sábado, 4 de dezembro de 2010

Tomada do Alemão: a mídia sob mira



(foto O Globo)

A cobertura jornalística da tomada do Complexo do Alemão, no Rio, tem sofrido forte bombardeio por causa de sua espetacularidade. Realmente, foi um grandioso espetáculo midiático, que ganhou o mundo nessa última semana. Mas isso é condenável?
Primeiro, precisamos considerar que a questão da segurança pública faz anos que é um espetáculo midiático. Inúmeros programas popularescos, no Rádio e na TV, diariamente entram aos berros na vida de milhões de brasileiros explorando a violência urbana com fins meramente de audiência. E a mensagem final leva rigorosamente à mesma conclusão: “vamos acabar com essa bandidagem a tiro!” De certa forma, são irmanados a essa bandidagem, porque sem ela não teriam seus espetáculos.
O que mudou agora, então? Em primeiro lugar, as ações terroristas dos traficantes levaram o clima de medo - que antes era restrito às comunidades - para toda a população o que despertou o sentimento de “Basta!” em cada morador do Rio de Janeiro. Em segundo lugar, o sistema Globo entrou com tudo na parada. Ampliou a visibilidade do problema e aliada às outras emissoras deu um tom mais jornalístico, com uma cobertura de grande alcance. Em terceiro lugar, ao invés de endeusar os traficantes, a cobertura jornalística mostrou a sua fragilidade e, ao contrário do que se faz diariamente, valorizou a força policial, estimulando a população (principalmente a local, mas também em todas as áreas e em todos os segmentos) a reagir e a integrar-se à polícia nos ataques aos traficantes (a enxurrada de telefonemas ao Disque-Denúncia é prova). Em quarto lugar, deu mais transparência às ações policiais, inibindo os policiais corruptos e motivando os policiais sérios, fortalecendo o comando de segurança.
Digam o que disserem, a Tomada do Alemão foi marco histórico. A autoestima dos bons policiais ficou em alta, deu mais força à seriedade do comando de segurança, desmistificou o poder até então absoluto dos traficantes, criou sérios danos materiais e estratégicos ao narcotráfico, abriu a perspectiva de vida melhor a toda a população. E a mídia com seu “pastiche midiático” teve grande contribuição nisso tudo. O que não quer dizer que já estamos vivendo no melhor dos mundos. Ainda falta muito para chegarmos lá. Mas com certeza podemos mirar o futuro com outros olhos.