segunda-feira, 23 de março de 2009
Solução da crise: percepção x realidade
O lançamento do Plano Geithner foi um sucesso estrondoso. As bolsas subiram, o dólar caiu, parecia que finalmente tínhamos encontrado um filé no meio das vacas magras. Eu, pessoalmente, prefiro acreditar que sim. Mas talvez não baste acreditar, talvez não baste o retorno da confiança. O New York Times de hoje quis saber se o Plano Geithner vai funcionar e, para isso, buscou a opinião de 4 economistas – Paul Krugman (da Universidade de Princeton, Nobel de Economia e colunista do jornal), Simon Johnson (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Brad DeLong (da Universidade de Berkeley) e Mark Thoma (da Universidade de Oregon). Vou tentar expor a posição de Krugman, que, em seu artigo “Perception vs. Reality”, diz que, desde o começo da crise, há dois pontos de vista sobre ela. Na visão nº 1, acha-se que há “um pânico desnecessário”. O público assustou-se com a história das hipotecas, os bancos se retraíram, e as coisas foram se complicando sucessivamente. Nessa visão, o que o mercado precisaria é de um tapa na cara para se acalmar. E se nós conseguirmos fazer com que o mercado se mantenha firme com os títulos podres, então a população vai perceber que as coisas não são assim tão ruins e – como teria dito Larry Summers no Newshour de ontem – “o círculo vicioso transforma-se em círculo virtuoso”. Na visão nº 2, os bancos estão realmente muito mal. Apostaram pesadamente em crenças irrealistas, e perderam. A confiança caiu porque as pessoas tornaram-se realistas. Para Krugman, o Plano Geithner só pode dar certo se a visão nº 1 estiver certa. Se, ao contrário, a certa for a visão nº 2, se os problemas dos bancos forem além da questão de falta de confiança (que é a visão de Krugman), não há como o Plano dar certo. Ele não acredita que “o mal seja sanado com a força do pensamento positivo acrescido de uma pitada de engenharia financeira”. Longe de mim pretender divergir de Paul Krugman (com quem, dentro de minhas limitações nesse terreno, tenho maior afinidade), mas acho que ele não disse tudo sobre a visão nº 1. Trata-se, pelo que entendi até agora, de “força do pensamento positivo acrescido de uma pitada de engenharia financeira, dentro da engenharia política possível”. Seria praticamente impossível que o Congresso americano aprovasse qualquer medida efetiva de combate à crise vindo do Governo Obama. A visão nº 1 com toda certeza não é a solução definitiva. Mas pode ser o detonador disponível. Já existem sinais consistentes de superação da crise. Pelo menos, quero ter confiança nisso... Leia também no blog de Paul Krugman "Geithner plan arithmetic".
Marcadores:
Barack Obama,
Brad DeLong,
Geithner,
Larry Summers,
Mark Thoma,
Paul Krugman,
Simon Johnson