quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A mente subdesenvolvida de Nelson Motta
Nelson Motta sempre procurou ter seu nome associado ao que há de mais avançado da cultura. Desde os tempos do Nelsinho que morava na Paissandu (rua do Flamengo, bairro da Zona Sul do Rio), por exemplo, ele esteve junto à nascente “bossa nova” – e escreveu um bom livro que fala disso, “Noites Tropicais”, que ainda não li todo, mas um dia vou ler. Lembro dele também presente no Tuca (teatro da PUC de São Paulo), em 68, defendendo Caetano Veloso das vaias da juventude retrógrada contra “É Proibido Proibir”, entrevistando o poeta concreto Augusto de Campos. Nelson Motta tornou-se praticamente um tropicalista de carteirinha. Participou de grandes lançamentos do mundo musical, foi, enfim, figurinha fácil no melhor do nosso mundo cultural. Apesar de tudo isso, ele outro dia escreveu um artigo (“Churrasco e pizza - Não, ministro, a Itália não é nóis”, O Globo, Estadão) que revela uma cabeça típica de subdesenvolvido subserviente, bem atrasado mesmo. A sua crítica à decisão de Tarso Genro de impedir a extradição do italiano Cesare Battisti fundamenta-se principalmente no conceito de que a Itália é um país mais desenvolvido, melhor do que o Brasil, logo, a Itália está certa e o Brasil está errado. Mas Nelson Motta faz ainda pior, demonstra um primarismo histórico de arrepiar. Disse ele: “(A Itália tem) uma tradição democrática e judiciária muito mais sólida do que a nossa, não recorreu ao terrorismo de Estado, a tribunais de exceção, prisões ilegais e torturas, mesmo nos anos de chumbo". Na “tradição democrática e judiciária” italiana ele esqueceu de incluir o fascismo. Ele deveria também ler a Revista Piauí (aparentemente acima de qualquer suspeita no caso) que diz em reportagem sobre Cesare Battisti: “Havia quem argumentasse que, com leis como a dos arrependidos, a Itália dos anos de chumbo não deveria ser considerada um Estado de direito”. Também na Piauí podemos ler: “Só então soube que, três meses antes, o irmão mais velho, que trabalhava na colocação de placas em estradas, havia sido atropelado e morrera. A família lhe mandara cartas com a má notícia, mas o procurador-adjunto as confiscara”. Nelson Motta finaliza seu artigo dizendo que, “criado na cultura do churrasco sangrento, em cavalgada desabrida pelos pampas da História, como um anti-Garibaldi sem Anita, Tarso Genro deve estar pensando que na Itália tudo acaba em pizza”. Nelson Motta, que conhece pizza muito bem (li um artigo seu delicioso sobre a pizza do Supermercado Zona Sul, no Rio), deveria saber que a Itália com sabor de Berlusconi certamente prefere que tudo acabe em Mussolini.