sexta-feira, 29 de abril de 2011

Potências ocidentais cada vez mais encalacradas no Oriente Médio

Boas as considerações postadas hoje por Cesar Maia em seu Ex-Blog sobre a atual crise síria:

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE NA SÍRIA E SUA DINÂMICA!

1. Uma intervenção militar ocidental na Síria traria o risco muito provável de uma enorme convulsão no Oriente Médio, pois o regime de Bachar el-Assad conta com os apoios do Irã e do Hezbollah libanês. Isso explica a prudência das grandes potências ocidentais no tratamento da crise síria e seu hesitante anúncio de possíveis sanções. Os EUA estão incomodados com a violenta repressão dos movimentos populares de protesto na Síria. Porém, não foram além de uma declaração de Obama, no sentido de que a repressão exercida pelo regime sírio era “intolerável”. Essa atitude pode ser explicada também pela possibilidade de uma atitude mais dura contra o regime de al-Assad provocar reações destemperadas contra Israel de parte dos aliados da Síria. A proteção do Estado de Israel é uma pedra fundamental da política norte-americana no Oriente Médio.
2. A Turquia está também bastante preocupada com o desenvolvimento da crise síria. Além do Irã, é o único grande país da região que mantém um relacionamento político e econômico mais estreito com a Síria. Erdogan procurava até agora estabelecer os contatos mais cordiais e produtivos com AL-Assad. Israel encara a Síria como um país inimigo. Jamais se assinou um acordo de paz entre ambos. As colinas de Golan, pertencentes à Síria, estão ocupadas desde 1967 por Israel, que as anexou a seu território em 1981. Apesar disso, Israel considera com um fator de estabilidade o regime ditatorial liderado por Bachar Al-Assad, preferindo-o a uma situação de caos capaz de levar às mais descontroladas aventuras.
3. Na Síria, ainda não se chegou a um estado de guerra civil, como o da Líbia. Não há bolsões de resistência organizada contra al-Assad, mas reações pontuais reprimidas de maneira brutal, cristalizadas ao sul da Síria, em torno de Deraa, que se estão estendendo a outras regiões do país nos últimos dias. Os EUA e certas potências da Europa Ocidental não têm contatos regulares com a oposição síria. Contudo, há potências regionais que mantém relações de cooperação com essa oposição. Os extremistas sunitas (salafistas), bastante ativos nos movimentos de contestação ao regime de al-Assad, são ajudados pela Arábia Saudita e por famílias libanesas.
4. O Irã tem evidentes simpatias para com o atual Governo sírio, mas não parece estar envolvido na repressão aos movimentos populares de contestação. O regime de AL-Assad parece plenamente capaz de organizar essa repressão. Mas a aliança entre o Irã e a Síria, existente há mais de 30 anos, é um fator importante nas estratégias diplomáticas norte-americanas e europeias.