domingo, 19 de dezembro de 2010

Impedida a veiculação de campanha em defesa do ateísmo: graças a Deus!



Li hoje na Folha, em bom artigo de Vera Guimarães Martins (“Ateu é a mãe”), que “morreu pagã, sem receber o batismo das ruas, a campanha publicitária contra o preconceito que a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) previa para este mês”.  O veto veio das empresas de ônibus de São Paulo, Salvador e Porto Alegre (onde seriam veiculados os busdoors) que provavelmente não quiseram ver seus faturamentos excomungados. Mas acho que teve dedo de Deus a favor dos ateístas, porque, pelo que vi das frases que seriam usadas, a campanha prometia ir direto pro limbo – ou na hipótese mais angelical virar piada até no inferno. Vejam as frases: "se Deus existe, tudo é permitido"; "a fé não dá respostas, só impede perguntas"; "somos todos ateus com os deuses dos outros". Parece o texto que escrevi, aos 17 anos, nos primeiros passos rumo ao materialismo, tentando provar que Deus não existia. Lembram também algumas peças da propaganda cristã, como: “Senhor Deus, em nome de Jesus, liberta o Brasil”, colocadas em outdoors nas estradas (como se Deus costumasse passar de carro por ali) ou “Deus é fiel”, muito comum em adesivos de carro (sempre digo que quem é Deus não é fiel a ninguém).
O que mais deixou minh’alma triste, como uma rola aflita, foi saber que a campanha foi vetada também na Austrália, país considerado uma “Democracia Plena” pela pesquisa da revista The Economist (veja aqui) e saber ainda que, na Itália, foi o próprio governo que proibiu a veiculação (país, aliás, que na mesma pesquisa passou de “Democracia Plena” para “Democracia Imperfeita”). Acho justo que haja espaço para que ateus se manifestem e tentem apagar esse estigma de capeta que carregam através dos séculos. Mas, por favor, vamos ser mais materialista nessa conceituação. A campanha pode ser feita sem se tornar penitência para seus fiéis. (Ou seriam infiéis?)