quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

TRUMP, PAGANDO AS "CONTAS" DA CAMPANHA OU INOVANDO NA GEOPOLÍTICA?



Quando Bush invadiu o Iraque apenas dois anos após sua posse, era mais do que evidente que estava pagando dívida de campanha. Você olhava para o mapa do Iraque e logo enxergava nele a sombra do pentágono e da indústria da guerra. Quando vemos Trump anunciando a retomada de uma corrida armamentista, é natural fazer a analogia - e talvez pagar dívida de campanha seja mesmo a verdadeira razão de seu anúncio tresloucado.
Mas esses dias me veio à cabeça, lendo o texto de uma palestra do professor de Economia da UFRJ, Ronaldo Fiani (que o Fernando Brito me passou), que talvez houvesse algum pensamento esperto em sua equipe e que sua motivação seria outra. Ou melhor, agregaria outra motivo forte. Tudo começou a fazer sentido a partir daquele telefonema de Taiwan, que teria custado a bagatela de 140 mil dólares ao governo taiwanês (pago ao amigo de Trump, que teria intermediado a ligação). Foi o primeiro punch de Trump na China, que reagiu imediatamente e com bastante vigor.
Depois teve a história do planador americano que a China capturou no Mar da China Meridional. Trump esbravejou que a China poderia ficar com ele. E Trump ainda coroou sua equipe de Relações Exteriores com um inimigo ferrenho dos chineses.  De lá pra cá, a China, através do Global Times (Diário do Povo), mistura vigor com ironia em suas respostas. Mas a ironia maior é que Trump foi eleito com ajuda essencial de Putin - um aliado estratégico da China. Aliás essa aliança está na essência do texto de Fiani.
"A parceria Rússia-China, ao contrário do que a imprensa tenta sugerir, não é uma aliança de conveniência, é uma parceria estratégica. (...) Com potencial de alavancar um projeto de integração 'Eurásia' que os norte-americanos - do seu ponto de vista corretamente - percebem como uma ameaça à situação dos EUA, porque uma vez integrada economicamente essas duas regiões, eles e o Japão, só para citar alguns, serão naturalmente jogados para a margem do sistema" (Em tempo: a principal linha ferroviária de alta velocidade da China, ligando leste-oeste começou a operar hoje, 28 de dezembro de 2016).  Mais adiante: "Como é que ficam a América Latina e Caribe nisso? Primeira questão: petróleo na América Latina e no Caribe. Aí tem-se o primeiro mandamento do ponto de vista geopolítico:  negar o acesso ao petróleo para projeção de poder em escala global. (...) Dado esse papel geopolítico crucial do petróleo, qual tem sido a estratégia chinesa na América latina e no Caribe? Empréstimos em troca de petróleo".

Fiani continua com muita precisão mostrando a estratégia geopolítica chinesa envolvendo a América do Sul e o Caribe. E tudo que ele diz só faz fortalecer a possibilidade de Trump estar tentando impedir o avanço chinês nessas bandas de cá. Incluindo tentando enfiar uma cunha na aliança sino-russa.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

TRUMP E AS DÍVIDAS DE CAMPANHA


Em 20 de maio de 2007, postei aqui neste Blog (que retomo hoje, depois de 6 meses) que os Estados Unidos tinham dobrado a participação de mercenários em sua invasão do Iraque. E usei principalmente dados de uma reportagem, na Folha, de Sérgio Dávila ("Mercenários no Iraque se igualam a EUA"). Mostrava que o número de mercenários (eufemisticamente tratados como "soldados privados") americanos já tinha quase se igualado ao número de soldados oficiais (algo entre 100 mil e 130 mil para mercenários e 145 mil para "soldados oficiais"). Com uma diferença bem importante: os mercenários eram melhor equipados e recebiam salário maior do que o da tropa oficial. Segundo a Democrata Jan Schakowsky, da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, 40% da verba destinada ao Iraque pelo contribuinte americano ia parar nas mãos de empresas de segurança privada. O soldado mercenário trabalhando numa área perigosa ganhava por dia o mesmo que um soldado de faixa média do exército americano ganhava em um ano. E por que tudo isso? Por que terceirizar a política externa dessa forma, como alertava o documentarista Nick Bicanic, autor de "Shadow Company" (A companhia fantasma)? Sem dúvida alguma, havia a necessidade de "pagar a dívida de campanha". A empresa de segurança privada Blackwater (a maior de todas, criada pelo religioso Erik Prince e ligada a Republicanos), por exemplo, foi um dos maiores doadores da campanha de Bush.
Quando leio hoje as notícias alucinadas de Trump defendendo a retomada de uma corrida armamentista, não posso pensar em outra coisa: está tratando de pagar dívida de campanha.
Alguém talvez ainda pense que nos Estados Unidos não tem disso - mas, na minha opinião, trata-se de um dos esquemas mais corruptos que existem. E isso torna-se cada vez mais evidente quando o financiamento das campanhas é privado, e não público. Acho que falei em algum momento que, quando entrevistei o consultor político Jeff Greenfield, em 1974 (Nova York), perguntei o que ele mudaria no sistema eleitoral, ele respondeu: o dinheiro. Já naquela época, defendia tempo eleitoral gratuito na TV (pelo menos isso, nós temos), financiamento público geral e campanhas menores. Essas contribuições privadas monumentais nunca são de graça. Ficam cada vez maiores e os "contribuintes" buscam retorno imediato (embora de forma velada). Trump foi muito rápido em inventar tensões internacionais. Aparentemente, ele não busca uma guerra real, como fez Bush. Seria apenas uma gigantesca corrida armamentista que daria tranquilamente para pagar as contribuições. Mas o risco é muito grande. Como também contribui fortemente para aumentar o risco que corre a democracia americana, como bem alertou Paul Krugman.
Hoje, li o texto de uma palestra de Ronaldo Fiani que traz uma visão geopolítica bem interessante que poderia justificar esses movimentos trumpianos. Trarei para cá amanhã.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

SÃO PAULO NÃO PODE VOLTAR.



Li ontem, no Brasil 247, um Ibope para prefeito de São Paulo. Está lá: Russomano (PRB) 26%, Marta Suplicy (PMDB) 10%, Erundina (PSB) 8%, Haddad (PT) 7%, João Doria (PSDB) 6%, Andrea Matarazzo (PSD) 4%, Marco Feliciano (PSC) 4%, Delegado Olim (PP) 3% e Major Olímpio (SD) 2%. Lembrei de 12 anos atrás. Pelo Datafolha, em 27 de janeiro de 2012, o quadro era esse: Serra 21%, Russomano 17%, Netinho 11%, Soninha 09%, Paulinho 08%, Chalita 06%, Haddad 04%, Afif 03%, Fidelix 01%, Borges d’Urso 01%.


Em 2 de março, o quadro se repetia: Serra 30%, Russomano 19%, Netinho 10%, Soninha 07%, Paulinho 08%, Chalita 07%, Haddad 03%, Fidelix 01%, Borges D’urso 01%. Mas vi em outras pesquisas que, quando Haddad era associado a Lula, seu nome disparava. E no dia 4 de março de 2012 postei no meu Blog: “O povo paulistano está vendo no Brasil que está à sua volta um mundo inteiramente novo e bem melhor, no qual ele não está inteiramente inserido. O paulistano quer renovação, quer viver 100% o Brasil de Lula e Dilma”. E acrescentei: “a opção do PT por Haddad atende perfeitamente os anseios da população”.


Em 15 de junho, data equivalente à de hoje, tínhamos pequena evolução: Serra 30%, Russomano 21% e Haddad 08%. Na véspera da eleição, empate entre os três primeiros colocados: Serra 28%, Russomano 27% e Haddad 24%. O resultado do 1º turno foi Serra 31%, Haddad 29% e Russomano 22% e, no 2º turno, Haddad derrotou Serra por 55,6% a 44,4%.


Ficou confirmada a minha previsão de que o povo paulistano queria participar das mudanças que fizeram o país dar um grande salto à frente. Mas, e hoje, como fica? O país está inteiramente transtornado, imerso em um golpe cheio de espertezas e com o estigma da corrupção corroendo o mundo político. Não tem pesquisa que possa dar um norte (ou leste, oeste, seja o que for). No caso dessa pesquisa paulistana, apesar de Russomano se destacando, os principais nomes estão empatados em penúltimo lugar. Em último, felizmente, estão um feliciano, um delegado e um major. Infelizmente, não temos primeiros lugares. Nem segundos, nem terceiros – mas São Paulo acabará mostrando que sabe votar.