quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Lindberg, o pragmatismo e o metamorfismo
Estava me contendo para não escrever sobre essa paixão súbita entre o Prefeito Lindberg (PT, Nova Iguaçu, RJ) e o Governador Sérgio Cabral (PMDB, RJ). Alguns amigos petistas comentaram que eu estava sendo muito rigoroso com ele, mas quero dizer que minha relação pessoal com Lindberg sempre foi extremamente simpática. A nota de hoje no Panorama Político do Globo, acusando-o de “metamorfose ambulante” por ter-se transformado de uma hora para outra em “melhor amigo” do ex-“inimigo mortal” Sérgio Cabral, foi que me fez sentar diante de minha Lettera 22.
Assim como Benedita, “mulher, negra e favelada”, é até hoje o grande acontecimento petista na área popular, Lindberg, “o Lindinho”, tornou-se (junto com Molon, “o ético radical”, e Minc, “o doidaço do meio ambiente”) o grande acontecimento midiático do PT do Rio de Janeiro. Sua desenvoltura no espaço político e seu ar muito simpático garantiram projeção rápida. Mas a velocidade, embora seja muito útil à política, longe de lhe garantir infalibilidade, traz também muitos tropeços. Um deles é esse causado por confundir pragmatismo com metamorfose. O pragmatismo é inerente à política, porque representa o não-dogmatismo. Sem pragmatismo, não há como avançar politicamente. Mas se, para avançar, um político resolve se metamorfosear, transformando-se no que não é, ele pode até dar um passo à frente, mas em um nível conflitante – sem nem ao menos gerar efeito borboleta.
Lindberg ganhou simpatia no eleitorado petista por ser um defensor radical de candidatura independente ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, utilizando como trampolim os ataques frontais ao peemedebista Sérgio Cabral. Acabou percebendo a necessidade da aliança (pragmatismo), mas não poderia, como fez, metamorfosear-se instantaneamente em cabralino de primeira hora. Isso deixa a sua base atônita e cria desconforto e desconfiança para seu comando. Ao mesmo tempo em que admiram sua grande capacidade de voo nos meios de comunicação, todos perguntam sobre o novo Lindberg: “É um pássaro? É um avião? É um super-homem? É um borboletra?”
Nota: alô, internautas, a história da Lettera 22 é brincadeira; tive uma que esqueci no Sindicato dos Jornalistas na madrugada de uma Greve Geral e nunca voltei para pegar.
Marcadores:
Benedita,
eleição 2010,
Lettera 22,
Lindberg,
Minc,
Molon