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O liberalismo econômico, como conhecíamos, vive seus estertores. E podemos dizer que a concordata do Lehmann Brothers, em setembro de 2008, equivale, para os liberais, ao que significou a queda do muro de Berlim para as esquerdas. No mínimo, os dois acontecimentos estão intimamente ligados. Com a Queda do Muro (1989), o liberalismo, que tinha ganhado fôlego com Reagan e Thatcher, radicalizou. O laissez-faire tornou-se o Pai nosso de cada dia. A dissolução da União Soviética passou a ser a garantia de que a política de descontrole total é que estava certa e que representava a evolução da humanidade. Mas os “Ninjas” (No Income, No Job, no Assets – crédito concedido a tomadores que não podiam comprovar renda, nem emprego, nem a propriedade de ativos) deram um golpe mortal nessa pretensão. De 2008 para cá testemunhamos, meio incrédulos, as potências ocidentais em desespero, quase rastejando, tentando entregar os dedos para salvar os anéis. Enquanto isso, os chamados países emergentes, para quem todos torciam o nariz, tornam-se protagonistas da nova economia mundial. “The era of free-market triumphalism has come to a juddering halt, and the crisis that destroyed Lehman Brothers in 2008 is now engulfing much of the rich world”, diz The Economist em sua matéria de capa da semana passada. Pior: o Fraser Institute, canadense, que tem medido a “liberdade econômica” (!!!) nos últimos quarenta anos e que tinha visto o seu índice subir implacavelmente de 5,5 (de 0 a 10) em 1980 para 6,7 em 2007, a partir de 2008 viu tudo andar pra trás. Pior ainda: ganhou força entre os “emergentes” o capitalismo de estado, que funde os poderes do estado com os poderes do capitalismo.
The crisis of liberal capitalism has been rendered more serious by the rise of a potent alternative: state capitalism, which tries to meld the powers of the state with the powers of capitalism. It depends on government to pick winners and promote economic growth. But it also uses capitalist tools such as listing state-owned companies on the stockmarket and embracing globalisation. Elements of state capitalism have been seen in the past, for example in the rise of Japan in the 1950s and even of Germany in the 1870s, but never before has it operated on such a scale and with such sophisticated tools.
O capitalismo de estado, argumentam, representa um esforço significativo sobre seus predecessores em vários aspectos: está se desenvolvendo em escala maior, mais rapidamente e com instrumentos mais sofisticados.
Obviamente, a reportagem procura lançar senões sobre os novos rumos do mundo fora das garras das potências ocidentais. Levanta dúvidas sobre a capacidade de renovação e de correção de erros, e alerta que o “capitalismo de estado é atormentado pelo nepotismo e pela corrupção” – como se nada disso acontecesse no chamado “primeiro mundo”. Mas a reportagem lembra que a ascensão do capitalismo de estado está derrubando algumas “verdades” sobre os efeitos da globalização. Por exemplo, Kenichi Ohmae tinha dito que a nação-estado tinha acabado. Thomas Friedman argumentava que os governos teriam que usar a camisa de força dourada de disciplina do mercado. Naomi Klein apontava que as maiores companhias são maiores do que muitos países. E Francis Fukuyama declarou que a história tinha acabado com o triunfo do capitalismo democrático. O fato é que a “fórmula” do liberalismo econômico fracassou completamente e seus defensores têm motivos de sobra para se preocuparem com esse mundo que avança livre de sua tutela. Acima de tudo porque, olhando para a crise americana, para o caos europeu e para as trapalhadas do grande capital financeiro, podemos dizer que as esquerdas sempre estiveram mais perto de uma proposta de mundo melhor, onde o estado pode de fato ser o protagonista na condução harmonizada de políticas econômicas e sociais. Evidentemente, estamos longe de viver o melhor dos mundos. Mas já é um alívio saber que nos distanciamos da truculência do liberalismo.