Em artigo publicado hoje na Folha, “Política externa” (aqui, para assinantes), Cesar Maia mostra-se decepcionado porque a política externa brasileira conduzida por Dilma e Patriota não se difere substancialmente da que vinha sendo adotada por Lula e Celso Amorim. E assinala pontos para demonstrar a continuação de uma política externa que obviamente não lhe agrada.
“Na decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia, o Brasil se absteve, com a Rússia e a China”. Segundo Cesar Maia, seria “um aval ao desequilibrado Gaddafi”. Na verdade, significou não dar aval a uma decisão desequilibrada, que prometia evitar mortes de civis e mostrou-se mera “caça a Kadafi” (que até então contava com apoio ocidental), implicando matança de civis e destruição do país. Hoje, até o Congresso americano questiona o que está sendo feito.“A legitimidade do discurso e a coerência de suas posições de Estado são componentes essenciais do patrimônio diplomático acumulado pelo Brasil” (*). Talvez quem mais agrediu esse patrimônio foi exatamente o Governo Fernando Henrique, por ter defendido “pés descalços” diante dos Estados Unidos, principalmente quando radicalizou na liberalização, privatização e desregulação de nossa economia, atendendo as diretrizes do “Consenso de Washington” (principal responsável pela crise de 2008-2009). Felizmente, ao contrário do que pretendia Cesar Maia e toda a oposição liberal-conservadora, a política externa brasileira atual mantém-se coerente. Assim como acontecia no período Lula/Celso Amorim, não pretende se afastar dos propósitos desenvolvimentistas e nacionalistas que estão contribuindo para um país menos desigual internamente e de altivez nas relações internacionais. O choro dos descontentes não representa os interesses nacionais.
“A pressão sobre o Congresso para rever o acordo de Itaipu”. Segundo Cesar Maia, estaríamos criando “um grave precedente” sem justificativa geopolítica. Mas ele não entende que “pragmatismo e solidariedade são as referências primordiais que deverão continuar pautando a crescente atuação brasileira nos planos global e regional” (*). O Brasil “defende interesses definidos do país e da América do Sul, esta sim prioridade da plataforma exterior do país” (*). Apoiar política e economicamente o Paraguai e outros países da região faz parte da nossa estratégia.
“A ostensiva atuação do governo, e do PT, na eleição peruana”. Aqui, Cesar Maia se excede ao acusar o nosso governo de atuar “suavizando a imagem do candidato chavista Ollanta Humala”. Talvez ele preferisse ações que estigmatizassem ainda mais Ollanta Humala, empurrando-o para posições radicais que possibilitassem a vitória da filha (e digna representante) de Alberto Fujimori, aquele ex-presidente famoso por seu “autogolpe” e que cumpre pena por “abuso dos direitos humanos e sequestro”.
“A decisão do STF sobre o caso do terrorista assassino Cesare Battisti teve claro envolvimento do governo Dilma, antes e depois, por meio do ministro da Justiça”. Cesar Maia alega que agora “o país enfrenta um constrangimento com os italianos, que fazem parte da formação econômica e cultural do Brasil contemporâneo”. Só falta agora Cesar Maia defender com unhas e dentes a política de “tirar os sapatos” do Governo Fernando Henrique – isso, sim, bastante constrangedor. É bom recordar que também a França não se importou com “constrangimentos” quando deu asilo a Battisti.
(*) trechos de um trabalho nota 10 sobre política externa
Acrescento essa interessante entrevista do economista Darc Costa sobre a "América do Sul e a nova geopolítica" para o programa Milênio. Clique aqui.