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The day after Bush: exército americano abandona o Iraque... Blackwater invade.
Dois terços dos americanos são contra a presença do seu exército no Iraque, que só traz mortes para os seus jovens. Obviamente essa pressão da opinião pública está pesando na escolha do presidente que substituirá Bush, e os atuais pré-candidatos estão tendo que deixar bem clara a sua posição sobre a presença americana no Iraque. Os dois Democratas, Barack Obama e Hillary Clinton, já se colocaram a favor da retirada; o Republicano John McCain defende apoio mais forte ao Governo Iraquiano. Mas o que tudo indica é que, qualquer um dos três que vença, o que se está planejando é uma superprodução hollywoodiana, onde tudo é fake. Sairão as tropas oficiais, entrarão as tropas mercenárias (que no momento já têm o mesmo tamanho no Iraque). Quem denuncia isso são Naomi Klein ("The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism") e Jeremy Scahill ("Blackwater: The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army"). Eles dizem também que a situação com os mercenários pode ficar muito pior, porque eles trabalham em segredo, sem contabilizar baixas ou ações e estão melhor equipados. Além disso, há o fato de que pela primeira vez (se não me engano) as empresas de mercenários estão contribuindo mais para os Democratas do que para os Republicanos. Jeremy Scahill esteve esses dias em entrevista no Milênio da GloboNews (para quem não assistiu, o vídeo estará disponível no site a partir do dia 14) fazendo a denúncia. E reproduzo aqui o artigo feito pela dupla que tirei do site Vermelho:Naomi Klein e Jeremy Scahill: Obama, Hillary e a guerra
Os ativistas contra a guerra devem mudar suas táticas eleitorais. Nem Hillary nem Obama têm realmente um plano para finalizar a ocupação do Iraque, mas isso os obrigaria a mudar sua posição.
"E?" foi a resposta de Dick Cheney quando lhe perguntaram na semana passada sobre o fato de que a opinião pública esteja esmagadoramente contra a guerra no Iraque. "É lógico que não se pode levar em consideração essas pesquisas", disse.
Dias depois, sua atitude em relação ao número de soldados americanos mortos no Iraque ter chegado a 4 mil, mostrou o mesmo grau de simpatia. Eles "colocaram o uniforme de forma voluntária", disse o vice-presidente à ABC News.
Esse espesso muro de indiferença ajuda a explicar o paradoxo no qual nos encontramos, diante do acampamento anti-guerra nos EUA 5 anos depois da ocupação do Iraque: o sentimento contra a guerra é o mais forte jamais vivido, mas nosso movimento parece que está minguando.
Cerca de 64% dos americanos respondem aos pesquisadores que se opõem à guerra, mas ninguém diria isso diante do magro número de participantes das últimas concentrações ou noites de vigília.
Quando se pergunta porque não expressam suas opiniões contra a guerra por meio do movimento anti-belicista, muitos dizem que, sinceramente, perderam a fé no poder dos protestos.
Muitos marcharam contra a guerra antes de seu início, marcharam no primeiro, segundo e terceiro aniversário... e, mesmo assim, 5 anos depois, os líderes dos EUA levantam os ombros e respondem um "E?"
Por isso é que este é o momento para que o movimento anti-belicista mude suas táticas. Deveríamos dirigir nossas energias para onde se pode ter mais impacto: os principais candidatos democratas.
Muitos argumentam outras coisas. Dizem que, se queremos acabar com a guerra, deveriamos simplesmente eleger um candidato que não seja John McCain e ajudá-lo a vencer: já nos ocuparemos dos detalhes uma vez que os republicanos estejam desalojados do número 1.600 da avenida Pennsylvania (endereço da Casa branca, em Washington, nota da redação)
Algumas das vozes antibelicistas mais proeminentes — do MoveOn.org até o Nation, a revista para a qual nós dois escrevemos — elegeram este caminho, e assim têm dado seu apoio à campanha de Obama.
Isso é um erro estratégico muito sério. É durante uma campanha fortemente disputada que as forças contra a guerra podem ter o poder de mudar de fato a política americana. Tão logo elegermos alguém, estaremos fadados a cumprir o papel de simples coadjuvantes.
E quando se trata de Iraque, há pouco que aclamar. Se dermos uma olhada na retórica que tem ocorrido até o momento, fica claro que nem Barack Obama nem Hillary Clinton têm realmente planejado terminar a ocupação. Entretanto, podemos forçar os dois a mudarem suas posições, graças a uma batalha nas primárias singularmente extensa.
Apesar das petições a Hillary para que se retire em novembro da "unidade", é um fato que Hillary e Obama estão todavia plenamente na liça, lutando ferozmente por cada voto, o que dá ao movimento contra a guerra a melhor posição para exercer pressão. E nossa pressão é fatalmente necessária.
Pela primeira vez em 14 anos, os fabricantes de armamentos estão doando mais aos democratas que aos republicanos. Os democratas receberam 52% das doações políticas dessa fase eleitoral, feitas pela indústria da defesa — muito superior aos 32% de 1996. Esse dinheiro está encaminhado a modelar a política externa e, por agora, parece que foi gasto muito bem.
Enquanto que, tanto Hillary como Obama denunciam com muita paixão a guerra, ambos têm planos bem detalhados para continuá-la. Os dois reconhecem que pretendem manter a enorme Zona Verde, incluída a monstruosa embaixada dos EUA, e manter o controle americano do aeroporto de Bagdá.
Teriam acantonada no país uma "força de choque" dedicada a operações de contra-terrorismo, assim como pessoal de treinamento para os militares iraquianos. além dessas forças militares dos EUA, o exército de diplomatas da Zona Verde necessitará medidas de segurança fortemente armadas, que atualmente são realizadas pela Blackwater e outras empresas de segurança privada.
Neste momento há tantos mercenários quanto soldados mantendo a ocupação, desse modo esses planos poderiam implicar dezenas de milhares de membros de pessoal americano, entrincheirados indefinidamente.
Com um grande contraste em relação a essa ocupação reduzida, chega a mensagem inequívoca de centenas de soldados que serviram no Iraque e no Afeganistão.
A associação Irak Veterans Against the War (Veteranos do Iraque Contra a Guerra), que no início de março levaram a cabo as sessões de Winter Soldier, em Silver Spring, Maryland — baseadas na investigação Winter Soldier de 1971, na qual os veteranos relataram as atrocidades dos EUA no Vietnã — não dão seu apoio a nenhum candidato ou partido
Em troca pedem uma retirada imediata e incondicional de todos os soldados e mercenários americanos. Quando isso veio de alguns ativistas pacifistas, a postura do "fora já" foi chamada de ingênua. É mais difícil ignorá-la quando vem direto de centenas de soldados que serviram — e seguem servindo — no fronte.
Os candidatos sabem que muito da paixão que alimenta suas campanhas provém do desejo de muitos democratas da base de terminar com essa desastrosa guerra. Mas o crucial é que os candidatos já deram mostras de serem vulneráveis à pressão do acampamento pela paz.
Quando a revista Nation revelou que nenhum dos candidatos dava seu apoio à legislação que impedisse o uso da Blacwater e outras companhias de segurança privada no Iraque, Hillary mudou de rumo. Se converteu em lider política dos EUA mais importante que apoiava a proibição — remetendo respeito também a Obama, que se opôs à guerra desde o princípio.
É exatamente aí onde queremos que estejam os candidatos: superando-se um ao outro para demonstrar em que medidam podem ser levados a sério ou de acabar com a guerra. Esse tipo de batalha tem o poder de emular os eleitores a romper o cinismo que ameaça ambas as campanhas.
Recordemos que, ao contrário da atual administração Bush, esses candidatos necessitam o apoio desses dois terços de americanos que se opõem à guerra no Iraque. Se a opinião se transforma em ação, eles não estarão em condições de emitir um "E?"