domingo, 6 de fevereiro de 2011
Escondidinho, na sexta-feira
Durante um tempo, na década de 80, as minhas “nights” de sexta-feira tinham “embalos” bem diferentes da maioria das pesoas. Morava em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e mal chegava da empresa onde trabalhava (MPM Publicidade) saía de carro novamente. Pegava a Rua Alice, atravessava o túnel Rio Comprido e parava o carro na Rua Barão de Petrópolis, ali na entrada da comunidade do Morro do Escondidinho. Subia e, bem lá no alto, batia na porta de uma companheira de movimento político clandestino. Ela juntava outras pessoas e íamos para um posto de saúde, sempre fechado, onde discutíamos, entre outras coisas, “O Capital”, de Marx.
O tempo passou, durante o Governo Sarney foi consolidado o fim da ditadura, as minhas (poucas) noites de sexta-feira no Escondidinho ficaram na lembrança. Com o domínio do tráfico nas comunidades cariocas, o “capital” passou a ser de outro tipo, a violência armada ditou o ritmo local. Recentemente (no ano passado), indo para uma produtora de vídeo mais ou menos perto dali, em Santa Teresa mesmo, dei de cara com um jovem de granada na cintura e uma pistola na mão. Não aconteceu nada demais, foi um encontro casual. Comentei o fato com o Governador Sérgio Cabral que me deu uma resposta que, de alguma forma, me fez sentir certa esperança no ar. Na madrugada de sábado para domingo, saiu a resposta que estava escondidinha. O Escondidinho e mais 8 comunidades das proximidades foram ocupadas pelas forças policiais do Rio de Janeiro, com participação também da Marinha e da Polícia Rodoviária Federal. Tudo com eficiência e tranquilidade, cumprindo o cronograma de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Daqui pra frente, os “embalos” do Escondidinho serão mais animados.
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