quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Obama & Campos & Lott & China
Recebi hoje de manhã um telefonema da China. Era meu amigo Campos, que está passando uns meses por lá, e queria confraternizar pela vitória de Barack Obama. "Um negro, mas acima de tudo um afro-americano, que a família morava na caatinga do Quênia", falou ele entusiasmado. Fiquei emocionado. Menos pelo Obama e mais pelo próprio Campos, um velho amigo comunista, daqueles de emocionar de verdade, por sua garra, seu entusiasmo, sua luta por um mundo melhor. Certa vez, no início da década de 80, ainda na ditadura, em uma dessas organizações clandestinas de esquerda, um militante dava palestra sobre História do Brasil (parece que era a partir de um livro do Hélio Silva) e relatava a dificuldade que o PCB teve na década de 60 para apoiar a candidatura Lott, considerada mais progressista do que a de Jânio Quadros, mas encarnada por um militar anti-comunista. Fez referência a um encontro, no Rio de Janeiro, do Lott com a garotada de estudantes do Partido Comunista. Lott, claro, baixava o cacete no comunismo e a garotada ouvia tudo em silêncio, porque, afinal, tratava-se do candidato "aliado". O constrangimento era total, até que um dos jovens comunistas não agüentou mais, levantou-se e fez um discurso de protesto contra tudo aquilo. A platéia comunista da década de 80, que absorvia fascinada aquele pedaço de história, ficou em choque quando viu o Campos se levantar e dizer: "Aquele garoto era eu". Campos, que primeiro conheci com o nome de guerra Juca, foi logo depois da campanha de Lott enviado pelo PCB para treinamento na Europa (estudou 6 anos na Tchecoslováquia) e voltou para tentar contribuir de algum modo pela revolução socialista brasileira. Hoje os tempos são outros, mas ele continua o mesmo: um apaixonado pela vida.
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