terça-feira, 30 de outubro de 2007

Argentina, um país e duas caras

A vitória de Cristina Fernández de Kirchner mostrou claramente - como já tínhamos tratado aqui, no domingo, na postagem "Na Argentina, como no Brasil, a classe média sente-se fora do poder" - a divisão do país em duas grandes partes. De um lado, os setores médios da sociedade, concentrados nos centros urbanos, onde Cristina foi derrotada impiedosamente. Na Capital Federal (Buenos Aires), por exemplo, era comum a frase "não conheço ninguém que vá votar em Cristina", o que se confirmou nas urnas, onde ela obteve um distante segundo lugar. Por outro lado, garantindo a vitória da atual Primeira-Dama, às vezes com mais de 70% dos votos, encontramos amplos setores "donde reinan la marginación y la pobreza", como escreve Carlos Pagni no artigo "La fisura social que marcó el voto", no La Nación de hoje. Cristina Fernández de Kirchner não venceu em grandes cidade, como a Capital Federal, Rosario, Córdoba, Mar del Plata, La Plata, Bahía Blanca, Vicente López e San Isidro (as exceções foram San Miguel del Tucumán e Mendoza). Seu voto veio das pequenas cidades ou do campo, exatamente de onde se luta muito para resolver problemas imediatos, campo fértil para o populismo. Isso significa um atraso para todo oa país? Claro que sim. Mas nunca vai ser possível superar essa situação com uma oposição votando com soberba (como teria se referido o Chefe de Gabinete Civil argentino sobre o voto portenho ou buenosairense). Unir as "duas Argentinas" é o grande desafio.