Caetano sempre foi surpreendente, muitas vezes contra tudo e contra todos. Quando ainda era apenas “irmão da Maria Betânia”, xingou aos berros toda a platéia do cinema Paissandu, no Rio, que vaiava um documentário (chatésimo) sobre a irmã. Foi surpreendente também no auditório do TUCA, em São Paulo, quando enfrentou (com discurso brilhante) a platéia que vaiava o seu “É Proibido Proibir”. Brilhante em toda a sua música, instigante, às vezes hermético, mas sempre trazendo algo novo e muitas vezes com ousadia (como a ousadia do seu sousândrico “Gilberto Misterioso”). Meticuloso, como em “Gema”, associando “brilhante” com “lua-sol” (em chinês, o ideograma “brilhante” é composto pelos ideogramas “lua” e “sol”), ou em “O Quereres” (“Onde queres o livre, decassílabo”). Na sua entrevista do dia 5 no Estadão, Caetano faz charme simpático dizendo "eu sou daquelas moças... não estudei direito", mas demonstra (como sempre) muita leitura, acompanhamento do que acontece no mundo. Disse coisas até interessantes, apesar de algumas vezes simplórias. Aliás, quando começa a discursar no campo político, ideológico ou filosófico, surpreendentemente não surpreende. Parece mais um Maria vai com as outras, tamanha a sua ignorância. O que ele declarou sobre Lula, por exemplo, foi analfabeto, cafona e grosseiro. A análise que fez dos principais nomes políticos demonstra um despreparo completo, tipo da pessoa que se deixa levar pela mídia dominante e depois solta suas diatribes. Ele tem todo o direito de dizer o que bem entende, criticar quem quiser criticar. Mas lamento que faça declarações tão bobas e fora de propósito. Um país que produziu o gênio Caetano Veloso não merece conviver com suas caetanices políticas.
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sábado, 7 de novembro de 2009
Caetano, o gênio ignorante
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A mente subdesenvolvida de Nelson Motta
Nelson Motta sempre procurou ter seu nome associado ao que há de mais avançado da cultura. Desde os tempos do Nelsinho que morava na Paissandu (rua do Flamengo, bairro da Zona Sul do Rio), por exemplo, ele esteve junto à nascente “bossa nova” – e escreveu um bom livro que fala disso, “Noites Tropicais”, que ainda não li todo, mas um dia vou ler. Lembro dele também presente no Tuca (teatro da PUC de São Paulo), em 68, defendendo Caetano Veloso das vaias da juventude retrógrada contra “É Proibido Proibir”, entrevistando o poeta concreto Augusto de Campos. Nelson Motta tornou-se praticamente um tropicalista de carteirinha. Participou de grandes lançamentos do mundo musical, foi, enfim, figurinha fácil no melhor do nosso mundo cultural. Apesar de tudo isso, ele outro dia escreveu um artigo (“Churrasco e pizza - Não, ministro, a Itália não é nóis”, O Globo, Estadão) que revela uma cabeça típica de subdesenvolvido subserviente, bem atrasado mesmo. A sua crítica à decisão de Tarso Genro de impedir a extradição do italiano Cesare Battisti fundamenta-se principalmente no conceito de que a Itália é um país mais desenvolvido, melhor do que o Brasil, logo, a Itália está certa e o Brasil está errado. Mas Nelson Motta faz ainda pior, demonstra um primarismo histórico de arrepiar. Disse ele: “(A Itália tem) uma tradição democrática e judiciária muito mais sólida do que a nossa, não recorreu ao terrorismo de Estado, a tribunais de exceção, prisões ilegais e torturas, mesmo nos anos de chumbo". Na “tradição democrática e judiciária” italiana ele esqueceu de incluir o fascismo. Ele deveria também ler a Revista Piauí (aparentemente acima de qualquer suspeita no caso) que diz em reportagem sobre Cesare Battisti: “Havia quem argumentasse que, com leis como a dos arrependidos, a Itália dos anos de chumbo não deveria ser considerada um Estado de direito”. Também na Piauí podemos ler: “Só então soube que, três meses antes, o irmão mais velho, que trabalhava na colocação de placas em estradas, havia sido atropelado e morrera. A família lhe mandara cartas com a má notícia, mas o procurador-adjunto as confiscara”. Nelson Motta finaliza seu artigo dizendo que, “criado na cultura do churrasco sangrento, em cavalgada desabrida pelos pampas da História, como um anti-Garibaldi sem Anita, Tarso Genro deve estar pensando que na Itália tudo acaba em pizza”. Nelson Motta, que conhece pizza muito bem (li um artigo seu delicioso sobre a pizza do Supermercado Zona Sul, no Rio), deveria saber que a Itália com sabor de Berlusconi certamente prefere que tudo acabe em Mussolini.
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