O artigo de
Fernando Henrique Cardoso publicado neste domingo ("Mudar o rumo") é de uma ousadia monumental.
Começa pela chamada: “a política externa precisa rever seu foco”. Qual foco?
Aquele do seu Ministro das Relações Exteriores, que tirou os sapatos para poder
entrar nos Estados Unidos? Política de submissão geopolítica? Ficar de braços
cruzados enquanto os Estados Unidos espalham bases em torno do Brasil e ficam de
olho grande no Atlântico Sul?
Dando
continuidade a sua “aula”, FHC escreve: “Para que exportemos mais e para
dinamizar nossa produção para o mercado interno, a ênfase dada ao consumo
precisará ser equilibrada por maior atenção ao aumento da produtividade, sem
redução dos programas sociais e demais iniciativas de integração social”.
Exportemos mais? Nos seus governos, o ano em que exportamos mais foi
2002, com pouco mais de 60 bilhões de dólares. Desde 2005, nunca mais
exportamos menos do que 118 bilhões de dólares e em 2013 exportamos mais de 242
bilhões de dólares.
Sobre a participação da Petrobras nos leilões do pré-sal, escreve: “A
imposição de que a Petrobras seja operadora única e responda por pelo menos 30%
da participação acionária em cada consórcio, somada ao poder de veto dado às
PPSA nas decisões dos comitês operacionais, afugenta número maior de
interessados nos leilões do pré-sal, reduz o potencial de investimento em sua exploração
e diminui os recursos que o Estado poderia obter com decantado regime de
partilha”. Como reduz?!? O Estado torna-se sócio, participando diretamente dos
ganhos. Além disso, a Petrobras é uma das maiores empresas do mundo, domina
como ninguém a exploração em águas profundas e tem realizado um trabalho
excepcional para o país. Se ela não serve para essa função, quem mais serviria?
Ataca também a inflação, que, segundo ele, só não estaria fora da meta “porque
os preços públicos estão artificialmente represados”. Será que ele esqueceu que nos seus últimos
quatro anos de governo a inflação foi de 8,9% (1999), 6,0%(2000), 7,7%(2001) e 12,5%(2002)? Isso apesar
das taxas de juros altíssimas: 18,99% (dez/1999), 15,76% (dez/2000), 19,05% (dez/2001) e 24,9% (dez/2002).
Fernando Henrique tem a suprema ousadia de encerrar seu artigo dizendo
que a esperança que tem é a da vitória das oposições em 2014. Ou seja, quer sua
turma de volta ao poder. Mas para que ninguém perca o rumo por causa dessas
loucuras de verão de um ex-presidente, reapresento algumas manchetes da Folha
de 3 de março de 1999:
“Desemprego em SP é recorde com 9,18%”, “Trabalhador
perdeu 0,5% da renda em 98”, “Emprego industrial cai pelo nono ano”, “Governo aperta ainda mais o crédito”, “Dólar
bate novo recorde apesar da atuação conjunta do BC e BB”, “Crise no Brasil
afeta indústria argentina”, “Reservas externas caem para US$ 35,6 bilhões em
fevereiro”, “Empresas tentam rolar dívida externa dando mais garantias”, “CNI
defende intervenção do BC no câmbio e vê risco de calote”, “TST já admite
conceder reajuste salarial com alta da inflação”, “Bolsa cai 1,38% e título da
dívida despenca”.
Nesse túnel do tempo ninguém quer entrar. O povo é contra o "meia-volta, volver"" da oposição.