A rigor, o novo sistema antimíssil da OTAN já existe há
muito tempo. O que foi aprovado agora é a sua expansão: antes, protegia apenas
as tropas da OTAN; agora, protegerá também os territórios e os 900 milhões de habitantes
dos 28 países-membros. Certamente, a Rússia participará desse escudo. O que
altera principalmente são os 270 milhões de dólares que serão lançados na
indústria de guerra (a maior parte para alteração do sofware) e o próprio conceito de guerra dessa nova fase do
pós-Guerra Fria. Com o fim da bipolaridade, a hegemonia americana ganhou corpo,
mas, felizmente, não viramos todos “unipolar”. E o mundo multipolar que começamos
a viver não cabe mais na antiga rotulação de que “meu inimigo está do lado de
lá, no polo oposto”. Novas tecnologias, novos conhecimentos, nova comunicação,
uma relação inteiramente nova entre os países. Ninguém mais tem certeza de onde
poderá vir a próxima ameaça, que polo se opõe a qual polo. Vejam esse exemplo
da Coreia do Norte. Para espanto do mundo inteiro, acaba de anunciar que possui
centrífuga nuclear, ou seja, tem capacidade de enriquecimento de urânio,
tornando-se um país mais poderoso e mais independente em tecnologia nuclear. Em
que polo se enquadra a Coreia do Norte? Nada muito definido. E o mesmo pode ser
dito do Irã. Até Israel teria uma classificação nada tranquila. Os novos
adversários não têm origem muito clara. Podem estar em cima, embaixo ou aqui ao
lado. Podem ser muçulmanos, judeus, russos, americanos, chineses, curdos ou,
quem sabe, até mesmo brasileiros. Essa é a “Guerra Morna” que está em curso. É
uma geopolítica nova que ainda precisa ser decifrada. Os Estados Unidos, claro,
enfraquecidos nesse admirável mundo novo, tratam de reagrupar seus “amigos” e
usam para isso a OTAN sobrevivente e a velha ameaça nuclear. Os diversos polos fora
da OTAN não ficarão de braços cruzados. Ficarão um tempo no banho-maria, mas
logo logo estarão aquecendo seu escudos.