No seu Ex-Blog de hoje, Cesar Maia (DEM) sintetiza muito bem a agonia tucana. Diante da movimentação de Aécio, de Fernando Henrique e de outros líderes pela "refundação" programática do partido, Cesar Maia é bem preciso: "o problema principal não está aí, mas na marca de identidade do partido, que se esvaiu". Me parece que esse é um risco que todo partido corre quando faz alianças extremadas para garantir o poder e, tempos depois, perde o poder. O PSDB chegou ao poder central - e manteve-se no topo durante muito tempo - graças à sua guinada para a direita, aliando-se ao PFL (ex- Arena e agora DEM) e seu caminhão de votos no Nordeste. Ao perder o Nordeste para o PT de Lula, o PSDB perdeu o rumo e vive um momento meio zumbi. O PT também tem feito alianças bastante questionadas, por parecerem afastar o partido de seus princípios. Mas o PT tem fundamentos bem melhores do que o PSDB, o próprio Cesar Maia reconhece isso. O PT nasceu do encontro das organizações clandestinas de esquerda, da Igreja Católica e do sindicalismo do ABC paulista, tendo como amálgama imediato o combate não armado à ditadura. Havia certa estreiteza original com a defesa de um “governo dos trabalhadores” (ou seja, do “socialismo já”), mas isso pôde ser superado (com forte influência de José Dirceu) com a defesa de um “governo democrático e popular”. O PT ainda mantém sua identidade bem viva, ao contrário do PSDB que teve a sua identidade... qual era mesmo? Vale a pena ler o Ex-Blog:
RISCOS PARA O FUTURO DO PSDB!
1. Os principais líderes do PSDB, a começar por FHC e Aécio, falam em refundação, em renovação programática... Tudo bem. Mas o problema principal não está aí, mas na marca de identidade do partido, que se esvaiu. Pode-se dizer que essa é uma característica de todos os partidos brasileiros, com exceção – ainda – do PT, por sua conexão sindical. Mas não era do PSDB (e não era do PFL). Agora é. Bom que se refunde e que tenha um programa renovado, mas isso não resolve o problema de identidade.
2. Porém, há um risco transversal e mortal para o PSDB. E há referência disso em sua própria história. Seu núcleo paulista, no governo Montoro, abriu as portas para o PSDB sair do PMDB como uma costela de qualidade, diferenciando-se do “franciscanismo” imperante no PMDB de SP, como se dizia. Deu certo: o PMDB de S. Paulo, com o tempo, se desintegrou.
3. Ficou o PSDB que, com suas marcas de identidade (modernidade, grandes quadros, classe média, apoio do alto empresariado...), atraiu quadros nacionais e construiu um binário – PT/PSDB – na cabeça dos analistas e da imprensa. Esse binário terminou de ser desmontado na eleição de 2012. Talvez por isso a disposição de renovação e a antecipação de candidatura presidencial por FHC. Nos EUA, com “primárias”, a dinâmica é muito diferente.
4. Mas há uma questão crítica e grave. A coluna Painel da Folha de SP (23) informa: “Serra tem demonstrado a aliados preocupação com o cenário eleitoral para Alckmin em 2014. Ele tem insistido na importância de tentar preservar a aliança com o PSD de Kassab”. Com a “franciscanização” quase generalizada da política brasileira, o poder de atração de um partido articulado por experimentados cardeais da “franciscanização”, será o golpe final na dissolução da identidade do PSDB de SP com a liquidação de vez do sistema binário imaginado.
5. Em poucas palavras: o PSD pode ser para o PSDB o que o PSDB foi para o PMDB em S. Paulo.
6. Nesse momento, o alto empresariado já não tem o PSDB como partido preferencial e circula com desenvoltura e intimidade entre o Instituto Lula e o Palácio do Planalto. O agronegócio ainda é uma exceção, pois não confia em PT de nenhuma espécie. O PSD tenta gerar esta confiabilidade junto a Dilma. Se conseguir, nem essa base que deu vitórias em seus espaços regionais a Alckmin e Serra restará.
7. Bem, é hora de pensar estrategicamente (o que há de futuro no presente, como ensinava Peter Drucker). E com pressa. Ficar sonhando com uma campanha bem “abastecida” e com um marqueteiro genial é marcar um jogo só na Loteria da Virada. Ganhar capilaridade política e eleitoral e desenhar, como ponte, a identidade de sua candidatura a presidente é o básico. E o tempo urge (ruge?).