quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dilma, Ibope e a classe média, segundo Merval


Na sua coluna de hoje no Globo, “Dilma agrega apoios”, Merval Pereira faz uma análise bem correta sobre os resultados da pesquisa CNI/Ibope de ontem, que aponta aprovação de Dilma com 77%, novo recorde. Diz ele que esse Ibope “pode ser explicado por uma conjunção de apoios, pois ela mantém a hegemonia na Região Nordeste (82%) e entre os cidadãos que ganham entre um e dois salários (59%), mas conseguiu ser igualmente bem avaliada entre os eleitores com renda familiar superior a dez salários mínimos (60% de ótimo e bom) e na Região Sudeste (75%) (grifo nosso). Em seguida conclui: “Isso quer dizer que a maneira de governar de Dilma tem agradado à classe média, sem perder o apoio das classes mais populares”.
Perfeito. O que me espanta é a demora que a mídia mais conservadora, bem representada por Merval, teve para compreender isso tudo. O primeiro grande nome da oposição a perceber o que estava ocorrendo foi Fernando Henrique, demonstrando sua preocupação no artigo “O Papel da Oposição”, pré-divulgado no dia 12 de abril do ano passado. Na época, escrevi aqui no Blog (FHC: finalmente o grão-tucano mostra bom-senso), aplaudindo a sua perspicácia: “Isso significará que Fernando Henrique, além de reconhecer as realizações de Lula, já percebeu o estrago que Dilma está fazendo no seu eleitorado preferencial. A capacidade que ela tem tido de agradar a classe média (e a mídia) mostrou-se complementar ao que Lula fez e está deixando a oposição em polvorosa. Fernando Henrique ainda terá a ‘ousadia’ de sugerir que a oposição deve buscar a classe média ‘em lugares onde os partidos praticamente não existem, como as redes sociais da internet’”.  Dois dias depois, quando ele finalmente publicou seu artigo pré-divulgado(!), escrevi (“Povão” ou “Classe Média”: em defesa de Fernando Henrique): “Fora do poder e na entressafra eleitoral, a oposição tucana, de perfil mais elitizado, tem mesmo que tentar se manter forte e unida através do discurso classe média, principalmente diante da 'ameaça Dilma', que conquista brilhantemente largas fatias não só da classe média, como da classe mídia... FHC ainda demonstra mais um momento de lucidez ao aconselhar o partido 'a priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia'”.
No dia 19 de agosto de 2011, escrevi (A herança mal dita de Lula):  "Apesar de toda a campanha contra, Lula conseguiu eleger Dilma para sucedê-lo. Inicialmente, ela era tratada como marionete, burocrata, politicamente despreparada para o cargo. Ninguém foi capaz de dar valor a seu trabalho na Casa Civil, e pré-anunciavam uma administração fracassada. Espertamente, Dilma tratou de passar a mão na cabeça da classe média mal amada – e deu certo. Deu certo até demais".
Em outras palavras: esse Ibope da Dilma já estava previsto antes de sua eleição. Só não viu quem não acreditava no que via.