quinta-feira, 24 de março de 2011

Hipocrisias nos céus da Líbia


Que essas decisões das potências ocidentais via-Conselho de Segurança da ONU estão repletas de hipocrisia ninguém tem mais dúvidas – exceto a grande mídia brasileira... Mas quem também afirma isso é Leslie H. Belb, ex-colunista do New York Times e presidente emérito do Council on Foreign Relations. Essa semana Leslie H. Belb escreveu um artigo no site The Daily Beast, “The Horrible Libya Hypocrisies”, onde começa dizendo que “não há nada como uma crise da política externa, real ou imaginada, para inflamar o pior entre os líderes mundiais e entre os especialistas em política externa”.
Outros trechos:
  • A crise fabricada na Líbia é um primeiro exemplo. Nenhum estado estrangeiro tem interesses vitais em jogo na Líbia. Os acontecimentos nesse lugar estranho e isolado têm pouca influência sobre o resto do tumultuado Oriente Médio. Também não pode ser descartado que há horrores humanitários muito, muito piores em outros lugares. No entanto, os intervencionistas humanitários neoconservadores e liberais dos EUA forçaram mais um presidente dos EUA a agir como se fosse o contrário.
  • Quando essa dupla terrível começa a cuspir palavras como "massacre" e "genocídio", a mídia fica louca.
  • O motivo pela qual nem o presidente Obama nem seus parceiros da Grã-Bretanha e da França podem apresentar um objetivo coerente para a Líbia é que nenhum deles tem qualquer interesse central no que vai acontecer lá. (...) Todos eles foram simplesmente levados por sua própria retórica.
  • O drama começa quando os líderes e pensadores são seduzidos pela sensação de que devem fazer o bem. Às vezes, eles ignoram os assassinatos, mesmo quando as mortes chegam a centenas de milhares (como em Ruanda) ou milhões (como no Congo). Outras vezes, o número de mortes está em centenas ou algo assim, como na Líbia – mas o cara que está fazendo a matança é alguém que eles têm boas razões para não gostar, e aí decidem fazer o bem e detê-lo. (Texto completo aqui.)

Paricularmente, mesmo concordando inteiramente com a hipocrisia das declarações dos líderes ocidentais e do noticiário, acredito que eles tiveram motivos mais fortes do que o amor à própria retórica. Sarkozy tem óbvios interesses eleitorais, louco para um fato grandioso capaz de levantá-lo nas pesquisas. Obama idem, e pior: tem que lutar contra o lobby da guerra, contra os Republicanos e contras os gaviões da infiel Hillary Clinton empoleirados dentro do próprio partido Democrata.