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Greve do IPTU: rebeldes sem causa
Muito bom o texto de Dimmi Amora que saiu hoje no Globo e que reproduzo mais abaixo. Parece bem correto em sua análise, mas não concordo muito quando ele reduz o movimento a "pueril". Tem algo pueril, sim. Mas ele tem valor político-eleitoral, exatamente porque nasce e ganha força onde César Maia sempre teve grande poder de fogo eleitoral. O movimento vale não pelo IPTU em si, mas como mobilização em ano eleitoral.
Rebeldes sem causa
DimmiI Amora
Ninguém gosta de pagar imposto e, por isso, nada mais apropriado que o nome que ele tem. No Brasil, ele é pesado em todos os aspectos e, em geral, torna-se injusto devido aos desperdícios do serviço público. Mas ele tem um princípio que norteia as dezenas de siglas a qual temos de nos acostumar no dia-a-dia: tirar dos que têm mais para dar aos que têm menos. Agora, no Rio, os que têm mais querem parar de pagar o imposto sobre seus imóveis, o IPTU, ou adiá-lo para depois das eleições. É um movimento elitista baseado nos argumentos que a prefeitura abandonou o espaço urbano nesses bairros, deixando-os sem conservação e ordem, e que o prefeito vai gastar o dinheiro para eleger seus candidatos na eleição de 2008. Eles podem ser usados para justificar a iniciativa aos marcianos. Os homenzinhos verdes, se não viessem ao Rio, poderiam acreditar que a prefeitura não cuida das áreas dos líderes rebeldes que não querem pagar o imposto (a saber: Leblon, Ipanema, Lagoa, Fonte da Saudade e Humaitá) e que o prefeito não tem o apoio deles. A quem mora no Rio, parece ser algo digno de marchinha de carnaval. Justamente onde a prefeitura mais gasta dinheiro com conservação e vigilância é de onde vem o movimento. Nessas áreas, a limpeza urbana é feita até com carros especiais para tirar o pó das ruas. Um morador de Sepetiba que vir uma máquina dessas em frente à sua casa pode até se assustar pensando ser um veículo lunar. Um carro de Fórmula-1 poderia tranqüilamente andar pelas avenidas Borges de Medeiros e Vieira Souto, no Leblon e em Ipanema. Já na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, não seria possível andar com ele nem empurrando, tantos são os buracos e as ondulações. Isso sem falar nos milhares que nem calçamento têm e pagam seus impostos. No quesito ordem, a Guarda Municipal mantém um efetivo por habitante nessas regiões muito superior a qualquer outro lugar da cidade. Há guardas até para tomar conta de pracinhas nessas áreas, enquanto no resto da cidade as praças nem gente têm de tão abandonadas. Assim é com todo o restante dos serviços de controle e fiscalização, como em transportes, postura, vigilância sanitária etc. Na Ilha do Governador, por exemplo, a falta de fiscalização nos transportes levou o trânsito ao caos a qualquer hora do dia num emaranhado de microônibus, Kombis legais e ilegais circulando pelas ruas do bairro. Mas o principal argumento dos rebelados é o demófobo crescimento da área ocupada pelas favelas. Não há qualquer estudo ou pesquisa que comprove o tal crescimento nessas regiões. Os que são feitos pelo Instituto Pereira Passos (IPP) — um órgão de pesquisa da prefeitura — mostram que ele é insignificante. O crescimento atual da área de favela é na Zona Oeste da cidade, principalmente Recreio, Vargem Grande e Jacarepaguá, para onde também é a expansão formal dela. Para quem não acredita em isenção, a Federação das Indústrias fez um estudo semelhante este ano. O resultado foi o mesmo do IPP. O argumento de que o prefeito vai gastar o dinheiro para eleger seus candidatos mostra que os insuflados não querem mais no poder o Czar que manda na cidade há 15 anos. É um direito legítimo. Mas é preciso lembrar que foi justamente nessas regiões onde o prefeito conseguiu suas mais expressivas votações nas eleições de 1992, 1996, 2000 e 2004. Neste último pleito, o apoio de mais de 60% dos moradores dessas áreas fez com que nem fosse necessário o segundo turno. Foram necessários quatro eleições para tomar consciência de que o administrador não é bom? Parece muito. Em outubro haverá eleição e os revoltosos — assim como o restante dos bairros que se sentem abandonados — podem mostrar seu descontentamento votando em candidatos da oposição. Mas não pagar o imposto é uma solução pueril que afetaria principalmente os mais pobres (ou alguém imagina que o varredor de pozinho vai sair de Ipanema?). Há sempre a alternativa da revolução para dissolver com o sistema vigente e fazer com que, por exemplo, os impostos não cheguem aos mais pobres. Os rebeldes podem lutar pela formação do Principado do Leblon e se separar do restante da cidade, quem sabe do estado e do país. A água, a energia elétrica, o lugar para depositar o lixo podem ficar caros no Principado, mas, quem liga? Afinal, todos parecem estar podendo pagar 31% mais de IPTU