sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Para onde irão os Não-Votos?


Bom texto de Cesar Maia, hoje, sobre os Não-Votos em 2014. O Não-Voto é a soma da Abstenção com os votos Nulos e Em Branco. Em 2010, na eleição presidencial, o índice chegou a 25,19% do eleitorado. Cesar Maia acha, com certa razão, que em 2014 esse índice pode aumentar. E destaca a importância de cada candidato esforçar-se (ou não) para lutar contra o aumento desse índice. Isso por que, dependendo da região, o aumento do Não-Voto pode prejudicar ou favorecer determinada candidatura. Talvez ele exagere quando levanta a hipótese de que, este ano, o índice do Não-Voto pode subir para 35%. Leia o texto completo de Cesar Maia:

BRANCOS, NULOS E ABSTENÇÃO EM 2014! QUEM GANHA? QUEM PERDE?

1. De longe, o que mais impacienta os candidatos em todos os níveis em 2014 é a quanto vai somar o Não-Voto (NV), ou seja, a proporção de votos brancos, nulos e abstenção. Em média o NV tem alcançado 25% no Brasil, uns Estados a mais e uns Estados a menos.
2. Admitamos – apenas por hipótese – que o NV possa subir para 35%. A primeira dedução é quanto à eleição presidencial. Dilma vai carregando seus 43% de intenções de votos nas pesquisas, aliás, o mesmo patamar das eleições de 2002, 2006 e 2010 sobre votos totais.
3. Supondo a mesma distribuição que a anterior, entre abstenção, brancos e nulos. Para vencer no primeiro turno, Dilma precisaria alcançar 47% incluindo os brancos e nulos. Com o aumento do NV, estes 47% caem para o entorno destes 43% que Dilma tem em pesquisas. Conclusão apressada: isso interessa a Dilma.
4. Apressada porque depende das áreas de concentração desse aumento do NV. Apenas como exemplo, se ocorrer em áreas de menor renda ou no Nordeste, o maior NV vai afetar negativamente Dilma. Mas se ocorrer principalmente em áreas de classe média mais alta, ou nos Estados do Sudeste-Sul-Centro-Oeste, os maiores prejudicados serão Aécio e Eduardo Campos e Dilma ganharia no primeiro turno.
5. Como conclusão, a campanha dos presidenciáveis deve incluir a chamada às urnas em suas áreas mais fortes de voto. Ou seja, o uso da TV eleitoral não resolve por ser nacional, a menos que o TSE autorize a regionalização da TV. Aqui, a internet pode ajudar por ser uma comunicação focalizada.
6. O mesmo raciocínio se aplica nas eleições dos governadores, apenas adaptando o cenário nacional descrito acima para cada cenário estadual.
7. Em relação aos deputados estaduais e federais, o aumento do NV tem como efeito imediato a redução dos votos de legenda. Um exemplo. Se para eleger um deputado eram necessários 100 mil votos, a legenda cairá para 90 mil. Isso é bom para quem? Claro, para os mais votados. Os que têm menos votos se iludem que esta redução os beneficia. Lembrem: o número de deputados eleitos por Estado será o mesmo.
8. Finalmente, entre os deputados, quais se beneficiam e quais são prejudicados? Outra vez, depende do perfil de voto do aumento do NV. A concentração numa sub-região, ou num perfil de eleitor, prejudicará os que têm voto aí.
9. É provável, que aqueles que protestam nas ruas ou se incorporam a elas virtualmente sejam os mais propensos a não votar ou anular o voto. Se for assim, os prejudicados serão -paradoxalmente- exatamente os candidatos a deputado que mais se envolveram e mais estimularam as manifestações.   
10. As pesquisas eleitorais contratadas pelos partidos e candidatos deveriam passar a incluir as decisões de NV e, assim, orientar os candidatos em todos os níveis e regiões.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Globo x Freixo: como ocultar os fatos mostrando os fatos


Marcelo Freixo é um dos bons nomes políticos que surgiram recentemente. Talvez um dos principais adversários de Eduardo Paes na disputa pelo governo do Rio de Janeiro em 2018. Tem marca jovem, de mudanças, progressista, aparentemente íntegro. De repente, teve seu nome associado a um noticiário espinhoso, a morte do jornalista da Band, Santiago Andrade. A meu ver, uma associação injusta. Acredito que o PSOL (como praticamente todos os outros partidos) procure associar-se aos movimentos sociais, principalmente os de oposição (caso do PSOL) e com boa aceitação. Acredito que os partidos deem apoio logístico e financeiro a alguns desses grupos – e estão certos ao fazer isso, porque afinal um partido existe, como o nome diz, para representar as ideias e os interesses de uma parte da sociedade. E é por isso que não se pode atribuir culpa ao PSOL no caso da “cabeça de nego”. Apesar de se apresentar como à esquerda do PT no espectro político-partidário, não é uma associação extremista. Seu perfil eleitoral está bem mais associado à classe média tipo Zona Sul do Rio – exatamente aquele segmento que mais repele ações rotuladas de vândalas. Por que então seu nome foi associado ao artefato terrorista? Não me venha o Globo dizer que agiu com isenção jornalística. Isso nunca existiu e não seria agora que começaria. O Globo atirou a primeira pedra, sim. No seu editorial do dia 12, “Os inimigos da democracia”, escreveu que “o crime jogou luz sobre a inaceitável atuação do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) em defesa de vândalos. Ele e partido precisam explicar a função dupla de Thiago de Souza Melo, assessor do deputado, pago, portanto, pelo contribuinte, e, ao mesmo tempo, advogado de black-bloc e similares”.  “Inaceitável atuação do gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) em defesa de vândalos”? Isso é ou não é uma acusação grave? Caetano Veloso soube protestar contra esse parcialismo do Globo, corajosamente, na sua coluna dominical no próprio jornal. Mas Marcelo Freixo errou no seu protesto. Resolveu fazer política barata ao tentar colocar o Globo como parceiro de Sérgio Cabral, dizendo (erroneamente) que o jornal não criticava o atual governador do Rio de Janeiro e lembrando que foi um dos veículos de comunicação que defenderam a ditadura de 64 ("A exaltação de um factoide"). O Globo respondeu bem ("O dever de um jornal — II"). E a questão não é essa. O Globo – como qualquer veículo de comunicação – pode ser parcial aparentando ser imparcial. É capaz, portanto, de ocultar ou alterar fatos simplesmente mostrando os fatos.
Ou mostrando fotos, como é o caso da foto ridicularizando José Dirceu no dia seguinte (3 de agosto de 2005) à Comissão de Ética que apresentou o seu confronto com Roberto Jefferson. Ou fazendo associações forçadas, como é o caso de apontar na direção de Freixo em um editorial intitulado “Os inimigos da democracia”. Freixo agiu defensivamente. O que ele tem que fazer é mostrar que  maior inimigo da democracia pode ser quem dribla os fatos. Ou as fotos.

Nota Para que fique bem claro: não sou filiado ao PSOL nem a qualquer partido político e condeno veementemente o vandalismo. E gosto de ler diariamente o Globo e vários outros jornais.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

COPA: enquanto aqui se protesta, no México se aposta no Brasil


O instituto mexicano de pesquisa Consulta Mitofsky apresenta números interessantes sobre as expectativas que os mexicanos têm com relação à Copa no Brasil.
36% acreditam que o Brasil será campeão, contra 6% para a Espanha e a Alemanha e 4% para a Argentina e o próprio México.
No caso do México ser eliminado, 29% torcerão pelo Brasil, contra 8% para a Espanha e 4% para a Argentina.
O interesse pela Copa subiu de 50% em 2010 para 58% este ano.
Quem esperam ver na Copa? 59% esperam ver Messi, 50% Cristiano Ronaldo, 15% Neymar e 15% Chicarito.
Que venham os Mexicanos!!! Serão muito bem vindos.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Fernando Henrique pirou de vez?


No seu artigo publicado hoje, “Mudar, com pé no chão e visão de futuro”, o ex-Presidente Fernando Henrique, no afã de tentar motivar a oposição para as próximas eleições – mas com uma visão de passado –, diz coisas sem o pé no chão. A primeira frase é um primor: “As pesquisas eleitorais estão a indicar que os eleitores começam a mostrar cansaço”. Que pesquisas são essas, Fernando Henrique? Aquelas que indicam a possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno? Não há certa incongruência na afirmação?
Em seguida Fernando Henrique refere-se às manifestações de rua de 2013: “A insatisfação estava nas ruas, a despeito das melhorias inegáveis do consumo popular e de alguns avanços na área social”. Entenderam mais essa incongruência? Ele reconhece que o país inegavelmente avançou e diz que, ainda assim, as ruas querem mudanças. Mas isso, Fernando Henrique, não quer dizer que querem voltar atrás, voltar aos tempos do grande atraso social. As ruas querem que o atual governo avance ainda mais – esse é o recado óbvio. O próprio Fernando Henrique concorda com isso na frase seguinte: “É que a própria dinâmica da mobilidade social e da melhoria de vida, e principalmente o aumento da informação, geram novas disposições anímicas. As pessoas têm novas aspirações e veem criticamente o que antes não percebiam. Começam a desejar melhor qualidade, mais acesso aos bens e serviços e menos desigualdade”. Absoluta verdade. Mais um motivo para não voltar atrás.
Outro motivo foi dado por Fernando Henrique, quando, pela bilionésima vez, tenta provar que as “políticas de distribuição de renda” (em outras palavras, o Bolsa Família!) foram criadas pelos tucanos. Ora, tenha paciência! Criaram mas não fizeram?!? São as ruas que dizem: quem prometeu, e não fez, perdeu a vez.
Mas ele não para. Quando trata da questão da segurança, resolve citar trabalho tucano em São Paulo como exemplo! Vou repetir: resolve citar trabalho tucano em São Paulo como exemplo! Chega a aconselhar “pôr fim, como está fazendo São Paulo, às cadeias em delegacias”. Meu Deus, Fernando Henrique, o governo Garotinho fez isso no Rio em 2000, com as Delegacias Legais! E o governo tucano de São Paulo ainda está longe de chegar a algo parecido com as UPPs do governo Sérgio Cabral!
Quando resolve entrar na área da moradia, o desatino é total: “Por que não mostrar que o festejado programa Minha Casa, Minha Vida tem um desempenho ruim quando se trata de moradias para a camada de trabalhadores também pobres, mas cuja renda ultrapassa a dos menos aquinhoados, teoricamente atendidos pelo programa?” Sabe por que a oposição não pode nem tentar provar isso? Primeiro, porque 1,5 milhão de famílias (com renda até 5 mil reais por mês) já foram beneficiadas e mais 1,7 milhão de casas e apartamentos estão em construção em todo o país. Segundo, porque quem hoje está na oposição nunca fez nada quando estava na situação. Não lembro de nada que tenha sido feito sobre moradia popular, desde os tempos da ditadura.
Em uma de suas premonições de derrotado, Fernando Henrique divaga: “talvez a população queira eleger gente com maior capacidade organizacional e técnica, que conheça os nós que apertam o país e saiba como desatá-los”. Na verdade, aí está o nó da questão: ele sonha com o retorno à política neoliberal de seu governo, onde o desemprego não tinha tanta importância, a imensa desigualdade social era preservada com afinco, os juros iam às alturas – enquanto o “mercado”, com seus nós bem frouxos, sorria feliz.
No final, Fernando Henrique diz algo que aplaudo: “Também chegou a hora de uma reforma política e eleitoral. Não dá para governar com 30 partidos, dos quais boa parte não passa de legenda de aluguel”. Fora isso, o que vejo em seu artigo pode ser traduzido por uma de suas frases: “Ocorre que a realidade existe e que às vezes se produz o que os psicólogos chamam de ‘incongruências cognitivas’“.