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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Chomsky X Obama: uma entrevista importante

Saiu hoje no Globo essa entrevista feita por Miguel Conde, través de e-mail, com Noam Chomsky. Transcrevo na íntegra:
'Na política externa não há sinal de mudança'
Para intelectual, governo de Barack Obama pode ser até mais agressivo do que o de Bush na arena internacional
ENTREVISTA Noam Chomsky
Mais conhecido intelectual americano, nome destacado da esquerda nos EUA desde os protestos contra a Guerra do Vietnã, o linguista Noam Chomsky critica o próprio país em seu novo livro, o recém-lançado “Estados fracassados” (Bertrand Brasil). Fazendo uma análise detalhada das premissas que orientam as intervenções militares americanas no exterior, o livro argumenta com ironia que, pelos critérios usados pelos EUA, os próprios EUA seriam um alvo legítimo para uma invasão. Por e-mail, Chomsky falou ao GLOBO sobre a obra e sobre o atual quadro político do país, prevendo que Obama deve acabar com o extremismo de Bush na política interna, mas não no conturbado front externo.
GLOBO: O senhor poderia explicar por que o conceito de “Estado fracassado”, criado pelo governo dos Estados Unidos, em sua opinião se aplica aos EUA?
NOAM CHOMSKY: Os especialistas concordam que esse conceito é vago, mas envolve três características principais: a incapacidade ou desinteresse em proteger a população; o desrespeito a leis e normas internacionais; e a existência de instituições democráticas formais, mas que funcionam apenas de forma limitada. É fácil mostrar que os EUA preenchem em boa medida os três requisitos.
GLOBO: O senhor enfatiza a responsabilidade dos EUA no crescimento do terrorismo islâmico, mas há quem observe que um movimento como a al-Qaeda, por exemplo, não se opõe a políticas específicas dos EUA, mas à democracia secular como um todo. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
CHOMSKY: Há duas perguntas separadas aqui: quais são as causas do crescimento do terrorismo islâmico? E quais são os objetivos dos terroristas islâmicos? A resposta à primeira é indiscutível. O governo de Ronald Reagan, em particular, teve um papel decisivo e muito consciente na criação do terrorismo islâmico. Sua meta declarada era “matar russos”. Para atingir essa meta, o governo Reagan reuniu os maiores extremistas islâmicos que conseguiu encontrar ao redor do mundo, enviou-os para o Afeganistão, e forneceu a eles uma crucial ajuda militar. Os objetivos da al-Qaeda e de outros movimentos são uma questão separada, que não tem relação com a maneira como eles cresceram.
GLOBO: O senhor acredita que sob a presidência de Barack Obama os EUA continuarão a ser, em sua política externa, um Estado fora-da-lei, como o senhor diz?
CHOMSKY: Haverá mudanças de política interna, em direção a uma posição mais de centro. O extremo radicalismo do governo Bush sem dúvida será cancelado; McCain faria mais ou menos a mesma coisa. Mas na arena internacional, não há indicação de ne nhuma mudança significativa em relação ao segundo mandato de Bush, a não ser na retórica. As políticas são mais ou menos as mes mas, em alguns casos mais violentas e agressivas, como no Paquistão e no Afeganistão. Comentando o fervor despertado pela campanha de Obama, a escritora Joan Didion observou que de repente a ironia saiu de moda nos EUA. O cinismo deu lugar à credulidade.
GLOBO: Qual sua opinião sobre esse entusiasmo?
CHOMSKY: A resposta mais definitiva a respeito da campanha foi dada pela indústria de relações públicas, que comanda as eleições. O principal órgão deles, “Advertising Age” (“Era da propaganda”), deu a Obama o prêmio de melhor campanha de marketing do ano, derrotando os computadores da Apple. Desde Reagan os candidatos são vendidos como bens de consumo, e este é o maior caso de sucesso que os publicitários já tiveram. Quanto ao entusiasmo, Bush era tão impopular que até seu partido se lançou contra ele, um fenômeno sem precedentes; 80% do país pensam estar indo na direção errada e querem mudança desesperadamente. Por isso Obama usou os slogans “mudança” e “esperança”. O surpreendente é o quanto a margem da vitória foi pequena. Sob as circunstâncias, era de se esperar uma vitória de lavada do partido de oposição. Mas Obama ganhou por pouco — e entre eleitores brancos, McCain ganhou. Se o colapso financeiro tivesse demorado um pouco mais, McCain talvez ganhasse, apesar da performance desastrosa dos republicanos nos últimos oito anos em praticamente todos os setores.
GLOBO: O procurador-geral dos EUA, Eric Holder, disse recentemente que os Estados Unidos são uma nação de covardes no que diz respeito ao debate sobre racismo. A eleição de Obama não prova o contrário?
CHOMSKY: A eleição de Obama foi, sem dúvida, um evento histórico, e é muito importante ter uma família negra na Casa Branca — embora haja um tanto de racismo na ideia que esse é um momento mágico que só poderia acontecer nos EUA. As eleições na Bolívia e no Brasil foram muito mais “mágicas” em termos de mostrar como uma dura opressão pode ser vencida dentro do sistema eleitoral. O fato de os dois principais candidatos democratas à presidência serem um negro e uma mulher mostra que os EUA se tornaram um país muito mais civilizado nas últimas décadas. É um tributo ao ativismo dos 1960, mas ainda há um longo caminho pela frente, como Holder presumivelmente quis enfatizar.
GLOBO: Como o senhor, crítico feroz dos EUA, compararia os históricos de política externa e de direitos humanos do seu país com os da China, que para alguns está a caminho de se tornar a próxima potência global?
CHOMSKY: É muito improvável que a China substitua os EUA como principal potência global. Ela tem enormes problemas internos, desconhecidos no ocidente. Uma indicação disso é seu ranking na lista de Desenvolvimento Humano da ONU: em torno de 80º A China também enfrenta crises ecológicas severas, e embora seu crescimento industrial seja impressionante, muito dele é de capital estrangeiro, em particular nos setores mais avançados. Quanto à política externa, a China hoje é o mais pacifista dos grandes poderes. É por isso que importantes analistas americanos como John Steinbrunner têm defendido que a China lidere uma coalizão de Estados pacifistas para conter o militarismo agressivo dos EUA. Já o histórico chinês de direitos humanos é claramente horrível, muito pior do que o dos EUA.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A Casa Branca vai perder a graça

As idiotices de Bush sempre foram um prato cheio para o dia-a-dia dos humoristas. O David Letterman, por exemplo, tem um quadro praticamente diário em compara discursos presidenciais históricos com as gafes bushianas. Com as chegada de Obama ao poder, os humoristas temem ficar sem material suficiente. Vejam reportagem de Michelle Nichols para a Reuters:
Governo Obama pode deixar humoristas sem assunto
A histórica eleição de Barack Obama para a Casa Branca é um mau presságio para os comediantes que tanta matéria-prima tiveram durante os oitos anos de governo de George W. Bush, segundo especialistas. Obama, que teve muito apoio na classe artística, se tornará em 20 de janeiro o primeiro negro a governar o país, num momento de crise econômica e com duas guerras em andamento. Seja por causa da simpatia que desperta entre comediantes com tendência mais à esquerda, pelo caráter histórico da sua eleição ou porque até agora tenha cometido poucas gafes, o fato é que os humoristas estão sofrendo para inventar piadas com Obama.
"A eleição de Obama é ótima para o país, mas ruim para a comédia", disse Michael Musto, colunista do Village Voice, de Nova York. "Ele é uma pessoa inteligente, prudente, tentando resgatar um país em crise, e isso não tem graça nenhuma."
"Barack Obama tem sido o pesadelo dos humoristas", disse Robert Thompson, professor de Televisão e Cultura Popular da Universidade Syracuse.
Até Obama fez piada num jantar beneficente em Nova York, no fim da campanha, onde ele e seu rival John McCain tiraram sarro de si próprios. O democrata disse na ocasião que seu maior defeito é ser "um pouco incrível demais".
BUFÕES
"A comédia prospera onde há alvos bufonescos", disse Musto. "Tradicionalmente, programas como o 'Saturday Night Live' se saíram melhor lidando com pessoas como o presidente (Gerald) Ford, que não conseguia ficar em pé o tempo todo, ou do que (Bush), que não consegue dizer 'nuclear', ou Sarah Palin, que não sabia que a África é um continente."
A audiência do tradicional humorístico "Saturday Night Live", da NBC, disparou durante a campanha eleitoral, especialmente depois que a atriz Tina Fey passou a imitar a governadora do Alasca, Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente. Outros programas que misturam humor e jornalismo, como o "Daily Show" de Jon Stewart e o "Colbert Report", ou então programas de entrevistas como os de David Letterman e Jay Leno, se locupletaram durante os oito anos de Bush. Letterman, por exemplo, tem um quadro chamado "Grandes Momentos dos Discursos Presidenciais".
"Como comediante, devo admitir que vou sentir saudades do presidente Bush, porque não é fácil fazer piada sobre Barack Obama. Ele não lhe dá muito para explorar", disse Leno a sua platéia depois da eleição. "Vai ver que é por isso que Deus nos deu Joe Biden (vice de Obama)."
O próprio Bush, bem antes de Obama ser candidato, já se queixava da dificuldade em fazer piadas com ele. "Senador Obama, eu queria fazer uma piada com o sr., mas é como fazer piada com o papa", disse o presidente num jantar em 2006. "Me dê algum material para trabalhar aqui. Sabe, um erro de pronúncia, alguma coisa."
MANJEDOURA
Mas Liam O'Brien, professor de Produção de Mídia da Universidade Quinnipiac, disse que nem tudo está perdido, porque "os comediantes progressistas vão continuar a se distrair com o que restou do Partido Republicano". Quando a Obama, o tempo vai se encarregar de dar a matéria-prima.
"Como disse Obama, 'não nasci numa manjedoura'. Ele está bem ciente, especialmente em questões complicadas e na forma como for assessorado, de que haverá erros", disse O'Brien.
O que já está bem claro é que provavelmente os humoristas evitarão piadas sobre a raça de Obama -- ao menos os brancos.
"O presidente é negro, então obviamente vamos brincar com toda situação que você puder imaginar a respeito de um presidente negro", disse o comediante negro Tracy Morgan, da série "30 Rock", ao New York Times.
"Já os comediantes brancos têm de lançar seus dados. Se você entrar por esse caminho (da piada racial), é bom que seja bem engraçado."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Estados Unidos: curiosidades eleitorais

A maior vitória de Barack Obama foi no Distrito de Columbia (Washington, Capital Federal, onde os afro-americanos são 60% da população e os brancos apenas 33%), com 92,9% dos votos (McCain teve 6,5%). Em seguida, veio o Havaí, estado onde Obama nasceu, com 71,8% dos votos. A maior derrota foi em Oklahoma, onde McCain teve 65,6% dos votos e venceu em todos os condados. Obama venceu em todos os condados dos estados de New Hampshire, Vermont, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island, todos ao Norte, praticamente ao lado de New York. A vitória de Obama se deu principalmente nos condados mais populosos, perdendo na maioria dos pequenos condados (nos Estados Unidos, no total, existem 3.141 condados, mas com outras subdivisões de governo local). No estado de Nevada, por exemplo, onde teve 55,1% dos votos contra 42,7% de McCain, Obama venceu em apenas 3 dos 17 condados. Acontece que um dos 3 condados é o Clark County, onde fica Las Vegas e que representa quase 70% dos votos do estado.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eleição americana: ao contrário do que esperavam os Republicanos, tour internacional alavancou Obama

Ao contrário do que muita gente escreveu, a viagem de Barack Obama não fez sucesso apenas no exterior. Também nos Estados Unidos a sua postura diante do momento que o mundo vive rendeu apoio, e a prova é o tracking do Instituto Gallup que mostrou pela primeira vez desde março que Obama está na frente de McCain com 9 pontos (em maio, McCain estava à frente com 6 pontos, como pode ser visto no gráfico abaixo). O tracking do Gallup é feito com 1.000 entrevistas diárias e os índices apresentados são a média dos cinco últimos dias.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Glória e vergonha no resgate de Ingrid

Em primeiro, tudo leva a crer que foi uma operação brilhante a realizada para o resgate da Senadora Ingrid Betancourt que estava em poder das FARC. É verdade que isso só foi possível porque as FARC realmente estão em declínio, mas mesmo assim foi uma excelente operação. A vergonha está por conta do oportunismo eleitoreiro de Bush, McCain & Co. Resolveram se aproveitar do sofrimento alheio para tentar ganhar uns votinhos na eleição de novembro. Claro que foi tudo muito bem combinado, nos mínimos detalhes. A viagem de McCain à Colômbia foi marcada em função do resgate. Sua chegada e sua partida foram sincronizadas para associá-lo a uma operação vitoriosa. Acima de tudo isso demonstra o pouco valor que dão às vidas humanas. Se fosse o contrário, não estariam matando tanta gente no Iraque e no Afeganistão. Felizmente, em 2009 estarão afastados do cenário mundial.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Eleição americana: ajuda terrorista para McCain?

Charles R. Black Jr., um dos principais consultores políticos do candidato Republicano Jonh McCain, declarou que "um ataque terorista ajudaria McCain" ("Terror Strike Would Help McCain"). Ele está mentindo? Claro que não. Os Presidentes e candidatos Republicanos têm pautado suas estratégias eleitorais pelo medo da ação terrorista. Eles conseguiram enfiar na cabeça do eleitor americano que eles são melhores para combater o terrosrismo - talvez porque eles mentem mais, matam mais, torturam mais, bombardeiam mais, perdem mais soldados americanos e, com issoo, ganham mais dinheiro... Obama está certo. Está na hora da mudança. Leia mais no Washington Post.

sábado, 21 de junho de 2008

Eleição americana: o que faz diferença a favor de Obama

A revista Nesweek divulgou pesquisa que aponta o candidato Democrata Barack Obama com 15 pontos à frente do Republicano John McCain na corrida pela Casa Branca, enquanto a pesquisa USA Today / Gallup apresenta diferença de apenas 6 pontos (50% a 44%). Selecionei algumas informações interessantes na pesquisa da Newsweek, que foi feita nos dias 18 e 19 de junho com 1.010 eleitores, margem de erro +/- 4%. Obama tem grande vantagem entre:
  • os eleitores independentes (48 a 36)
  • os eleitores não-brancos (71 a 16)
  • as mulheres (54 a 33)
  • os eleitores entre 18 e 39 anos (66 a 27)
  • os simpatizantes de Hillary Clinton (69 a 18)
Para enterrar de vez a candidatura de McCain basta a dobradinha Bush com a direita de Israel fazer a besteira de atacar o Irã. Dessa vez, não terão o apoio interno que houve na época da caça a Saddam.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Barack Obama, a queda do neoconservadorismo e Lula

Bem interessante a entrevista desta segunda, na Folha, feita por Sérgio Dávila com Immanuel Wallerstein, o sociólogo americano progressista, conhecido pela "teoria do sistema mundial". Leiam o que foi publicado:
Obama é resposta contra reação conservadora
Para sociólogo progressista, se eleito, democrata marcará fim da ascensão neoconservadora nos anos 80, ocorrida com a eleição de Ronald Reagan e em resposta às idéias de 1968
A ELEIÇÃO de Barack Obama criará um espaço hoje inexistente para ações sociais nos Estados Unidos. As mudanças que constam do slogan do democrata só ocorrerão de verdade se houver pressão popular. É a entrada da questão social ou de classe na agenda política norte-americana, segundo o teórico de esquerda da Universidade Yale, questão essa que o país esconde atrás do termo "problema econômico".
SÉRGIO DÁVILA, DE WASHINGTON
Immanuel Wallerstein está animado. Aos 77 anos, esse sociólogo de esquerda da Universidade Yale acredita que seu candidato, Barack Obama, será eleito e que, se pressionado, reagirá com mudanças sociais nos Estados Unidos. De qualquer forma, para o autor de "O Declínio do Poder Americano" (Contraponto, 2004) e freqüentador do Fórum Social de Porto Alegre, só a candidatura do democrata já traz a questão ao centro da política norte-americana. "Isso é muito saudável, pois, superada essa discussão primitiva de raça e sexo, chegamos à discussão sobre classe, que é para onde caminha essa eleição." É essa questão, defende, que levou as pessoas a comparecerem em número recorde à fase de prévias partidárias, encerrada na última terça, e deve fazer o mesmo em novembro, nas eleições gerais. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha, por telefone, de New Haven (Connecticut).
FOLHA - A eleição presidencial deste ano ressuscita de alguma maneira as questões de 1968, não?
IMMANUEL WALLERSTEIN - Primeiro, devo dizer que apóio Barack Obama, acredito que ele vá ser eleito, batendo com facilidade o republicano John McCain, e terá maioria no Congresso. Minha análise é à luz dessa hipótese. Assim, a relação é muito simples. Se pensarmos que aquele 1968 quebrou as barreiras para os chamados grupos minoritários nos EUA, sua candidatura é uma das conseqüências. Se pensarmos que 1968 proporcionou uma abertura para os EUA repensarem seu papel no mundo, eis outra conseqüência atual. Mas não esqueçamos do intervalo no meio do período entre 1968 e 2008, que foi a contra-revolução neoconservadora dos anos 80 [com a chegada de Ronald Reagan ao poder], com a tentativa de fazer o país retroceder à era pré-1968, tanto em termos de influência cultural quanto de economia global. Agora, o pêndulo está indo rapidamente em direção oposta. Onde vai parar é uma incógnita. Mas, em geral, a era dos neoconservadores parece estar chegando ao fim nos EUA e, conseqüentemente, no mundo.
FOLHA - Ainda assim, não é um retrocesso que o país esteja discutindo racismo e sexismo 40 anos depois?
WALLERSTEIN - [Risos] Esse país vem discutindo raça e sexo há cem anos. A discussão vai continuar. O sexismo é um elemento fundamental do capitalismo mundial, não vai sumir. Mas hoje essa discussão tem menos impacto político imediato nos EUA do que antes. Isso é muito saudável, sobretudo porque superada essa discussão de certa maneira primitiva de raça e sexo, chegamos à discussão sobre classe, que é para onde caminha essa eleição. Nos EUA nós não dizemos questões sociais, questões de classe, preferimos usar o eufemismo "problemas econômicos", mas é apenas sintaxe para mascarar a realidade. O fato é que a questão mais premente da corrida será a crise econômica mundial em geral e dos EUA em particular.
FOLHA - Classe, não raça, mesmo com um dos candidatos majoritários sendo negro?
WALLERSTEIN - Veja, há pessoas nos EUA que nunca votarão em um negro, como há pessoas que nunca votariam numa mulher. Mas há muito menos do que antes, esse é o primeiro aspecto, e basicamente a maioria, se não a totalidade, já vota em republicanos de qualquer maneira. Então, não importarão do ponto de vista da candidatura de Barack Obama.
FOLHA - Daí o domínio do que o sr. chama de questão de classe.
WALLERSTEIN - Sim. Isso tem levado aos altos índices de comparecimento às urnas até agora nas prévias. E indica claramente que caminhamos para uma participação recorde nas eleições de novembro. E esses votos vêm basicamente de pessoas das classes mais baixas, que normalmente não votam porque não acham que as coisas vão mudar de verdade. Essas pessoas estão sendo impelidas a votar por suas necessidades e porque acham que algo pode realmente acontecer.
FOLHA - O sr. escreveu que a pergunta não é que mudanças um candidato como Obama fará mas sim quais conseguirá fazer. Quais?
WALLERSTEIN - Por ser uma democrata, ele tentará minimizar as perdas dos americanos que foram mais atingidos pela crise econômica. Mas não acho que as ações do presidente dos EUA nesse momento histórico importem muito para a economia mundial. Essa já tem uma dinâmica própria, que passa ao largo da Casa Branca. Acredito que a maior mudança que o próximo presidente poderá fazer será no campo doméstico. Por exemplo, os juizes indicados para os tribunais federais. Poderá reverter a situação terrível deixada pelo governo de George W. Bush em termos de direitos civis e individuais. Poderá agir para integrar negros, hispânicos e mulheres à nossa cultura política. Essas mudanças são internas, mas muito importantes. E Obama sofrerá uma grande pressão popular para implementá-las.
FOLHA - O sr. não acha que a frustração seria inevitável? A grande expectativa de mudança, e de certa maneira definida por ele em termos tão vagos como foi até agora, não levaria a isso?
WALLERSTEIN - Sim, é indubitavelmente verdade que as expectativas sobre o que ele pode fazer são exageradas. Por outro lado, tudo depende do grau de influência e pressão que os movimentos sociais norte-americanos terão sobre as eleições. Se eles conseguirem fazer as pessoas sentirem que devem ser levadas em conta, certas coisas serão alcançadas. A verdadeira questão é quanta pressão conseguirão fazer depois que ele for eleito. Minha impressão é que a eleição de Obama criará um espaço para ação popular, mas ele não será o ator dessas mudanças, apenas responderá à pressão por elas.
FOLHA - O sr. foi um dos primeiros acadêmicos a escrever que os EUA como potência hegemônica sofreriam declínio. Foi ridicularizado. Sente-se vingado?
WALLERSTEIN - [Risos]Quando escrevi na revista "Foreign Policy" o artigo "The Eagle has Crash Landed" [A águia se estatelou, em tradução livre], em 2002, fui praticamente chamado de maluco. Agora, menos de seis anos depois, muita gente relevante fala o mesmo. Venho dizendo isso em artigos pelo menos desde os anos 80.
FOLHA - Em seu livro sobre "sistema-mundo" [em que analisa o que chama de globalização do capitalismo], os países são classificados em centrais, semiperiféricos e periféricos. Mas a ascensão de economias como Índia e Brasil não é prevista. O sr. não acredita que essas economias possam vir a ser centrais?
WALLERSTEIN - Meu modelo analítico prevê que, sob condições como as atuais, alguns países semiperiféricos como o Brasil podem se tornar centrais. Mas prevê também um espaço limitado para que tais países sejam centrais. Ou seja, alguém tem de sair para outro entrar. Mas falamos de países muito grandes, com populações enormes, e, em termos de acumulação capitalista, não é possível que tantas pessoas acumulem tanto capital, pois há um montante limitado de riqueza, com distribuição limitada. Para resumir uma teoria mais complexa, não acho que os EUA como potência hegemônica serão substituídos por outro ou outros países com as mesmas características. Embora ache que os países do Leste Asiático estejam se tornando mais poderosos.
FOLHA - O sr. esteve algumas vezes no Brasil. Como vê o governo Lula?
WALLERSTEIN - Lula tem sido uma força positiva na política brasileira, mas ele realizou bem menos do que as pessoas esperavam. Tem uma política econômica muito complicada cujo sucesso não é claro no momento. Um dos problemas de Lula é que ele nunca teve maioria legislativa e não tenho certeza se alguém um dia vai ter no Brasil, com o sistema atual. Em geral, no entanto, minha atitude parece com a adotada pelo MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] nas últimas eleições presidenciais: não há alternativa senão apoiá-lo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Este Blog errou: foi Hillary quem deu trabalho...

Em 17 de janeiro de 2007, escrevi neste Blog sobre o Senador Barack Obama, que acabava de lançar seu nome para as prévias Democratas pela candidatura a Presidente dos Estados Unidos: "Pode ser que ele não consiga derrotar a Senadora Hillary Clinton, mas está demonstrando que vai dar trabalho". Eu me baseava apenas em dois vídeos, o de lançamento e o de sua biografia (vale a pena ver de novo), que descrevi como "muito bem feitos, com iluminação densa, bonita e surpreendentemente eficiente para um vídeo politico. Ele fala muito bem, tranquilo, convincente, com clareza". Falei de sua história, de sua atuação como líder comunitário em áreas pobres, e repeti sua frase que ficou famosa: "Não existe uma América conservadora e outra progressista, o que existe são os Estados Unidos da América; não existe uma América branca, outra negra, outra latina, outra asiática, o que existe são os Estados Unidos da América". Obama foi muito além do que pude imaginar na época. Revolucionou o modo de fazer campanha nos Estados Unidos. Soube tratar a questão racial, soube tratar a questão do Iraque, soube avançar no voto conservador sem deixar de ser progressista, soube falar com os jovens e, acima de tudo, soube atrair um eleitor novo para o cenário eleitoral. Seus principais estrategistas, David Axelrod e David Plouffe, deram um show de marketing eleitoral. Seu estrategista de internet, Chris Hughes, revolucionou o meio, transformando-o em arma eleitoral com grande poder de fogo. Ao longo da campanha, Obama soube com perfeição identificar-se com mudança, de tal forma que na propaganda o seu nome passou a ser CHANGE (Mudança) - e deu credibilidade e força a esse sentimento. Por seu lado, Hillary Clinton soube dar trabalho e resistir até o fim, usando a velha máquina e os velhos truques sujos eleitorais. Nos estados com eleição direta, chegou a ter mais votos do que Obama (cerca de 17.150.000, contra 16.240.000). E ela chega ao final, apesar de derrotada, cacifada para ser Vice ou ser Governadora de Nova York ou ser futura alternativa no caso da derrota Democrata. Os dois fizeram uma belíssima disputa. E quero dizer, até reformulando o que pensava, que a longa e acirrada disputa acabou beneficiando a candidatura Democrata. Dificilmente McCain conseguirá derrotar a Mudança. Sim, nós podemos acreditar nisso.

sábado, 31 de maio de 2008

Eleição americana: mais dois pontos a favor de Barack Obama neste sábado

Ponto nº 1. A Direção do Partido Democrata pôs um basta nas pretensões de Hillary Clinton de ganhar no tapetão. Os votos irregulares da Flórida e de Michigan não puderam ser inteiramente convertidos para Hillary. Foi contabilizada apenas a metade, isso porque o Partido buscou evitar um racha total com os seguidores dos Clinton. Seja como for, Hillary - que seria derrotada de qualquer maneira - ficou mais distante, praticamente com chance zero de ultrapassar Obama. Ponto nº 2. Barack Obama abandonou a sua igreja, a Trinity United Church of Christ, de Chicago, que foi muito importante para a sua formação e projeção política, mas que agora, durante a campanha, estava mais atrapalhando do que ajudando. No vídeo abaixo podemos ter uma noção de como a igreja era realmente "cheia de fervor". Trata-se de um trecho do sermão de um amigo de Obama, um católico (!), o Reverendo Michael Pfleger, no momento em que ele ridiculariza Hillary Clinton, dizendo que ela estava indignada porque, ela, uma branca, estava tendo o seu show roubado por esse negro, Barack Obama (algo assim). Claro que gerou constrangimento para Obama e ele, acertadamente, resolveu sair da igreja para poder se dedicar apenas a combater o Republicano John McCain. Vejam o vídeo:

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Eleição americana: Hillary prefere McCain

Está na cara que a pré-candidata Democrata Hillary Clinton já traçou sua estratégia: fazer tudo para que o candidato Republicano John McCain derrote Barack Obama nas próximas eleições para que ela possa voltar nos braços do povo em 2012. Tinha pensado nisso semanas atrás, e ontem li a mesma tese no e-mailing ("It's All Over, Sen Clinton") de Dick Morris e Eilleen McGann, consultores políticos: "O melhor (ou pior) que ela pode fazer é passar o resto do tempo sangrando Barack Obama até fazê-lo perder em novembro, permitindo que ela volte em 2012" (The best (or worst) she can hope to do the rest of the way is bloody Barack Obama enough to make him lose in the fall, allowing her to come back in 2012). Nem McCain poderia sonhar com um apoio desse porte.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Eleição americana: apesar do pastor, Obama continua em bom astral

O famoso campeonato americano "Quem morre mais?" continua hoje, na Carolina do Norte e em Indiana. Barack Obama já leva vantagem e deve ampliá-la ainda mais, segundo as pesquisas mais recentes. O placar geral está assim: voto popular, Obama 1.493, Hillary 1336; voto de superdelegados, Obama 252, Hillary 266; voto total, Obama 1.745, Hillary 1.602. As chances de Hillary Clinton continuam remotas. E, graças à sua insistência, as chances do Partido Democrata começam a ficar remotas também - apesar do Republicano John McCain estar atrás nas pesquisas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

The day after Bush: exército americano abandona o Iraque... Blackwater invade.

Dois terços dos americanos são contra a presença do seu exército no Iraque, que só traz mortes para os seus jovens. Obviamente essa pressão da opinião pública está pesando na escolha do presidente que substituirá Bush, e os atuais pré-candidatos estão tendo que deixar bem clara a sua posição sobre a presença americana no Iraque. Os dois Democratas, Barack Obama e Hillary Clinton, já se colocaram a favor da retirada; o Republicano John McCain defende apoio mais forte ao Governo Iraquiano. Mas o que tudo indica é que, qualquer um dos três que vença, o que se está planejando é uma superprodução hollywoodiana, onde tudo é fake. Sairão as tropas oficiais, entrarão as tropas mercenárias (que no momento já têm o mesmo tamanho no Iraque). Quem denuncia isso são Naomi Klein ("The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism") e Jeremy Scahill ("Blackwater: The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army"). Eles dizem também que a situação com os mercenários pode ficar muito pior, porque eles trabalham em segredo, sem contabilizar baixas ou ações e estão melhor equipados. Além disso, há o fato de que pela primeira vez (se não me engano) as empresas de mercenários estão contribuindo mais para os Democratas do que para os Republicanos. Jeremy Scahill esteve esses dias em entrevista no Milênio da GloboNews (para quem não assistiu, o vídeo estará disponível no site a partir do dia 14) fazendo a denúncia. E reproduzo aqui o artigo feito pela dupla que tirei do site Vermelho:
Naomi Klein e Jeremy Scahill: Obama, Hillary e a guerra
Os ativistas contra a guerra devem mudar suas táticas eleitorais. Nem Hillary nem Obama têm realmente um plano para finalizar a ocupação do Iraque, mas isso os obrigaria a mudar sua posição. "E?" foi a resposta de Dick Cheney quando lhe perguntaram na semana passada sobre o fato de que a opinião pública esteja esmagadoramente contra a guerra no Iraque. "É lógico que não se pode levar em consideração essas pesquisas", disse. Dias depois, sua atitude em relação ao número de soldados americanos mortos no Iraque ter chegado a 4 mil, mostrou o mesmo grau de simpatia. Eles "colocaram o uniforme de forma voluntária", disse o vice-presidente à ABC News. Esse espesso muro de indiferença ajuda a explicar o paradoxo no qual nos encontramos, diante do acampamento anti-guerra nos EUA 5 anos depois da ocupação do Iraque: o sentimento contra a guerra é o mais forte jamais vivido, mas nosso movimento parece que está minguando. Cerca de 64% dos americanos respondem aos pesquisadores que se opõem à guerra, mas ninguém diria isso diante do magro número de participantes das últimas concentrações ou noites de vigília. Quando se pergunta porque não expressam suas opiniões contra a guerra por meio do movimento anti-belicista, muitos dizem que, sinceramente, perderam a fé no poder dos protestos. Muitos marcharam contra a guerra antes de seu início, marcharam no primeiro, segundo e terceiro aniversário... e, mesmo assim, 5 anos depois, os líderes dos EUA levantam os ombros e respondem um "E?" Por isso é que este é o momento para que o movimento anti-belicista mude suas táticas. Deveríamos dirigir nossas energias para onde se pode ter mais impacto: os principais candidatos democratas. Muitos argumentam outras coisas. Dizem que, se queremos acabar com a guerra, deveriamos simplesmente eleger um candidato que não seja John McCain e ajudá-lo a vencer: já nos ocuparemos dos detalhes uma vez que os republicanos estejam desalojados do número 1.600 da avenida Pennsylvania (endereço da Casa branca, em Washington, nota da redação) Algumas das vozes antibelicistas mais proeminentes — do MoveOn.org até o Nation, a revista para a qual nós dois escrevemos — elegeram este caminho, e assim têm dado seu apoio à campanha de Obama. Isso é um erro estratégico muito sério. É durante uma campanha fortemente disputada que as forças contra a guerra podem ter o poder de mudar de fato a política americana. Tão logo elegermos alguém, estaremos fadados a cumprir o papel de simples coadjuvantes. E quando se trata de Iraque, há pouco que aclamar. Se dermos uma olhada na retórica que tem ocorrido até o momento, fica claro que nem Barack Obama nem Hillary Clinton têm realmente planejado terminar a ocupação. Entretanto, podemos forçar os dois a mudarem suas posições, graças a uma batalha nas primárias singularmente extensa. Apesar das petições a Hillary para que se retire em novembro da "unidade", é um fato que Hillary e Obama estão todavia plenamente na liça, lutando ferozmente por cada voto, o que dá ao movimento contra a guerra a melhor posição para exercer pressão. E nossa pressão é fatalmente necessária. Pela primeira vez em 14 anos, os fabricantes de armamentos estão doando mais aos democratas que aos republicanos. Os democratas receberam 52% das doações políticas dessa fase eleitoral, feitas pela indústria da defesa — muito superior aos 32% de 1996. Esse dinheiro está encaminhado a modelar a política externa e, por agora, parece que foi gasto muito bem. Enquanto que, tanto Hillary como Obama denunciam com muita paixão a guerra, ambos têm planos bem detalhados para continuá-la. Os dois reconhecem que pretendem manter a enorme Zona Verde, incluída a monstruosa embaixada dos EUA, e manter o controle americano do aeroporto de Bagdá. Teriam acantonada no país uma "força de choque" dedicada a operações de contra-terrorismo, assim como pessoal de treinamento para os militares iraquianos. além dessas forças militares dos EUA, o exército de diplomatas da Zona Verde necessitará medidas de segurança fortemente armadas, que atualmente são realizadas pela Blackwater e outras empresas de segurança privada. Neste momento há tantos mercenários quanto soldados mantendo a ocupação, desse modo esses planos poderiam implicar dezenas de milhares de membros de pessoal americano, entrincheirados indefinidamente. Com um grande contraste em relação a essa ocupação reduzida, chega a mensagem inequívoca de centenas de soldados que serviram no Iraque e no Afeganistão. A associação Irak Veterans Against the War (Veteranos do Iraque Contra a Guerra), que no início de março levaram a cabo as sessões de Winter Soldier, em Silver Spring, Maryland — baseadas na investigação Winter Soldier de 1971, na qual os veteranos relataram as atrocidades dos EUA no Vietnã — não dão seu apoio a nenhum candidato ou partido Em troca pedem uma retirada imediata e incondicional de todos os soldados e mercenários americanos. Quando isso veio de alguns ativistas pacifistas, a postura do "fora já" foi chamada de ingênua. É mais difícil ignorá-la quando vem direto de centenas de soldados que serviram — e seguem servindo — no fronte. Os candidatos sabem que muito da paixão que alimenta suas campanhas provém do desejo de muitos democratas da base de terminar com essa desastrosa guerra. Mas o crucial é que os candidatos já deram mostras de serem vulneráveis à pressão do acampamento pela paz. Quando a revista Nation revelou que nenhum dos candidatos dava seu apoio à legislação que impedisse o uso da Blacwater e outras companhias de segurança privada no Iraque, Hillary mudou de rumo. Se converteu em lider política dos EUA mais importante que apoiava a proibição — remetendo respeito também a Obama, que se opôs à guerra desde o princípio. É exatamente aí onde queremos que estejam os candidatos: superando-se um ao outro para demonstrar em que medidam podem ser levados a sério ou de acabar com a guerra. Esse tipo de batalha tem o poder de emular os eleitores a romper o cinismo que ameaça ambas as campanhas. Recordemos que, ao contrário da atual administração Bush, esses candidatos necessitam o apoio desses dois terços de americanos que se opõem à guerra no Iraque. Se a opinião se transforma em ação, eles não estarão em condições de emitir um "E?"

quinta-feira, 27 de março de 2008

McCain sugere novo inimigo para governo americano

Desde que inventaram a luta eterna do Bem contra o Mal, o homem, individualmente ou politicamente, sempre elege um Mal para referendar o avanço do seu Bem. Os Governos sempre fazem isso. As grandes potências não fazem outra coisa. Bush aproveitou o atentado de 11 de Setembro para eleger o “eixo do mal” (Irã, Iraque e Coréia do Norte) como seu adversário maior. Seriam os países inimigos que poderiam utilizar-se da energia nuclear e de atos terroristas para atacar os Estados Unidos. Com essa estratégia “anti-terrorista”, Bush fez de Bin Laden a face de todos os inimigos e fez de Saddam Hussein o seu bode expiatório. Não deu muito certo. Bush perdeu a guerra e não sabe o que fazer para sair dela. Por causa disso, sua rejeição é cada vez maior. Para tentar provar que caminha independente de seu Presidente, o atual candidato Republicano à Casa Branca, John McCain, resolveu escolher outro Mal para carregar a tiracolo. Resolveu atacar (em discurso, claro...) a Rússia de Putin. Chegou a dizer que ela é inimiga da democracia (lá vem esse papo furado de novo...) e que deveria ser afastada do G8 (no seu lugar, entrariam Brasil e Índia). McCain quer apenas ganhar pontos na sua corrida eleitoral, tirando o foco da guerra do Iraque e provando que tem um novo Mal de sua própria autoria. Será que vai emplacar? Curiosamente, McCain fez seu discurso anti-russo no mesmo dia em que Bush anunciou um encontro com Putin para resolver questões pendentes. Será que combinaram? Provavelmente, sim.

terça-feira, 25 de março de 2008

Eleição americana: McCain fez uma bela jogada ou se deu mal?

O New York Times de ontem publicou uma reportagem sobre movimentos que poderiam, em dois momentos distintos (2001 e 2004, quando debateu ser Vice de John Kerry), ter levado o atual candidato Republicano John McCain para os braços do Partido Democrata. Quem teria brifado o jornal - o pessoal de McCain, os Democratas ou, quem sabe, os ultraconservadores Republicanos insatisfeitos com a candidatura de seu partido? Para o Partido Republicano, certamente, não é uma boa notícia. Afinal, o seu candidato a ocupar o mais alto cargo dos Estados Unidos, além de ser considerado por muitos dos seus membros como "liberal demais", já negociou pelo menos duas vezes sua passagem para o lado arqui-rival. Os radicais da direita americana com certeza já devem estar planejando detonar a candidatura atual. Há o lado positivo para McCain, que é o fato de ele se mostrar bem distante de tudo que representa "Bush". A reportagem trata especificamente das baixarias feitas contra ele pelo "grupo Bush", nas prévias de 2000, que o teriam deixado enraivecido - a baixaria mais famosa foi o boato de ele ser pai (fora do casamento) de uma criança negra. Outra indignação de McCain foi com a porta fechada na Casa Branca para contratação de seus aliados. Esse distanciamento de Bush seria uma forma de ele evitar os respingos de sua rejeição. Pode ser positivo também para ele reforçar uma imagem "centrista", buscando aquele eleitorado flutuante e indefinido entre os dois partidos. Vendo sob esse ângulo, é bem possível que o próprio pessoal de McCain tenha "vazado" a informação. Por outro ângulo, existe a lógica Democrata, que poderia, com essa informação, estar querendo dizer que "se até o candidato Republicano simpatiza com os Democratas, por que votar em um Republicano"? Nesse sentido, é interessante saber que um dos interlocutores Democratas nas conversas com McCain em 2001 foi o ex-Senador Tom Daschle, que já tratou das divergências de McCain com Bush em seu livro "Like No Other Time" e que agora dá apoio ao candidato Barack Obama. As próximas pesquisas poderão esclarecer quem está por trás da reportagem.

sábado, 22 de março de 2008

Eleição americana:Obama ganha dois presentes no mesmo dia

O pré-candidato Democrata Barack Obama andou na defensiva na última semana, graças basicamente ao discurso inflamado e desnecessário do líder espiritual de sua igreja, Jeremiah Wrigh. Obama até que reagiu muito bem, fazendo um discurso sobre a questão racial nos Estados Unidos que está entrando para a história. Mas as pesquisas recentes mostravam avanço de sua adversária, Hillary Clinton. Quando tudo parecia voltar a ser uma grande interrogação, Obama recebe dois grandes apoios - um do Governador Bill Richardson e outro da Administração Bush. O apoio de Bill Richardson, Governador do Novo México, tem grande importância por sua influência junto à extensa comunidade hispânica (que tendia, antes, a caminhar com Hillary). E o apoio de Bush se deu por tornar Obama vítima de mais uma atrocidade de seu Governo, ao bisbilhotar, ilegalmente, as informações de seu passaporte. Obviamente tentava obter dados que comprometessem Obama, mas acabou se dando mal. O Governo Bush ainda tentou minimizar o ocorrido, dizendo que Hillary Clinton e o candidato Republicano John McCain também teriam tido seus documentos vasculhados. Papo furado. Pontos para Obama.

domingo, 9 de março de 2008

Eleição americana: as primárias já estão decididas

Na última sexta-feira, Dick Morris, ex-consultor de Bill Clinton e no momento simpatizante da candidatura de Barack Obama, escreveu um artigo dizendo que as primárias Democratas para escolher o candidato à Presidência já estão definidas (IT’S OVER). Na opinião dele, Barack deve chegar ao final com uma vantagem de 100 a 200 delegados eleitos (no dia 19 de fevereiro, fiz previsão neste Blog de cerca de 150 delegados eleitos de vantagem para Obama). Segundo ele - e acho que faz muito sentido -, as eleições que faltam (pouco mais de uma dezena, entre primárias e caucuses) pouco vão alterar o quadro - que mostra uma vantagem de cerca de 140 delegados eleitos para Obama. A decisão, portanto, teria que ir para os superdelegados (em outras palavras, para o "tapetão"). Aí, tudo pode acontecer. Em princípio, os superdelegados poderiam ser favoráveis a Hillary Clinton. Mas Dick Morris acredita que eles não tomariam posição contra o resultado popular, porque isso seria muito prejudicial na disputa final contra o Republicano John McCain. Na verdade, como já disse aqui, somente Obama tem condições de vencer McCain.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Eleição americana: Zogby repete este Blog

John Zogby é um dos principais pesquisadores de eleições presidenciais dos Estados Unidos e dono do instituto de pesquisas que leva seu sobrenome. Hoje, na Folha, tem uma entrevista sua exclusiva, feita por telefone ao enviado especial Sérgio Dávila. Ele considera que "Hillary está em séria desvantagem", mas que "tudo pode acontecer". Ele declara também que "o democrata que conseguir tirar latinos e jovens de casa para votar poderá virar a eleição a seu favor" e mais: "é seguro dizer que, nas eleições gerais, a maior parte dos eleitores que hoje vota na senadora migrará para Obama se for o escolhido do partido. O mesmo não pode ser dito na situação oposta". Palavras semelhantes às ditas neste Blog na postagem "Eleição americana: somente Obama pode derrotar McCain", de 7 de fevereiro: "Se Hillary vencer as prévias, o partido perderá o fervor e o vigor que Obama trouxe para as ruas. Esse novo eleitor, vibrante, jovem, multirracial, aguerrido, de todos os matizes, dificilmente terá a mesma disposição para defender Hillary que está tendo na campanha de Obama". A entrevista completa:
ENTREVISTA DA 2ª, COM JOHN ZOGBY, POR SÉRGIO DÁVILA
FOLHA - Baseado no que o sr. levantou até agora, quem vai ser o candidato dos democratas?
ZOGBY - Aprendi a não fazer esse tipo de previsão [risos]. Quando faço, as pessoas me levam muito a sério, o que sempre resulta em problemas para mim. No momento em que conversamos, o mais longe que posso ir é dizer que está claro que Barack Obama tem uma vantagem. E que Hillary Clinton está em séria desvantagem. Mas os eleitores têm desafiado o senso comum na corrida presidencial deste ano, então tudo pode acontecer.
FOLHA - O que leva à próxima pergunta: por que as pesquisas têm ido tão mal nestas eleições?
ZOGBY - Há várias razões, mas a principal é o índice recorde de comparecimento. Há muito eleitor novo comparecendo às urnas, e nem sempre é possível captar essa dinâmica nas pesquisas. Em segundo lugar, há um grande número de pessoas que decide o voto só no dia. Nas prévias de New Hampshire, foram 18% os que decidiram no dia. É muito. A terceira razão tem a ver com o mundo em que vivemos em 2008. Nas outras eleições, as pessoas ouviam o noticiário e, em 48 horas, reagiam a ele. Então talvez houvesse uma mudança na opinião pública. Hoje, as pessoas têm acesso à informação tão rápida e facilmente que é possível que Hillary Clinton apareça com olhos lacrimejantes numa segunda-feira de manhã, as pessoas a vejam à tarde, e isso tenha impacto no jeito que elas votam na terça-feira. [Ao episódio em que Hillary se emocionou antes das prévias e após a derrota em Iowa é atribuída grande parte de sua vitória em New Hampshire. Antes disso, ela aparecia atrás de Obama nas pesquisas eleitorais.]
FOLHA - O sr. não acha que o fenômeno recente dos sites agregadores de pesquisas, como o RealClearPolitics, ajuda essa confusão? Muitos juntam no mesmo saco levantamentos feitos em datas diferentes e com metodologia e universos diferentes, o que gera uma distorção.
ZOGBY - É preciso entender que as pesquisas não são um fenômeno perfeito, temos de ter uma expectativa realista em relação a elas. Na maior parte das vezes, fazemos um bom trabalho e, de vez em quando, não tão bom. Mas não fazemos previsão, não somos adivinhos, só mostramos uma foto que captura um momento específico da corrida. Assim, não vejo grandes problemas nos agregadores de pesquisas, especialmente se usam pesquisas feitas muito próximo do dia da eleição. O problema é quando pegam uma feita hoje e uma há seis semanas e tiram a média.
FOLHA - Suas pesquisas confirmam a impressão de que Obama parece entrar cada vez mais em redutos tradicionais de Hillary, como o universo das mulheres brancas mais velhas e o dos eleitores de baixa renda.
ZOGBY - Sim, mas há outro fenômeno que captamos e que é pouco comentado. É seguro dizer que, nas eleições gerais, a maior parte dos eleitores que hoje vota na senadora migrará para Obama se for o escolhido do partido. O mesmo não pode ser dito na situação oposta.
FOLHA - O senador gosta de dizer que tem a capacidade de transformar Estados historicamente "vermelhos" (republicanos) em "azuis" (democratas) e assim bater McCain. O sr. concorda?
ZOGBY - Não sei se ele tem a capacidade de mudar a cor dos Estados, mas sei que muitos Estados tradicionalmente republicanos terão dificuldade em votar em John McCain, pois ele é muito progressista. Talvez Obama aproveite isso. Isso pode ser verdade especialmente no sul, tradicionalmente republicano, onde a questão racial pode influir também.
FOLHA - Fala-se muito também que o voto latino e o voto jovem podem decidir essas eleições. O que há de verdade nisso?
ZOGBY - Muita, nos dois casos. Só depende do índice de comparecimento nas eleições de novembro desses dois grupos, que é historicamente baixo. E ambos são votos fortemente democratas no momento. Ou seja, o democrata que conseguir tirar latinos e jovens de casa para votar poderá virar a eleição a seu favor. Ele vai precisar muito desse voto, de um comparecimento em massa.
FOLHA - Nas eleições presidenciais de 2004, vários grupos conservadores conseguiram colocar nas cédulas estaduais plebiscitos sobre casamento de mesmo sexo e direito ao aborto como maneira de tirar o eleitor conservador de casa para votar contra. Isso ajudou a dar a vitória a Bush. O sr. vê o mesmo acontecendo nestas eleições em relação à questão dos imigrantes ilegais?
ZOGBY - Se acontecer, os dois grupos de que falamos ganharão ainda mais importância. Uma proposta antiimigração poderá levar a uma retaliação, uma resposta entre os latinos e os jovens, que são mais progressistas -e aí tirará esses dois grupos de casa para votar. Pode vir a ser um tiro pela culatra para os republicanos.
FOLHA - Ao mesmo tempo, segundo pesquisa recente de seu instituto, a maioria dos eleitores norte-americanos vê a imigração ilegal sob uma ótica negativa. Isso não pode influenciar a postura dos candidatos?
ZOGBY - Não creio. Primeiro porque, ironicamente, de todos os pré-candidatos republicanos, os eleitores escolheram o mais progressista em relação ao tema, que é John McCain. Segundo porque sempre achei que a questão da imigração ilegal é "perdedora" por natureza para os conservadores. O candidato que defende uma posição mais dura em relação a ela pode ganhar votos em alguns distritos congressionais fortemente conservadores, mas esse pequeno ganho é nada comparado ao que ele perderá entre o voto latino. E esse voto teve um crescimento não só em número absoluto mas também em energia e mobilização. Lembro-me sempre da reação que os latinos tiveram em 1994 na Califórnia, quando os eleitores tiveram de votar sim ou não à chamada proposta 187, que proibia imigrantes ilegais de ter acesso a serviços públicos como escola e hospitais. A proposta passou com vitória apertada, virou lei, mas foi revogada pela Justiça por inconstitucional. Só que o Partido Republicano na Califórnia ficaria marcado para sempre por ela.
FOLHA - Ainda assim, pesquisas de boca-de-urna feitas nas principais primárias até agora mostram que a preocupação principal do eleitor não é a imigração ilegal, mas a economia, seguida num distante segundo lugar pela Guerra do Iraque. A imigração vem em terceiro.
ZOGBY - É verdade. Mas há um elemento da questão imigratória que se confunde com a economia. É difícil separar, embora haja também um elemento que tem a ver com justiça e tradição. O principal aspecto desse tema, no entanto, não é tanto o número de pessoas que o escolhe como uma questão importante, mas a intensidade entre os que o escolhem. É muito intenso no lado conservador e igualmente no hispânico.
FOLHA - Por fim, em quais pesquisas o sr. confia mais, nas nacionais ou nas locais?
ZOGBY - De modo geral, se você olha ao longo dos anos, há uma estabilidade maior entre o eleitor nacional que entre o eleitor eventual de uma primária.

sábado, 1 de março de 2008

Eleição americana: Hillary Clinton adotou o estilo de César Maia

Hillary Clinton piscou, bateu o desespero e começou a apelar para o medo em suas campanhas. Exatamente como César Maia às vezes faz, sem muito sucesso. Sentindo-se arrasada por Barack Obama, ela foi no fundo do baú e copiou um comercial que Walter Mondale fez contra Gary Hart: enquanto crianças dormem e um telefone toca, às três da manhã, uma voz aterrorizante tenta fazer medo sobre a responsabilidade de quem vai atender o telefone e, no final, claro, Hillary Clinton atende. Barack Obama respondeu muito bem, dizendo que não basta atender o telefone - tem que dar a resposta certa, coisa que Hillary Clinton não soube fazer, votando com Bush e McCain pela invasão do Iraque. Coloquei aqui um trecho do "The Young Turks" com os comerciais e uma análise.