quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O pisca-pisca da diplomacia


Linha dura não combina com diplomacia. Ou melhor, parecer inflexível faz parte do jogo – mas o nome do jogo será sempre flexibilidade. Estamos vendo isso agora, na questão da superdesvalorizada moeda chinesa. O país dos olhinhos fechados durante meses e meses fez vista grossa para os apelos mundiais pela valorização do yuan. Os Estados Unidos espernearam, a Europa idem, todo mundo protestava, mas a China insistia em fazer ouvidos de mercador. Estava certa. Precisava conquistar mercados e fortalecer o mercado interno. Mas é claro que isso teria um fim. Em primeiro lugar, a mobilização americana passou a ser mais eficiente, conquistando (ou reconquistando) aliados na empreitada contra o yuan fraco. Depois vieram aliados de peso (como o Brasil, dialogando no momento com o Secretário de Tesouro americano) que começaram a dar o troco. E por último – mas obviamente não menos importante – a esperada alta da inflação chinesa – 5,1% em novembro e 4,6 % em dezembro, bem acima dos índices esperados e exigindo maior controle. Resultado foi que ontem, pela terceira vez desde outubro, a China aumentou a taxa de juros.
É importante notar que a China não quer fechar os olhos para suas relações políticas e comerciais com o Brasil, aliado e uma de suas principais fontes de commodities. Ontem mesmo a imprensa chinesa falava sobre o crescimento a olhos vistos das importações de produtos brasileiros na poderosa província de Guangdong, que em 2010 chegou a 11,8%. O crescimento das importações de produtos agrícolas brasileiros foi de 20,2%; do minério de ferro, 21,1%; do gado, 17,8%; do algodão, 880%; do açúcar, 79.484%. O Brasil, naturalmente, precisa desse importante comprador, mas precisa também ganhar mais pelo que vende e proteger sua própria indústria contra a invasão de produtos chineses a preços de banana (Falei “banana”? Esquece, o exemplo não é bom). Daí a movimentação brasileira no cenário mundial, denunciando a guerra cambial (incluindo aí os Estados Unidos) e aumentando as taxas sobre a importação de alguns produtos nocivos à nossa produção. O encontro com o Secretário Timothy Geithner e a próxima visita de Obama fazem parte desse jogo de pressão (que pode incluir também no seu menu o ingresso no Conselho de Segurança e a compra dos caças).
Quem vê longe sabe piscar. Sabe piscar na hora de ceder (como começam a fazer os chineses), sabe piscar na hora de flertar. Os próximos a piscar podem ser os franceses.