terça-feira, 27 de setembro de 2011

Aécio Neves inflaciona o discurso do atraso


Reconheço que não é fácil a vida de oposição no Brasil de Lula e Dilma. Falta aquilo que lhe daria vida, falta discurso. A oposição nunca soube falar com os mais pobres e agora ficou ainda mais difícil diante das políticas de inclusão social do governo e do progresso político e econômico que vivemos nos últimos anos. Começa a ficar difícil falar até mesmo com seu público tradicional, empresários, investidores, aqueles, digamos, melhor situados na pirâmide social. Tem sobrado apenas o discurso ético-conservador, insuficiente para conquistar os votos que garantiriam a volta ao poder.
Aécio Neves, que pretende tornar-se candidato à Presidência, pode ser o melhor exemplo dessa aridez no pensamento oposicionista. Nota-se a dificuldade nos temas de seus artigos semanais na Folha, na verdade artigos em busca de temas. Nos mais recentes, tentou “Steve Jobs”, “Copa”, “segurança” e, na última segunda-feira, escolheu o tema que ele certamente sonha que se torne o próximo tema eleitoral, “inflação”. Em um texto de 406 palavras (incluindo o título) escreve 8 vezes o termo “inflação” (incluindo “inflacionário”) – ou seja, uma taxa de 1,97%, bem alta para os padrões atuais. Procura recuperar o pesadelo da inflação (“Um pesadelo que os mais jovens, mas, só eles, não chegaram a conhecer.”), aproveitando-se da recente elevação de taxas provocada em grande parte pelo cenário internacional. Ataca a política de redução de juros atual e escreve: “Surpreendentemente, o governo adota medidas inflacionárias no momento de grande expectativa de que a crise internacional poderá reduzir significativamente o ritmo de atividade na economia doméstica”. Surpreendente foi a frase. Exatamente por que “a crise internacional poderá reduzir significativamente o ritmo de atividade na economia doméstica” é que fez mais sentido a redução da taxa Selic. Aécio argumenta que o ritmo da desvalorização da taxa cambial, associada à redução dos juros, “preocupa pela incerteza que sinaliza e pelo impacto inflacionário futuro”. Esquece que as grandes reservas brasileiras (bem acima do que havia no período tucano) dão boa margem de manobra ao Banco Central. E esquece mais ainda que um país como o Brasil de hoje não pode mais apostar na recessão, no encolhimento, no desemprego, na falta de ousadia. Aécio no seu artigo nos faz lembrar os congressistas do Partido Republicano americano que, buscando acima de tudo o sucesso eleitoral, preferem ver o seu país derrotado ao invés de adotar medidas econômicas vencedoras. As suas palavras finais servem para descrever exatamente o que pretende a oposição: “retorno a políticas (...) que emperraram no passado o crescimento da nossa economia, danificaram empresas e instituições e, o pior, penalizaram especialmente os mais pobres, limitando durante anos perdidos a possibilidade de uma vida melhor”. Atraso nunca mais!