segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que passar pela cabeça de qualquer dirigente ocidental a saída de Mubarak



O marqueteiro Republicano Dick Morris lembrou essa semana que nas eleições de 1952 Nixon desacreditou os Democratas (Harry Truman, presidente, e Adlai Stevenson, novo candidato) com a pergunta: “Quem perdeu a China?” A partir disso, ele afirma: “Obama está perdendo o Egito”. E continua: “Se ele permitir que o Egito caia na esfera de influência iraniana, ele pagará por isso em 2012. (...) Se o Egito cair, Obama causará danos permanentes nos interesses vitais americanos”. Seu argumento principal é o de que a Irmandade Muçulmana (principal organização religiosa de oposição egípcia), “um lobo em pele de cordeiro”, é forte aliada do Hamas e que Obama está sendo ingênuo nessa parada toda. Não acho que haja ingenuidade. Mas concordo com a ideia de que o Ocidente está vivendo o drama de quase perder o Egito. E não tem outro jeito – chegou-se a uma situação de ou dá ou desce, e as potências ocidentais terão que dar os dedos para preservar os anéis.
Cesar Maia, no seu Ex-Blog do dia 3, lembra que “a interrupção do trabalho em numerosas unidades de produção, a paralisação do sistema bancário, a censura dos meios de comunicação e tantos outros óbices que tardarão algum tempo para serem normalizados, concorrerão para a quebra do desenvolvimento do país”; que “a inflação, que já chegava a 11% (20% para produtos alimentícios), tenderá a disparar. Isso afeta particularmente as classes menos favorecidas”; que “o Ministro das Finanças (desde 2004) Yussef Boutros Ghali, que havia saneado as finanças públicas, foi demitido”; que “com um crescimento de seu PIB em torno dos 5% nos últimos dois anos, o Egito resistiu bem à crise internacional e pôde empreender importantes reformas que apoiaram o desenvolvimento econômico (...) sem que esse desenvolvimento alcançasse, “senão marginalmente, as classes mais pobres, que permanecem na miséria, sem acesso pleno à educação e à saúde”. Em outras palavras, não há como manter por mais tempo a ditadura de Mubarak. Todo mundo sabe disso. Acontece que todo mundo sabe também que, se está ruim com ele, poderá ficar pior sem ele. E esse todo mundo significa todo mundo mesmo. Todo o mundo ocidental, os emergentes, Israel, os outros países árabes e até mesmo o Irã. Os países “todo-poderosos” sabem que não podem contar com nenhum nome capaz de dar segurança a seus investimentos e que garanta as mamatas de décadas. Israel tem certeza que, sem Mubarak, ganhará um forte inimigo na sua fronteira sudoeste. A China não quer perturbação para seus negócios em área estratégica. Os outros países árabes com ditaduras semelhantes à egípcia querem barrar a importação de ameaças semelhantes. E vou arriscar dizer que até mesmo para o Irã e os muçulmanos de um modo geral a situação não é muito confortável. Não há quem controle facilmente tanta insatisfação, as condições objetivas estão difíceis, a resistência ocidental e israelense seria brutal e as contradições religiosas não são pequenas: 90% dos egípcios são de sunitas, enquanto os iranianos, por exemplo, são 90% de xiitas. É por tudo isso que fica cada vez mais difícil destronar Mubarak. Como ele mesmo diz, sua saída pode representar um caos ainda maior do que esse que assistimos diariamente na TV e na web. Nem todos os camelos e todos os buracos de agulha parecem capazes de alinhavar uma saída que satisfaça a todos.