segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
E nasce o da Silva...
Não andava querendo falar sobre o bispo, dom Luiz Cappio, que fez greve de fome contra a chamada "transposição do São Francisco". Primeiro, porque confesso que ainda não entendi exatamente o que o bispo quer. Segundo, porque são tantas emoções envolvendo a celeuma que as razões acabam ficando em segundo plano. Recebi e-mails de amigos em defesa de dom Cappio, mas não me convenceram. Recebi um texto de Cesar Benjamin (ex-candidato a Vice-Presidente do PSOL) bastante interessante (apesar de carregado de emoção e de luta política) com a proposta de um milhão de cisternas, como alternativa à transposição do São Francisco. O argumento principal é de que, com a transposição, a água se evaporaria rapidamente e serviria basicamente à indústria da seca e ao hidronegócio, além de custar o dobro. Notei que o argumento de que o São Francisco ia acabar acabou. Mas gostei da proposta das cisternas - não como alternativa, mas para se somar à transposição, se isso é possível. Pronto, acabei falando do assunto, sem querer falar. Queria falar era sobre essa dualidade, essas duas "entidades" citadas por dom Cappio, o "Lula" e o "da Silva". Talvez ele pretenda contrapor o Luiz Inácio Lula da Silva "sonhador" que foi símbolo das lutas progressistas deste País e o Luiz Inácio Lula da Silva "realista" que ocupa a Presidência da República. Obviamente dom Cappio (um sonhador, parece) identifica-se com o "Lula" líder dos movimentos operários organizados do ABC paulista, admirado pelos movimentos das liberdades democráticas e venerado por toda a classe média progressista. Um nome importantíssimo nas conquistas sociais do Brasil. O "da Silva" a que se refere dom Cappio com razão é outro. Mas isso não quer dizer que "Lula" tenha morrido. Aquele "Lula" de pura emoção era importante para alavancar as lutas sociais. Agora ele chegou à idade da razão, à dura realidade de quem alcançou o poder de um país que ainda está bem longe de seus sonhos. "Lula" não morreu, mas nasceu o "da Silva". Mais perto do sentimento do povo, mais envolvido com a busca de soluções concretas, tendo que engolir sapos de todo tipo (até mesmo os sapos iguais a ele). Um não é melhor do que outro, fazem parte de um processo e devem ser vistos assim. Sinceramente, não vejo como ser muito diferente. Talvez possa melhorar um pouco aqui, avançar bastante acolá, mas na essência seria tudo igual. Precisamos de muitos e muitos "Lulas", mas não podemos abrir mão dos "da Silva" que nascerão em seguida. É melhor ter na Presidência um "Lula da Silva" do que um "Lula de Cappio".
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