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A democracia participativa eletrônica de Obama
No Globo de hoje, Julita Lembruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Candido Mendes e professora visitante da Harvard Law School, escreve sobre a grande mobilização que a equipe de Obama continua fazendo. Texto completo:O nome do jogo de Obama
Depois de acompanhar a extraordinária mobilização cívica, principalmente nas últimas semanas da campanha de Barack Obama, continuo a me surpreender com a competência com que sua equipe usa a internet para manter vivo o entusiasmo dos eleitores.
Alguns políticos já utilizaram bem a internet no passado, aqui nos Estados Unidos, mas ninguém conseguiu a proeza de Obama, que criou um exército de voluntários através do uso eficaz deste meio. A questão, agora, é não desiludir essa multidão, estimulando a participação no governo de variadas formas.
Pensa-se na criação de um website que possibilite acompanhar o que o governo faz, até mesmo votando contra ou a favor de determinada decisão que o futuro presidente possa tomar, ou sugerindo soluções para tais ou quais problemas.
O nome do jogo é “democracia participativa”. Obama prometeu transparência absoluta em sua administração, e a equipe aposta na criatividade do uso da internet para envolver os cidadãos e torná-los atores no, também prometido, processo de mudança.
Nas duas últimas semanas, novas mensagens inundaram os computadores daqueles que ajudaram a transformar a campanha de Obama no maior fenômeno da história política americana, convocando-os a organizar em suas casas ou comparecer a um dos eventos “A mudança está chegando”. E as mensagens personalizadas, assinadas por David Plouffe, responsável geral pela vitoriosa campanha, esclareciam que nos dias 13 e 14 de dezembro apoiadores de Obama estariam se reunindo em todo o país para refletir sobre o resultado das eleições e planejar os próximos passos do trabalho voluntário.
Os interessados em ser anfitriões podiam encontrar, com apenas um clique, todas as informações necessárias para organizar tais eventos. Havia orientações minuciosas para antes, durante e após as reuniões: desde como inscrever sua reunião na internet (para que futuros participantes pudessem se registrar on-line), a como organizar o material e os temas a serem discutidos. Recomendavase o debate das prioridades para cada grupo, nos níveis nacional e local, e das formas de organização dos cidadãos para atingir seus objetivos.
Pois bem, ao longo do final de semana de 13 e 14 de dezembro, centenas de encontros aconteceram, com a participação de milhares de pessoas. Estive em dois deles. O entusiasmo das discussões e a crença de que “juntos podemos mudar” dominou as reuniões.
Debateu-se de tudo. Desde os problemas mais imediatos dos bairros de cada um e as possíveis soluções, até como comprometer seus representantes nas assembléias legislativas locais e no Congresso Nacional com a agenda de Obama e cobrar do futuro presidente a implementação de suas promessas, principalmente na área da assistência à saúde, à educação e ao desenvolvimento de energias alternativas.
Eram grupos pequenos, uma média de 20 a 30 pessoas, homens e mulheres, jovens e idosos, brancos e negros, gente que se envolvia, pela primeira vez, numa atividade política mais estruturada e outros que já haviam trabalhado ao longo dos meses que antecederam as eleições. Todos apostando na possibilidade de contribuir com a administração Obama, mas, sobretudo, querendo aproveitar o momento para construir um novo estilo de participação cidadã na sua comunidade e no seu bairro.
O resultado das discussões vai ser encaminhado aos organizadores da campanha e, se esta etapa tiver o sucesso do movimento que elegeu Barack Obama, definitivamente uma nova forma de participação cívica estará sendo gestada. Quem sabe não aprendemos um pouco com tudo isso?