domingo, 11 de setembro de 2011
11 de setembro: Veja – e Leia?
Devia ser umas sete e meia da noite, eu estava chegando da praia do Arpoador, no Rio, quando recebi um telefonema de São Paulo. Era do Salomão (José Salomão David Amorim), meu amigo e ex-professor na Universidade de Brasília, que estava coordenando a formação dos futuros jornalistas da revista semanal da Abril. Ele me disse que eu deveria estar em São Paulo no dia seguinte para a seleção final da equipe. Corri para a Rodoviária. Na saída, ainda me despedi de minha amiga e vizinha, Glorinha, que estava na porta do prédio com o namorado (Cid Benjamin, se não me engano). Jamais poderia imaginar que só voltaria a vê-los nos cartazes de “Procurados” como “terroristas”.
Em São Paulo, fiz exame psicotécnico e uma entrevista com um psicólogo, suíço, acho, discutimos comunicação e filosofia, Sartre, fenomenologia, ele me pediu uma comparação entre o Super-Homem de Nietzsche e o Super-Homem das histórias em quadrinhos, eu respondi que já tinha publicado um artigo sobre isso ("Os dois Super Homens", Correio Braziliense, 1967). Saí dali para a glória: eu faria parte da equipe que lançaria a Revista Semanal da Abril, a nossa Newsweek (ou Time, como alguns preferem), o divisor de águas do jornalismo brasileiro! Foram cerca de três meses de preparação intensa. De manhã, palestras no Edifício Itália, feitas por nomes que se destacavam na época. À tarde, depois do bandejão no novo prédio da Abril, na Marginal, a parte prática, com orientação de grandes profissionais da época, sob o comando do Mino Carta. Dos 100 aspirantes, ficamos 50, e começamos as números zero da Veja. Foram 14, até o grande dia da número 1, com data de capa de 11 de setembro de 1968, data histórica, seriam 600 mil exemplares (mais 40 mil de reimpressão), inesquecível para mim, grande emoção, orgulho de ter o nome no expediente e de estar na foto da equipe número 1. Por questões legais, a revista se chamava Veja e Leia, e era uma alegria, toda segunda-feira, poder lê-la. Hoje, é triste, mas não consigo mais ler a Veja. Triste, como passaram a ser tristes todos os 11 de setembro.
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