Ninguém discute que o julgamento que levou à morte de Saddam Hussein foi ilegítimo. A questão é por quê? Por que levar adiante a pena de morte de Saddam Hussein, mesmo sabendo que não haveria apoio da comunidade internacional e que os ânimos internos no Iraque seriam acirrados? Em primeiro lugar, Bush não teria condições de negociar a retirada de tropas deixando Saddam vivo, e essa morte não poderia demorar muito porque seriam explorada pela oposição Democrata nas eleições de 2008. Mas a questão certamente vai além. Pode ser que o enforcamento da principal liderança sunita e do Partido Bath iraquiano passe por um acordo com o Irã. O governo de Teerã precisa que seus aliados xiitas no Iraque sejam consolidados no poder e ao mesmo tempo precisam da aprovação americana para a conclusão de sua usina nuclear. Não que o Irã precise de armas nuclerares - o que ele precisa, com certa urgência, é de energia que substitua o petróleo (que tem tempo para acabar). Uma aliança com o Irã poderá garantir uma força estratégica dos Estados Unidos na região. O Hesbolá (xiita) do Líbano se acalmaria e Israel poderia se entender na Palestina com o Fatah (não religioso) e até com o Hamas (também xiita). A Arábia Saudita, de maioria sunita, não apresentaria grandes reações. E o Al Qaeda, apesar da fama, não significaria uma ameaça tão grande. O Partido Bath (patido nacionalista e algo socialista árabe, que sempre foi forte principalmente no Iraque e na Síria) já não é mais o mesmo. Os que Estados Unidos não querem - e não podem - é permitir que o Iraque volte a ser uma potência anti-americana. Como não conseguiram "pacificar" o país que invadiram, procuram uma solução em acordo com o Irã capaz de garantir sua presença e seus lucros.