (“Luz, afinal?”), imaginamos que a figura sorridente de Lula ficou-lhe bruxuleando o tempo todo. Veja o texto completo:
Luz, afinal?
Diante da crise, o revigoramento da ordem global começa a ganhar fôlego
A reunião do G-20, em Londres, está sendo saudada com alívio. Finalmente os líderes mundiais começam a acertar o passo. Foi preciso uma crise dessa gravidade para despertá-los para a natureza da questão: há um descompasso no plano mundial entre as formas institucionais e o mercado. Disso há muito se sabia. Nos anos 90, quando a globalização financeira começara a se fazer sentir com força, o problema já se colocava: a falta de regas internacionais mais objetivas complicava a situação de vários países que, eventualmente, nada tinham a ver com o estopim da crise. Desde então, não faltaram vozes isoladas a clamar por uma reordenação global, não só do mercado, mas das instituições financeiras e da sua regulação. Clamava-se, ainda, por uma reordenação comercial (vejamse os esforços de Doha), pela reordenação das políticas de meio ambiente (os acordos de Kioto), pela reordenação bélica (com o empenho nos tratados de não proliferação atômica ou no controle dos mísseis), pela reforma do Conselho de Segurança e assim por diante. Mesmo os esforços globais de redução da pobreza e de melhoria da qualidade de vida foram objeto dos acordos que resultaram nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovados pela ONU em 2000. Tudo isso caminhou a passos de tartaruga porque não é fácil complementar as ações que se devem dar no plano nacional com as que são de outra natureza e dependem de regras e decisões globais. Desde Kant se sabe que a paz universal requer um direito universal. Por que as finanças globalizadas escapariam dessa condição? Mas também se sabe que o fracasso da Liga das Nações, se não foi responsável pela Segunda Grande Guerra, abriu espaço para que a crise de 1929 despedaçasse o mundo em isolacionismos protecionistas e, no final, em guerras de conquista. Foi pela visão generosa de um mundo de paz e prosperidade que Roosevelt — como se vê em sua correspondência com Stalin durante a guerra — cedeu tanto aos soviéticos. Queria construir a ONU mantendo a União Soviética comprometida com a ordem global. Apesar da Guerra Fria e de tantos avatares mais, a ONU evitou uma guerra mundial. Hoje, diante da impossibilidade de os Estados nacionais controlarem a crise financeira, o revigoramento da ordem global começa a ganhar fôlego. Até aqui, com a impotência das instituições de Bretton Woods para enfrentar a maré de papéis tóxicos espalhados pelo mundo, o que vimos foi o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro americano espalhando recursos aos trilhões de dólares, tentando irrigar o sistema bancário. Os resultados, entretanto, foram magros até agora. O mercado permanece amortecido pelo temor dos bancos em fazer novos empréstimos e pela preferência dos eventuais tomadores em se resguardarem. Só deseja empréstimo quem já está quebrado. Os europeus, ingleses à frente, mais prudentes, injetaram capital nos bancos e assumiram parcialmente o seu controle. Consequentemente, surgiu um cisma que poderia paralisar as decisões em Londres: de um lado, a Europa tratando de impedir que os estímulos fiscais arruínem o futuro de sua moeda e, do outro, os americanos, donos da mágica de produzir dinheiro lastreado na confiança no governo e em sua economia, provendo liquidez e aumentando os déficits sem muita preocupação com equilíbrios fiscais. Entretanto, como o mundo agora é mais plano, os chineses deram o grito de alarma pela boca do primeiroministro: e se o dólar desvalorizar? Por certo, o problema hoje não é a inflação, mas a deflação; as taxas de juros americanas podem se manter rentes a zero. Mas será assim amanhã se a dívida crescer a tal ponto que coloque em questão, ao longo do tempo, a capacidade de recuperação dos orçamentos americanos? Foi significativo ver que no G-20 falou-se de uma cesta de moedas que sirva de reserva, e houve a decisão de aumentar o capital do FMI e até de utilizar os direitos especiais de saque, uma espécie de dinheiro internacional próprio do FMI. Noutros termos: há no horizonte distante o que Keynes previra e desejava, a formação de uma Autoridade Monetária Central. Não será o Banco Central Europeu uma antevisão do que poderá ocorrer em décadas adiante? O Conselho de Estabilidade Financeira não poderá exercer papel efetivo na coordenação das políticas e em seu controle? Reordenação mais profunda do sistema financeiro global implicaria em um novo arranjo político, do qual estamos distantes. Mas, assim como o unilateralismo dos neoconservadores e do governo Bush esticou a corda nos dois lados, invadindo países e dando licença aos mercados para fazer o que quisessem sem consultar ninguém, a atitude do governo Obama (Hillary Clinton falando até de incluir os talibãs “moderados” (sic) na mesa de negociações) prenuncia algo melhor para o mundo. Gordon Brown foi perspicaz e procurou os emergentes para aumentar suas chances de liderança apostando em mais regulamentação. Isso, com maior legitimidade, ampliando-se o número de atores que decidem, talvez seja a fórmula para se falar com mais seriedade em um outro e melhor mundo. Georges Soros, voz dissidente e clarividente nas finanças, colocou a outra condição para um ponto de partida positivo: será necessário prover muito dinheiro para evitar tragédias maiores nos países pobres e em algumas economias emergentes. O G-20 falou de US$ 1 trilhão. É um começo. Os ativos globais perderam de US$ 30 trilhões a US$ 50 trilhões! Os socorros de todo tipo, incluindo-se estímulos fiscais, devem roçar os US$ 2 trilhões, as promessas vão aos US$ 5 trilhões. Em Londres, os líderes esperam que lá pelo fim de 2010 a economia flua outra vez. Tomara. Isso se houver restabelecimento da confiança e do crédito e avanços no reordenamento político e financeiro do mundo. Se, entretanto, houver fracasso, o protecionismo e o nacionalismo bélicos podem voltar à cena. Espero, por isso, que a reunião do G-20 não se resuma a uma oportunidade fotográfica.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Fatos marcantes no JB

A coluna "Negócios & Propaganda", de Claudia Penteado, publicada no JB de hoje, perguntou aos profissionais do mercado de comunicação quais os fatos que marcaram 2008. Para quem não tem acesso ao JB, publico pelo menos a minha resposta:
Na minha opinião, 3 acontecimentos são os mais marcantes:
* a vitória de Barack Obama, significando uma nova postura do país mais poderoso diante da realidade mundial (aliás, quero dizer que, no dia 17 de janeiro de 2007, postei no meu Blog: "Pode ser que ele não consiga derrotar a Senadora Hillary Clinton, mas está demonstrando que vai dar trabalho. Tanto seu vídeo de lançamento quanto o de sua biografia são muito bem feitos, com iluminação densa, bonita e surpreendentemente eficiente para um vídeo politico");
* a descoberta das reservas de petróleo do Brasil, que contribuirão muito para um reposicionamento do Brasil no cenário internacional;
* o fracasso da política neoliberal, que, no momento, empurra o mundo ladeira abaixo, mas que, no final, deverá resultar em um mundo mais fortalecido, com políticas sociais mais eficazes e desenvolvimento consistente.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Aviso aos navegantes: não existe nenhum Gadelha como contribuinte da Fundação de Bill Clinton

São 2.992 páginas, com mais de 200.000 contribuintes. O valor total é entre 75 e 165 milhões de dólares. Trata-se da lista dos doadores da William (Bill) J. Clinton Foundation. Alguns nomes mais conhecidos: Arábia Saudita, Austrália, República Dominicana (entre 10 e 25 milhões de dólares), Brunei, Kwait, Omã e Qatar (mais de 1 milhão de dólares cada). Outro Bill famoso, o Gates, também está na faixa dos 10 a 25 milhões de dólares como doador. Tudo bem, cada um doa o que quiser. Mas isso pode ser um problema para a futura Secretária de Estado Hillary Clinton. Todo mundo está de olho na lista e o Washington Post (que publica a lista completa) está pedindo a todos os leitores que enviem comentários sobre os doadores que conhecem. Eles publicarão no seu blog investigativo – doa a quem doer... (Leia mais aqui.)