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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Obama e a crise árabe: perdendo-se em miragens


Não tem herança maldita pior do que essa política para o Oriente Médio que Obama herdou de Bush. Desde a invasão do Iraque, a presença americana na região torna-se cada vez mais mal vista e tudo aponta para um terreno extremamente árido. Os Estados Unidos tentavam manter posição estreitando as relações com tradicionais aliados, como Egito, Arábia Saudita, Jordânia e outros – países dispostos a dialogar com Israel e que poderiam ajudar a isolar o “demoníaco” Irã. Obama ainda tentou acariciar o povo palestino na sua luta contra Israel. Chegou a apertar a mão do “monstruoso” Kadafi. E talvez tenha sonhado com o distanciamento entre Síria e Irã. Nada deu certo. O Oriente Médio, apesar de todos seus conflitos internos, inclusive religiosos, parece ter mais afinidade (e interesses) com Ahmadinejad do que com qualquer presidente americano. E as ações radicais (como a rejeição do acordo nuclear patrocinado por Brasil e Turquia) de Obama, pressionado pelo seu eleitorado judeu, só fizeram piorar a situação. Quando ele vivia a situação de que pior não poderia ficar, veio o pior, vieram os ventos “democratizantes” levando para mais distante a influência americana.
Os Estados Unidos passaram a percorrer um deserto sem camelo. Não poderiam ir contra os revoltosos, sob risco de perderem os votos progressistas internos e o papel de paladino do “mundo livre”. Mas não poderiam se esforçar pela queda de dirigentes palatáveis no Egito, Bahrein, Iêmen, etc. A mídia e a Administração Obama, como analisa o Foreign Policy (Obama Is Helping Iran), chegaram a pensar que “a onda de revolta popular que derruba um após o outro os aliados dos Estados Unidos acabaria por derrubar a República Islâmica do Irã e talvez o governo sírio de Assad – mas isso foi apenas o triunfo do pensamento sonhador (wishful thinking) sobre o pensamento analítico (thoughtful analysis)”. O bilionário George Soros arriscou calcular que o regime iraniano não duraria nem mesmo um ano. Apenas miragem. As pesquisas de opinião mostram que os principais líderes na resistência aos Estados Unidos (Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, Bashar Assad, da Síria, Hassan Nasrallah, do Hesbolá libanês, Khaled Mishaal, do Hamas palestino e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia) são imensamente mais populares do que os aliados americanos. Contra todas as preces de Obama, o Irã de Ahmadinejad está cada vez mais forte e ganhando trânsito mais livre com as “revoltas democráticas” – a travessia de seus navios de guerra pelo Canal de Suez é um bom exemplo disso. Mesmo a queda de Kadafi, o “mal absoluto” nos olhos do mundo ocidental, pode ser prejudicial aos propósitos americanos. Apesar dos pesares, ele sempre manteve elos com a Europa e bastante autonomia com relação aos outros países da região, chega a ser inimigo declarado da Al-Qaeda de Osama Bin Laden. Com a possível vitória dos revoltosos da Líbia, os Estados Unidos podem ficar a pão e água (ou nem isso...). Estão perdidos nesse deserto, vivendo o drama de “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come” - e esse bicho se chama Ahmadinejad. Todos nós, de todos os mundos, esperamos que logo, logo, surja um oásis de verdade.

domingo, 30 de maio de 2010

Primeiro-Ministro da Turquia:"Se os outros podem, por que o Irã não?"


Bem boa essa entrevista do Primeiro-Ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para Renata Malkes, do Globo:

O GLOBO: Apesar do acordo, novas sanções ao Irã são cada vez mais iminentes. Qual o próximo passo de Brasil e Turquia para evitá-las? RECEP TAYYIP ERDOGAN: Não há clareza agora. Ainda.
Quando a situação estiver mais clara, vamos decidir o próximo passo. Se o acordo for respeitado pelo Irã, nós, que colocamos nossos nomes, nossas assinaturas naquele documento, não vamos voltar atrás enquanto o Irã se mantiver fiel a esse acordo. O Irã provou ser membro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), signatário do TNP e cumpriu o que se esperava nesse projeto de troca de urânio.
Por isso, a comunidade internacional deve nos apoiar
O GLOBO: Um dos pontos criticados pelos membros do Conselho de Segurança é o fato de o Irã poder seguir enriquecendo urânio. Por que isso não foi discutido?
ERDOGAN: O enriquecimento de urânio para fins civis pode ser feito no Irã e no resto do mundo. Muitos países enriquecem urânio. Por que estamos tão incomodados? Se outros países podem, por que não o Irã? Vamos falar de justiça e não de injustiça. Se você pressiona o Irã assim, nunca terá resultado algum! Há duas semanas, assinei um acordo com a Rússia para a criar uma usina nuclear na Turquia e vou começar a enriquecer urânio no futuro. E aí dirão à Turquia “não, vocês não podem enriquecer urânio”? Eu vou dizer que é para produzir energia.
Você pode enriquecer e eu não? Isso é inaceitável! A quantidade, sim, essa pode ser discutida.
O GLOBO: Também não houve acordo para permitir novas inspeções da AIEA no Irã . Por quê?
ERDOGAN: Há órgãos competentes, a AIEA, da qual o Irã é membro, além de signatário do Tratado de Não-Proliferação (TNP). Se as organizações internacionais querem inspecionar mais, saber mais, que sigam em frente e investiguem! Se não houver apenas uma usina nuclear, mas uma fábrica de bombas atômicas, então isso pode ser denunciado ao resto do mundo. Mas, isso nunca aconteceu até agora. Não podemos temer uma coisa que não existe.
Nos últimos meses, a imprensa internacional está sendo manipulada contra o favor que nós estamos fazendo. Está sendo atiçada diante de nossa boa vontade. Com o tempo, essa ventania passa e as coisas vão parecer mais positivas. Eu e o presidente Lula sabíamos que falariam contra. Mas, fomos decididos.
O GLOBO: No ano passado, o Irã omitiu a existência de uma usina secreta, em Qom. Diante desse histórico de desconfiança, pode-se confiar no presidente Ahmadinejad?
ERDOGAN: A AIEA não pode criticar as usinas iranianas ou classificá-las como fábricas de armas. A AIEA só fala de possibilidades.
Vamos nos ater aos fatos e não às possibilidades.
A comunidade internacional teme que essas instalações se transformem em fábricas de armas, mas não vejo assim.
Falo a verdade. Claro que considero essa possibilidade, mas não a uso para julgar pessoas.
Se não estamos falando da lei dos supremos, mas da supremacia da lei, temos que falar disso claramente. Os países alegam que haverá armas nucleares no Irã... E há a possibilidade de inocência... Então, vamos provar essas alegações! Enquanto essas alegações não forem provadas, não podemos culpar ninguém. Estamos de mãos dadas com Lula e Ahmadinejad e demos um passo adiante.
O GLOBO: Há uma tentativa de grandes potências impedirem o acesso de emergentes às questões diplomáticas internacionais?
ERDOGAN: Claro! Era função do Conselho de Segurança das Nações Unidas! E os membros permanentes são muito ativos, mas não foram efetivos. Não puderam dar passos concretos para resolver a questão. Não puderam sequer conversar com o Irã. A posição foi “ah, vocês vão falar com o Irã? Tragam-nos alguma conclusão”.
Foi o que nos disseram! O Brasil resolveu um problema significativo.
O Brasil e a Turquia podem resolver problemas no Irã.
E não podemos deixar de questionar: como os membros permanentes não podem resolvê-los? Deveriam ser capazes, mas cometem um grande erro; eles têm que mudar mentalidade e estratégia.