quarta-feira, 19 de maio de 2010

Diplomacia brasileira expõe a arrogância e o despreparo da diplomacia Hillary


O que o Brasil fez com o acordo nuclear do Irã foi um verdadeiro gol de placa. E isso nem mesmo nossa Oposição pode negar. É verdade que Fernando Henrique andou fazendo gracinha, declarando que era preciso aguardar para ver se o juiz vai ou não vai validar o gol. Coisa de pessoa rancorosa, que se corroi de ciúme. O mundo de hoje não pode mais curvar-se automaticamente às “verdades” das grandes potências. Não dá mais para engolir coisas do tipo “armas de destruição em massa no poder do Iraque” da era Bush. O mundo inteiro fica mais perigoso depois que eles lançam uma “verdade” assim.
O Brasil, como emergente de peso, teve que se posicionar na questão do Irã e fez mais do que isso – apresentou um trabalho brilhante, positivíssimo e reconhecido internacionalmente. Pegou Hillary Clinton de calça curta, mas isso é problema dela. Sem alternativa diplomática (coisa que nunca precisaram ter), os Estados Unidos estão apelando para a ignorância, achando que ainda podem resolver tudo na base do porrete. Estão apenas se mostrando derrotados, quando poderiam muito bem apoiarem a atitude brasileira e se mostrarem igualmente vitoriosos com a defesa da paz no mundo – que é o que todos desejam. Ainda há tempo de voltar atrás – mas será que sabem fazer isso?
Leiam a entrevista que saiu no Globo de hoje, feita por Fernando Eichenberg  com Flyn Leverett, diretor do Projeto Irã da New America Foundation, ex-responsável pelo Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, ex-analista da CIA e professor da Universidade da Pensilvânia. Leverett acredita que Washington entrou em um “jogo arriscado” e vê como crucial a atitude da China para determinar o futuro da aplicação de sanções.

'Os EUA nunca tiveram controle'
O GLOBO: Como o senhor avalia o acordo costurado por Brasil e Turquia com o governo iraniano?
FLYN LEVERETT: Brasil e Turquia são potências em ascensão e assumem significativa influência numa importante questão de paz e segurança internacional.
Mostraram de forma polida, mas clara, que Washington não tem controle unilateral na discussão do programa nuclear iraniano. Isso põe Obama numa posição difícil.
De um lado, os EUA não querem ser vistos dizendo “não” a progressos diplomáticos. Por outro, pararam na posição de George W. Bush sobre o enriquecimento e não querem ser vistos como se tivessem que se render.
O GLOBO: A secretária Hillary Clinton insiste em sanções econômicas...
LEVERETT: Essa abordagem vai se voltar contra o governo. A China pode concordar com o esboço de resolução, mas não acredito que vá concordar com que ela seja rapidamente adotada. Os chineses dirão que é preciso dar uma chance a esse acordo. A secretária Clinton está apostando num jogo bastante arriscado.
O GLOBO: Como vê as posições de China e Rússia nesse novo contexto?
LEVERETT: Acredito que China e Rússia concordaram com o que seria a linguagem do texto de uma nova resolução. A única ação concreta disso tudo é que o esboço aceito pelos membros permanentes do Conselho de Segurança agora será apresentado aos demais dez integrantes, incluindo Brasil e Turquia. A secretária Clinton está sob pressão, porque é como se o governo Obama tivesse perdido o controle da situação e que Brasil e Turquia passaram a liderar a via diplomática.
O GLOBO: Para os EUA, o acordo é insuficiente e não responde questões da comunidade internacional.
LEVERETT: O que governo americano está dizendo é um tanto desonesto. Verdade que, segundo as resoluções do conselho, o Irã deve suspender todo o enriquecimento de urânio. Mas desde as negociações de outubro isso não foi mais colocado. É uma mudança de posição que pode ser vista como sinal de desespero. Os EUA nunca tiveram controle unilateral na discussão das sanções. O governo insistiu em mostrar mais controle do que realmente tem, e está pagando um preço por isso.
O GLOBO: O senhor não acredita na votação de sanções em curto prazo?
LEVERETT: O próximo passo será a reação ao esboço da resolução.
Será crucial acompanhar a posição da China. Os chineses concordaram com o esboço, mas será preciso ver o que farão quando o texto for colocado realmente em votação. Realisticamente falando, a resolução não entrará no calendário de votações antes de junho, na melhor das hipóteses.